Capítulo 14

--- Helena, acorda!

Acordei assustada, com Adriel aos gritos e sacudindo o meu corpo.

--- Acordei, acordei, acordei! - gritei para que ele parasse de me sacudir.

--- Você está bem? Estava tendo um pesadelo? - perguntou preocupado.

--- Não, por quê? - quis saber, sentindo uma leve tontura.

--- O seu corpo estava levitando e os seus olhos estavam revirados.

Cruzes.

--- Eu estava sonhando. - olhei ao redor, verificando o ambiente.

--- Com o que? Sonhos são importantes.

--- Para resumir, eu estava num deserto. Um deserto colorido. Tinha vermelho, laranja, roxo e preto. - eu quase pude ouvir um estalo no meu cérebro --- Ai, minha nossa! Vermelho, laranja, roxo e preto! É isso! - exclamei empolgada.

--- É isso, o que?

--- A espada de quatro cores! - olhei para ele, feliz, como se tivesse acabado de desvendar um enigma muito difícil.

Os olhos de Adriel aumentaram de tamanho e ficaram ainda mais escuros. Confesso que o seu semblante me assustou um pouco.

--- Onde ouviu isso?

--- Na profecia!

--- Ah sim, claro, na profecia. - sua feição voltou ao normal --- Continue com o sonho, por favor.

--- Eu estava caminhando, sozinha. Quando apareceram três mulheres, elas falavam em uníssono. Disseram que chamam elas de mãe.

--- Impossível!

--- O que é impossível?

--- A mãe não aparece para ninguém há anos. Séculos. O que ela te disse?

Adriel está estranho, eu tenho medo.

--- Não disse nada de mais. Eu estava triste e ela me deu alguns conselhos.

--- Que conselhos?! Não é possível que ela não disse nada de importante!

--- Eu não lembro de tudo.

--- Pelos deuses, Helena! A mãe apareceu pra você e você não lembra do que ela te disse?! - a medida em que ele vai falando, seus olhos vão voltando a ficarem totalmente escuros, e sua voz engrossando, ficando aterrorizante --- Tente lembrar! Você precisa lembrar! Isso pode mudar tudo!

Nate
Priscilla
Frans
Luci
Vocês estão me ouvindo?!

Eu espero de verdade que esteja conseguindo usar o poder da telepatia. Adriel está se transformando num... Monstro, e eu estou com medo.

Levanto da cama e vou me afastando devagar, enquanto ele grita e surta. Seu semblante demonizado, com olhos profundamente negros, veias escuras por toda a sua face, em contraste com seus lábios roxeados, causa-me uma repulsa tão grande, que acabo vomitando pura água. Não lembro da última vez que ingeri algum alimento.

Por favor, alguém?

Sombras começam a rodea-lo, enquanto palavras indecifráveis são proferidas ao vento. Eu não sei o que está acontecendo, e nem o motivo, mas não quero estar aqui para ver o resultado desse surto.

Vejo que ele não está prestando atenção em mim, pois agora descarrega uma raiva incontrolável nos móveis. Então dou um jeito de caminhar até a porta sem que ele perceba. Devagar e com muito cuidado, giro a maçaneta e saio com leves passos do quarto.

--- Onde pensa que vai?

--- Meu Deus! - tampo a boca após o grito de susto.

A prima de Adriel, a qual não sei quem é, me encara como se eu fosse uma detenta fugitiva. Seus braços cruzados e a sobrancelha arqueada lhe dar um ar autoritário, e eu luto para não encolher diante dela.

--- Por que está saindo assim de fininho?

--- Seu primo está surtando lá dentro. Eu não sei o que houve, mas estou com medo.

--- Você fez alguma coisa. - ela me acusou com convicção.

--- Não, eu não fiz nada. - me defendi.

--- Ele não iria surtar sem motivos. O que... Você... Fez?

Ela ter falado entredentes e pausadamente, como se tivesse alguma autoridade sobre mim, me aborreceu um pouco. A forma como cresce em cima mim, fazendo-me sentir pequena não é legal.

Eu tenho que parar de me acovardar e começar a bater de frente, só para tirar esse aspecto de superioridade dela.

--- Eu já disse que não fiz nada. - falei baixo e plenamente --- Agora, se me der licença, eu preciso ir.

Fiz menção de ir embora, mas ela segurou o meu braço, suas unhas grandes pressionando a minha carne.

--- Você não vai a lugar algum.

--- Sim, eu vou. Solte-me. - a minha voz saiu autoritária e eu gostei.

--- Adriel... Adriel precisa de você aqui.

--- Adriel está louco. - ainda consigo ouvir os gritos monstruosos dele, que vem do quarto.

--- E ficará pior se eu deixar você ir.

--- Eu não posso fazer nada.

Puxei o meu braço com força e as unhas da mulher rasgaram a minha pele. Mas eu dei as costas e andei com passos apressados até a saída. Quando coloquei a mão na maçaneta, senti algo se enroscando no meu tornozelo. Olho para baixo e sigo aquela corda até chegar nas mãos dela; um chicote.

--- O que você pensa que está fazendo? - perguntei com um ódio crescendo dentro de mim.

--- Eu disse... Que você não vai a lugar algum.

--- Qual é o seu nome mesmo?

Ela me olhou com estranheza, mas respondeu.

--- Cecília.

--- Escuta aqui Cecília, ou você me solta agora, ou as coisas vão ficar bem feias para você.

É claro que estou blefando. Eu não faço idéia do que fazer se ela não me deixar ir embora. Não estou conseguindo me comunicar com ninguém. E para piorar, Cecília gargalhou com deboche.

--- Você não é páreo para mim. Tenho muito mais experiência.

Ela não mentiu.

--- Você não imagina do que eu sou capaz.

Num momento de loucura, puxei a minha perna e a peguei desprevenida, derrubando-a no chão. Aproveitei o ensejo e abri a porta, para logo sair correndo até o elevador. Senti Cecília vindo atrás de mim.

Apertei tanto o botão do elevador, que fiquei com medo de quebrar.

--- Garota estúpida.

Cecília caminha até mim com passos lentos, quase rastejantes. Parece que ela está querendo provocar terror em mim, e está conseguindo.

Volto a apertar o botão, como se essa insistência fizesse as portas se abrirem mais rápido, e finalmente abriram. Entrei apressada, e isso fez com que a prima de Adriel trocasse os passos lentos para uma corrida, que só fez o meu desespero aumentar. E agora o botão do térreo que está sofrendo com a minha agonia.

Quando as portas estavam finalmente se fechando, uma mão negra impediu o processo. O meu coração pulou dentro do peito e eu pensei que fosse enfartar tamanha foi a pulsação.

--- Por favor, Cecília. Deixe-me ir. - pedi.

--- Eu não posso.

Ela entrou no elevador e me encurralou na parede. Seus olhos negros encaram os meus de maneira tão profunda, que quase sinto a minha alma fugindo do corpo. O medo do que pode acontecer faz o meu corpo inteiro reagir de um jeito que nunca senti antes. A sensação é de que tomei uma descarga elétrica e agora a energia está percorrendo por cada canto de mim.

--- O que foi? - pergunto ao ver a expressão surpresa e assustada de Cecília.

--- Seus olhos...

Olho para trás e encaro o meu reflexo no espelho. Os meus olhos estão cobertos por uma chama vermelha, assim como rodeia todo o meu corpo. A princípio, eu me assusto com o que vejo, mas logo sinto a energia crescer dentro de mim, dando-me força e coragem. Um sorriso quase imperceptível brota no meu rosto e eu volto a olhar para Cecília.

--- O que estava dizendo? - pergunto provocativa.

Ela não diz nada, apenas dá meia volta e sai correndo. Eu não cogito ir atrás dela. Não estou afim de ver Adriel naquela condição terrível. Então, com mais calma, aperto o botão e as portas do elevador se fecham.

Na rua, senti o meu corpo voltando ao normal e aquela energia sumindo aos poucos. Eu nunca tinha sentido tamanho poder, e confesso que a sensação é muito boa. Ter visto Cecília correndo de mim, com medo, fez nascer um fio de empoderamento dentro de mim. Aquela mulher que só me causava medo e inferioridade já não é mais tudo isso, porquê agora sei que eu posso com ela. Estamos no mesmo nível, ou talvez, eu esteja acima.

Liguei para a pessoa que achei mais viável. Nenhum dos meus irmãos e nem Luciano ouviram o meu chamado. Talvez eu não tenha conseguido usar o meu poder da telepatia.

--- Alô.

--- Lucas? - falei sentindo um alívio por ele ter me atendido --- Posso ir na sua casa?

[...]

27.03.22

[...]
















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