Capítulo 08

Luciano não entendeu nada quando eu o empurrei e levantei do banco de maneira brusca. Ele não pronunciou uma palavra, enquanto ando de um lado para o outro com a respiração forte e o coração acelerado.

E depois de ter contado até 255, eu finalmente fui me acalmando aos poucos, e voltei a sentar no banco gasto de madeira.

--- Tem algo de errado comigo, Luci. - falei, massageando as têmporas.

--- Explique.

O meu corpo sobe e desce, devido a minha respiração que continua forte.

--- Eu não sei. Acho que estou ficando louca.

--- E por que acha isso?

Olhei para ele. Luciano parece mesmo estar preocupado comigo. Os seus olhos analisam cada traço do meu rosto, como se estivesse procurando algum sinal do que pode estar acontecendo.

Fiquei com medo de ser julgada, como Adriel fez. Mas por algum motivo me senti segura para falar.

--- Eu tenho visto coisas. Na verdade, isso só aconteceu duas vezes, mas ainda sim, foi muito estranho.

--- E como que você viu, e o que você viu?

Para contar sobre, eu teria que mencionar Adriel. E a última coisa que eu queria era tocar nesse assunto e tornar o clima desagradável.

--- Deixa pra lá. A minha cabeça está muito cheia. Talvez eu precise de uma terapia.

--- Tudo bem, mas... A reação que você teve à poucos instantes foi preocupante. Se quiser conversar a respeito, estou aqui. Se a sua cabeça está cheia, pode esvaziar comigo.

Suspirei. Tudo bem.

--- Na primeira vez que aconteceu, eu estava com Adriel. - dei uma pausa para que ele pudesse processar. Mas a sua expressão estava neutra, como se o meu relato não o afetasse.

E eu contei tudo, desde aquele dia, com todos os detalhes, até agora.

--- Nossa. Eu não consigo imaginar o porquê de isso ter acontecido.

Suspirei novamente.

--- Eu preciso de terapia.

Encostei no banco e escorreguei até poder encostar a cabeça, e olhei para o céu. A imensidão de azul me faz ver pequenas estrelinhas. Apertei os olhos para protegê-los da claridade; o dia nunca esteve tão bonito como agora. Consigo ouvir o barulho das folhas chacoalhando com o vento, e também ouço o canto dos pássaros. Por um momento, desejo ficar aqui para sempre, porquê a sensação de paz é muito boa.

--- Por que está aqui? - Luciano quebrou o silêncio.

--- O que?

--- Você só vem aqui quando não está muito bem.

As vezes eu odeio o fato de ele me conhecer tão bem.

--- É, tem razão.

--- O que houve?

--- Nada de mais. - o meu suspiro foi forte e demorado --- Apenas uma discussão boba com os meus irmão. Vim aqui apenas para respirar.

--- Entendi.

--- E o que você faz aqui? - perguntei, olhando pra ele.

--- Eu estava tendo um dia estressante e lembrei deste lugar; da paz que ele transmite.

--- Hm.

Acho incrível como Luciano consegue ser uma pessoa extremamente serena. Admiro muito a maneira como ele consegue lidar com tudo com maturidade; eu queria ser assim. Ele está do lado da pessoa que teve a capacidade de traí-lo; está aqui me fazendo companhia em um momento difícil.

Eu chego a pensar que as minhas atitudes talvez nem tenham machucado ele. Talvez ele nem tenha ligado.

Será que ele fez pior?

--- Eu queria poder ficar aqui para sempre.

Foi exatamente o que pensei há poucos instantes.

--- Luci, eu me sinto mal pelo que fiz com você. - falei do nada.

--- Não se preocupe, já passou.

--- Eu peço desculpas.

--- Está tudo bem.

--- Como pode estar tudo bem?! - me alterei. --- Eu traí você! Eu citei o nome de outro cara na sua cama! Como pode estar tão tranquilo?!

--- O que queria que eu fizesse, Helena? Que eu explodisse e agisse como um louco?

--- Sim. - respondi como se fosse o óbvio.

Ele olhou para mim e sorriu como se estivesse diante de uma criancinha imatura.

--- E do que adiantaria? Gritar e brigar contigo mudaria o que aconteceu? Você voltaria a ser uma boa menina se eu a agredisse? O outro cara deixaria de existir? Eu deixaria de ser o otário da história?

--- Bom...

Não tive palavras. Todas as minhas respostas para o questionário que ele fez... são todas não.

--- Eu fiquei sim decepcionado contigo, porquê nunca que passaria pela minha cabeça que você faria algo assim. A imagem que eu tinha de você na minha cabeça é totalmente diferente de como te vejo agora.

--- Entendo.

--- Mas não se preocupe, Helena. A vida não pode parar. Se você me traiu, é porquê o nosso amor já estava fraco demais, e amores fracos não merecem o meu tempo.

Ele sabia bater. De um jeitinho educado, mas ele sabia bater.

O meu celular tocou, indicando que uma mensagem chegou. E quando vi quem havia mandado, o meu coração disparou.

"Oi, princesa. Eu precisei resolver algumas coisas, por isso saí antes de você acordar. Vem aqui em casa, estou te esperando."

--- Eu preciso ir.

--- Tudo bem, ficarei mais um pouco.

--- Certo. Obrigada por... Ter ficado comigo. Aqui.

--- Qualquer coisa, é só chamar.

--- Obrigada.

[...]

Eu cheguei na casa de Adriel em poucos minutos. O porteiro que já me conhecia, deixou-me entrar sem burocracias.

Ainda não compreendia o poder que Adriel tinha sobre mim. Qualquer coisa que ele me pedia, eu fazia; quando ele me chamava, eu aparecia, e se ele me mandasse ir embora, eu iria.

Já tentei muitas vezes não me deixar ser levada tão facilmente, e fracassei em todas as tentativas. É como se eu estivesse enfeitiçada, com todos os meus sentidos tampados, impedindo-me de recusar qualquer pedido, ou ordem.

--- Oi, princesa. Chegou rápido. - disse ele ao me ver quando abriu a porta.

Quando passei para dentro do apartamento, aquele cheiro gostoso de banho recém tomado invandiu as minhas narinas, e isso quase fez-me entrar em completo transe. Mas balancei a cabeça e me obriguei a permanecer em consciência.

--- Não tinha porquê demorar.

O apartamento dele é imenso. Eu me sinto pequena aqui dentro. Porque comparando com a minha casa, isso daqui é uma verdadeira mansão. E eu não pude deixar de lembrar de todos os outros dias em que vim aqui; de quando eu mentia para Luciano, dizendo que iria estudar na casa de uma colega e vinha para cá.

Devo admitir... Que foi loucura.

--- Um beijo pelo o que está pensando neste exato momento.

Olhei para trás e sorri. Adriel está encostado na porta, de braços cruzados e com um sorriso sapeca no rosto. Ele veste uma bermuda jeans, mostrando o cós da cueca e está sem camisa, revelando um peitoral e um abdominal invejável. Os seus olhos me analisam como um leão sonda a presa.

Esse olhar... Esse olhar me desconcerta. Os olhos de Adriel são escuros e brilham, como o céu estrelado. A forma como ele olha para mim, me dá a impressão de que a minha alma está sendo lida, enxergada. E quando deixo-me levar, sinto os meus pés saírem do chão e o meu corpo flutuar até o dele, como se fôssemos ímãs, eu sou o polo norte, e ele o sul.

--- Eu estava pensando... Em nós. - sussurrei.

--- Fale mais.

Por mais que eu tente manter a postura, fica difícil com Adriel explorando os meus braços com as suas mãos enormes.

Enguli em seco e fechei os olhos. Sentir aquelas mãos ásperas subir e descer, acariciando, causa-me fortes arrepios. A maneira como o meu corpo reage com cada toque, e até mesmo apenas com a sua aproximação, não tem uma descrição plausível.

E eu esqueço de tudo, e penso apenas no aqui... E agora.

[...]

19 · 02 · 22

[...]




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