Capítulo 7 - Primeira(s) Vez(es)
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- Preciso recomendar juízo, mocinha?
- Claro que não. - Rindo, balancei a cabeça em negação e me aproximei de Hanako, depositando um beijo estalado em sua bochecha. Repeti o processo com tia Miya e Yuina, que olhava de um modo curioso para as minhas sacolas. - Prometo que vou me comportar.
- Ah.. Que chato ser criança. - Bufando, minha irmã mais nova amolecia o corpo no sofá, assemelhando-se a um caracol. - Queria ir pra essa festa. Não pode ir mesmo?
Balancei a cabeça em negação, afagando os cabelos encaracolados da garota. Yuina me respondia com uma careta, afundando o rosto em seguida em uma das almofadas.
- Tenho certeza que, quando estiver na minha idade, terá saudades de ser criança. - Pisquei para ela, desviando o olhar para o celular. Ao ver que o carro de aplicativo havia chegado, acenei, saindo depois de milhares de recomendações de Hanako, inclusive sobre a volta para casa. Não, eu não havia pedido permissão para dormir na casa de Kentin e sim, eu diria para ele que ela não havia deixado. Por mais decidida que estivesse sobre o fato de agir e fingir ser Ichikawa Sophie, ainda não conseguia fazer tudo o que era costumeiro para ela.
A noite estava agradável quando o carro parou em frente a residência Kurokawa. Agradecendo, saí do veículo e andei poucos passos pelo jardim bem cuidado, parando em frente a porta. Bati duas vezes e esperei por poucos segundos até que a porta fosse aberta, exibindo uma figura de cabelos loiros que prontamente me recebeu.
- Soph, querida! - Kyouko, a mãe das gêmeas, era absurdamente linda. Não era errado dizer que a mulher parecia uma terceira irmã das meninas, de tão jovial que ela aparentava ser. Me puxando para um abraço, soltei um grunhido contido, ao sentir o aperto dos seios da mulher na intensidade do seu abraço. Eles eram duros como pedra. - Sua mãe está bem?
- Está sim. - Sorri, soltando um suspiro aliviado quando o ar voltou aos meus pulmões. Estava prestes a completar a minha frase, mas parei repentinamente ao ouvir um barulho característico de algum objeto sendo acertado contra a parede. Erguendo uma sobrancelha, levei o olhar na direção do som, vindo do segundo andar. - O que está acontecendo?
- Ah, a Kaori.. - Kyouko levava uma das mãos até a cabeça, balançando-a em negação, como se aquilo fosse recorrente. Cruzando os braços, a mulher seguia o meu olhar. - Você sabe como ela é.. um tanto expressiva.
Balancei a cabeça em afirmação, podendo confirmar no pouco tempo em que a conhecia. Em seguida, subi as escadas, seguindo para o quarto de Kaori. Bati na porta, abrindo-a com um certo receio de que algo voasse no meu rosto.
- Licença, tô entrando.. - Pus um pé para dentro, após confirmar que eu não seria alvejada pelos objetos voadores. Kaori estava sentada sobre as próprias pernas, portando um babyliss em mãos. Keiko estava ao seu lado, limpando as lágrimas que caiam como cascata pelo rosto da loira. - O que aconteceu?
- Ai, Sophicchi.. - Fungando, Kaori continuava. - Por quê eu tenho que ser tão feia? Tão gorda? Nada fica bom em mim. Eu me odeio! - Interrompendo a frase com mais lágrimas, levei o olhar até Keiko, esperando que ela traduzisse o cenário que eu estava presenciando.
- Ela tá assim desde o encontro em grupo de ontem. O cara era um babaca.
- Ele disse que eu.. era chata.. e fútil.. - Tentando falar, Kaori voltava ao estado de lágrimas. Deixando minhas sacolas em cima da cama dela, suspirei, ajoelhando-me a altura do seu rosto. - Eu sei que eu devo ser uma patricinha fútil mas.. Será que eu não tenho nenhuma qualidade?
- É claro que tem! - Abri um sorriso sincero, ajudando Keiko na missão de cessar as lágrimas da garota. - Você é incrível, Kaori. Não deixe que ninguém te diga o contrário, ok? - Puxando-a pra um abraço, deixei que o seu corpo amolecesse sobre o meu. - Aquele cara não te merece. Quem em sã consciência pode falar que você é chata? É a melhor pessoa que eu conheço. Vocês duas. - Com a mão livre, abracei a lateral do corpo de Keiko, que se juntou a nós duas. Eu não estava mentindo quando disse que Keiko e Kaori eram as melhores pessoas que eu podia conhecer. Em Thornfall, eu não tinha amigas tão divertidas quanto elas. Me partia o coração quando Kaori se rebaixava daquela forma, principalmente quando ela se recusava a enxergar que era uma garota incrível.
- Você acha mesmo? Não tá dizendo isso só pra me animar? - Secando os olhos, Kaori se afastava, exibindo desconfiança no rosto avermelhado.
- Você não acredita na sua amiga!? - Estalei os lábios, apertando-a mais. Afundei o nariz nos fios loiros da garota, sentindo o aroma refrescante de frutas vermelhas. - Eu tenho certeza que você vai encontrar alguém que saiba reconhecer a garota incrível que é. Mas antes, você mesma tem que acreditar nisso. - Afastando-a, levei a ponta dos dedos aos olhos da loira, limpando os resquícios de lágrimas. - Agora.. a gente tem que se preocupar em ser as melhores daquela festa. Não foi você que disse que a gente ia arrasar!?
Kaori sorria, limpando as lágrimas e se juntando a mim na animação. 5 minutos depois, Keiko e eu nos dividimos em limpar as lágrimas da garota novamente, assim que ela percebeu que estava com os olhos inchados de tanto chorar. Segundo ela, aquilo estragaria sua maquiagem.
- Suquinho para as minhas garotas favoritas! - Batendo duas vezes na porta e transpirando jovialidade, Kyouko surgia na nossa frente carregando uma bandeja com três taças preenchidas com um líquido laranja. - Me contem as novidades. Algo me diz que você não vai dormir em casa hoje, Soph-chan.
Engoli em seco, me dividindo entre processar a presença da mãe das gêmeas no recinto e subir o zíper da saia. Do outro lado daquele quarto caótico, Kaori abanava o próprio rosto envolto por uma máscara de cor branca, ideal para acabar com o inchaço abaixo dos olhos.
- Ah não, eu vou dormir em casa. - Respondi, pegando a taça com as duas mãos em uma tentativa desesperada de me ocupar com alguma coisa, antes que eu arrancasse os cílios postiços. Aquilo era incômodo em um grau torturante, e se eu ainda não entendia, estava começando a me situar nas várias situações desagradáveis que uma garota tem que aguentar em nome da ditadura da beleza. Mundos diferentes, costumes diferentes, mas todos com o mesmo fim.
- O que aconteceu com a geração de vocês? - Antes que eu parasse de divagar sobre as complicações encontradas nesse mundo, Kyouko se sentava, com os olhos brilhando em expectativa. Para quem olhasse de fora, a mulher parecia a quarta integrante perdida do nosso trio de garotas. - Você pode dizer para a Hana-chan que passou a noite aqui. Ah, na época de vocês a minha mãe sempre pensava que eu havia dormido na casa de alguma colega, mas na verdade..
- Mãe! - Keiko interveio, parando de passar o delineador para encarar a mãe pelo espelho. - A gente tá muito ocupada e com toda certeza, não queremos ficar traumatizadas com as suas histórias.
- Tsc, suas chatas. - Se levantando, a mulher com ares de uma modelo da Vogue se encaminhava até a porta, com uma expressão que praticamente implorava para que alguma de nós pedíssemos que ela ficasse. - Ficar com vocês me deixa mais jovem. Mas eu já entendi que estou ultrapassada demais para participar das conversas e que eu só sirvo quando vocês duas querem acabar com o limite do meu cartão. Soph, querida, se você quiser alguma diquinha de como tornar a noite de hoje inesquecível, eu vou estar lá embaixo me alienando com alguma série que tenha saradões bronzeados. Você já viu como eles são definidos-
Deixando a minha boca escancarada pela quantidade de palavras por segundo, Kaori a interrompia, fechando a porta com um baque. Em seguida, depois de alguns segundos em que nós três nos entreolhamos como se tivéssemos sido expulsas, e logo depois readmitidas a gravidade, a loira balançava a cabeça em negação, voltando a se preocupar com a linha abaixo dos olhos.
- Ela é sempre assim. Uma vez, ela esqueceu a gente na escola porque a cabeleireira não estava acertando o tom das mechas que ela queria.
- Eu gosto da sua mãe. Ela é.. divertida? - Arrisquei, fazendo um esforço para encontrar a palavra certa.
- Até você conviver diariamente com ela. - Com um timbre cansado, Keiko se vestia com a parte superior de sua escolha para a festa. Olhando para Kaori, que esfregava uma pequena esponja abaixo dos olhos para sumir a vermelhidão causada pelo choro, - que já havia sumido a algum tempo - e depois para a sua irmã, entendia que ela possuía motivações para se sentir assim.
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Estaria mentindo se dissesse que não estava nervosa. Podia sentir todas as minhas terminações em conflito para permanecerem em total controle, e à medida que me aproximava do prédio iluminado e repleto de pessoas em trajes de festa, sentia a mistura de alimentos ingeridos no dia reagirem de uma forma não tão segura ao nervosismo crescente.
Aquilo era totalmente diferente de um baile real. Tipo, muito. Precisei desviar os olhos das luzes fluorescentes que piscavam insistentemente em tons de azul, vermelho, roxo e verde misturando-se ao neon. Minhas pernas fraquejavam, fazendo-me lembrar que eu não podia me dar o luxo de desequilibrar, em cima daqueles saltos com enfeite de borboleta que podiam fazer estrago em uma queda. Ousei olhar para baixo, assim que notei os olhares em minha direção. Seguindo as palavras de Kaori, eu estava reluzente. E era no sentido literal da palavra mesmo. Minha saia contornada no corpo se destacava no mar de purpurina rosa que acompanhava também o cropped em formato de coração que eu usava, com um corte em V que não chegava até o umbigo. As alças desafiavam o tradicional, incrustado com cristais que destacavam o pescoço adornado com uma pedra vermelha.
E falando na loira, a garota havia feito uma verdadeira produção no meu rosto. Minhas pálpebras estavam pintadas de rosa, acompanhada por um delineado decorado com borboletas em cada canto dos olhos. Meus lábios exibiam um tom de vermelho que os destacavam, fartos. Finalizando, ostentava uma estrelinha rosa no centro da minha testa, ideia de Kaori que também usava uma de cor vermelha, combinando com o seu vestido aberto nas laterais.
A ideia de usar babyliss no meu cabelo partiu de Keiko. Preso em um coque baixo, os fios foram graciosamente trançados uns aos outros, deixando propositalmente algumas mechas à frente do rosto. Quando estava pronta, ainda na casa das gêmeas, elas disseram que eu estava com um ar de modelo.
"Nenhuma marca vai dizer não para uma beldade como você" - Keiko's voice
Envergonhada, baixei os olhos com cada comentário acerca da minha produção. Estava novamente diante de olhos alheios e dessa vez, por um motivo totalmente diferente.
- Empacou aí? - Chamando a minha atenção, Kaori estalava os dedos na minha frente, me chamando de volta para o planeta Terra. - Vamos pegar as nossas pulseiras e depois ir na cabine de fotos.
Piscando, convenci a mente a não deixar que qualquer pensamento de outrora atrapalhasse o meu rendimento na festa de hoje. Seguindo as gêmeas, passei a olhar ao redor do ambiente, repleto de pessoas que se dividiam em dançar e procurar possíveis pares. Por um segundo, pensei no dia da entrega dos cards, e na definição de Aono para a programação. Será que ele estava entre aquelas pessoas?
- Ele quem? - Girando a pulseira colorida, Kaori cedia espaço para que eu pegasse a minha. Naquele momento, percebi que o meu pensamento havia ultrapassado os meus lábios, me fazendo empalidecer.
- Kentin. Quem mais seria?
- Ah, ele deve estar se exibindo por aí. Já já vocês se encontram, antes você vai ficar um pouco com as suas amigas.
Concordei, afastando os pensamentos. Em seguida, Kaori, Keiko e eu adentramos na cabine fotográfica, adornada com o tema da festa e com alguns artefatos para auxiliar nas fotos. Usando uma tiara colorida de gatinho, nós três posamos para as fotos, que saíram segundos depois em formato Polaroid.
- Ok, eu vou morrer se a gente não for para a pista de dança agora. - Antes que eu pudesse assentir, a loira me puxava pelo braço, balançando os seus cabelos ondulados no mesmo ritmo dos sapatos cor de creme, assemelhando-se a personalidade de sua mãe. Não podia acreditar em como alguém tão linda e que esbanjava autenticidade, na realidade se achava menos do que realmente era.
Adentramos no pátio tomado por silhuetas dançantes ao som de Tiger, do grupo JO1. Os corpos se balançavam de um lado para o outro, sendo acompanhados pelo reflexo das luzes, que deixavam o lugar com um ar hipnótico. Nos misturamos rapidamente ao mar de pessoas, pulando e balançando a cabeça, acompanhando a batida da música.
Pouco a pouco, meu corpo cedia a dose de adrenalina a cada vez que o DJ abaixava a música, pedindo por gritos que foram correspondidos por todos que estavam na pista. Aquela altura, já estava embebida pela sensação alucinógena que invadia os meus sentidos. Liberdade.. aquele era o gosto picante que estava nos meus lábios. Nunca imaginei que uma festa pudesse ser tão divertida, assim como nunca pensei em um dia estar livre das regras que me prenderam a tanto tempo. Enquanto dançava com Keiko e Kaori, pude me sentir mais livre do que nunca.
Balançamos nosso corpo ao som de Trigger, do grupo JO1, trocando passos condenados. Logo nossa dança envolvia quem estivesse por perto, e eu ria e girava como uma criança descobrindo um mundo novo. Já estava longe o bastante para não ver a silhueta das garotas diante do círculo que estava formado ao meu redor, e envolvida pelo ritmo dançante, passava por quem estivesse à minha frente, movendo o quadril no estilo da música.
Ofegante e suada, abri os olhos no momento em que uma figura conhecida passava entre os corpos animados, demorando alguns segundos para o encontrar novamente. Olhando para os lados e vendo que havia perdido as garotas de vista, entrei no aglomerado de pessoas, cumprimentando rapidamente algumas que me chamavam para dançar, prometendo voltar depois.
Segui na direção da saída, respirando pesadamente assim que meus olhos encontraram o céu com vastas estrelas, e a brisa amena da primavera. Encontrando aquele cenário de calmaria, era como se o meu corpo tivesse sido expulso do mundo invertido.
Voltando a me concentrar na figura que já estava a metros de distância de mim, praguejei por aquele garoto andar tão rápido, diferente de mim, com um salto que não permitia que eu corresse tanto.
- Droga de sapato.. - Sibilei, retirando-os em uma tentativa desesperada de me livrar dos enfeites de borboleta que os mantinham presos aos meus pés. Obtendo sucesso, segurei-os e os balancei enquanto corria. - Aono! Aono-san! - Antes que minha voz o chamasse pela terceira vez, vi seus olhos preguiçosos se voltarem para mim. Agradeci por aquilo, cansada demais para formar qualquer coisa em meus lábios.
Me aproximando, apoiei as mãos no joelho, respirando de modo audível. Entre os fios do meu cabelo castanho, notei sua expressão impaciente, seguido das mãos que buscavam alguma coisa nos bolsos, como se imaginasse que o motivo para tê-lo chamado fosse para lhe entregar algum pertence que havia perdido. Julgando o nosso histórico, não era errado ele supor que não tínhamos o que conversar.
- Pra onde você está indo? - Finalmente, havia conseguido perguntar. Me recompondo em seguida, encarei o seu rosto, seguindo para a orelha direita, adornada com pequenas argolas pretas, cobrindo uma parte da pele. Fiz uma careta ao imaginar a dor de cada perfuração, intensificando-se ao olhar a orelha esquerda, preenchida com um enfeite de serpente. Aquele garoto gostava mesmo de sentir dor.
- Pra minha casa!? - Apesar de se parecer com uma pergunta, seu tom indicava o tom óbvio da resposta. Seguindo o meu olhar curioso, que ainda estava em sua orelha, o garoto tocou-a levemente, rapidamente me fazendo desviar o olhar, desconcertada.
- Mas.. mas a festa acabou de começar. - Argumentei, confusa.
- Eles disseram que era obrigatória a presença, mas não disseram nada relacionado a permanecer até o final. - Seu sorriso era irônico, mais uma vez proferindo as palavras com um tom óbvio. Aquilo era irritante. - Não tenho motivos pra ficar.
- Como não!? - Dessa vez, fui eu que me apropriei daquele tom, ao mesmo tempo que cruzava os braços. Apesar dele ter um bom ponto, aquilo não era suficiente para me fazer desistir. - Esse é nosso último ano nesse colégio. Aposto que se você for embora agora, vai se arrepender depois.
Soltando uma risada amarga, o garoto guiava o olhar para a dependência iluminada. Seu olhar parecia entristecido, sendo a expressão obviamente falsa. Quando voltou a olhar para mim, Aono possuía os olhos semicerrados, idênticos aos olhos de um gato.
- Acho que posso viver bem sem isso. - Abrindo um sorriso de lado, pude notar que ele possuía covinhas nas duas bochechas. Novamente, meu olhar demorou-se mais do que deveria. - Certamente é algo que vou conseguir superar.
- 20 minutos. - Praticamente cuspindo as palavras, encarei a íris noturna, que retribuía o olhar carregado de dúvidas. Aprofundando-me, relaxei os ombros. - Se você quiser ir embora depois desse tempo, não vou te impedir.
- Eu não lembro do momento em que passei a depender da sua permissão. - Me desafiando a encará-lo, podia ver a profundidade das pupilas que podiam me engolir por inteira com apenas um olhar. Não sabia o motivo, mas toda a tensão me impedia de desviar o olhar. - Não pense que você tem a mesma influência sobre mim, como têm sobre o restante do colégio. Não fico de quatro por garotas como você.
Afiado e desafiador. Aquele era o garoto que estava à minha frente, trajando uma jaqueta preta que me permitia ver o traçado de sua tatuagem, seguido de uma camisa de mesma cor, enfeitada com o símbolo de uma banda que eu não conhecia. Estalei os lábios, acompanhando o movimento dos seus dedos, que jogavam parte dos fios que não estavam presos por um coque para trás.
- Talvez você tenha que ficar de quatro pela representante da sua turma. - Rebati, travessa, no mesmo momento em que uma brisa forte carregava consigo as pétalas de cerejeira, pairando ao nosso redor. - Posso escrever no relatório que você não compareceu.
Erguendo uma sobrancelha, pude ver nos olhos do garoto que ele não estava esperando por aquilo, e particularmente aquilo me deu um gostinho de vitória, que adorei sentir. Interagir com Aono, mesmo que por trás de uma trincheira, me lembrava vagamente das conversas que tinha com Victor. Não chegávamos a nos degolar, mas o príncipe possuía um gênio forte que às vezes me obrigava a achá-lo um tanto implicante.
- Isso é algum tipo de persuasão, "representante?" - Sorri quando a última parte de sua frase saia entre dentes. Aono parecia tão envolvido quanto eu, ainda que tentasse esconder. Isso era hilário.
- Entenda como quiser, Aono-san. - Ergui a mão, levando na altura das mãos dele. Com a outra, direcionei na direção do ambiente iluminado. - Não te ensinaram que não deve deixar uma dama esperando?
- 20 minutos. - Suspirando a contra gosto, o garoto de mechas loiras passava por mim, ignorando a minha mão. Estalei os lábios, me dando por satisfeita quando seus pés emburrados seguiram para o local da festa. Aono fazia uma careta ao ver a pista lotada, e sua expressão denunciava o quanto ele queria ir embora do lugar.
Sem lhe dar opções, o puxei para a pista, depois de colocarmos as pulseiras que davam aquele efeito colorido na pista de dança. A turma do Ken havia pensado em tudo, podia constatar a dedicação em cada parte da decoração, seja nos pompons que adornavam as mesas, que em falar nelas estavam lotadas de aperitivos deliciosos, até a faixa central que recebia os novos alunos e desejava um bom ano aos que já estudavam ali. Eu só havia visto festas como aquela nos filmes que maratonei nas férias. Apesar do nervosismo inicial, eu estava amando estar participando daquilo.
Momentaneamente, me lembrei do meu namorado e da sua ausência na minha linha de visão. Olhei ao redor, enxergando apenas rostos desconhecidos.
- Eu não sei dançar. - Segurando meu pulso, Aono interrompia a minha procura. Encarando-o, balancei a cabeça em negação, respondendo-o por cima do som.
- Ah, não brinca! Todo mundo sabe fazer alguma coisa! - Trazendo-o para o centro da pista, deixei que o ritmo animado de Run&Go, do grupo JO1 guiasse os meus braços, criando um movimento próprio, que nas palavras do garoto se assemelhava "a uma tartaruga tentando se recompor." É claro que eu ri tanto que só parei quando a minha barriga se contraiu de dor.
- O que você está fazendo? - Erguendo uma sobrancelha, o garoto me olhava de maneira estranha. Rindo, indiquei que ele fizesse o mesmo.
- Dançando, ué. - Respondi enquanto o rodeava. - Sabe acompanhar?
Talvez ele estivesse me achando a pessoa mais louca do mundo, mas logo ele passou a acompanhar a minha dança maluca. Eu sabia que estava comprometendo a minha reputação naquele colégio, mas naquele momento, enquanto dançava de forma estranha com Aono, não deixei que nenhum pensamento além de nós dois chegasse à minha mente.
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- Experimenta esse, é uma delícia, sério. - Praticamente enfiando um doce de morango entre os lábios do garoto, aproveitei para lamber os dedos com resquícios da calda. Estávamos a mais ou menos meia hora na mesa de doces, parte do tempo sendo gasto nas minhas degustações excessivas.
- Já disse que não como doces e.. - Parando de falar momentaneamente para ingerir o doce, - fazendo careta no final - o garoto me olhava de cima a baixo, balançando a cabeça como se a diferença entre nós fosse de 10 anos. Talvez, só talvez os meus lábios sujos de granulado fossem parte daquele achismo. - Você vai passar mal se continuar comendo dessa forma.
- Que fofo. Por acaso você está preocupado comigo, Aono-san? - Provoquei, recebendo um estalar de lábios em resposta. Em seguida, acelerei os passos para interceptar a saída dele, levantando as mãos em sinal de trégua. - Vamos na cabine fotográfica.
Sem esperar por uma resposta positiva, o arrastei pelo meio da multidão, abrindo espaço entre algumas pessoas que olhavam para nós como se a junção fosse inconcebível. Para elas, e os comentários que faziam, dirigi a minha melhor cara de desprezo, e segui. Ser a Sophie também era seguir a minha vontade, e naquele momento, queria ficar com o Aono.
- Soph! Aí, até que enfim a gente achou você! - Depois de alguns cliques, Aono e eu voltamos para a pista de dança, seguindo o ritmo dos nossos movimentos. Com uma expressão que traduzia um "o que você está fazendo?" Kaori surgia na minha frente, pegando o meu braço e prosseguindo com palavras que foram engolidas pelo som da próxima música. Sem deixar que Aono fugisse, entrelacei as nossas mãos, levando-o junto.
Pink Venom ecoava das caixas de som ao mesmo tempo em que nosso trio era o centro das atenções da pista. Apesar de familiarizada, os flashs e os olhares ansiosos antecipavam as náuseas que tomavam conta de mim na medida que a música avançava. Olhando para os lados, podia ver Keiko e Kaori deslizarem a ponta dos dedos pelo corpo esguio, e engoli em seco ao pensar que era aquilo que esperavam de mim. Senti o pânico crescer e estrondar a minha mente junto com os pensamentos depreciativos, ecoando dizeres de "Fuja, você não vai conseguir."
Prestes a aceitar aquelas palavras, vi o abismo noturno dos olhos de Aono e as lembranças dos momentos que compartilhamos nessa noite. O modo como insisti para que ele ficasse e se divertisse, mesmo que de um modo não tradicional.
"This that pink venom"
"This that pink venom"
Sorri, entendendo o significado das minhas próprias palavras na medida que o meu corpo se movimentava no ritmo da música. Destoando das garotas, balancei os quadris tomando o centro da pista sem perceber. Meu corpo esbanjava liberdade traduzido na forma como meus saltos deslizavam, ou no modo como o meu cabelo se transformava em uma cascata ao cair em ondas selvagens, cobrindo as minhas costas.
Em algum momento da dança, meu olhar se cruzou com o de Aono. O dele, exibia uma turbidez tão densa, que me fez desejar transpassá-la para saber o que ele estava pensando. Dúvidas passavam pela minha cabeça assim que questionei os motivos que o fizeram ficar, já que eu não estava perto o bastante para impedi-lo. Também notei o olhar ácido de Kobayashi e a sua preparação para entrar na dança com o seu grupo de garotas, e no mesmo momento que olhei, desviei o olhar, leve o bastante para não tornar o sentimento de liberdade que me movia em uma competição.
Um silêncio prolongado tomava conta da pista assim que a apresentação terminou. Os presentes se entreolhavam, atônitos, como se a própria Deusa viesse ao encontro de quem acompanhava. Suada e ofegante, recebi em seguida os aplausos demorados e gritos eufóricos que não cessavam mesmo quando a próxima música iniciou. Como um véu que havia saído da frente do meu rosto, agradeci envergonhada pelo o que tinha feito, mas nem um pouco arrependida. Da mesma forma deslizante, deixei que as gêmeas continuassem dançando, e voltei para perto de Aono. Pigarreando, ele parecia evitar o meu olhar.
- Isso cansa. Do nosso jeito, é muito mais divertido. - Sorri, voltando a me movimentar, diante do olhar indescritível do garoto. Dançamos as três músicas seguintes, e logo depois eu ataquei a mesa de doces novamente, não podendo imaginar como ele não poderia gostar daquelas delícias. Contrariando as músicas dançantes, This Love, da Taylor Swift, começava a tocar, fazendo com que todos os presentes procurassem um par para dançar. - Aceita me acompanhar nessa dança?
Abri um sorriso assim que voltamos para a pista, encarando-o na medida que nossos pés se movimentavam lentamente. Aquilo não era igual as valsas que eu já estava mais que acostumada, mas era envolvente da mesma maneira. De maneira educada, Aono envolvia a minha cintura, enquanto os meus braços rodeavam o seu pescoço, sentindo uma pequena cosquinha a cada vez que os fios de seu cabelo roçavam a minha pele.
Seus dedos seguravam as laterais do meu corpo de maneira delicada e por vezes, nossos olhares se encontravam, à medida que minha aproximação me permitia inalar a fragrância amadeirada que me fazia lembrar de dias chuvosos e uma xícara fumegante de café. De perto, demorava o olhar nos traços marcantes da face do garoto, encarando desde o ângulo dos seus olhos até a linha contornada de seus lábios.
Aono também me olhava, e de maneira estranha, tive vontade de desviar o olhar. Quando estávamos em silêncio, sem implicar um com outro, eu me sentia um tanto intimidada em estar na sua presença. Mas é claro que aquilo não duraria muito tempo.
...
Garoto A: Xxxxxx-chan, você é a garota mais linda da festa. Sou muito sortudo por estar dançando com você.
Garota A: Ah, para Xxxxx-kun, você está me deixando envergonhada!
Ruborizada o bastante para continuar escutando a conversa do casal ao lado, desviei o olhar para o garoto de enfeites nas orelhas, que não podia estar mais enojado compartilhando da escuta. Ao cruzar o olhar com o meu, sua careta se intensificou.
- O quê você está olhando!? Eu não vou fazer isso. Ultrapassa todos os níveis da vergonha alheia.
- Nunca te ensinaram que é isso que cavalheiros fazem?
- Cavalheiros como o da Branca de Neve? - Ele sorria, irônico. - Sinto muito te desapontar, mas eu não compactuo com essas irrealidades cinematográficas. - Prosseguindo, Aono transformava a expressão em um sentimentalismo fingido, claramente demonstrando o contrário. - Desista, patricinha. Não vou ser um dos seus fãs.
"Como é que é?" Pensei, indignada com a truculência das palavras. No entanto, na minha resposta, calculei milimetricamente as palavras para não demonstrar.
- Não é como se eu estivesse implorando para receber um elogio seu, brutamonte. Continue assim e estará no final da lista de qualquer garota que tenha cérebro o suficiente para fugir de um cara azedo como você.
- Se elas forem iguais a você, acho que não perco muita coisa. - Malditas covinhas que adicionavam mais cinismo naquele rosto irritante.
- Grosso. Estúpido. - Estalei os lábios, destoando completamente do clima amoroso que estava a um passo de nós dois.
- Criaturinha desprovida de charme. Ignóbil. - Pisquei os olhos, ofendida. Quem em sã consciência chamaria uma garota de ignóbil?
Não respondi verbalmente. Em vez disso, aproveitei os últimos instrumentais da canção para pisar "acidentalmente" no pé dele.
- Oh. Além de ignóbil, sou desastrada.
Queria sorrir, mas me contive. E por alguns segundos achei que o último ato seria meu, tendo em vista a falta de reação do garoto em relação ao meu gesto. No entanto, não pude estar mais redondamente enganada.
Um sorriso surgia naquela face dissimulada ao mesmo tempo em que Aono tomava o controle da dança, girando-me em sua direção. Em seguida, com a finalização da música, abri os lábios em busca de fôlego assim que o meu corpo tombava para trás, ameaçando cair. Fechei os olhos, esperando a queda que não ocorreu. Quando os abri, os olhos negros do garoto estavam fixos ao meu, e o seu rosto, apesar de não estar exatamente próximo, parecia roubar todo o ar que ainda estava presente em meus pulmões.
Ensaiei algumas palavras, mas nenhuma delas ousava sair da minha garganta acorrentada. Os dedos de Aono pressionavam a minha coxa e as minhas costas ao mesmo tempo, amparados por suas mãos. Apesar do toque ser firme, não me causava dor e da posição que eu estava, era capaz de ver as silhuetas que se deslocavam pela pista, de um ângulo diferente. Aquele garoto havia passado do limite do atrevimento ao estar tão próximo, e me tocar tão levianamente. Procurei vestígios de más intenções nas pupilas que me encaram fixamente, sendo sugada pela intensidade do olhar. Até mesmo aquela ponta de divertimento havia sumido, sobrando o vazio de sua expressão e a incapacidade de qualquer ato que pudesse nos tirar daquela situação.
Em um segundo, Aono eu estávamos nos encarando, procurando nas entrelinhas algo que explicasse o que estava acontecendo, e no outro, precisei me equilibrar para não cair como um saco de batata. Abruptamente, o garoto era afastado de mim por um conjunto de massa definida, que poucos segundos depois reconheci como Kentin. Respirando fundo, corri na direção do meu namorado antes que toda aquela confusão tivesse consequências físicas.
- Kentin? Ei, para!
- O que esse delinquente tava fazendo com você?
- Era só uma dança, não tem nada demais nisso. Ei, olha pra mim. - Tentando contê-lo, engoli em seco ao ver a quantidade de pessoas que nos observava, expressando nos olhares a expectativa de uma briga. Ao desviar a atenção para Aono, me surpreendi ao notar que nada daquilo parecia afetá-lo, nem a aura ameaçadora que exalava de Kentin, como se ele estivesse em uma bolha antiperfurante. - Por favor, já chega.
Irredutível, Kentin me ultrapassava, ficando a centímetros de Aono. Em seguida, diante do olhar curioso dos alunos da Hachi, o loiro erguia a mão, pousando de um jeito nada amigável no ombro largo do garoto.
- Eu espero que essa seja a última vez que eu te vejo perto da minha namorada. Eu não vou ser tão amigavel se houver uma próxima vez.
Com uma expressão de poucos amigos, Aono se afastava de Kentin, livrando-se da mão ligada ao seu ombro com um gesto estalado.
- Não precisa pedir duas vezes. Não tenho intenção de virar o brinquedinho da sua namorada. Esse papel fica melhor em você. - Sutilmente irônico, Aono esbarrava em Kentin antes de deixar o lugar. Atônita, fiz menção de ir atrás do garoto, sendo parada repentinamente pelo aperto da mão do meu namorado em volta do meu pulso.
- Você não está pensando em ir atrás dele, né?
Observando a silhueta alta ultrapassar os portões do colégio, cedi, impondo um sorriso na face confusa. Eu não podia arriscar o relacionamento de Sophie. Com essas palavras em mente, balancei a cabeça em negação, abraçando-o.
- Kentin, escuta, eu estou com você. Por favor, esquece isso. Vamos aproveitar a nossa noite.
Com ambas as mãos em minha cintura, Kentin me levava de volta para a pista de dança, cumprimentando com um sorriso exibido aqueles que estavam presenciando o princípio de confusão. Ao seu lado, era exibida como um dos troféus que ele estava acostumado a ganhar, e apesar de ser aquela vida que eu estava destinada a seguir, ainda olhava para trás, em uma esperança de voltar ao momento em que eu realmente me senti livre.
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- ...E então, ele disse que eu sou o melhor. Até queria dizer que ele estava errado, mas.. Eu sou mesmo.
Sorri, assentindo. Kentin comentava sobre uma partida de basquete entre os garotos do seu condomínio, exibindo um sorriso convencido a cada pausa para observar a minha expressão. No pouco tempo em que estava nesse mundo, aprendi a monitorar as minhas expressões para cada pessoa que dialogava. Keiko e Kaori exigiam uma versão alegre, antenada, jovial. Para Kentin, eu deveria ser uma namorada modelo. Eu ainda não entendia muito bem o que aquilo significava, mas na prática, Kentin queria uma namorada que o elogiasse. Uma garota que se sentisse grata por tê-lo como namorado. Alguém que estivesse ao seu lado quando suas "ações gloriosas" precisassem de uma garota propaganda.
- É, ele não está errado mesmo. - Observando o sorriso de ponta a ponta do meu namorado, suavizei a expressão assim que os lábios do garoto subiam e se demoravam em meu pescoço. Estávamos em uma parede afastada do ponto mais congestionado da festa, onde o som chegava de maneira abafada.
Kentin prosseguia com a onda de beijos, deixando-me petrificada. Naquele momento, tentei pensar nos sentimentos que li nos mangás de Sophie. O modo como uma garota reagia àquelas ações, as vibrações, o entusiasmo do próximo passo. De forma assustadora, Kentin se aproximava perigosamente dos meus lábios, e diferente do brilho de expectativa que antecede a junção, havia um imenso nada que percorria preguiçosamente em minhas veias.
O primeiro beijo. Apesar da falta de pretendentes em minha vida passada, a antiga Emilli sonhava com o momento em que receberia o toque de amor. Um campo florido, a brisa de primavera, o desabrochar de uma rosa. Todos aqueles pensamentos coloridos abriam espaço para o horror que senti no momento em que os lábios de Kentin se juntaram aos meus. A textura dos lábios, o ritmo, a forma como a língua se movimentava dentro da minha boca. A breve lembrança de Lucien e o pânico que eu sentia quando ele me tocava. Todos aqueles sentimentos ameaçavam a integridade do meu estômago já castigado pelos doces. Farto de emoções, meu corpo anunciava o regurgitar de toda a confusão que eu não sabia lidar.
- Kentin, eu- - Abruptamente, me afastei a tempo de soltar toda a mistura do dia nas vestes combinadas do meu namorado. Derrotada, vi entre as mechas despenteadas a mistura de nojo e incredulidade que estavam estampadas no rosto do loiro. Enjoada, queria me desculpar por tê-lo envolto nos meus restos gástricos, mas a cada tentativa, voltava a expelir comida.
Não sei por quantos minutos senti os meus órgãos virarem uma mistura líquida no meu corpo. Felizmente, minha vergonha gástrica não chegou aos holofotes, devido a rapidez do meu namorado em chamar as gêmeas, que ajudaram com a bagunça enquanto me abanavam. Tonta, não vi como nem quem havia limpado tudo, tampouco notei quando fui retirada do colégio. Minha consciência começava a voltar ao normal no momento em que Kentin me tirava do carro parado em frente a uma residência chique.
Quis dizer que eu deveria ir para casa, afinal não havia avisado para Hanako que passaria a noite fora - nem havia essa intenção. - No entanto, estava fraca o bastante para começar uma interação. Mesmo assim, não fui capaz de fugir de uma conversa, acenando educamente assim que a mãe de Kentin vinha nos cumprimentar, parecendo impecável mesmo que o relógio já ultrapassasse as 23h da noite.
- Sophie. - Diferente de Kyouko, a mãe de Kentin parecia uma moldura, no quesito de ser tão opaca quanto um quadro. A linha de seu lábio não ousou subir, apesar de notar o seu sorriso. A voz parecia sempre preguiçosa, como se ela só estivesse se dirigindo a mim por educação. - Kentin me disse que você não se sente bem.
- Ah, não é nada. - Tranquilizei-a, mesmo que internamente eu ache que ela não esteja realmente preocupada. - Deve ter sido algo que eu comi.
- Entendi. - Mantendo a mesma expressão, a mulher voltava-se para o filho, que mantinha o seu braço ao redor da minha cintura. - Kentin, estou indo deitar. E Sophie, fique a vontade, você já conhece a casa.
- Fico agradecida com a hospitalidade, Yamada-san. - Sorri, vendo-a se retirar. Em seguida, Kentin me fornecia uma escova de dentes e uma toalha limpa, deixando-me somente após se certificar que eu não desmaiaria na banheira. Assim que escutei o clique da porta, desabei.
Passei a mão parcialmente quente em meus lábios, ainda sentindo a textura dos lábios de Kentin nos meus. O que havia acontecido? Por que não havia sido como eu imaginei?
Me encolhi, criando bolhas na água quente. Naquele momento, olhei para aquela pele, que não era minha. Acariciei meus dedos, que não eram meus. Mexi os meus pés, que não eram meus, criando ondas na água. Aquilo tudo era uma farsa.
- Sophie? Tá tudo bem? - Batendo suavemente, Kentin interrompia as minhas lágrimas silenciosas, as quais limpei rapidamente antes de responder. Minutos depois, deixei a água sentindo que aquela era a escolha errada. Não estava pronta para abrir a porta e encontrar Kentin, que não era meu.
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- Eu preciso ligar para a minha mãe. - Avisei. - Eu não disse a ela que iria dormir aqui.
- Mas eu achei que você já tinha pedido. - Desviei o olhar para fugir das sobrancelhas erguidas de Kentin, pegando o celular em seguida para discar os números. Vestida com as roupas dele, me sentia nua e constantemente observada por aqueles olhos tão claros quanto o céu da manhã.
Na outra ponta da cama, consegui avisar para Hanako que passaria a noite fora, surpreendentemente encontrando compreensão por parte da mulher e mais alguns avisos de precaução que não vou mencionar aqui. Ser filha dela nesse mundo é uma das coisas mais legais que tenho encontrado, e acho que eu nunca seria suficientemente capaz de agradecê-la por tudo o que ela faz por mim.
- Tudo certo?
Tirando-me dos meus devaneios, Kentin me observava enquanto eu apertava o celular contra o peito, com os olhos de um caçador diante da sua presa. Por reflexo, me encolhi, mas aquele gesto não foi suficiente para afastá-lo quando assenti.
- Você vai vomitar em mim de novo? - Abrindo espaço entre as minhas pernas, Kentin se aproximava para me beijar. Apesar do pânico crescente, eu já havia conversado com o meu estômago para se acostumar com qualquer coisa que envolvesse amassos e toques inapropriados.
- Bobo. Não vou vomitar em você. - Com a última frase sendo proferida em um tom de mantra, senti o meu corpo se chocar contra o lençol de seda fina, esparramando os fios castanhos contra o tecido. Em seguida, Kentin subia em cima de mim enquanto alisava os meus braços, sorrindo vitorioso.
- Você escovou os dentes, né?
A princípio, arqueei a sobrancelha, discutindo internamente sobre o teor da pergunta. Em seguida, assenti, notando a expressão aliviada no rosto do garoto.
Kentin me beijava de uma forma que me lembrava carros de corrida. Havia uma sensação de chegar ao primeiro lugar, mesmo que nenhum de nós estivéssemos em uma competição. A língua do loiro se chocava e se debatia contra a minha e mesmo que eu ainda tivesse dificuldades para retribuir, não era como se eu precisasse exigir muito de mim já que a maior parte do ritmo era dita por ele.
De forma rasteira, Kentin erguia a ponta do moletom que havia me emprestado e era nesse momento que o farol vermelho se acendia em minha mente. Trazendo à tona os fatos, eu havia regurgitado as minhas tripas com um único beijo. Definitivamente, eu ainda não estava pronta para passar desse ponto.
- Por que a gente não assiste um filme? - Conquistando um milímetro de espaço entre nossos lábios, disparei afoita no exato momento em que a mão de Kentin ameaçava cobrir o meu seio direito. Sentindo os batimentos cardíacos ecoarem de forma dolorosa em meu ouvido, queria chorar de alívio quando lentamente a mão do garoto interrompia o ato, se assemelhando a um motor quebrado.
- Filme? - Arqueando a sobrancelha loira, Kentin receberia a sugestão como um balde de água fria para os seus planos pecaminosos. Ao olhar em meus olhos e ver o brilho de expectativa, desejando com todas as forças que a resposta fosse positiva, o garoto assentia a contragosto, passando para o lado oposto da cama. - Você escolhe?
Assenti, grata aos Deuses por não me abandonarem naquele momento.
- Pega alguma coisa pra gente comer? Estou me sentindo oca por dentro.
Sorrindo agradecida quando o garoto de 1,81 cm deixou o quarto a longos passos, me levantei da cama passando a explorar as prateleiras cobertas de prêmios. Aproximando o rosto, li a categoria de alguns deles, Melhor Atleta, no ginasial, Melhor Arremesso, no fundamental, prêmios estaduais da Scorpion e alguns de Melhor Jogador no torneio entre classes. Kentin falava e exibia aqueles prêmios com orgulho, quando voltou com uma bandeja repleta de frutas e queijos caros que nem imaginava o nome, dedicou o seu tempo a me explicar os detalhes de cada conquista, mesmo que algumas lembranças da minha antecessora me façam crer que ele já havia falado diversas vezes sobre o assunto.
- Meninas Malvadas? - Cético, Kentin puxava o cobertor, cobrindo a nós dois enquanto deixava o controle por minha conta. Desde o momento do shopping, tinha vontade de ver esse filme que praticamente ensinava a ser um it-girl. Nada como unir o útil ao agradável. - Mas você não já viu esse filme, tipo, milhares de vezes?
- Sempre é tempo de ver mais uma vez. - Pisquei, esperando soar confiante o suficiente ao apertar o play e me enfiar debaixo da coberta. O quarto de Kentin era extremamente frio e apesar de lutar contra a vontade de procurar calor, não encontrei outra opção que não fosse procurar pelo braço do meu namorado.
O filme era divertido. Ri na referência que me levou a procurar o título, tendo certeza que das quatro, eu reencarnaria como a Cady. Apesar do filme ser totalmente fictício, - afinal, eu estava sofrendo para me tornar outra pessoa e a Cady conseguiu isso em um piscar de olhos - serviu como um guia para saber como o mundo das garotas funcionavam.
Dormi antes dos créditos, tão rápido que não sobrava nenhuma chance para que Kentin retomasse o que havia sido interrompido devido a minha sugestão. Conhecendo o garoto, ele deve ter ficado decepcionado e com toda certeza, haverá outras noites iguais aquela. Isso significava que a minha lista de filmes teria que aumentar.
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Oii, cerejinhas! Como vocês estão? Capítulo imenso para mostrar todos os acontecimentos da festa que convenhamos, rendeu né? Tivemos desde Sophie arrasando na pista de dança até a pobi passar mal por causa do beijo
E as interações entre Sousuke (Aono) e Sophie, o que vocês acham ein? Também tivemos as gêmeas e um momento fofo entre amigas.
Hoje, o meu tchau vai ser super especial. Acreditam que sim, teremos a primeira ilustração especial da história? Para quem me segue no app do passarinho azul, sabe que lá no fixado tem ilustrações incríveis! Mas essa aqui é a primeira a ser postada em um capítulo e eu queria muito agradecer a @jksugarboo pela arte, eu amei ter esse look incrível da Sophie ilustrado! (será que vocês conseguem acertar as referências?)
• Músicas apresentadas no Capítulo
- Tiger / J01
- Trigger / J01
- Run&Go /J01
- Pink Venom / BlackPink
- This Love / Taylor Swift
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