VIII - Oito

Ian

— Eu juro que posso explicar — foi a primeira coisa que Angie disse.

— Ótimo, pode começar então — ela suspirou.

— Katalinna ficava toda hora falando "sim, senhora" para tudo, e então um dia eu não aguentei e pedi para ela parar, ela quis saber o motivo e eu acabei contando. Me desculpe por isso.

— Então ela sabe sobre o BDSM? — eu perguntei, tranquilo.

— Sim — ela disse, simples. Eu não fiquei bravo com ela, aliás, as duas são melhores amigas, é óbvio que isso iria acontecer algum dia.

— Ela não é voyeur, certo? Porque se for vai ser um problema para você — eu disse, não totalmente preocupado com isso.

— Por que diz isso? E principalmente: o que é voyeur?

— Voyeur, também é conhecido como voyeurismo, é o nome que se dá quando uma pessoa sente prazer em observar outras pessoas em atos sexuais. E isso significa que se sua amiga for uma voyeur, é possível que ela queira assistir uma transa nossa — expliquei tranquilamente.

— Não! Ela não é, eu acho. E mesmo se fosse, eu não iria transar com você na frente dela.

— Algum motivo em especial? — eu perguntei, com um sorrisinho.

— Você é doido? Isso não é uma coisa que se faça na frente das outras pessoas — ela estava nervosa, e obviamente envergonhada. Mesmo assim, não é exatamente um motivo para ela agir assim comigo. Por esse motivo, desfiz o sorriso, erguendo uma sobrancelha.

— Não estou gostando do seu tom. Talvez você precise de mais disciplina — eu disse, vendo ela baixar minimamente a cabeça, sem dizer nada. — Principalmente, você não deve falar isso dos fetiches no qual não entende. Agora, pense, se alguém falasse mal do fetiche no qual você mais gosta, como se sentiria?

— E-eu... Desculpa, eu não devia pensar assim, com certeza eu me sentiria mal.

— Nós tendemos a não gostar do que não entendemos, mas como você quer tentar entender algo no qual nem mesmo quer tentar? E isso se aplica a tudo que é envolvido no BDSM. Mesmo assim, eu entendo que você não falou com a intenção de ofender a mim ou a qualquer outra pessoa — ela ficou em silêncio por algum momento, até finalmente se pronunciar.

— Você tem esse fetiche?

— Sim, tenho. Mas não é só isso, eu não apenas gosto de observar as pessoas, como também gosto de ser observado — ela se manteve em silêncio, talvez ainda processando o que eu havia dito. — E não se preocupe, eu não vou te obrigar a fazer nada que não queira, principalmente transar na frente de outras pessoas, sejam elas quem forem — eu disse por fim, realmente um pouco chateado por seu julgamento.

Nós ficamos em silêncio por metade do caminho. Talvez ela estivesse pensando sobre a nossa conversa, ou apenas não quisesse dizer nada por ainda manter a mesma opinião, e por esse motivo, pensei em mantê-la bem longe da sala de exibicionismo.

Claro, todos nós temos o direito de termos nossa própria opinião, mas não devemos julgar algo no qual não entendemos ou não gostamos. Cada um tem sua opinião, e se não gostamos o mínimo que devemos fazer é nos manter calados, isso impede que machuquemos outras pessoas.

— Desculpa, Ian, de verdade. Eu entendo o que você quis dizer, e também entendo que cada um tem fetiches diferentes. Eu apenas fiquei assustada com a possibilidade de alguém nos assistindo — ela disse, quando eu parei em um sinaleiro.

— Nada é feito sem seu consentimento, já deveria saber disso. Então, o que você deveria ter feito era apenas negar.

— Eu... vou receber uma punição por isso? — ela perguntou, um pouco receosa. Pensei sobre isso, e talvez ela não mereça algo tão severo por apenas externar seu receio, no entanto...

— Sim, vou te dar uma punição, e vou lhe dizer o motivo: Primeiro; o tom no qual você falou comigo foi totalmente inapropriado. Segundo; como você bem sabe, a forma como falou do voyeur sem entendê-lo.

— Eu entendo, me desculpe mais uma vez — ela disse, meio triste.

— Tudo bem, não precisa ficar assim, eu entendo o seu lado.

— Mas você ficou bravo, e eu não gosto de te desagradar assim.

— Não fiquei totalmente bravo, talvez mais magoado que bravo.

Depois disso, nós voltamos a ficar em silêncio. A tensão pairando no carro era quase palpável. Durante o restante do caminho, pensei em qual punição eu daria a ela, e com certeza seria algo diferente dessa vez.

Quando chegamos, eu estacionei um pouco longe da boate, já que haviam muitos carros ali. Sendo assim, nós caminhamos o restante do caminho, até pararmos de frente a uma enorme fachada em preto, com letra em roxo neon nos dizeres: "Paradise". Observei o olhar surpreso de Angie.

Então, eu a conduzi para dentro do local, passando pela área vip, já que não vamos ficar exatamente onde a maioria ficaria.

A boate é basicamente duas em uma. É uma boate comum para os que veem de fora, porém, uma boate fetichista para os que sabem disso. A "Paradise" é em primeiro plano, e não é tão grande quanto as boates comuns, isso porque divide metade do espaço com a "Lótus Paradise".

Dessa forma, eu caminhei até o fundo da boate com Angie ao meu lado. Foi fácil caminhar por ali, já que não estava tão cheio devido ao horário em que era. Então, depois de andarmos rumo aos fundos do local, Angie e eu entramos em um corredor, esse que não era tão extenso. Esse mesmo corredor nos fez parar em um tipo de recepção, que continha duas portas. Uma ao nosso lado esquerdo, logo atrás da mesa de recepção. A outra era uma porta dupla, que estava logo à frente.

Uma das portas, a dupla, levava ao interior da parte fetichista. Acima dela há uma placa igual a que tem do lado de fora, mas esta é um pouco menor e no lugar de apenas "Paradise" está "Lótus Paradise".

A outra porta que há ali leva até a sala do responsável por cuidar de tudo da Lótus, e é lá que Angie terá de entrar para fazer seu cadastro.

— Olá, eu quero falar com o gerente, ele está disponível agora? — eu pergunto ao segurança que há ali, mostrando meu cartão de registro a ele.

— Espere um momento — ele disse, antes de se afastar para falar com alguém em seu rádio comunicador. — Ele virá falar com você, aguarde um instante — ele avisou, depois que voltou para perto de nós.

Nem cinco minutos se passaram para finalmente viessem nos receber. E nesse momento, a cara de surpresa que Angie fez, quando viu quem era o gerente do local, foi impagável.

— Olá, que bom ver vocês — ele disse, sorrindo simples.

— Bom ver você também — eu lhe cumprimentei de volta. — Nós queremos fazer o registro de Angie.

— Não imaginei que ela fosse querer vir aqui, é sempre tão reservada. Na verdade, eu não sabia que ela tinha natureza submissa até começar a sair com você, até porque: você nunca sai com quem não desperta o seu interesse, e apenas quem desperta esse interesse são submissos.

— A-adam? — Angie se pronunciou pela primeira vez desde que chegamos ali, totalmente chocada.

— Eu mesmo — ele diz, sorrindo. — Agora venha, vamos fazer seu cadastro enquanto tenho tempo.

Então, nós três entramos no escritório de Adam, nos sentado à sua frente na mesa. Ele começou a mexer em todo canto, procurando os papeis que sei que vai precisar.

— Muito bem, Angie, eu vou precisar que você preencha esses papeis, tudo bem? — ele logo entregou algumas folhas, e como já passei por isso, sei bem sobre o que são.

— Para que isso serve? — mas Angie, obviamente, não sabe.

— São questionários, são sobre o que você gosta dentro do BDSM. É simples: se tiver algo relacionado ao que você marcou, como alguma sessão de exibicionismo com um tema que você goste ou algum desconto em brinquedos, nós podemos te avisar.

— Certo, entendi.

Eu realmente pensei em dizer a ele que ela não gosta de exibicionismo, talvez mais para servir de punição psicológica a ela do que para informar Adam, mas preferi não dizer nada; às vezes o silêncio pode ser mais tortuoso que algumas palavras.

Depois de algum tempo, Angie finalmente terminou de responder o questionário.

— Ótimo. Agora, o seu contrato — Adam anuncia. — O contrato basicamente diz sobre você não poder divulgar sobre a Lótus para ninguém de fora. Lembra de como você não sabia que eu era daqui até que me visse aqui? — Angie assentiu. — Então, é exatamente isso. Ian me conhece há tempos, mas não disse nada por simplesmente ter me conhecido aqui. Então, você não deve dizer quem viu e quem deixou de ver aqui dentro, pode ser que você encontre alguém famoso, mas vai agir como se não soubesse de nada assim que passar por aquelas portas para ir embora. Tudo isso, é pelo fato de a Lótus servir como escape para muitos, é como se as pessoas fugissem da realidade e pudessem ser quem realmente são aqui dentro, compreende?

— Sim, é claro.

— Ótimo, vou deixar que você leia o contrato com tranquilidade antes de assinar. E lembre-se, nada é feito sem seu consentimento — e assim, Adam sai da sala, nos deixando a sós.

Nós não dissemos nada um ao outro, Angie apenas começou a ler o contrato cuidadosamente. E ao fim, quando já havia terminado e já estava ciente de toda a burocracia da boate, Adam voltou para a sala, ao meu chamado. E assim, Angie rapidamente assinou tudo o que era necessário.

— Angie Tames, bem-vinda à Lótus Paradise — Adam disse, apertando a mão dela.

Agora, Angie faz totalmente parte desse mundo de excitação, e eu não poderia estar mais alegre e satisfeito com isso.

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