III - Três

Angie

Meus dias não estavam tão tranquilos quanto eu gostaria que estivessem. Mesmo que Vitor não tenha me incomodado mais, eu ainda estou meio receosa com tudo que aconteceu. Ian estava sempre tentando falar comigo, mas ele parou, do nada, e isso talvez prove que ele não gostasse tanto assim de mim.

Para piorar a situação, as coisas na empresa estão corridas, não sei como o trabalho aumentou tão rápido nos últimos dias. Sendo assim, todos estamos correndo para atender a todos os pedidos. E isso, por um lado, é bom, já que me ajuda a manter meus pensamentos longe de Ian.

Bom, Ledger parou de tentar falar comigo, no entanto, Steven não, e hoje parece estar mais insistente que nunca. Ele estava tentando falar comigo a um bom tempo, já deve ter ligado umas cinquenta vezes antes de desistir. Mas não parou por aí, ele tentou entrar na empresa, mas o porteiro não permitiu, já que eu disse que não queria recebê-lo.

Não tenho nada contra Steven, mas ele é melhor amigo de Ian, que como vivia tentando falar comigo, resolvi ignorar os dois. Eu teria seguido meu trabalho tranquilamente se Adam não tivesse parado em frente à minha mesa, me olhando de uma forma séria.

— Angie, você precisa atender o Steven, o assunto é sério, muito sério — essas palavras me deixaram um tanto apreensiva, confesso.

— Eu não tenho nada para falar com ele — tentei ser firme.

— Angie, é importante, mais do que você imagina.

Dessa forma, sem resistir mais, me levantei e não falando mais nada, fui em direção ao elevador, criando diversas situações do que poderia ser em minha cabeça, enquanto ele não chegava. Depois, quando finalmente desci no térreo do prédio, eu caminhei até onde o melhor amigo do Ledger estava. Quando cheguei perto de Steven, ele não me deixou perguntar nada, apenas começou a me puxar em direção ao seu carro, falando sem parar.

— Vamos, a gente precisa chegar lá logo.

— Ei, para onde vamos?

— Te explico no caminho — ele entrou dentro do carro, eu entrei também, no lado do passageiro.

Claro, é loucura ir assim, mas é perceptível que a situação é séria, e claramente ele precisa de mim para algo muito importante. Andamos alguns minutos antes de ele finalmente começar a falar.

— Ian não está bem, ele está internado — eu apenas o olhei, esperando ele continuar. — Ele não come quase nada desde o dia em que descobriu que você não teve nada com Vitor, ficava sempre dizendo que precisa do seu perdão e que não descansará até conseguir. Ele não conseguia comer direito, nem estava dormindo muito também — percebi algumas lágrimas deslizarem de seus olhos. — Ian está muito mais magro do que o normal, eu não conseguia fazê-lo comer, e quando conseguia ele vomitava tudo depois... E agora com os problemas da empresa, tudo piorou. Angie, tenta conversar com ele, por favor, ele precisa de você — de todas as coisas que eu pensei ter acontecido, aquela nem sequer passou por minha cabeça.

— Ei, calma, encosta o carro — eu pedi, já que ele mal conseguia permanecer sem chorar — Eu sei que ele é seu melhor amigo, mas vai ficar tudo bem, okay? — eu disse, assim que ele parou.

— Ele é muito mais que isso, ele é como um irmão, sempre esteve ao meu lado quando precisei. Angie, não sei o que fazer.

— Vamos, eu dirijo. Qual é o hospital? — e assim, depois de trocarmos de lugar, seguimos até o local indicado por ele. Estávamos os dois em silêncio, os dois orando para não acontecer nada com quem amamos.

Mesmo que Ian tenha me magoado muito, eu ainda sinto algo por ele, e é algo muito forte. Nesse momento, tudo o que eu queria era que nada de ruim tivesse acontecido, que eu não tivesse me afastado tanto.

Agora, isso me faz pensar se talvez minha reação — sobre o fato de Ian não ter conversado comigo e não ter confiado em mim — não tenha sido exagerada. Sim, eu sei que confiança é muito importante em um relacionamento, mas eu não exagerei na reação? Eu precisava ter evitado ele por tanto tempo? Sei que o que eu estava sentindo influenciou muito, mas também nem tentei entender seu lado. Isso sim, foi bem errado.

Inerte em meus pensamentos, nem percebi quando chegamos no hospital, o que foi uma surpresa eu não ter errado o caminho, já que não estava prestando tanta atenção quanto era necessário.

Assim que eu estacionei o carro, Steven desceu tão rápido que eu quase não consegui acompanhar, e percebi que ele estava realmente preocupado com o melhor amigo.

— Steven! Vai devagar, assim não te alcanço.

— Desculpa, esqueci que suas pernas são curtas — ele disse, zombando minha altura.

— Engraçadinho, eu nem sou tão baixa assim.

Sem dizer mais nada, ele me conduziu até o elevador, e logo já estávamos parando no andar certo. Eu estava ansiosa, não sabia o que aconteceria ou como de fato ele estava. Será que estava acordado? Será que estava muito mal? Será...

São tantos "serás" que eu mal consigo raciocinar direito. Então, quando entramos no quarto e eu o vi ali, deitado e de olhos fechados, a primeira coisa que eu fiz foi ir até ele e o observar, aproximando minha mão direita lentamente até que estivesse a centímetros de seu rosto, o tocando em seguida.

— Ian... — eu chamei, mas não obtive resposta alguma.

— Ele está sedado, para que possa se recuperar melhor — uma enfermeira explicou.

— Não deviam ter deixado ele ficar sem comer dessa forma — um médico, que veio junto com a enfermeira, disse. — O cansaço, o sono e a falta de alimentação causaram o desmaio, felizmente não aconteceu nada grave, mas de agora em diante ele tem que se cuidar bem.

— Vamos fazer de tudo — Steven disse, já que eu não conseguia dizer nada.

Dessa forma, depois de algumas instruções precisas, o médico saiu junto com a enfermeira, deixando Steven e eu a sós com Ian.

— Steven, você acha que eu peguei pesado, me afastando dele? — eu perguntei, me sentando na cadeira que tinha ao lado da cama.

— Eu te entendo; ele desconfiou de você e não teve confiança, também me sentiria ofendido. Mas acho que você não deveria ter ficado tanto tempo sem ao menos conversar com ele.

Eu não disse nada, apenas abaixei a cabeça e pensei sobre esses meses no qual fiquei longe de Ian, e confesso que eu também senti falta dele, então com toda certeza ele não sofreu sozinho.

— Eu vou até a cafeteria, quer alguma coisa? — Steven perguntou, eu apenas neguei com a cabeça. — Cuida dele para mim? — ele me perguntou.

— Cuido sim — eu respondi, lhe dando um sorriso simples.

Então, depois que ele saiu, eu me permiti demonstrar o quão abalada eu estou, e deixei a primeira lágrima escorrer. Eu sei que ele está melhor, afinal, está apenas sedado, mas eu sinto tanta falta dele. Todos os meus sentimentos estão uma confusão, minha mente está uma bagunça, tudo está uma bagunça.

— Angie... — ouço alguém me chamar, fazendo todos os meus pensamentos silenciarem, e me surpreendo ao ver quem me chamou.

— Ai meu Deus, Ian! — eu me levantei, me aproximando ainda mais.

— O que está fazendo aqui? Ou melhor, o que eu estou fazendo aqui? — ele perguntou, com a voz falha e confuso.

— Você desmaiou, e com certeza vai levar uma bronca do médico.

— O que? Não, eu preciso voltar para a empresa, eles precisam de mim — ele tentou se levantar.

— Ei, nem pense em se mexer, você não vai sair daqui até o médico dizer que pode.

— Você não está entendendo, eu preciso voltar — ele estava teimando demais, então usei a única coisa que eu sabia que o pararia.

— Nós precisamos conversar — ele parou de insistir e me observou. Como eu sabia que ele iria fazer; ele desistiu, assim, nós realmente iríamos conversar agora. — Eu já entendi que demorei demais para conversar com você, mas eu estava confusa e não sabia o que fazer.

— Me desculpe, eu deveria ter confiado em você.

— Deveria mesmo, mas isso já passou, vamos pensar no agora.

— Eu preciso que você me perdoe, por favor — ele pediu, olhando no fundo dos meus olhos. — Eu sei que não vamos voltar no que éramos antes, então quero no mínimo o seu perdão.

Minha cabeça estava um turbilhão, um lado me dizia para me afastar porque isso aconteceria novamente. No entanto, outro lado me dizia que eu deveria tentar mais uma vez e lhe dar uma chance. Outros lados gritavam, dizendo o que eu deveria fazer. Eu estava confusa, olhando para baixo, onde estavam as minhas mãos, esperando que pelo menos algumas daquelas vozes se calassem.

— Ian, se... — eu comecei, sem saber exatamente o que dizer. Em um momento, foi como se aquelas vozes fossem se calando aos poucos, e do nada, eu sabia o que deveria fazer. — Se a gente tentar de volta, você promete confiar em mim? Se alguma coisa parecida acontecer, promete vir conversar comigo? — "tente", foi o que eu disse a mim mesma.

— Está falando sério? — ele perguntou, sem acreditar. Eu apenas assenti. — Sim, eu prometo conversar com você, prometo não me precipitar, e o mais importante, prometo confiar cegamente em você.

— Então... A gente pode tentar — então, ele sorriu, e confesso que foi o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha vida. Depois, o que ele fez foi me puxar delicadamente para um beijo, sendo totalmente correspondido por mim.

Eu estava com tantas saudades de senti-lo assim.

— Angie, eu te amo, pode ser estranho vindo de minha parte, mas é verdade: eu te amo com loucura e te quero com desespero. Não conseguiria demorar mais para te dizer isso, eu também entendo que é algo inusitado, então não precisa me responder se não se sentir confiante para isso — ele disse, assim que nos separamos, me deixando, a princípio, totalmente sem palavras.

Nesse momento, meu coração acelerou, como se fosse um cavalo galopando, correndo a mil por hora. Ele, enfim, disse seus sentimentos por mim, e eu jurei que esse dia nunca chegaria. Agora, o que me faz pensar é: eu também deveria lhe contar o que sinto?

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