(Parte três - O Reinado II ) Assustado ou apaixonado?
Terça - feira parece um dia brilhante, vovó fez bolo de cenoura e eu estou explodindo de ideais para decorar a barraca do beijo. O que me faz chegar a conclusão de que nem o dilema de Roberta "está ou não de boa comigo ", me afeta, mesmo que eu tenha passado a noite toda pensando sobre o assunto: nós, ela, seu suposto crush em Oliver e no próprio.
De alguma maneira, não traindo Roberta, sinto que acabei traindo ele.
- Tu ficasse assistindo TV até tarde e agora tá com essa cara bonita... - vovó comenta , do outro lado da mesa - bem sonhou com o rapaz da moto - e ri baixo.
Acabei de murchar um pouco. Por que ela tem que fazer essas suposições? Cadê a vó que costumava não se meter na minha vida?
- Vó, mas que namorado? - bato minha mão contra meus cachos e encaro minha xícara de achocolatado quente , uma fumaça sobe, com um cheiro delicioso.
Oliver estaria tomando café agora? Encostado na pia? Perai, o que é que eu tô pensando? Bato na minha cabeça de novo na intenção de obter juízo.
- O rapaz da moto! - ela diz, óbvia.
- A gente não tem nada, e acho que Roberta gosta dele - e sem mecionar que vai totalmente contra as minhas regras!
Namorar alguém , dependendo de quem, significa por minha fama por água abaixo e também não dá pra ser piranha e namorada fiel ao mesmo tempo, o que significa que o respeito que os meus suditos têm por mim, (se eu escolhesse ser a namorada fiel, o que provavelmente ocorreria se eu me submetesse a um namro, ou melhor se eu tivesse tāo louca aponto de me submeter a um namoro) iria por água abaixo, enfim , suicídio total.
- Roberta? - ela questiona, com surpresa. Posso dizer que até demais.
- É, por quê?
- Nada. Só tome cuidado pra isso não acabar em briga.
- Não vai - respondo, e de repente estou realmente murcha.
- Mas se tu gosta dele...
- Eu não gosto.. - a interrompo, revirando os olhos.
- Tu que sabe, mas é bom ter alguém, um namorado pra pagar uns lanche , tu é jovem.
Então eu rio alto como uma doida e vovó até se assusta.
- Vovó , o melhor de tudo é o seu motivo pra ter um namorado - e enxugo os cantos dos meus olhos que continham pequenas lágrimas.
- E tô errada? tu é forte, mas não precisa fingir o tempo todo que não tem sentimentos .
Por uma fração de segundo, paro no tempo e percebo o quão suas palavras me atingem.
- Nossa vó - e coço a garganta, tentando acreditar que não me sinto tão afetada quanto estou -, fiquei até impactada agora .
- A moça da novela falou isso, ontem - e ela ri. Mas eu sei que ela não quis apenas comentar sobre a novela, ela falou a verdade.
Quando terminamos o café, vovó fica com a missão de lavar os pratos e eu com a de enfrentar Roberta. Não que eu esteja tão preocupada com isso ( como já citei), ontem mesmo depois de a gente, supostamente, ter se acertado, agradeci a ela pelo que fez por mim na sala, eu já tinha pedido desculpas pelo furo e então não tenho mais por que me torturar. Ja fiz o que devia, não posso simplesmente ficar rastejando atrás dela.
Por isso meus allstar 's pretos pisam suavemente pelo corredor da escola, eles combinam perfeitamente com minha mini saia preta , uma das minhas preferidas. Aparentemente nada pode acabar com meu dia, eu apenas estou muito bem, porque aparentemente as coisas vão bem; eu sou representante de turma, consigo lidar com isso, ainda tenho o respeito de todos , sendo a piranha de sempre, Jennifer me odeia mais do que qualquer pessoa que eu venha a conhecer, e Oliver está só educação comigo ( bem, eu ainda não o vi, mas foi o que ele prometeu ontem ),o que significa que estou prestes a seduzi - lo de vez. Enfim, nada pode ofuscar o brilho do meu dia...
- Oi, posso falar com você? - Ok, encerrem todas as cantorias dos passarinhos e o sol brilhante e a música "We are the champions /Nós somos os campeões " que fazia minha trilha sonora até o momento. O dia acaba de começar a ficar feio. Alguém por favor tira essa ruiva falsificada do meu momento?
- Quer colocar teu nome na lista pra barraca do beijo? Vou logo dizendo que a lista já tá muito grande.
- Eu achei que nunca mais ia te ver , Josy - Pricila parece firmar mais seu corpo em minha frente após enfatizar meu nome, seu semblante é de alguém levemente irritado e uma de suas sobrancelhas se ergue em desafio. Eu não preciso de muito tempo para perceber que finalmente a anta se tocou de quem eu sou. Deve ser por isso que ficou tão corajosa de repente, está até me enfrentando.
- Acho que não tivemos essa sorte - a desafio também, mas não estou irritada e sequer cruzo os braços ou faço algum gesto imponente. Eu sou a própria imponência e ela querendo ou não, já esteve tempo o suficiente aqui para saber disso. Ela não me deixa insegura, não mais.
- Tu mudasse, mas eu bem que achei que já tinha te visto - e ela tenta um sorriso forçado. O que ela quer ? Tentar ser minha amiga de novo? Agora? Como antes? e então esquecemos, ou melhor, eu esqueço o passado? Toda a humilhação? Sem chance, coisinha!
- Não faz ideia do quão bom o tempo foi comigo - comento, baixinho. Mas ela ouve e rebate.
- Ele fez milagres! - rebate, em bom tom, demonstrando que está mesmo cagando pra mim. Se ela acha que com isso vai me deixar mal, está tão enganada.
- Olha só, agora tu fala as coisas na cara - bato palmas -, o tempo realmente fez milagres.
- A gente devia esquecer tudo aquilo - ela diz como quem nāo acabou de dar início a uma discussāo. - Achei que tu já tivesse esquecido - ainda comete a audácia de parecer indignada.
- Como é mesmo aquela merda de ditado? - ergo os olhos pro teto, encenando - Ah, quem bate esquece, quem apanha não.
- Eu só acho que tu vai comprar uma briga muito grande se não esquecer - ela diz, me olhando com frieza e então é aí que eu percebo que ela também sabe que fui eu quem liguei pra sua mãe fingindo ser a tia de Oliver.
Rio nasalado, desatando deboche.
- Tu que comprou uma briga muito grande quando colocou os pés aqui.
E ela, instantaneamente , aponta o dedo com a unha ruída para mim.
- Se tu ligar de novo pra minha mãe... - não falei?
- Vai fazer o quê? - coloco as mãos na cintura - Vai trazer a própria mamãe pra vir falar comigo ou tu já aprendesse a resolver tuas coisas sozinha?
Ela abre a boca, se passam alguns segundos antes que ela feche, então abre de novo.
- Eu devia ter imaginado que era tu, precisei escutar um sermão da minha māe pra entender tudo, é óbvio que tu ainda tem o número dela - ela cruza os braços, enquanto me observa como se quisesse ler meus olhos e se recomponhe logo em seguida, prestes a me deixar em paz - Mas nāo vou perder meu tempo contigo.
- Acho que o que tu quer dizer é que vai embora porque não tem coragem de ouvir a verdade!
- Escuta aqui, fofa - fofa é o caralho! - , vim aqui numa boa falar contigo, porque eu pensei que a gente pudesse se entender e talvez tu quisesse pedir desculpas - desculpas? - Mas eu percebi que não dá.
- Desculpas? Pelo quê?
Ela contorce o rosto, mais uma vez indgniada. Hipócrita!
- Por tudo - gesticula com as mãos.
Obviamente ela não está se referindo a brincadeirinha que fiz fingindo ser seu "admirador " virtual. Ela provavelmente ainda não descobriu isso ( e se depender de mim, jamais descubrirá). A idiota se refere ao que fiz atualmente, ligando pra sua mãe e talvez a algumas coisas do passado, coisas das quais ela tem culpa, mas ainda a joga pra cima de mim, como se eu fosse a vilã e ela uma pobre vítima, como sempre se colocando como vítima. Então se ela quer que eu seja a vilã, ela pode esperar pela maçã envenenada.
- Tu pede desculpas e a gente segue em frente. Acaba logo com essa briga. Eu sei que é por isso que tu tá dando em cima de Oliver. A gente era tão amigas , né? Não tem por que ficar assim. - tenho certeza que isso não veio dela, ela não decidiu simplesmente me enfrentar porque eu sou eu, ela nunca iria sugerir que fôssemos amigas de novo , a Pricila que eu conheço é orgulhosa, isso provavelmente foi ideia da cobra maior, Jennifer.
- Flor - falo com calma - , sabe quando eu vou pedir desculpas pra tu ? - me aproximo com o indicador levantado até tocar seu nariz com ele. Ela dá um passo pra trás - Nunca. Assim como a gente nunca vai ser amigas de novo. E eu não me arrependo de nada que fiz, e sabe de uma coisa, quem me deve desculpas é você!
- Eu? - ela aponta para si - , eu não fiz nada.
- Ah, claro que não fez, né - aleatoriamente toco meus cachos e enrolo nos dedos , como se eu, mesmo que involuntariamente, quisesse lembra - lá - Bom , não vou ficar aqui bancado a sonsa contigo.- eu sigo meu caminho, passando por ela e tentando trazer de volta a vibe alegre de quando cheguei, mas a bruxa volta a falar.
- Só fica longe de Oliver.
- De quem? - olho pra trás e volto ao seu encontro , devagar. A boca se contocerdo para não gargalhar.
- Não sei se tu sabe, mas ele.. a gente teve uma coisa há alguns anos atrás. - ela está praticamente me dizendo que ele é seu namorado virtual, o qual ela tanto idolatrava e se gabava para mim - Ele só nāo quer falar sobre isso agora. Então acho que não tem por que tu ficar atrás de alguém que gosta de outra.
Como consegue ser tão anta? Se ela acha que ele é seu namorado virtual, como explica os olhos distintos? E ele não já teria falado sobre, caso fosse ele? Por que esconderia dela? Velho, acho que essa garota tem alguma coisa na cabeça. Ela está mesmo se deixando levar pela ilusão porque ouviu que seu sobrenome também é Guimarães? Ah claro, ele está só fazendo um jogo e mais cedo ou mais tarde vai aparecer com um buquê de rosas e se declarar. Em que mundo essa idiota vive? Ela acha mesmo que tudo gira em torno dela? Que as coisas vão acontecer como ela acha que devem ser? De repente, sem um motivo muito plausível, estou irritada. Porque eu simplesmente acho que ela não pode achar que as coisas vāo sair do jeito que ela quer, não dessa forma egocêntrica como se ela fosse o centro da terra. De repente estou me sentindo mal só de imaginar ela conseguindo o que quer, e ainda pior porque algo dentro de mim diz que não estou só mal por imaginar ela me vencendo , mas porque isso implicaria dizer que ela teria Oliver de verdade. De repente quero Oliver mais que qualquer coisa, mais que manter minha fama intacta.
- Ah, então ele gosta de tu? - zombo, mas eu não estou tão calma como deveria. Eu cuspo escárnio a cada respiração.
- Gosta - e ela empina o nariz, irritadinha.
- Eu acho que tu não ouviu o que ele disse: Só nāo continua me envolvendo nas tuas mentiras.
- Não tô mentindo!
- Garota, vai se tratar! - e me exalto.
- Para de achar que ele vai te querer, sua burra!- ela grita e a minha sorte é que não há quase ninguém no corredor. Essa cena seria péssima pra minha reputação, porque eu simplesmente não revido no mesmo instante. - Eu não entendo como os meninos dessa escola babam por você! Eu não sei como tu fez todas aquelas coisas que dizem que fez! Mas eu sou muito melhor que você! Quer saber o que eu acho? Que esses imbecis que precisam se tratar!
E ela mostra sua verdadeira face, meu peito já está subindo e descendo desde a primeira palavra gritada, eu me sinto ridícula por estar brigando por um garoto, mas é inevitável e impulsivo. Ele é a minha única arma no momento para provar a Pricila que eu sou quem digo que sou. Minha única arma pra provar a ela que não sou mais a mesma garota de treze anos.
- Sabe o que eu acho? Que tu precisa abaixar o tom de voz.
- Eu falo do jeito que eu quiser! - ela grita novamente e eu começo a rir como uma histérica porque sei que vou quebrar sua cara se demonstrar que fui afetada.
- Talvez demore um pouco - contenho o riso e fito seus olhos grandes - , mas tu vai perceber que se meter comigo é suicídio social. E quanto a Oliver, tô cagando se vocês tiveram algo! Se eu quero ele, tu é o menor dos empecilhos! E empecilho significa obstáculo caso não saiba! - e eu vou embora com a última palavra. Mais uma regra para mater o ar superior no ensino médio , você sempre dá a última palavra numa discussão. Uma pena eu não estar tão bem como aparento estar.
Meus pés voltam a pisar firme dentro do allstar, eu volto a sorrir para o nada, meus quadris rebolam e eu ainda estou gostosa e com os cachos definidos, mas na minha opinião, de verdade, o universo já pode cancelar esse dia.
Eu sei que eu não estou tão bem vestida, também nem tenho condições de comprar roupas legais, mas estou da melhor forma que consegui ficar. Os allstar's são surrados, o jeans também, mas a blusa vermelha até que é legal. Consegui até prender meu cabelo pra trás com a ajuda de um gel e ele até que está comportando. Estou longe de me sentir bonita, mas Marcos sabe quem eu sou, então se ele me acha bonita num dia normal de aula em que eu pareço a morte , pra ele eu devo estar mais que bonita agora.
E é por isso que não paro de sorrir, não sou apaixonada por ele ,nem nada, quer dizer, eu acho que não. Mas ele foi o primeiro garoto que me notou, que pediu meu número por aparentemente estar interessado em mim, mesmo que eu seja eu. Também é meu primeiro encontro e provavelmente vai ser meu primeiro beijo. Estou ridiculamente ansiosa.
Quando pego meu celular arcaico, vou até a caixa de mensagens e clico na barra com seu nome. "Te vejo no pátio da frente " é o que diz seu último SMS ao qual eu respondi com um "ok". E aqui estou, marcamos isso ontem, hoje é a festa junina da escola, e acredito que ele escolheu esse dia porque é quando a escola toda fica concentrada num só lugar ,no pátio de trás, não que aqui seja um lugar movimentado normalmente, mas enfim, não importa, conversamos apenas dois dias, depois que Pricila me disse que ele gostava de mim, isso foi há um mês atrás, eu sei que deveria levar em consideração isso e marcar esse nosso encontro para um futuro um pouquinho mais distante , pra gente se conhecer melhor e eu ao menos gostar tanto dele a ponto de sentir borboletas na barriga quando ele me beijar, porém não dá mais pra adiar, e eu nem quero. Alguém finalmente gosta de mim e ele é tão gato que penso que pode ser uma piada. Mas Pricila nunca mentiria pra mim, ela me diria se fosse arriscado. Tenho que agradecer a ela por ter me convencido a dar uma chance a ele, se não fosse ela me enchendo de elogios e tentando elevar a autoestima que eu não tenho, jamais estaria aqui.
Tudo bem que ele não demonstrou tanto interesse por mim por mensagens, ele age um tanto seco até, mas Pricila disse que ele poderia estar com vergonha, que ele agiria melhor pessoalmente.
- Tu veio! - é ele. O cabelo castanho puxado pra trás, os tênis de marca novinhos ( dou uma breve olhada pra mim, um pouco constrangida e digo que vai ficar tudo bem ), a câmera na mão, como sempre, porque Marcos quer ser youtuber. Já vi um vídeo seu, mas não achei muito minha praia, e de qualquer forma, não acesso muito o YouTube já que não tenho muito contato com a internet . Por enquanto. Vovó e eu estamos trabalhando muito duro para abrir nossa confeitaria, e então, tudo vai mudar.
- Vim - respondo , não contendo o sorriso.
- Legal - ele diz, assentindo e sorrindo de um jeito estranho como se acabasse de concluir algo. Ele se aproxima de mim e meu coração acelera tanto que o sinto na boca, não estou mais ansiosa e sim com medo, talvez na verdade eu estivesse com medo o tempo todo.
- Então... - começo, minha voz sai num sussurro porque seu rosto está muito próximo ao meu , dou um passo pra trás porque me sinto ameaçada, ele sorri como quem se diverte.
- Então - fala alto, e só então percebo que ele segura sua câmera em frente ao seu rosto - , como eu disse lá no face, o vídeo de hoje vai ser sobre o tipo de garota que os meninos sentem repulsa. Aqueles tipos de garotas que a gente nunca pegaria. Sério, a gente não pegaria mesmo, pra vocês ,meninas, fica a dica. - meus olhos já estão marejando antes mesmo de ele apontar a câmera pra mim - E aqui está um exemplo de como não ser, sinceramente, se esse for seu caso, só nascendo de novo.
Marcos está rindo, Pedro, seu melhor amigo , também está aqui, rindo, Maria ,a namorada dele, está aqui, rindo, Júlio também está. Eles surgiram tão subitamente que não vi, talvez eles sempre estivessem aqui, e eu só não tenha percebido porque estava focada em Marcos, focada em não chorar.
Eu só percebo quando a lente de sua câmera foca nele, porque eu esperava por isso, pensava que esse ato me faria sentir melhor, faria com que as lágrimas prontas para cair voltassem, mas não voltam e eu continuo mal.
- Dêem um Oi pro Júlio, galera! - e Júlio se aproxima dele, envolvendo seu ombro com o braço.
- E aí pessoal!
- Como vocês sabem, no vídeo anterior, Júlio me desafiou a marcar um encontro com a menina mais feia da escola.
- E ele cumpriu - e Júlio ri.
- E como vocês viram, ela é ridícula! - Maria solta.
- Aí eu tive uma ideia melhor, fazer também um novo vídeo sobre os tipos de garotas que os meninos não toleram, e quem melhor que a minha amiga aqui pra mostrar como você não deve ser. Como é o nome dela mesmo?
Eles falam de mim como se eu não estivesse por perto , como minha mãe costumava fazer e o trauma dói mais que o momento.
- É Josy, né? - é a voz de Pedro.
- É , eu estudo com ela desde a terceira série! - é a voz de Maria, ela me enche o saco por causa da minha aparência desde essa época.
- Ela não é tão feia assim, tipo, ela até veio mais arrumadinha hoje - é a voz de Pedro -, que merda tu passasse nesse cabelo duro hein? - eles riem. Eles sequer pararam em algum momento?
- Agora vamos lá pras coisas que os meninos odeiam em uma menina - é a voz de Marcos, acho que ele aponta a câmera pra mim novamente - , aqui tem tudo que um cara odeia - risos - , começando por essas roupas feias, quem vai ficar com alguém usando uma calça dessas? Meninas, usem uma calça mais justa, sem tantos bolsos e mais limpa. Na real mais nova - risos.
- Essa é a mesma calça que ela vem pra aula todo dia - é a voz de Maria.
- E essa blusa só fica legal em quem tem peitos - é a voz de Marcos - , se tu não tem, usa uma porra de sutiã, sei lá, bota papel - risos. - E nunca façam isso no cabelo, a gente prefere solto.
- E se vocês tiverem cabelo ruim, alisa - é a voz de Maria.
- E esses dentes - é a voz de Marcos e mais risos, de novo e de novo - , misericórdia, mostra aí teus dentes, garota.
Eu não faço nada além de continuar mexendo nas mãos, segurando os dedos, apertando e torcendo. Estou encostada na parede, como quem está encurralada, eu sei que devo ir, preciso sair daqui, mas sinto que não posso, sinto que eles vão me puxar de volta. Tenho medo.
Vozes e risos é só o que eu ouço, eu não vejo nada, eu não quero ver e também meus olhos estão borrados demais para isso. As lágrimas ainda estão aqui, mas ainda não desceram , eu luto para que não.
- Pedro, vai lá fazer ela mostrar!
- Marcos, tu não tá pegando pesado demais ,não ?
- Vai lá logo!
Pedro se aproxima, eu torço ainda mais meus dedos e finalmente foco em seu rosto, ele toca no meu e é quando meu corpo reage como por instinto, eu agradeço internamente.
- Tira a mão de mim! - grito e sinto a minha garganta arranhar em seguida. Eles riem e a parte em mim que está com medo me diz que eles estão ocupados demais para me atacar, então eu corro. Corro o mais rápido que consigo, as lágrimas agora caindo descontroladamente, livremente. Eu passo por Pricila que estava no corredor, no local aonde eu pedi que ela me esperasse. Não digo nada e continuo correndo, até chegar na nossa sala que hoje ficou vazia já que todos estão dançando no pátio. Após eu entrar e sentar atrás da última mesa da última fila, Pricila aparece, ofegante. Ela passa pela porta e vem até mim, para em minha frente.
- O que foi? Por que tu tá chorando? - ela questiona, mesmo que as lágrimas já tenham sumido. Obviamente ela as viu no corredor.
- Tu insistisse pra eu ir!
- O que aconteceu? - ela pergunta de novo.
- Ele só queria zombar de mim - digo, fria, com os olhos no chão.
- Sério? - ela pode até não estar sendo cínica agora, mas eu não consigo mais vê - la diferente.
- Tu insistisse pra eu ir! - repito com raiva - Tu provavelmente já sabia do desafio que ele fez naquela droga de canal dele! E mesmo assim tu deixasse que eu fosse!
- A culpa não foi minha!
- Entāo deve ter sido minha mesmo, eu sou muito burra - digo em relação a tudo , principalmente a ela.
- Tu que decidisse ir! - quase grita. Eu poderia rebater, devia. Mas nāo faço. Isso a faz me olhar mais um pouco a espera de uma reação, e quando conclui que não vou abrir a boca, levanta seu nariz, irritada.- Eu acho que vou embora - a face cheia de indignação, de alguma forma me fazendo sentir realmente culpada.
Quando abro a porta da cabine do banheiro e o encontro vazio, agradeço mentalmente, já que talvez a minha cara não esteja tão bem( e não está!) . Ninguém pode saber que essa cena aconteceu.
Me aproximo da pia e encaro meus olhos , eles estāo um pouco inchados e avermelhados , assim como os lábios e o nariz , a prova de que realmente chorei. Faz tempo que não choro por essas coisas, é como voltar a ter treze anos de novo. Desde que Pricila veio para cá, sinto isso com frequência. As vozes me xingando, eu mesma me xingando. É tudo horrível.
Tá aí algo que Oliver e ela tem em comum, eles trazem à tona a versão mais vulnerável de mim, quer dizer, Oliver apenas ameaça trazer.
Jogo água no rosto , passo protetor labial e saio do banheiro, os corredores estão mais cheios agora, e eu me questiono o que aconteceu pra eu deixar pra trás minha fama de atrasada. A merda da escola continua a mesma. Exceto por Oliver, e... Pricila.
Desgraçada! Eu preciso agir rápido, eu preciso ter Oliver, eu preciso dele pra calar a boca daquela idiota. Preciso botar um ponto final nessa droga e seguir em frente! Preciso enterrar a Jô imbecil de treze anos.
É por isso que enquanto ando, tento ao máximo evitar o olhar das pessoas, porque provavelmente minha cara está horrível e eu não preciso de ninguém me perguntando o que aconteceu ou com peninha. Eu só quero mostrar a Jô inabalável de sempre, mas que droga, ainda sinto resquícios da menina de treze anos!
- Opa! - diz uma voz grave quando me choco com uma parede. Parede? Eu quis dizer Oliver.
Em meio a tantos novatos e professores, eu tinha mesmo que esbarrar nele? Alguém pode dar uma olhada no meu roteiro, por favor? Essa cena deve estar errada. Eu nāo apareço vulnerável para Oliver, eu devo estar sempre poderosa. E sem contar que, ele já parece saber muito sobre mim, nāo tem por quê ficar dando mais informaçāo.
Engulo em seco.
Sei que é difícil acreditar em destino, mas com tantas coincidências assim, fica fácil. E o destino com certeza quer me ferrar.
- O que foi? - ele questiona, me analisando, e então eu noto algumas coisas, como sua mão direita segurando meu braço e meus olhos nos seus olhos. Oh, merda! Ele provavelmente percebeu o inchaço.
- Nada, preciso ir pra sala - eu digo , correndo meu olhar pelo chão, ou pra qualquer lugar que não seja o rosto dele. De repente sua mão não toca mais o meu braço, sei disso porque o local ainda quente se choca com a brisa fria da manhã, é quase como um choque térmico.
- Tu tava chorando?
- Olizinho - sorrio e bato levemente em seu rosto , rapidamente voltando a olhar para os lados -, tu ainda tá dormindo.
- Eu acho que não - ele diz, convicto, dessa maneira irritantemente chata com a qual ele age, como se estivesse sempre certo em relação a mim, como se me conhecesse.
- Acredite na merda que quiser , entāo! - e por pouco nāo me exalto. Eu só nāo queria que ele fosse tāo... tāo ele! Não estou sendo grossa, mas também sei que não estou sendo tão educada , na verdade, mal educada o bastante pra ele saber que estou mentindo. Ok, mentir é meu forte, mas pelo que parece, não agora, e principalmente não agora perto dele.
- Mas tu tava mesmo chorando - ele insiste, e só para constar, eu já não tenho nenhum pingo de paciência.
- Oli...- eu pretendo gritar seu nome com mais alguns xingamentos, mas me interrompo quando vejo Pricila de relance, e mesmo que ela não tenha me visto quando a vi, tenho certeza que ela me vê ( nos vê) agora, agora que tenho toda minha atenção em Oliver, e ao invés de arriscar dar uma espiadinha para checar se ela irá mesmo presenciar a cena a seguir, eu só ajo. Eu só ergo meus pés para ficar próxima a altura de Oliver, só toco seu rosto , e ele franze o cenho, coloco o meu bem próximo ao seu - ele nāo recua - e encaro sua boca , que parece um morango apetitoso essa manhã, por breves segundos antes de grudar a minha. É tão sutil que quase chega a não ser um selinho, mas é o bastante pra descompassar a respiração de Oliver e fazer Pricila dar meia volta pisando duro. Descompassar a respiração de Oliver...
O "beijo" pode ter sido quase inexistente, mas a nossa aproximação dura. Eu olho da boca de Oliver para seus olhos, ele ainda está surpreso , os olhos um pouco arregalados e eu posso apostar que não piscaram desde que toquei seus lábios.
- Que porra é essa? - finalmente diz, num suspiro pesado, como se tivesse segurado o ar.
- Tu fica melhor caladinho - sussurro contra sua boca. Oliver não está me tocando, mas estamos tão próximos que sinto seu corpo em cada pedaço do meu.
- Eu... - ele molha os lábios, desconcertado e aparentemente incapacitado de desviar o olhar do meu - eu... - tenta novamente , passa a māo nos cabelos pretos e em seguida pisca, mantendo os olhos fechados por um momento , como se só assim pudesse se livrar da minha face - você...
Meus lábios repuxam até formar um sorriso vitorioso.
É tão bom vê - lo desarmado, sem toda a aura de impassibilidade, vulnerável. É prazeroso. Tanto quanto surreal.
Começo a rir do seu embaraço e toco seu peito ,que só agora noto, que sobe e desce com tanta urgência.
- Teu coração tá batendo tão forte, será que tu tá assustado ou apaixonado?
Quase um minuto de silêncio depois eu jogo uma piscadela e o deixo antes que ele possa dizer algo, mesmo que eu tenha convicção de que nada sairia daquela boca, daquela boca lin... Daquela boca nada! Melhor esquecer isso, foi só um recado para Pricila! Eu não tinha a intenção de beijá - lo com outro propósito.
No entanto ,é automático, assim que me afasto cinco passos dele e lembro da sua boca, toco a minha, os meus dedos deslizam sobre meus lábios com cheiro de menta , e quando olho pra baixo , encontro meu peito eufórico também. Uma voz dentro de mim me faz a mesma pergunta que fiz a Oliver, e eu simplesmente me recuso a responder essa besteira! Era só o que me faltava, cair na pilha de vovó. E além do mais, Oliver é insuportável. No fundo e talvez nem tão no fundo assim, eu odeio ele.
Sigo pelo caminho de sempre; para onde Roberta e eu costumamos nos encontrar pela manhã, eu não esperava encontrá - la, mas encontro. Ela está esparramada na "nossa" mesa do refeitório , os cabelos com cachos perfeitos caindo nos ombros.
- Oi, gato preto, adiantada de novo? - ela questiona, com um sorriso, quando me aproximo. De início penso que ela vai me alfinetar com um "veio cedo de novo? Oliver vale teu sono tanto assim? ", mas ela me chamou de "gato preto", entāo está tudo bem , ao menos eu desejo que esteja.
- Oi, Santos - sorrio -, a representante precisa dar exemplo - enceno com o nariz empinado
Ela revira os olhos, rindo.
- Tu é só representante de turma, não rainha ou exemplo de moral.
- Me deixa sonhar! - abano minha mão, em descaso, e ela volta a rir. É bom ouvir sua risada, é bom ver que estamos bem, mesmo que eu não saiba realmente, mesmo que eu ainda não consiga falar sobre Oliver por achar que ela talvez goste dele.
- Vocês viram o jornal de hoje?! - Leticia chega falando com euforia e os olhos bem arregalados.
- Essa merda já começou? - pergunto, com tédio, apoiando a bochecha na mão.
- Com certeza - ela ergue as sobrancelhas pra mim, assentindo, antes de iniciar uma conversa cheia de exclamações com Roberta, da qual eu me esquivo e escolho observar o movimento.
O jornal da escola é um jornal como qualquer outro de uma sociedade, informa notícias importantes sobre o local habitado / mundo. No caso, o da escola informa notícias importantes sobre o mundo dos estudantes e a escola, o que em geral é uma grande chatice que o grêmio imprime uma vez por semana. Uma folha com informações politicamente apropriadas para serem divulgadas, do jeito que a diretora ordenou.
Exceto nas terças, desde o ano passado, com a mudança do grêmio e a entrada do grêmio do qual Ana participa, as terças - exatamente um dos dias que a diretora não está - , é divulgado um jornal politicamente inapropriado / você vai ser processado. É o tipo de jornal que a escola gostaria de ter como principal ( ao menos uma parte dela, a que não aparece nele com a imagem detonada), o jornal com as notícias que tem a verdadeira relevância aqui, o sobre a vida alheia, o de fofocas. E como manda o protocolo do jornal clandestino, o folheto é colocado todas as terças nos banheiros masculino e feminino, e pelo visto, Ana já disseminou seu veneno por lá.
- ... se a diretora descobre, dessa vez a vadia da Ana é expulsa - ouço Roberta dizer, foi essa a promessa da diretora no ano passado quando descobriu, misteriosamente, o jornal. Está no protocolo, ninguém pode falar sobre ele, a menos que queiram ficar sem as fofocas, e advinha o que as pessoas preferem? É, as fofocas. Só que ano passado, alguém se incomodou com isso.
- Eu já apareci lá? - interrompo a conversa delas. Geralmente eu apareço.O que não me incomoda, pelo contrário, o que para outros é um escândalo, pra mim é uma honra.
- Não, mas tem cada coisa sobre os alunos do primeiro ano! - o espanto de Leticia não é suficiente para me deixar animada, por isso continuo fazendo pouco caso e com os olhos nos cantos do refeitório, um em especial, onde Ana conversa animadamente com suas amigas. Ridícula! A nossa discussão na quadra ainda está fresca em minha memória e eu ainda tenho vontade de estourar sua cabeça no chão. - ... será que alguém teria coragem de dedurar ela de novo? - questiona , e involuntariamente minha mete capta essa ideia, provavelmente essa é minha parte má agindo.
- Os novatos devem ser um bando de medrosos - Roberta começa -, não vão falar porra nenhuma. Talvez se publicarem sobre alguém do terceiro ano... - alguém do terceiro ano...
- É verdade, mas depende, tem gente que nem se importa. Jô por exemplo... - e ela ri, mas não dou muita atenção. Estou trabalhando em algo muito sério, preciso de foco.
Segundos depois, quando consigo ligar todos os pontos soltos, eles parecem formar uma luz forte, e eu quase sinto uma lâmpada surgir em cima da minha cabeça.
- Aonde eles imprimem o jornal? - pergunto, de repente.
- O quê? - elas dizem em uníssono.
- Essa droga de jornal - fico de pé - aonde eles imprimem?
- Na sala do grêmio - Leticia diz, suas sobrancelhas loiras e bem desenhadas formando ondas e deixando seu semblante confuso -, ou, afrontosa como Ana é, ela pode ter imprimido na diretoria. Ouu... - ela estende a palavra - , quem sabe, em casa mesmo - e dá de ombros.
Certo, eu estou me agarrando a um fiapo de esperança quase ridículo, estou mesmo insultando a inteligência de Ana, mas eu preciso ter a certeza. Refazer todo o jornal e deixá - lo a cópia do original vai além da minha disposição. Eu preciso encontrar o jornal pronto e apenas adicionar uma coisinha.
- Valeu. Vejo vocês depois - é o que eu digo antes de sair apressada, rumo a sala do grêmio.
Estou perto da sala quando encontra uma garota que aparentemente teve a mesma ideia que eu - de ir até lá - ela olha pelo vidro da porta, e parece concluir que não tem ninguém.
Eu ensaio minha melhor cara de inocente e penso num nome de um dos membros do grêmio enquanto me aproximo.
- Oi - a abordo, ela sorri pequeno pra mim e eu trato logo de encenar-, Bárbara tá aí? - aponto pra porta.
- Ah, não - ela diz, parecendo cair muito bem na minha -, acabei de ver que a porta tá trancada. E acho que ela já não estuda mais aqui, os pais brigaram , sabe - não faço ideia - e parece que ela escolheu ir morar com pai em outro estado. Coitada né... - eu assinto, compadecida, embora não esteja me importando tanto. O que é de verdade relevante agora é que aparentemente essa garota tem uma grande boca que me é conveniente no momento. - O grêmio perdeu uma ótima presidente...- ela continua e eu luto para não revirar os olhos. Eu hein, que puxaçāo de saco , aquela garota não fazia nada que prestasse! Só tinha a merda de um título.
- Bom - suspiro -, espero que os jornais continuem legais - digo ( porque é só isso que eles fazem), incitando que ela entre no assunto.
- Ah, mas se tu tiver falando dos jornais de hoje, relaxa, é a Ana que publica - é nesse ponto que eu queria chegar -, inclusive vi ela imprimindo o de hoje bem cedo na diretoria , já deve tá nos banheiros - e me lança um olhar conspiratório.
- É, eu acho que tá - assinto -, vou ter que ir agora, depois falo com Bárbara pelo whatSapp.
Eu aceno e saio, rumo a diretoria. Pelo caminho encontro caras feias como a de Jennifer e Pricila, mas nada que eu não possa ignorar.
Dois corredores depois estou em frente a porta da diretoria, eu a abro e adentro na sala de espera onde está disposto um computador com impressora para ser usado com fins educacionais, o qual geralmente é usado pelos professores. Olhando para os lados, concluo que não há ninguém no local, então fico em frente ao computador, a tela exibindo o brasão ridículo da escola.
Vamos lá...vamos lá...
Clico no sistema de edição e fecho os olhos, torcendo internamente. Quando abro, meus olhos quase saem das órbitas e em seguida sinto que vou chorar. O jornal está aqui, bem na minha frente!
Esqueça qualquer coisa que eu disse sobre cancelar o dia.
Sorrindo como uma peste, rolo a tela e corto a menor notícia,uma sobre uma novata ter pegado um mané do segundo ano. Posteriormente adciono a minha.
- É, parece que vou matar dois coelhos com uma cajadada só! - penso alto enquanto imprimo o novo jornal , convencida de que estou sozinha ,até a voz da cordenadora ecoar.
- Josy - em um sobressalto, puxo a folha recém imprimida e a escondo nas costas.
- Como vai, Luise? - pergunto educadamente à coordenadora de cabelos escuros e olhos fundos que sempre parece abatida e aérea. Luise saber o meu nome era a prova viva da minha popularidade, considerando que ela nunca decora o nome de ninguém, a menos que o seu esteja na boca de todo mundo.
- Bem, linda, vou bem - ela sorri e deixa alguns papéis na mesa próxima a mim antes de entrar na sala da diretora, cantarolando.
Eu iria fazer o mesmo - sair daqui - , no entanto o nome exibido na primeira folha em cima da pilha me chamou atenção. Me aproximando , o vi/ li melhor : "Oliver Bueno Guimarães "
É a sua transferência.
Abaixo encontro o nome de sua antiga escola, a cidade - que fica há duas horas daqui - ( Ele já falou sobre a mudança... quer dizer, sobre ter se mudado para cá pra ter paz, mas por quê? O que tinha na sua cidade que tirava seu sossego? Não pode ser o trânsito ou a movimentação maior de pessoas. Algo me diz que é algo bem mais particular ) , posteriormente encontro seu boletim, e por um momento eu quase juro que meu queixo caiu e saiu rolando pela sala fria. Oliver tem ótimas notas! E quando digo ótimas me refiro a nada menos que nove e meio. Nove e meio. Então essa é a nota baixa dele? Quando ele disse que não é bom com a escrita, ele quis dizer que é esse o tipo de nota que ele ganha em algo que não é bom?
- Porra...- me ouço falar. - Minha menor nota é tipo zero mesmo.
Gustavo não era assim. Ok, tá mais que na hora de eu parar de compará - los, mas simplesmente não consigo.
~||||~
- Deixa de ser doida! - Roberta vira para mim em sua carteira me repreendendo em sussurro, após ler o jornal de sexta. Ela ainda o mantém em sua mão dentro de uma pasta preta.
- Não foi tu que disse pra focar nas merdas que vamos fazer esse ano? Tô focando - levanto as mãos , despreocupada.
- Merda? Isso vai ser a fossa inteira se a diretora descobrir! Tu vai ser expulsa!
- Eu? - sorrio - acho que tu quer dizer Ana. Mas é justo, no ano passado a diretora disse que se esse tipo de jornal continuasse, ela ia ser expulsa, e bom , "Aninha" continua publicando as fofocas dela. Ela não pode dizer que não foi avisada.
Santos meneia a cabeça, em negativo. Ela tá parecendo Leticia com toda essa preocupação.
- Essa tua vingança tá indo longe demais , e se eles descobrirem que foi tu? Aqui tem câmeras!
- E tu acha que vai dar tempo? Ana só vai aceitar a verdade, até por que o jornal é mesmo dela. E até ela conseguir descobrir , se descobrir, que foi eu que coloquei no mural, ela já vai tá bem longe daqui, talvez a gente já esteja se formando - rio baixo, nem acredito que vou me livrar dessa demônia e ainda acabar com a vida social de Pricila. Se as duas tivessem mantido a boca fechada, isso poderia não estar acontecendo. Ou poderia? Certo, talvez eu fizesse algo parecido apenas por capricho.
- Talvez Pricila vá tirar satisfação com ela sobre essa fofoca aqui e acabe comentando sobre a treta de vocês...
- Ela provavelmente vai chorar muito antes de pensar em falar exatamente com a pessoa que a afetou - suspiro pesado e me encosto no espaldar da cadeira, convencida de que me livrei do interrogatório de Roberta.
- Então Ana entrou no teu caderninho rosa por causa daquela discussão na quadra, né?
- Aprende uma coisa, Santos - fico mais perto. - Pequenas tretas, grandes problemas. Ela não vai com minha cara há muito tempo, e eu não a julgo. Geralmente sou intragável. Mas se comprar briga comigo, vai levar troco.
Ela balança a cabeça, dessa vez rindo fraco, como quem se rende.
- Criei um monstro.
- Tu sabe que eu já era assim quando a gente se conheceu.
- É, mas eu te deixei pior - e volta a rir , eu a acompanho. Um momento de há dois anos atrás em que ela me diz que sou muito mais do que meus olhos podem ver, passa diante dos meus olhos, e e eu sorrio largo, até lembrar de outra cena parecida, uma em que Pricila diz quase a mesma coisa. Não passava de mentiras. Como se tivesse adivinhado que eu estou pensando nela, Roberta fala : - E assim tu se vinga de Pricila, vai deixar pra lá essa coisa com - seu queixo aponta para algo trás de mim , algo chamado Oliver. Oliver que até então eu tentava esquecer. O Oliver que até agora tento me convencer de que não me afetou com apenas um mísero toque de lábios que eu mesma causei. Ou com qualquer outra aproximação. Acontece que agora todas as cenas surgem em minha mente, em sequência, Oliver me observando na sala de sua casa, Oliver me prensando contra o balcão, eu beijando Oliver há poucas horas atrás e uma que eu decidi apagar das minha mente, mas não cansa de ressurgir, uma em especial que me intriga muito, e me intriga mais ainda o fato de eu guardar ela, Oliver quase beijando Pricila também na sala de sua casa.
Antes que eu possa pensar em responder Roberta , uma resposta em que eu não pareça traidora por estar dando em cima do seu suposto crush , uma voz reverbera pela sala , me salvando de uma provável nova discussão com Santos.
Paula, nossa professora de biologia que provavelmente odeia seu emprego
- considerando que sempre vem aqui ,joga um exercício sem mal explicar o assunto, e deixa todo mundo quebrar a sala - tira o olhos do seu celular , abaixa os óculos grossos e olha em direção à voz estridente.
Nós duas - Roberta e eu - ,fazemos o mesmo, olhamos para a dona do escândalo - Emanuelle , a rica "falida" -, e suas amigas - Jennifer e bonde - e uma interrogação deve estar aparecendo na minha cara, já que Roberta instantaneamente começa a
falar :
- Elas tão animadas com a viagem de junho.
- Que viagem? - vinco a testa, acho que ainda mais.
- Pra pousada da família de Emanuelle, os pais dela venderam para pagar as contas, mas parece que eles têm até agosto para desocupar. Aí emanuelle inventou de dar uma festa de despedida - Roberta revira os olhos, enjoada -, aposto que ela nem ia lá antes de ficar pobre.
"Pobre" assim, entre aspas, porque o pobre de emanuelle ainda é o meu rico, ao menos por hora enquanto ela não tem que vir à escola a pé e sim de Fiat do ano.
- Aposto que a gente nem vai ser convidada pra essa festa - retruco.
- Aí que tu se engana, gatinha - ela sacode os ombros, como uma garota metida -, a festa vai ser pra arrecadar grana pra formatura - minha boca abre e fica assim até Roberta continuar -, ela tava querendo falar contigo sobre isso.
- Isso tá tão estranho que eu tô pensando aqui se não é uma armadilha pra ela vender nossos órgãos e ficar rica de novo - comento.
- Não inventa que eu tô cheia de planos pra esse dia - ela aponta sua unha rosa cintilante pra mim, séria, o que me faz rir.
- Não inventa que tu não é essas merdas que essa vadia falou, não! - Roberta diz, indignada por eu ter acreditado em cada palavra de Pricila , tão indignada que eu quase acredito que sou linda. - Olha, eu posso te ajudar. Na verdade eu vou te ajudar...
Antes que eu pudesse abrir a boca e discordar, Roberta me puxa para um caminho diferente do qual eu costumo seguir para ir pra casa após a escola.
- A gente tá indo aonde? - questiono enquanto a garota ao meu lado enlaça seu braço no meu. Os cachos balançando como numa dança enquanto ela se move.
- Pra minha casa, vou te ensinar a finalizar o cabelo.
Eu não respondo nada, apenas continuo a acompanhá - la, o que deve soar como um sim. A verdade é que eu mal consigo pensar no que fazer agora, a atitude de Roberta meio que deixou meu raciocínio extasiado e meu instinto desconfiado.
Há três meses atrás, eu comecei a desacreditar em tudo que me fazia ser quem sou, qualquer coisa que remetece a algo bom, e então apenas sobrara ódio. De repente até a raiva da minha mãe reacendeu. Além de vovó, ninguém mais valia a pena, eu iniciei o ensino médio sem amigos e não pretendia me aproximar muito de ninguém, no entanto Roberta se aproximou de mim. Duas semanas após o início das aulas ela perguntou se podia ser minha dupla no exercício do laboratório, eu agi como de costume, como a antiga Josy, educada e simpática, mas não pretendia iniciar qualquer intimidade. Por dentro ainda estava/ estou quebrada demais ,só que Roberta não gosta muito da nossa turma, ao menos da metade que ela alegou conhecer desde sempre, a garota quase sempre está sozinha, cerrando as unhas bem feitas e quando não, conversa com algumas poucas pessoas, às vezes de outra turma. Ela não olha pra ninguém com pena , exceto Jennifer, ela nāo mede ninguém, é como se ela não se importasse se você é feio demais ou bonito demais. E talvez tenha sido isso que me fez despejar em seus ouvidos o acontecimento que me corroe últimamente. Ou talvez eu simplesmente não aguente mais guardar, deixar que o monstro continue morando em minha mente e se apossando dos poucos resquícios de luz que ainda vagam por ela.
De qualquer maneira, ainda tenho dúvidas quanto a garota de olhos castanhos brilhantes, mas ainda assim não consigo conter a surpresa de seu gesto, que automaticamente aqueceu meu coração. Eu venho sendo tão pisada ultimamente, que sua simples atitude de meu ouvir divagar sobre minha amiga - que no fim das contas nāo era amiga coisa alguma - oferecer algo aparentemente bobo, como arrumar o cabelo, foi como se , mesmo que por um átimo de segundo , eu tivesse permissão para acreditar nas pessoas de novo. Eu me permitisse acreditar.
- Olha, não é difícil. Tu vai aprender rápidāo - ela diz enquanto me arrasta até a cadeira giratória que colocou em frente ao enorme espelho posto na parede verde abacate do seu quarto. Aliás, não são só as paredes do seu quarto que trazem cor, é o quarto todo. Há também o edredon vermelho bordô sobre a cama e os tapetes felpudos roxos. Além das cortinas listradas num tom de verde diferente. No guarda - roupas tem algumas fotos suas e da família, e flores amarelas coladas. O quarto de Roberta é um antro de cores - diferente do meu quarto, da minha vida , da minha alma - , como se aqui fabricassem o arco íris e cada objeto tivesse sua função / sua cor. Tudo aqui se sobressai, especialmente Roberta com seu tom de pele mais escuro que o meu , num chocolate vistoso e brilhante. Ou ela usa iluminador?
- Ok - eu digo e testo um sorriso, até perceber que ele surge naturalmente. Assim como cada palavra que eu disse a Roberta até aqui. Conversamos por todo o percurso - assim que eu consegui conter minha desconfiança e surpresa - e não houve tensão, de alguma maneira, Roberta faz com que as coisas fluam naturalmente. - Mas por que tu tá fazendo isso? - levanto a questão que não citei antes. A real é que não falamos sobre o que iríamos fazer aqui ou sobre o que Pricila fez ou Pricila em si. O que me deixou aliviada. Já falei demais.
- Oh, meu Deus! - e revira os olhos - Será que tu não pode acreditar em mim? Só quero te ensinar a arrumar essa juba - e ela puxa o elástico do coque baixo que fiz, soltando as mechas quase sem cachos que eu tanto me empenhei para domar. - Jô, aprende uma coisa. Não se penteia cabelos cacheados seco.
Eu dou de ombros. Nunca me importei com minha aparência, então que diferença eu ia ver penteando o cabelo seco ou molhado?
- Anotado - indico minha cabeça e ela ri, antes de me mandar molhar o cabelo no banheiro.
Poucos minutos depois, eles estão úmidos e eu estou de volta no quarto de Roberta, na cadeira giratória. Ela passando um bocado de creme em todo o meu cabelo.
- Ninguém merece ouvir tantas mentiras assim - comenta, de repente, o que me causa um sobressalto. Eu não contei sobre Gustavo, então do que ela fala?
- O quê? - indago,com um monte de cabelo castanho caindo em meu rosto.
- Eu disse que ninguém merece ouvir tantas mentiras assim , assim como tu ouviu - eu murmuro um " ah", meio incerta do que dizer ,e no segundo seguinte, meu rosto está livre dos cachos, que agora caem nos ombros, melhores do que eu já os vi em toda minha vida.
- Eu mal comecei - Roberta diz, me olhando pelo reflexo, com se tivesse percebido minha surpresa.
- Talvez por eu quase nunca me olhar no espelho tenha ficado um pouco impactada com o tamanho - me refiro ao cabelo, mesmo que por um curto momento eu tenha me espantado por outra coisa, mas eu ainda me sinto feia e todas as ofensas que ouvi, por isso tenho vergonha de admitir que agora pouco me achei...bon..a palavra com "b", mesmo que eu não me sinta tão ridícula em dizer isso a Roberta, porque ao menos falar isso a ela, não parece soar como uma mentira, eu pareço acreditar de verdade no que eu digo. É verdadeiro assim como ela parece ser.
Sorrindo como quem não está convencida com minha resposta, ela toca meus ombros e encara meus olhos no reflexo.
- Tu é muito mais do que teus olhos podem ver. Beeem mais gata...
- Tenham um bom dia! - Paula diz assim que o sinal toca, mais animada, obviamente porque está indo embora. Eu até poderia ficar da mesma forma, porque se temos alguma coisa em comum é o fato de nāo gostarmos da sua aula ( ao menos ela nāo gosta de ministrar) , só que Oliver ainda está na carteira de trás, e mesmo que ele tenha entrado aqui e mal dirigido seu olhar à minha pessoa, ainda nāo consigo encará - lo e o pior é que estou em dúvida se nāo quero mesmo encará - lo ou se nāo quero porque tenho medo de perceber que estou sendo ignorada. E na verdade nenhuma dessas opções é boa pra mim.
Em poucos segundo meus colegas se dispersam enquanto o professor seguinte nāo chega e antes que eu possa fazer o mesmo ( me mandar daqui e ficar um pouco livre da tensāo de estar tāo perto de Oliver) Leticia que está no incío da fila encostada no quadro branco com Alice, nos chama - Roberta , eu e Lorena que está muito focada no exercício de biologia ( ela é a mais esforçada de todas nós, considerando que eu nem esforçada sou), me pergunto se ela nāo pode vir até aqui, aí lembro de Oliver que ainda nāo saiu do seu canto. Será mesmo que esse garoto dorme mais que eu? E ainda tira notas boas? O mundo realmente é injusto.
- Qual é a fofoca? - questiono quando estamos todas juntas, porque pra Leticia nos chamar assim, nesse sigilo, só pode ser fofoca.
- Entāo você - e aponta para mim - , dona Jô ,anda beijando Oliver por aí e nem conta pra suas amigas - e entāo ela semicerra as palpébras, do seu jeito de quando está desconfiada.
- Beijando quem?- Lorena escancara a boca, os lábios finos totalmente esticados enquanto eu só consigo piscar os olhos.
Sabe a sensação de ser descoberta? É assim que eu me sinto agora. Até então, ter beijado (ralhado, na verdade )Oliver foi uma coisa quase inexistente, mas então vem a fofoca e tudo parece mais palpável.
- Admite que vocês tão namorando - Alice joga, enrolando com o dedo uma mecha rosa do cabelo 90% castanho.
Admito que desse jeito não vou nem ter permissão para dirigir a palavra a ele, quem dirá namorar. Não que eu queria, ah, você entendeu!
- A gente não tá namorando! - me exalto - mesmo que com a voz baixa - , porque agora acabo de perceber que estou mais que avisada de que voltei a estaca zero com relação a Oliver. Eu devia ter pensado nisso antes de beijá - lo. Mas Pricila estava ali, eu, ele...pareceu tão conveniente que seria desperdício deixar passar. Não beijá - lo.
- Hum, olha como ela ficou toda estressada - Leticia alfineta, lançado seu olhar malicioso para mim.
- Fala logo, Jô, tu tá ou não de lance com Oliver? - Dessa vez é Lorena , menos surpresa e exigindo, aos risos, cheia de expectativas, empatando com a senhorita Alice respira músicas do ed sheeran. Uma coisa sobre Lorena : é muito mais satisfatório para ela ver os outros vivendo suas vidas do que ela fazendo isso. Acho que ela não tem muita coragem de fazer, o que não é muito diferente de mim.
Respirando devagar para não sair do limite, eu abro a boca para falar os meus encarecidos "Migas suas lokas, Oliver e eu , tipo assim, nada a ver ", mas eu não falo desse jeito e a cara amarrada de Roberta me lembra que ela ainda está aqui. E que, principalmente , não gostou do que ouviu. Mantenho a boca fechada por uns segundos até dar de cara com os olhares maliciosos e cheios de expectativas das minhas outras amigas.
Revirando os olhos, prossigo minha atitude antes interrompida.
- Quando eu tiver com alguém, vocês vão ser as primeiras a saber , bando de pestes!
Elas começam a rir - Roberta não, e consequentemente eu também não -, mas a malícia continua em cada pupila dessas - garotas lindas , perfeitas , maravilhosas - inchiridas.
- Bom dia! - Loreto entra na sala, falando com seu tom calmo de sempre. Imediatamente voltamos para nossos lugares, no caminho Leticia ainda me joga um "salva pelo gongo " que eu concordo mentalmente assim como também suspiro em alívio.
Até poucos minutos a menção de ter beijando Oliver era apenas um lembrete de que provavelmente ele vai me ignorar. Agora é um lembrete de que sou uma traidora e que minha amiga está sofrendo por minha culpa.
Estou confusa e com medo e irritada. Primeiro : Roberta gosta mesmo de Oliver? - eu sei, esse é o momento em que todo mundo bate a mão na testa de cima e me pergunta se sou idiota, mas esperança é a última que falece - Segundo: se ela gosta mesmo dele, o que eu faço? e Terceiro, mas obviamente não menos importante: O que fazer para manter a constância em um relacionamento - de amigos, ao menos da minha parte - com Oliver? Sério, a minha relação com ele é baseada em apostar tudo e , consequentemente , perder tudo. Uma hora estamos super bem e na outra super mal. Certo, a culpa é toda minha, mas ainda me pergunto se vale mesmo a pena entrar nesse mar de inconstância apenas por vingança, porém esse pensamento não dura mais que cinco segundos.
Na hora do almoço, decido ver como estão as coisas com a fera menor - Roberta - , embora ela tenha me tratado normalmente durante as aulas. Só que eu sei que ela está mal, e eu não consigo engolir isso.
Então caminho pelos corredores em direção aonde ela me disse que ia ,antes de sair da sala primeiro , (biblioteca). Mas se a chapéuzinho vermelho não deixou de cruzar com o lobo mau numa floresta enorme, por que eu deixaria de encontrar Oliver num escola bem menor que uma floresta e ainda na biblioteca que é um lugar onde ele parece sempre estar? Aparentemente a tortura de tê - lo perto de mim durante as aulas não foi o suficiente, já que as circunstâncias nos colocaram no mesmo ambiente novamente, sem nenhuma pausa.
E eu que pensei que poderia enfim respirar.
É quase em câmera lenta, o lobo - Oliver/fera maoir - ergue os olhos para a pessoa que acaba de abrir a porta - eu - a sobrancelha com cicatriz se ergue e me deixa mais atenta àqueles olhos distintos. O castanho avelã está ainda mais dourado de encontro ao facho de luz do sol que se espreme entre uma brecha da janela de vidro aberta, e então, ele volta a olhar para o caderno sobre a mesa. Talvez nem tenha sido tão lento assim, talvez eu tenha passado muito tempo o encarando, o que me assusta. De repente a nossa conversa de ontem me parece mais real e me sinto um pouco envergonhada por não ter cumprido nosso acordo, pela primeira vez nessas horas penso nele e não em mim. E eu sei que em uma hora ou outra ia quebrar a regra, mas isso poderia demorar mais um pouco. Tipo, não faz nem vinte quatro horas que demos trégua e eu já o ataquei.
E agora a escola toda só fala do nosso beijo, "digno de filme pornô", mas o que é um beijo comparado ao boquete do primeiro dia de aula? Não sei por que esses imbecis estão fazendo tanto caso.
Após vasculhar todos os cantos da biblioteca, concluo que Roberta não está, ao mesmo tempo que Oliver decide me dizer a mesma coisa.
- Ela saiu há uns vinte minutos - Oliver diz quando eu passo por sua mesa, se referindo, provavelmente a Roberta.
Eu paro e, descaradamente, o encaro, imaginando que se ainda está falando comigo então irá fingir que nada aconteceu, e se ele quer isso, eu posso tranquilamente ( e muito feliz) jogar o seu jogo e bancar a cínica. Afinal é um dos meus talentos. No entanto, seu próximo ato não estava nos meus planos.
Oliver fecha o caderno sobre o lápis e insinua ir embora. Antes de realmente ir embora.
- Oliver! - o chamo, e o bibliotecário que é o único que está aqui além de nós, me repreende com uma careta - Desculpa - peço , revirando os olhos , antes de seguir até a porta, onde cara de lobo parou.
Assim que me aproximo, passamos pela porta e ele a fecha.
- O que foi? - ele me olha, a expressão impassível de sempre só que mais fria, indiferente e tudo que há de alheio. Sem nenhum resquício do garoto desarmado de hoje de manhã que eu beijei e deixei sem fala.
- Não tá com raiva de mim? - questiono antes que alguém possa fazer o favor de calar minha boca.
- Deveria?
- Achei que...- começo, mas sua voz atravessa a minha.
- Que eu ficaria com raiva porque tu me atacou hoje de manhã quando ontem de tarde a gente tinha combinado de ser só amigos? Relaxa, gata, tô de boa.
Beleza, Oliver não é do tipo cínico ,pelo que parece. Na verdade ele é bem direto. O que me faz entortar a cabeça e enrugar a testa, não o fato de ele ser direto, mas ser agora. Então ele não me ignorou? Então não está com raiva? Então ontem não estávamos falando sério? Suas palavras finais parecem amistosas e me lembram o garoto do primeiro dia de aula que encontrei no banheiro, mas o início da sua fala é dura e sarcástica, assim como sua expressão, mesmo que o tom de sua voz seja calmo.
Eu me mantenho próxima do seu corpo e ignoro um desses arrepios idiotas ( agora dei pra sentir alma penada toda vez que esse garoto tá perto?) toco o seu rosto e sorrio de lado, soando confiante e ignorando qualquer outra reação do meu corpo ao minha mão tocar em sua face. Oliver franze o cenho, mas ainda parece alheio (daria qualquer coisa para ter gravado com uma câmera suas reações de hoje mais cedo). Acariciando devagar sua bochecha, com as pontas dos dedos, me desato a falar.
- Oliver, qual é o teu problema?
- Qual é o meu problema? - questiona como quem diz "Mas quem tem problema aqui é você ".
- É - e paro um pouco de sorrir para questionar o que eu já questionei para mim e para ele também. - Tu é gay né? - o que não teria problema se eu não tivesse não tão interessada em tê - lo , por isso torço para um "não" convincente e até com comentários maliciosos. O que no geral eu repudio, mas não seria nada mal que ele me provasse com um beijo cheio de desejo e... Puta que pariu! Não, não, nada de beijos. Eu não quero Oliver, não realmente.
- Se acha tão irresistível assim? - ele joga , com seu típico sorriso sarcástico. E agora eu sinto que voltamos de verdade à estaca zero. E eu pareço estar voltando à estaca zero da minha vida, quando eu era uma merda que constantemente era humilhada. E eu odeio esse poder que ele tem de me deixar mal por agir confiante, novamente como se ele soubesse todos meus pontos fracos, todas as minhas mentiras.
- E aí, Oliver! - então André aparece, exatamente, me poupando de responder seu amigo. Concluo que esse será um dos dias mais oscilantes do ano. É tão imprevisível e bipolar quanto minha relação com Oliver. André dá um tapa nas costas do lobinho, antes de enlaçar minha cintura e me cumprimentar com um beijo - Minha Deusa.
- Sua não, gatinho - digo , maliciosa, para seus olhos amendoados.
Depois levanto minhas sobrancelhas para Oliver numa pergunta silenciosa "isso te responde?". Ele observa os dedos de André apertando meu corpo e por poucos segundos me pego vendo faíscas de ciúmes saindo de seus olhos, logo após me xingo por estar tão doida a ponto de ver coisas sem sentido como essa, digo, nós mal nos conhecemos. E para provar isso, Oliver sorri como o capeta, mesmo com a seguinte pergunta de André, que me deixa paranóica de novo:
- Opa! - de repente ele me solta, como seu meu corpo pelasse- Vocês tão namorando, né? Ouvi falar alguma coisa assim - termina, sério.
- Na verdade eu acho que sou gay - Oliver começa, deixando André com o rosto contorcido em confusão e surpresa. - Agora espalha por aí - se dirige a mim, ríspido. Acho que eu me enganei, ele está com raiva.
Mas o que ele quer dizer? Que eu sou fofoqueira?
- Ele é gay? - André me questiona.
- Ele é maluco - digo, cruzando os braços contra o peito, ainda mirando nas costas de Oliver.
- Mas e aí, e nós? - indaga, tocando meu queixo e virando meu rosto para o seu.
Sorrindo, afasto sua mão e dou palmadas em seu rosto enquanto falo.
- Nós não existe. Nós nunca vai existir. Agora tchauzinho, baby - aceno com a mão antes de ir embora e enfrentar um corredor repleto de garotos , que acabaram de sair do treino de futebol. O assédio come solto aqui também ( escola ), e ouço em bom som predicativos como "delícia ".
- O que eu faço pra ganhar teu número? - um deles questiona, estranhamente num tom bem educado. Sem nem me virar para ver seu rosto, respondo :
- Nasce de novo!
As "gracinhas" continuam, porque eu ainda consigo ouvir um burburinho, no entanto não sei identificar o que eles estão falando, pois minha cabeça está cheia de Oliver, literalmente. "Eu não gosto de ser enganado" ,ele teria levado isso em conta quando quebrei a droga do acordo? Ele realmente leva isso a sério? Porque se for assim, percebo que mesmo sentindo que somos muito parecidos, há algo que nos distancia muito, Oliver não gosta de ser enganado. Eu costumo enganar. E eu o enganei ontem , redondamente, quando concordei em não me jogar mais em cima dele.
Passeando pelo corredor próximo ao refeitório e sentindo um cheiro até bom de frango assado - o que não condiz com o sabor - , vejo Jennifer e Pricila conversando, elas estão do lado oposto do meu, e quando Jennifer me vê, não evita um riso. Cobra! Naja! Hiena! Obviamente ela fez exatamente o que eu pensei, convenceu Pricila a me enfrentar e agora a ruiva de farmácia deve estar comentando mais sobre o meu passado humilhante. Eu me enganei quando disse que "ia demorar " mas logo ela descobriria que mexer comigo é suicídio social, dois dias e meio não é nada.
- O que fazer quando um cara te diz que é gay? - pergunto à Letícia - que é a pessoa ,que eu conheço, que mais entende do assunto - em seguida tentar engolir a gororoba de hoje. Aparentemente nossas outras amigas têm coisas melhores para fazer ao invés de almoçar, inclusive Roberta. Ou elas simplesmente deram uma volta na diretoria e foram almoçar em casa.
- Oliver te disse isso? - meus olhos encaram os seus instantaneamente.
- Como sabe?
- Ouvi no grupinho das cobras.
- O quê?
- Jennifer tava comentando com Ana , Débora... as caras de cu de sempre. Pricila também tava.
Mas como... Por quê? Será que ele mesmo saiu espalhando?Será que ele é gay? Ou a resposta mais plausível nessa situação... será que o linguarudo do André já espalhou? Tão rápido? Se for assim ,André deixa os carros de som da rua no chinelo.
- Assim, eu só acho que ele falou brincando e as pessoas interpretaram mal - Letícia continua, ainda que um pouco alheia como de costume , o que no seu caso, me deixa mais confortável. - E tu - então ela me encara, fixamente, com seus olhos espertos, não mais alheia - , gosta dele, né?
Subitamente meu coração acelera como se eu estivesse vendo o próprio Oliver.
- Tu tá doida? A gente só teve um lance de umas horas - dou de ombros, disfarçando o que eu nem sequer sei. - E eu mal conheço ele.
- Ok - ela ergue as mãos em redenção -, não vou insistir, nem falar sobre o suposto beijo de hoje. Mas voltando pra OOOliver - ela estica seu nome como quem está hesitando soltar uma bomba - se um cara diz que é gay, ele deve tá desesperado pra se livrar da mina.
Eu não devia ter dado bola para o que Letícia disse, no entanto, minhas paranóias estão cagando pra mim, por isso passei as horas seguintes pensando se eu não entendi mal quando achei que vi desejo nos olhos de Oliver e nas suas atitudes com relação a mim, se ele não mentiu quando disse que eu o provoco, se na verdade ele só me desejou por poucos segundos e no restante quis me ver longe. Por que ele me quer longe?
Se eu olhar pelo lado bom, o fato da fofoca sobre Oliver ser gay ter se espalhado tão rápido anulou a sobre o nosso beijo, o que provavelmente foi o que deixou Roberta de bom humor, se eu olhar pelo lado ruim, o fato dessa fofoca ter se espalhado tāo rápido fez com que todo mundo falasse de Oliver pelas costas quando ele passava ou descaradamente, como foi o caso de Jennifer que passou todas as aulas cochichando com suas amigas, entre risos, enquanto olhava na direção de Oliver. E não que eu esteja me importando com o otário, até por que nem o próprio parece se importar, mas espero que um boato novo anule esse.
- Ele ficou com tanto nojo da raça feminina depois que Josy tocou nele que decidiu virar gay! - e parece que o mais novo boato será sobre eu ser a nova cura hétero. Jennifer, como sempre, está gritando , aos rinchos , merdas sobre mim para suas amigas enquanto eu passo. Ao menos o último sinal acabou de tocar e eu estou seguindo rumo à saída, não aguentaria mais passar nenhuma aula com essa hiena.
- Meu nome é doce, né? - comento, me aproximando do seu grupo com um sorriso disseminando ironia.
- Cuidado vi, Jennifer , ela é louca - Ana diz, rindo com sua voz rouca irritante.
- Ela parece que vai pular em cima de tu, Jeni - Jemily joga, rindo também.
Meus olhos estão apenas em Jennifer, alheio a qualquer movimento das outras cobras. Jennifer cruza os braços e me olha com deboche fazendo uma careta de quem diz "tu é uma coitada ". Jeni, Jeni, eu acho que não.
- Escuta as tuas amigas, Jeni, e toma cuidado.
- Ah tá! - ela diz, após um riso.
- Doce demais pode dar diabetes, tu sabe ,né? então vê se para de falar meu nome.
- Tu não manda em mim não, menina! - diz, indignada.
- Eita! - Débora solta, eu a olho de relance apenas para lançar uma ameaça.
- Tá avisada , cadela do mato!- digo, e antes que Jemily possa desatar a rir, encaro ela e as imbecis do lado. - E se vocês ficarem de boca fechada não entra mosca nem sai bosta - antes que Ana ou a própria Jennifer abra a boca - o que eu acho difícil - , eu giro os calcanhares e me mando. Provavelmente elas voltam a falar mal de mim no mesmo instante, mas eu já dei meu recado.Da próxima vez eu mostro o recado. Assim como vou fazer sexta - feira com "Aninha" e a ruiva falsa que está encostada num pilar perto da saída.
Ela tira os olhos do celular por alguns segundos apenas para me olhar com desdém antes de voltar a encarar o aparelho e fingir que nunca dirigiu o olhar a mim. É, no final das contas beijar Oliver causou o impacto / inveja/ raiva que eu queria. São em momentos como esse que lamento a história sobre nosso beijo ter sido substituída pela idiotice que André espalhou, e agora eu sei que foi ele, eu mesma o vi dizendo para os outros garotos. Alguns não deram bola. Quase a maioria. Ao menos a bruxa viu tudo com os próprios olhos: Oliver, eu , minha boca na sua, minhas mãos em seu rosto e... e então um arrepio me percorre, penso que isso acontece em consequência da lembrança, mas um cheiro de perfume masculino quase palpável atinge minhas narinas e diz que isso não é imaginação. Oliver está atrás de mim e antes que eu possa me virar, ele passa calmamente como quem não foi motivo de fofoca a tarde toda.
Apenas para fazer charme pra Pricila , eu o acompanho.
- Tu é bem mais fofoqueira do que eu pensava - ele joga, simplesmente.
- O quê?
- Nāo me importo com essas coisas - ele continua, me atropelando -, só com quem espalha.
Contorcendo o rosto em completa indignação e confusão, abro a boca.
- Eu não falei porra nenhuma! E mesmo se eu tivesse falado, não foi tu que me mandou espalhar?
- É, tu tem razão - ele assume, como quem encerra o assunto. Esse assunto. Porque na verdade, sinto que temos muitos outros assuntos para resolver já que ele ainda parece não querer conversa comigo.
Maluco!
Em mais alguns poucos passos, estamos no estacionamento, onde Oliver se aproxima de sua moto preta e sobe sem parecer se importar com minha presença. Só agora paro pra observar que ele deve ser maior de idade( eu devia ter checado em sua transferência ). Ou talvez não, moramos numa cidade pequena, ninguém liga pra habilitação.
- Então...
E ele me corta.
- Então é melhor tu ir pra casa - diz, prestes a colocar o capacete, como os olhos no capacete, nem um pouco interessado em mim.
Meus olhos circulam pelo chão, por seus tênis brancos. Impecavelmente brancos. Antes de encararem o vislumbre do deus grego insuportavelmente misterioso.
- Tu é gay? - retorno a dúvida.
- Pergunta pra tua amiga Jennifer, ela sabe muito da minha vida - ironiza. Talvez ele tenha ficado afetado com os cochichos e risos durante as aulas, afinal. E antes do mesmo ir embora, termina com um - Fica longe, tá? Foi divertido, mas o joguinho acabou.
E arranca.
Agora é oficial, voltei à estaca zero.
Slaver Slav teria inveja de Oliver. Só que o Slaver Slav daqui sou eu.
Quando olho para o lado oposto ao do estacionamento, vejo o gramado verde com alguns bancos, onde Roberta está com sua bolsa vermelho morango. Ela está me olhando e deve estar fazendo isso há um bom tempo.
- Achei que tu ia me deixar esperando de novo - joga, quando eu chego, antes que eu possa abrir a boca.
No mesmo instante me pergunto se ela está com ciúmes dele novamente , se eles têm um lance e por isso ela sabe que ele não é gay e não ficou tão surpresa com o boato, pelo contrário, de bom humor. Me pergunto se Oliver não me disse isso apenas para me afastar dele porque na verdade ele gosta dela, de Roberta. E eu preciso saber.
Mesmo que ela esteja de boa com tudo isso agora, que aparentemente as coisas estejam bem entre nós, eu não quero mais ficar nesse plano oscilante, então preciso que ela me diga, preciso que a gente tenha uma conversa séria, embora talvez a resposta dela implique dizer que eu não poderei mais me atirar em Oliver . Por isso após não a encontrar no almoço porque ela acabou indo almoçar em casa, decidi que a gente iria pra minha casa, onde conversariamos sobre o assunto e deixaríamos tudo claro.
- Tu não esquece não?
- Ok, foi mal - ela ergue as mãos e sorri. Como a Roberta que eu raramente vejo agora. - Então - prossegue, ficando de pé - , a gente vai ver Lisbela e o prisioneiro ou O alto da compadecida? - são os nossos filmes de sempre dos quais sabemos as frases de cor.
- Preciso te perguntar uma coisa - disparo, e de imediato Roberta levanta a sobrancelha direita como quem diz " pergunta ". - Quando a gente chegar em casa eu te falo - e dou um passo, insinuando que a gente comece a andar.
- Ah não! Sério que tu vai me deixar nessa curiosidade?
Eu lhe lanço um olhar como quem diz "sim". Então, magicamente , Roberta finge que não é um poço de curiosidade e começa a falar sobre a escola / pessoas dela ou qualquer outro assunto aleatório.
A rua está mais vazia que de costume , como ontem quando Oliver veio me trazer ( isso parece ter sido há tanto tempo. Vinte quatro horas atrás éramos basicamente amigos , agora ele me quer longe ), no geral as vizinhas fofoqueiras ficam nas calçadas, como manda a lei de uma cidade pequena. Porém, hoje é mais uma exceção, vejo apenas alguns gatos nas calçadas, em um muro ou outro. A falta de pessoas parece deixar o céu em mais evidência - ou provavelmente a ausência de prédios na cidade e casas do outro lado da rua -, mesmo que ele esteja tão lindo agora que eu não sei se algo conseguiria anulá - lo. Alguns fachos da luz do sol, agora parca, atravessam as nuvens e iluminam a rua, o céu é tingido de um amarelo quase laranja, que com a prestes partida do sol recebe tons de roxo. Eu suspiro e é quase como se eu pudesse começar qualquer coisa de novo.
- Caramba, que lindo... - Roberta diz ao meu lado, eu me viro para o seu rosto , como somos da mesma altura eu não preciso erguer ou abaixar o olhar, assim que eu viro, meus olhos encontram os seus que estão mais claros com o toque de alguns raios do sol. Ela parece tão admirida. Será que é assim que ela olha pra Oliver quando eu não estou perto? Será que é assim que ela sempre olha pra Oliver e eu que nunca notei?
- Se eu te perguntar uma coisa, tu jura que vai me responder a verdade?
- Eu hein - ela franze as sobrancelhas e estranhamente parece aflita demais - , fala!
Paramos em frente a minha casa, não há luzes acesas, então deduzo que vovó ainda não chegou da confeitaria. Coloco a mão no bolso da saia e puxo minha chave.
- Tu gosta de Oliver? Sei lá, vocês têm um lance?
Seguimos até a porta, subindo a pequena escada e parando em frente à porta marrom, Roberta ri durante o percurso, como alguém que tenta esconder o nervosismo eu acho, e ainda está rindo enquanto eu coloco a chave na fechadura e enfim abro a porta.
Quando entramos e eu acendo as luzes, ela diz :
- Tu fumasse ? A gente não tem nada! - e volta a rir.
Ah, certo. Então é super normal tu me tratar com maior frieza a cada vez que me vê com ele ou algo do gênero! Eu que devo tá vendo coisas, sou doida, desculpe, vou me tratar!
- Tá, então tu quer ter algo com ele, né?
Jogo minha mochila no sofá vermelho e escandaloso de vovó, Roberta faz o mesmo.
- Por que eu ia querer algo com ele se tu já quer ele! - ela dá de ombros, claramente irritada e nesse momento sinto que chegamos no devido ponto, involuntariamente me preparo psicologicamente para o que virá depois, sua voz me dizendo que ela tem uma atraçãozinha por ele e até mais que isso , me preparo para a nossa discussão que virá em sequência, onde ela irá jogar na minha cara que sou uma egoísta que estou brincando com alguém para me vingar de uma garota idiota, enquanto ela que o quer de verdade não pode ficar com ele. Me preparo para a sua explosão. Mas não é do feitio de Roberta explodir a ponto de me machucar, não iríamos discutir por um motivo tão medíocre como um garoto, então talvez seja por isso que depois ,mais calma ,ela diz - E a gente mal se conhece.
- Então por que tu ficasse tão puta quando eu te disse que dormi na casa dele? - questiono, me apoiando no encosto do sofá, e mesmo que ela pareça mais calma, de repente eu não estou. - E com qualquer coisa relacionada a nós dois juntos? - levanto as sobrancelhas. Parte de mim está aliviada por eu estar colocado as cartas na mesa, a outra teme o que Roberta pode dizer. - Tu nem sequer acreditasse quando eu disse que a gente não transou! E tu me conhece pra caralho, Roberta , eu nem... eu nem...- então me paro, eu tinha me prometido que não ia pronunciar mais isso, nós duas tínhamos prometido que não íamos falar sobre isso.
Roberta está sentada numa poltrona a mais de um metro de distância de mim, ela analisa o chão com aparente interesse, mas sei que sua mente está longe. Talvez ela mal tenha me escutado.
- Eu só não quero que tu se ferre! - ela levanta a cabeça tão de súbito quanto sua fala, dando a mesma resposta de sempre, só que com mais convicção - Porque é o que eu sinto que vai acontecer!
Por um momento baixo a guarda e me permito acreditar nela, mas no outro a minha desconfiança me manda manter a postura e questionar mais, e descobrir a verdade porque ela não está dizendo a verdade.
- Sério? - pressiono - Tem certeza de que é só por isso?
- Eu não gosto dele! Eu nem falo com ele...- mas isso eu não engulo, eu vi uma conversa aberta com ele no seu celular, o que quer dizer que não, eles "não mal se conhecem "
- Uma vez eu vi o contato dele no teu celular em cima de uma conversa - aponto , como quem não quer nada, mas ainda desafiadora.
- Tu viu...- mas ela não termina, por que não consegue ou por que eu a corto.
- No dia da votação pra representante, quando eu tava conversando com as meninas e tu chegou , deu pra ver o nome dele na conversa de vocês. Mas relaxa, eu não vi nada! - sei que pareço afetada demais, mas isso só faz parte da encenação para pressioná - la.
- E nem tinha o que ver! - ela diz , confiante, mesmo que por um segundo tenha tremido - Ele só pediu o contato de um professor, só isso!
Um suspiro de alívio escapa dos meus lábios e até eu estranho tanto alívio. Tudo bem, por hora esse é o empurrão que eu precisava para continuar minha missão de conseguir Oliver, mas algo me diz que não é só isso e eu realmente não quero saber o que é.
- Tá, mas... tu ficasse mal comigo hoje de manhã porque descobrisse que a gente se beijou, o que não passou de uma droga de selinho! - e eu ainda continuo me explicando para ela, como se ela precisasse saber. Talvez no fundo eu não acredite em suas palavras tanto assim.
- Eu já disse que eu acho que tu vai se ferrar com isso! - e se levanta, passando as mãos nos cabelos e fazendo um rabo de cavalo. - É só por isso que eu fiquei meio assim. Tu nem conhece esse garoto, e tu quer usar ele só pra se vingar daquela sem sal da Pricila , já pensasse se ele decide levar essa coisa de usar a sério? Ele não é um dos imbecis que a gente conhece, ele pode... sei lá, querer te usar também e te machucar, não sei - olhando por esse lado, parece fazer sentido.
- Acho que tu tá certa - suspiro, de novo.
- O quê, dona teimosia? Eu acho que não escutei direito - ela coloca a mão na orelha, encenando.
- Acho que tu tá certa - repito, mais alto.
- Acho que hoje vai chover vacas - ela retruca, sorrindo.
- Então realmente tu não gosta dele?
Roberta revira os olhos antes de balançar a cabeça, impaciente.
- Eu só não quero que tu se machuque por causa de uma vingança do fundamental.
- Tu não entende - digo, jogando minhas costas no assento do sofá e ficando com as pernas pro ar encostadas no apoio. - Eu preciso disso.
- Tu que sabe. Só toma cuidado com quem tá se metendo.
- Eu vou tomar - e observo o teto branco e vazio -, agora jura que tu não vai mais ficar com cara de cú toda vez que que eu falar de Oliver ou tiver perto dele, ou surgir um boato de que a gente transou...
À primeira instância , juro que ela vai dizer "não ", por que ergue uma sobrancelha, mas como se percebesse que o fez, abaixa e então levanta as mãos.
- Juro.
- Acho bom que tu não esteja cruzando os dedos dos pés.
- Oh ,meu Deus! Vou ter que tirar os sapatos agora? - e revira os olhos , de novo.
- Não, vou te dar um voto de confiança.
O clima parece menos tenso, talvez seja por isso que eu comece a rir.
- Tá rindo de que?
- A gente discutindo por causa de um macho - me ajeito, sentando no sofá , dessa vez com as pernas pro chão.
Roberta ri também, um pouco.
- A gente é tão...
- Ridículas! - completo, o que nos faz rir de verdade.
- Mas tudo certo, significa que tu se importa com alguém além de si mesma e essa vingança, não tá tão má como um eu pensava - ela volta a se sentar, dessa vez no mesmo sofá que eu, jogando as pernas por cima das minhas , agindo folgadamente, como de costume.
- Mas eu sou um doce, querida - digo , parecendo ofendida.
- Com certeza é - ela assente, com uma expressão de ironia.
- Não são todos que reconhecem minha bondade.
Roberta ri, negando com a cabeça e internamente eu peço para que seja isso mesmo, que ela tenha falado a verdade, que eu possa confiar nela de novo e falar sobre os acontecimentos com Oliver, Pricila, sobre qualquer coisa, como antes. Que a gente seja como antes.
Minutos depois, eu decido fazer brigadeiro. A gente come no meu quarto enquanto vemos Lisbela e o prisioneiro pelo meu notebook.
Repetimos quase todas as falas e rimos de todas as cenas engraçadas como se a gente já não tivesse visto o filme centenas de vezes.
- Então, tu vai mesmo publicar aquele jornal? - ela questiona, bem no momento em que Dinaura entra no bar, bem doidona e diz a Frederico Evandro que ele é corno.
Estamos largadas no meu tapete felpudo e preto, o notebook está na minha cama, com Frederico exibindo suas pupilas dilatadas, com sede de vingança, e eu só consigo concordar com sua raiva, é assim que eu me sinto toda vez que me lembro da minha vida há dois anos atrás, mas eu ainda conseguia manter o controle, ao menos o bastante para não querer ferir ninguém em especial, mas agora Pricila vem e trás todos aqueles dias de humilhação, ela me lembra de cada ofensa que eu ouvi e eu só tenho vontade de esfregar sua cara no asfalto.
- Mal posso esperar pra fazer isso - confesso. No instante seguinte, lembro de um artifício que me ajudou muito na desmacaraçāo de Pricila e sinto vontade de "rever " Gustavo.
Fico de pé e acendo as luzes, a luz branca ilumina meu quarto mórbido decorado de preto e preto. As únicas cores são o guarda - roupas cinza, o travesseiro branco e os pôsters/ fotos de Tupac e Justin Bieber em cima da cama. Há alguns também numa parede solitária, onde eu disse para mim que colocaria uma mesa de estudos, mas no fundo eu já sabia que não ia usar, deve ser por isso que ela não está aqui.
Vou até o guarda - roupas, abro uma gaveta e tiro uma caixa dela, guardo conchas dentro e também o meu antigo celular, desligado. Volto para perto de Roberta com ele nas mãos e o ligo.
- Teu antigo celular - ela constata. Já o viu outras vezes, quando li algumas mensagens de Gustavo.
- Já pensou se eu pago bem caro por ter brincado com ela? Mesmo que ela tenha merecido? - comento com Roberta quando vejo o visor brilhar com a hora de agora e a data de hoje. - Tipo, meu celular atual quebra e eu tenho que usar esse? Porque eu já tentei apagar todas as mensagens , mas celular sempre trava e nāo acaba apagando nada. Acho meio arriscado andar com essas conversas por aí.
- Lá vem a paranóia. Isso não vai acontecer - Roberta diz, impaciente, mas prestes a rir - , tu precisa de terapia urgente! Ao menos parou de ver Gustavos por aí!
Eu penso em deixar pra lá e não abrir minha grande boca para dizer que Oliver é Gustavo, quer dizer, não, mas aparentemente, que ele é o mesmo garoto que eu vi na padaria semanas atrás , o que me deixou abismada com sua aparência. No entanto, quando percebo Roberta já está me chamando de doida varrida.
- Tu sabe que isso é meio impossível, né?
- Mas ele parece! Só fisicamente. Quer dizer, tirando a cicatriz e os olhos distintos.
Roberta se deita no tapete.
- Desistindo de tu, Josy Correia. Só falta tu se apaixonar por ele como se apaixonou pelo outro.
E eu rio, no fundo estou com medo porque fico na dúvida se estou rindo de desespero ou não.
- Óbvio que não - e dou mais um risinho que por algum motivo eu me esforço para acreditar que nāo é de desespero - eu só sou apaixonada pelo Gustavo verdadeiro, ou seja, eu mesma - falo, enquanto abro a caixa de mensagens e entro na conversa de Gustavo e Pricila, pesquiso a parte em que eles falam de mim , Jô, e me torturo um pouco relembrando a cena em que marcos me humilha. - Até por que, não valeria a pena, esses moleques não têm coração... e muito menos eu - sussurro, mas Roberta provavelmente escuta.
~ |||| ~
Na sexta - feira , eu finalmente chego atrasada na escola, após três noites sonhando com a mulher que me colocou no mundo repetindo o que disse antes de ir embora de vez, que sou uma merda, eu consigo ter uma boa noite de sono, o que significa acordar tarde. E além de me lembrar de que eu tenho sorte de ter minha vó, sonhar com ela me lembrou que durante as outras noites em que seu rosto não surgiu em meus sonhos, fora o de Oliver que apareceu. Eu venho sonhando com Oliver há dias e nem percebi. Devo estar mesmo obcecada pelo cara de lobo. Inferno! Pior é que o imbecil mal olha para mim, ele até fala com André, mas de mim sempre se esquiva. André que espalhou a fofoca sobre ele ser gay. Eu que devo ser uma péssima pessoa mesmo! A conclusão é que, não consegui falar com Oliver nesses dois dias, nem um "bom dia " e também mal tive tempo, já que o carnaval da escola está batendo na porta e eu preciso colocar as ideias em prática e montar a barraca do beijo, que na verdade é mais de uma. O que implica dizer que eu preciso arranjar muito tnt e brilho. No final das contas, passei esses dias tentando chegar a um consenso com a galera que vai vender os beijo sobre as ideias que tive, o que me deixou pilhada e ainda mais pilhada porque Jennifer se autoconvidou para as reuniões.
Ao menos eu ainda tenho distrações como a que eu acabo de encontrar no banheiro no último horário da manhā. A ruiva sem sal.
- Nossa - falo enquanto mudo meus cachos de lado em frente ao espelho do banheiro da escola. - Como você tá ma - ra -vi -lho - sa!
Pricila que está a duas pias antes da minha, me olha pelo reflexo.
- Obviamente eu nāo estou falando de você e sim de mim - a encaro, antes de voltar a fixar os olhos no meu reflexo e jogar um beijo para meu sorriso brilhante.
A bruxa não abre a boca, mas em resposta contorce o rosto em deboche, fazendo bico e o empinando. Eu passo por ela devagar, a ponto de ver meu cabelo ralhando no seu , a imagem do "inapropriado " tocando algo tão "ideal " só me faz ter mais orgulho de ser uma grande rebelde.
Falta poucos minutos para o intervalo do almoço, isso quer dizer que eu preciso colocar o jornal no mural de informações daqui a pouco , por isso encontro com Roberta ( que está com o meu jornal) na sala de informática, onde ela descaradamente queima a aula de física.
- Tu tem certeza mesmo de que vai fazer isso? - a dúvida de Roberta me faz tremer um pouco na base, afinal, boa parte da minha confiança veio dela. Mas não dá pra depender do assentimento de uma pessoa pelo resto da vida, a Jô piranha, a Jô que é o centro das atenções aqui e que dela é sempre esperada uma atitude ousada porque ela tem coragem suficiente não deve depender do apoio alheio , mesmo que de Roberta.
- Absoluta.
- Então tá - e me entrega a pasta preta com o jornal dentro, e uma fita dupla face.
- William já vai botar o jornal no mural, vou esperar ele. Assim que ele sair, eu coloco notícia de verdade - levanto o meu jornal com um sorriso sacana - , digo, fofoca.
- Boa sorte - Roberta diz, cruzando os braços como quem não gostou da minha ideia.
- Eu não preciso de sorte, querida. Ana precisa de sorte , e a bruxa Pricila mais ainda.
Faltando cinco minutos para o intervalo do almoço, fico na espreita, vendo William ( integrante do grêmio ) colocando o jornal no mural, o jornal oficial da escola, o politicamente correto. Assim que ele sai, corro até o mural e espero um pouco mais antes de trocá - lo e jogar o verdadeiro no lixeiro próximo,preciso esperar até o último momento para não correr o risco de alguém do grêmio, como o próprio William, ver o novo jornal antes dos outros alunos e retirá - lo.
Em cinco, quatro, três , dois...um! De repente o sinal soa e o corredor está infestado de adolescentes, como uma droga injetada se espalhando na veia, uma que vai fazer muito estrago.
Começo a ir para longe antes do local onde me encontrava se tornar um aglomerado de pessoas, mas ainda ouço um "É aquela ruiva do terceiro c, né? "super surpreso , e mais uns " Achei que esse jornal só pudesse sair nas terças " "Só tem uma fofoca nova". Mas essa vale por todas as outras, meu bem. Tenho vontade de dizer. Afinal, quem não está cansado de ouvir que fulano pegou fulano ? ou que eu peguei fulano? Precisamos variar. E as letras grandes em negrito que coloquei na primeira fofoca ( a que criei ) cuidou bem disso. Agora vamos falar sobre alguém que jamais pegará alguém por aqui.
Pricila atingida com sucesso. No final das contas não demorou quase nada, ela acaba de ter seu suicídio social.
Agora só preciso que a diretora veja o jornal antes que alguém o tire. Ela deve estar se preparando para ir supervisionar o refeitório , é começo do ano, há alunos novos e cheios de expectativas quanto a escola, é óbvio que ela vai bancar a gestora competente, então não preciso passar muito tempo impaciente no banco onde me encontro nesse instante. É uma questão de poucos minutos, tão rápido como os alunos se aglomeram perto do mural , Teodora (nossa "excelentíssima" diretora) aparece perguntando o que está acontecendo, em seguida ela se aproxima, e é nesse exato momento que ela deve estar lendo a frase em letras bem grandes : "Quem precisa de herpes quando se tem mau hálito? ".
Sua cara atrás dos óculos grossos se contorce e depois ela arranca o jornal e abre espaço entre os adolescentes espinhentos. Passando por mim como um furacão, não tenho dúvidas quanto ao destino da diretora. Ela está indo até a sala do grêmio, e eu me sinto o próprio meme segurando uma taça afastada da casa que pega fogo.
Ana atingida com sucesso.
Como quem não quer nada, saio do banco e caminho calmamente pelos corredores, passando em frente a sala do grêmio, da qual sai gritos enfurecidos e exclamações indignadas. Não consigo conter o riso por muito tempo, então cinco passos depois estou rindo como se a minha vida dependesse disso e automaticamente sigo para o lugar que eu acredito estar mais vazio no momento: o banheiro.
Já que aparentemente tenho um imā para Roberta, ela entra logo em seguida, vasculhando as cabines antes de abrir a boca.
- Se eu já não tinha achado aquilo uma boa ideia antes, agora tenho certeza! - joga.
- E você quer que eu faça o quê? Já foi - dou de ombros, esticando as mãos e tentando segurar o riso para depois fracassar miseravelmente.
- Ah, vocês tão aí! - Alice chega, toda boquiaberta e eufórica.
- O que foi? - Roberta questiona, não menos irritada.
- Viram o jornal?
Estranhamente, assentimos em sincronia.
- Tá todo mundo passando lá na sala pra ver quem é a tal ruiva, vocês tem que ir lá , tá parecendo exposição! - de relance, Roberta me olha como quem diz "isso vai dar merda" - E quando ela foi falar com Jennifer!... a falsa virou a cara! Gente , coitada!
- É, quem se mete com quem não presta, se ferra - cantarolo enquanto lavo as mãos por motivo nenhum.
- É, né - Roberta concorda, me olhando pelo reflexo do espelho como quem entendeu a referência.
- Mesmo assim, coitada... - Alice lamenta mais um pouco antes de entrar em uma cabine.
- Talvez tu tenha pegado pesado demais - Roberta sussurra, porque eu simplesmente sou muito ruim, apenas eu , todas as pessoas que pegaram pesado comigo, não.
- Ela pediu, ao menos eu não dou troco em quem tá quieto.
- Então é isso que te consola? - ela me olha, dessa vez de verdade, não meu reflexo.
- Não preciso de consolo nenhum!
- Aquilo foi jogo baixo - Alice intervém, quando sai da cabine e vai lavar as mãos -, Ana não precisava ter falado da menina assim.
Santos e eu nos entre olhamos, e para a sorte da minha falta de paciência, ela parece se lembrar do que estava no jornal e também que deve ficar do meu lado, então começa a rir nasalado.
- Tu é má - comenta.
- Olhem só , aquela não é Nazaré Tedesco? - falo alto apontando para o meu reflexo no espelho.
/ Extra! Extra! Ruiva mau hálito ultrapassa a catinga do esgoto /
QUEM PRECISA DE HERPES QUANDO SE TEM MAU HÁLITO? O ano mal começou e parece que já tem gente reclamando da higiene ( ou devemos dizer: falta dela) da coleguinha. Não é mesmo terceiro c? Segura essa ruivaa! Há cochichos por aí de que uma certa aluna do terceiro c anda beijando sem escovar os dentes! Aí não dá né! Fontes dizem que o mais novo apelido dela dado pelos garotos que a bejaram é "bafu de timbu morto". God, que nojo! Agora a questão que fica é : vai um timbu morto aí ?
|Pricila|
|Dois anos atrás |
* Ent ela ficou me culpando pelo q Marcos fez com ela. Como se eu tivesse empurrado ela pra cima dele. 20:00pm
* Mas tu teve culpa?20:00pm
*Não né, Gu! Mas tipo, não era meio óbvio que isso ia acontecer? Só ela não imaginou. Porque parece que mesmo tirando notas altas é meio burrinha kkkk E também feia, é lógico que Marcos tava brincando com ela, ele é a fim de mim, na verdade. Dela ele só sente pena como todo mundo. E tá, admito que no fundo eu só insiti um pouco pra ela ir se encontrar com ele pra rir da cara dela depois. 20:02pm
* Ou, que lance é esse de que ele é afim de tu? 20:02pm
* Ciumento! :) 20:02pm
NOTAS:
Há alguns capítulo atrás , Jô disse que estava em março, e bom, carnaval em mbm vai ser em fevereiro, por isso mudei o mês de quando se passou esses cpts. desculpe o erro. e os outros se eu não corrigi.
ps : timbu é um gambá.
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