(Parte dois - O Reinado) Que comecem os jogos!
O lance das aulas começarem no penúltimo dia antes do final de semana não dá muita credibilidade ao termo " início das aulas ", por isso que todo mundo resolveu fazer algo melhor na sexta, no caso hoje.
Aparentemente ter vindo ontem fora só uma questão de curiosidade sobre os novos alunos, então hoje uma grande parte da turma decidiu se enfiar em outro lugar. Se eu estou me lamentando? Eu quase decido comprar fogos de artifício porque vou passar um dia inteiro sem ver a cara azeda de Jennifer e da metade das suas amigas , mas os animais não merecem morrer por causa daquelas desgraças ,então me contento em sorrir até minhas bochechas estourarem.
Ninguém pode estragar o meu dia, ninguém! Quer dizer, a menos que uma ruiva sem sal apareça na minha frente como agora. Ela está parada ao lado da porta da nossa sala e eu só tenho vontade de chutá - la pro inferno.
- Oi, Pricila né? - pergunto, bancado a sonsa que sabe que está sendo sonsa.
- É, a gente tá no mesmo grupo de arte - ela diz, retraída. Essa idiota consegue ser mais sonsa do que eu. E como, mesmo comigo tão perto, ela ainda não me reconhce?
- Eu tô sabendo - assinto, colocando as mãos nos bolsos da frente dos meus jeans folgados - , e aí, tá gostando da escola?
- Gostei - ela ri fraco. Songa monga! - , todo mundo aqui é muito legal - hora de colocar óculos né, minha filha!
- Ah, é sim. Mas provavelmente tu não conhecesse a pessoa mais legal desse lugar aqui - faço um gesto com o dedo.
- Quem?
- Eu, garota - a olho, óbvia. - Mas a gente resolve isso quando a professora mandar o primeiro trabalho. Tem muito tempo para a gente se conhecer - toco uma mecha do meu cabelo e começo a enrolar, a bruxa segue meu ato, isso até algo atrás de mim chamar sua atenção, quando olho para trás, vejo Oliver passando a mão esquerda no cabelo molhado/ quase molhado, na verdade sacudindo.
- Vocês são namorados? - volto a encarar Pricila. A pergunta sai por impulso, como se eu necessitasse zombar dela de novo por não ter o que quer.
- Somos - eu me surpreendo de cara, mas tento esconder. Óbvio que ela está se passando, como sempre. - Quer dizer, meio que sim. Temos um rolo - e dá de ombros.
- Sério? - então eu lanço meu melhor olhar intimidador, enquanto enrolo o cabelo mais rápido. Eu quero pressioná - la, torturá - la por ser tão exibida. - Ele não falou de você, quarta - espero que essa anta entenda minha referência.
- Teu cabelo é lindo , flor - me seguro pra não revirar os olhos. Então ela decidiu mudar de assunto, usando exatamente esse assunto?
No mesmo momento Oliver entra na sala, sei disso porque o vento traz cheiro de sabonete e do seu perfume e joga contra mim.
Pricila volta a adimirá - lo.
- Lindo igual o teu cinismo - a tiro do transe.
- O quê?
- O meu cabelo lindo - continua confusa . - Vocês tão dando um tempo?
Ela rapidamente saca sobre quem eu falo.
- Mais ou menos.
- É, então deve ser por isso que ele fez aquilo , quarta. Me sinto menos traidora agora.
Eu conheço ela o suficiente para saber que está se mordendo de raiva.
- Vou ali, até depois - sorrio e sigo rebolando pra qualquer lugar. Eu só não queria ter que continuar falando com aquela falsa, ou eu ia vomitar.
~|||~
- Que milagre é esse que tu não faltou aula? - é a voz de Leticia entrando no refeitório, estamos só eu e ela e alguns poucos alunos do primeiro ano numa mesa distante .
- A escola tá mais interessante que a minha casa - não mesmo, mas eu preciso observar o território já que a minha vingança mora aqui. Lembro que uma vez disse a Roberta que havia superado Pricila e que ela era passado, mas não, ela não é. Eu ainda a odeio com todas as forças.
- Ah sei - a loira se senta em frente a mim -, a escola ,né? Ou será que é um certo boy, um tal de Oliver - conversar com Leticia sobre garotos já foi um assunto complicado, levando em conta que ela sabia muito do assunto , mas com um tempo eu já tinha mentido tanto que mentir mais era como piscar os olhos.
- Não enche - rio -, a novata que tá de olho nele - às vezes eu não estou pensando nela, não quero falar dela, mas simplesmente sai, e então eu espero que falem mal dela para que satisfaça meu ódio.
- Sério? - Leticia vinca a testa. Se tem uma coisa que ela nunca nota é um flerte rolando quando ela não está envolvida - Mas nem fico surpresa. Será que ele fica com ela?
- Vou cuidar pra que isso não aconteça - sorrio maldosa.
- É a primeira vez que te vejo lutar por um cara, tu deve tá mesmo a fim dele.
- Lutar por macho? - solto uma risada sarcástica - Eu não tô nem aí pra ele, Leticia, eu só quero vencer aquela vagabunda.
- Por quê?
- Porque eu tenho um acerto de contas pendente com ela - digo, pensativa enquanto batuco minhas unhas na mesa.
- Bom, boa sorte então - Leticia é assim, sem muitas perguntas. Eu gosto disso nela. - Ah, o professor de física disse que tá acontecendo uma reunião com a maioria dos professores e a outra parte tá com os segundos e primeiros anos. Como quase ninguém do nosso ano veio, liberaram a quadra pra gente jogar enquanto rola a reunião.
- Vão jogar queimado? - questiono.
- É o que esse povo sabe fazer de melhor.
- E a novata vai jogar? - levanto as sobrancelhas.
- Acho que sim - Leticia sorri com tanta malícia quanto eu.
- Então eu acho que acabo de ter um compromisso, tchau, Lê!
Quando decidi jogar, eu esperava que Pricila fosse do time adversário, e não exatamente o oposto, então toda a minha sede de competição voltou a se projetar no meu plano de ter Oliver. E esse se encontra na arquibancada, seus olhos param nos meus assim que eu me viro para vê - lo, eu fico desconcertada por um momento. Como esse idiota mal educado consegue me causar essas reações mesmo após eu descobrir que Pricila não pareceu lembrar de alguém quando o viu? Ou será que lembra e só não comentou com ele ainda?
Lembro de ter ficado com medo assim que o vi porque a minha mente surtada rapidamente concluiu que ele ameaçaria a minha primeira mentira, relativamente grande, porém agora mesmo depois de ele aparentemente não ser uma ameaça, meu corpo reage como se ele fosse.
- Olha pra bola, Josy! - Ana grita, ela é uma estressada do terceiro b.
- Menina, cala a boca! - digo antes de desviar de um arremesso.
- Se tu não quer jogar, não joga, porra!
- Eu faço a merda que eu quiser! - grito.
- Arrombada - ouço ela murmurar.
- O que tu falou? - me viro, com a bola que acabo de pegar.
- Além de arrombada é surda?
Pode ter certeza que meu sangue é mais quente que o fogo do inferno agora, em um arremesso a bola voa raspando o cabelo de Ana e se choca contra a testa de Pricila, que se desequilibra e tropeça numa bola antes de finalmente cair. Quer dizer, ela não é meu alvo, mas eu posso resolver com a outra imbecil depois.
- Eita! - ouço alguns alunos falarem, espantados.
Eu quero ficar no meu lugar rindo do seu baque, mas minha mente maldosa que planeja uma baque bem pior me manda bancar a boa moça e ir ver como ela está.
- Meu Deus! Me desculpa, Pricila!
- Tá vendo o que tu fez ? Se essa bola batesse em mim tu ia ver!
Reviro os olhos.
- Toma no teu cu, garota! E cala essa boca , o que é teu tá guardado, só tenha paciência - me limito a olhar para a gazela. Eu resolvo meu lance com ela depois.
- Será que ela tá sangrando? - alguém fala, quando eu paro de encarar a cara feia de Pricila que se contorce , percebo que tem muita gente ao redor, inclusive Oliver que está se abaixado junto com outro garoto.
- Tu tá sentindo alguma dor? - ele questiona, num tom baixo que sai rouco enquanto todo mundo parece um bando de barata tonta.
- Na cabeça , e acho que torci meu pé - choraminga.
Ah não! Sério? A velha história do "torci o pé, não consigo andar, me carrega"?
- Alguém vai chamar a diretora! - uma menina grita.
- Ela já tá vindo - outra diz.
- Consegue andar? - Oliver volta a falar, é fácil detectar a voz dele no meio desses malucos, ele fala calmo, assim como eu também estou.
- Ai!- ela geme -, não consigo...
- Então rasteja, cobra! - murmuro, mas algumas pessoas me escutam. Finjo que não vejo.
Antes que Pricila possa voltar a fazer cena, Oliver já está a pegando no colo.
Uma garota guia eles até a diretoria - óbvio porque aqui não tem droga de enfermaria - Ana também se convida a ir, alegando que vai contar tudo pra diretora e que eu vou me lascar.
Vamos ver.
Sem que eu perceba, já estou os seguindo e parando na porta marrom com o nome "diretoria " colado, onde consigo ouvir a voz de Ana aos berros. Menina histérica!
- Ah olha ela aí! - Ana diz com desgosto quando coloco meus allstar's pretos e minha expressāo indiferente dentro da sala de espera que se encontra gelada. A diretora está aqui, me olhando feio, mas ela sempre está assim, ainda mais comigo que sempre tiro notas baixas.
- Você jogou uma bola na cabeça dessa menina, garota?
- Eu? A gente tava jogando queimado, foi um acidente! - me defendo, cinicamente.
- Acidente o quê, como é que mata alguém do próprio time? - ela grita, a diretora já perde paciência. Se eu bem a conheço ,vai ficar por isso mesmo. - Ela queria bater com a bola em mim! Todo mundo da quadra tá de prova!
- Ai - é automático, assim que ouvimos a voz fanhosa de Pricila, olhamos para ela, e parece que a diretora só notou ela agora, ela sentanda no colo de Oliver como se fosse um bebê, com a cabeça no peito dele. Que merda!
Não acredito que praticamente entreguei ele de bandeja pra essa bruxa ! As coisas não tão indo ao meu favor. Não mesmo.
- Vou chamar o professor Ricardo pra ver esse seu pé - a diretora fala, se aproximando. Professor Ricardo : professor e também enfermeiro ,ele deixou os curativos por física há uns dez anos.
- E você ,rapaz, é namorado dela? - ela olha com desgosto a forma que ele a segura, a minha cara deve estar na mesma. Eu concordo, diretora. Pura indecência!
- Não - ele diz, ainda calmo.
- Bom, mas você pode ficar se quiser, só coloque ela no sofá.
Ele faz.
- E vocês - aponta para Ana e eu -, pra sala agora!
- Mas ela...
- Tudo bem - digo, então dou meia volta e saio da sala para não ter que ver Pricila ficando um passo a minha frente. Só me falta esses dois imbecis se tornarem amigos!
- Ei, aonde tu pensa que vai? - eu continuo andando, enquanto reviro os olhos e ignoro Ana. - Isso não vai ficar assim!
Então eu paro e me viro bruscamente, andando do mesmo modo até ela.
- E vai ficar como, hein? - meu rosto quase encosta no seu enquanto eu falo alto com o olhar firme e soltando fogo. - Tu que abriu a porra da boca primeiro e começou a me encher! A bola que era pra tu nem encostou nessa tua cara de bosta, mas se continuar no meu ouvido falando merda, pode ter certeza que eu não vou errar de novo e então tua testa vai ficar com um calambo tão grande que tu vai parecer um unicórnio!
Ela não diz nada, só me olha com desdém, como me olhou na diretoria. Eu não ligo, só volto pro meu caminho.
As horas seguintes se resumem em Alice, Leticia e eu falando sobre qualquer coisa ao invés de fazer os exercícios que o professor passou. Lorena e Roberta não vieram, Lorena porque não perde oportunidade de dormir até tarde, Roberta porque preferiu ficar assistindo série. Elas sabiam que hoje não viria quase ninguém.
Na aula antes do almoço, Pricila volta agarrada a Oliver, ela está mancando um pouco e com um efeite na testa, um curativo que esconde um galo enorme. Tenho vontade de rir. Provavelmente nunca mais vamos jogar queimado com bola de futebol.
- Coitada - Leticia diz, ela pode odiar , mas ela se preocupa com qualquer um. Coração bom. - Tu jogou a bola bem forte hein ,Jô.
- Eu já pedi desculpas - falei com despreocupação.
No mesmo instante Oliver passa e segue até seu lugar, quando ele senta eu vou até o mesmo e apoio minha perna em sua mesa.
- Como é que ela tá? - pergunto.
Seus olhos seguem da minha coxa coberta pelo jeans até minha cara regada de despreocupação.
- Ela tá bem, na real nāo torceu o pé .
- Que bom - sorrio fraco.
- Mas tu podia ter ido perguntar a ela - ele rebate, seco. Filho da mãe grosso!
- Tu tava mais perto - me controlo pra não xingá - lo.
- Tu é bipolar , menina - ele fala, prestes a colocar os fones.
- Por quê? - pego um de seus fones sem pedir, ele está ouvindo Tupac e eu quase caio da mesa.
- Porque uma hora é toda mal educada e na outra parece que tá dando em cima de mim.
Engulo em seco, não esperei que ele fosse ser tão sincero. Mas decido bancar a descarada também.
- Talvez eu esteja mesmo - balanço a cabeça no ritmo de "All eyez on me ".
- Não tô interessado, então melhor tu voltar pro teu canto - e ele pega o fone que antes estava no meu ouvido e então coloca no seu, fazendo pouco caso da minha presença.
Rejeição. Eu acabo de ser rejeitada e isso é novo pra mim, ao menos depois de tanto tempo, depois da mudança que ocorreu com minha aparência e minha vida, eu não tô acostumada com isso , e principalmente com alguém me rejeitando porque eu me aproximei. As pessoas costumavam me rejeitar apenas por eu ser eu. Mas eu não tenho mais treze anos, esse imbecil não pode me derrubar, e admito que a teimosia dele em não ceder só me deixa mais motivada.
Me afasto dele , tentando manter a indiferença e volto para o meu lugar, em silêncio.
Eu nunca cheguei em um cara, eles sempre vêm e eu sempre digo não , porque todos eles esperam que eu faça coisas as quais eu sou só boa na teoria, então na primeira vez que me disponho pra fazer essa cerimônia toda, o imbecil me dá um fora! Mas ele vai ganhar o troco dele.
- O que foi ? Tá com uma cara de cu - Leticia comenta , eu devo estar mesmo.
- Acabei de levar um fora! - eu não pretendia falar isso, mas saiu mais rápido do que a minha conclusão de que eu não devia falar.
- Tu ? Levou um fora? - Alice fica de boca aberta por quase um minuto. Viu? é por isso que eu devia ter ficado calada, agora elas vão ficar me lembrando pelo resto do dia que levei um fora e isso vai acabar afetando minha pose de fodona.
~ ||| ~
- Como é que aquele otário te deu um fora? - Roberta questiona com a boca cheia de bolo.
É sábado à tarde, quase noite, dia da feira de doces - é uma festa da cidade que ocorre em todo mês de fevereiro - , e eu estou ajudando vovó com sua barraca, ela tem uma pequena confeitaria na rua da casa de Roberta, fazer comida e principalmente doces é o que vovó mais adora fazer, então ela nunca perde a oportunidade de mostrar seu talento na feira, e ainda tem um prêmio pra barraca que ficar vazia no final da festa, é, a feira de doces não é só uma feira, também é uma festa com cantores que eu nunca ouvi falar em toda a minha vida, mas que ao menos sabem tocar / cantar forró. Roberta particularmente adora.
- Dando, bem assim óh - forço a garganta pra imitar sua voz - " menina, volta pro teu canto ".
Roberta começa a gargalhar e quase derruba o prato com bolo de morango.
Eu tinha passado a noite de ontem e o dia de hoje longe do whatsap e consequentemente longe desse maldito assunto, mas então Roberta aparece e fala exatamente sobre, parece que as minhas amigas não conseguiram guardar o acontecimento épico para si e decidiram compartilhar com Roberta e provavelmente Lorena.
- Ele é um otário - ela volta a seu estado normal -, esquece isso, Jô.
- Esquecer disso sim, mas dele , jamais. Eu preciso desse garoto na minha mão - ergo minha palma -, e tenho que agir rápido porque a bruxa já deu os primeiros passos.
- Ah, as meninas me contaram sobre a bolada que ela levou, tu é doida! Mas eu adorei, disseram que ela tava com um galo bem grande.
Nós duas rimos.
- É , acho que o chifre dela veio com antecedência, já que o "Oliver dela" com quem ela meio que namora vai ficar comigo.
- E ela só ganhou um chifre, já que Oliver é só meio dela - Roberta zomba , me fazendo rir.
- Mas ainda assim a idiota pôde se jogar nos braços daquele otário - reviro os olhos -, tu tinha que ver , velho, ela tava sentada no colo dele na diretoria! E ele voltou pra sala com ela! Não queria admitir, mas em comparação a mim que levei um fora, a bruxa tá muito bem.
- Relaxa, tu ainda vai se recuperar.
- Eu espero por isso.
- A votação pra representante vai ser semana que vem - Roberta diz, aleatoriamente.
- E? - estreito os olhos.
- E aí que já tem gente se candidatando.
Continuo com a mesma expressão.
- Nem me venha com essa, eu não vou me candidatar nisso.
- Tu sabe quem são os candidatos até agora? provavelmente o bonde de Jennifer! Inclusive a própria! Tu lembra de como foi os dois anos com aquelas porcas no poder fazendo o que elas queriam e cagando pra nossa opinião? Hora de mudar, ao menos no nosso último ano vamos fazer diferente.
Penso um pouco sobre o assunto, eu não quero ter responsabilidade com turma nenhuma, mas Roberta tem razão, a gente não pode deixar as cobras ganharem.
- Por que tu não se candidata? - sugestiono.
- Porque eu não sou a deusa de todos os boys da escola - rebate com certo desgosto.
Olho pra cima, impaciente por um momento.
- Tu gostando ou não, eu jamais vou acabar com isso - quer dizer todas as mentiras.
- Tu que sabe, mas e aí? Vai se candidatar? - os olhos dela brilham tanto que eu quase digo sim.
- Vou pensar.
- Ótimo - Roberta olha pro lado quando um barulho de microfone soa, eu acompanho seu olhar e acabamos nos deparando com Oliver - , minha mãe disse que a vizinha da vizinha disse que essa cicatriz no olho dele, ele ganhou quando foi preso.
- O quê? - rio, apesar de ter escutado coisas piores -, que conversa, Roberta.
- Eu sei, esse povo inventa cada coisa.
- Nem me fale, vovó disse que ouviu dizer que ele usava drogas e também traficava, aí um dia a mãe descobriu tudo e então bateu nele na intenção de deixar cicatrizes para que ele nunca mais esquecesse - Roberta e eu nos olhamos, negando com a cabeça. - Coisa de cidade pequena.
Enquanto Oliver se aproxima mais, Roberta diz que vai andar por aí e que a gente se encontrava no show. Por um momento, penso que ela está fugindo de Oliver, mas deixo pra lá.
Eu nāo queria ter que ver esse otário agora, ainda me sinto rejeitada e mais ainda com ele por perto, por isso eu me concentro no trabalho e em atender três mulheres que experimentam algumas amostras, só que aparentemente uma das mulheres é algo dele, porque ele simplesmente para na barraca de vovó e a mulher de cabelos pretos presos no alto da cabeça manda ele não se afastar dela. Tenho vontade de rir , mas me controlo
- Esse bolo é de chocolate? - aponta para um bolo à minha direita.
- Esse é de chocolate com cocô - digo para ela , sorrindo como vovó me ensinou quando criança. Quando eu era banguela, ela me mandava sorrir do mesmo jeito, eu sorria.
- Vou levar um desse - uma delas diz e enquanto eu coloco o bolo na sacola, sinto que ele está me observando, mas eu ignoro e continuo concentrada em vender metade dos bolos de vovó antes que ela volte. Ela precisou pegar mais bolos na cofeitaria.
Quando termino de atender as mulheres e em seguida mais duas crianças, quando estou sozinha e penso que Oliver já se mandou, ele abre a boca, por um momento me assustando. Engulo o ranço que adiquiri dele e coloco o maldito sorriso.
- Tu que fez os bolos?
- Minha vó que fez - quanto mais sorrio, mais raiva sinto, pode apostar. - O que vai querer, Oliver?
- Eu tenho uma dúvida.
Eu também, tu nasceu idiota assim ou ficou com o tempo?
- O bolo com calda de morango tá muito bom.
- Não, não é sobre bolos.
Me limito a enrugar a testa pra não acabar agindo de maneira grossa.
- Eu só queria saber se tu só tá sendo educada ou dando em cima de mim outra vez.
Qual é a desse imbecil? Ele consegue me desafiar sempre, como se soubesse a porra de todos os meus segredos, meu ponto fraco. E como sempre, meu corpo reage à ameaça. Mas eu não vou cair na dele, não depois de dois anos de trabalho para conseguir ocupar o posto que ocupo.
Hora de praticar a teoria.
- Depende do que tu quer aqui - cruzo os braços , o desafiando também. Que comecem os jogos! - Quer um bolo ou um beijo?
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