Gustavo? Meu nome é Oliver!
Uma curiosidade sobre a mentira : quanto mais pessoas acreditam nela, mais ela se torna real. Então o que fazer quando a sua mentira está viva na sua frente e todos estão vendo ela tão real quanto você? É isso, ela não é mais mentira! Definitivamente, Gustavo existe e habita aqui na minha cidade, na minha escola e é um puta gostoso de perto. É como se pela primeira vez o destino me escutasse quando eu reclamo sobre aqui não ter garotos bonitos, mas ao mesmo tempo, é como se me castigasse.
- Eu não sei vocês, mas aquele boy com cara de perigo tá quase me fazendo gozar e olha que ele nem tá olhando pra mim - Roberta anuncia. Ela não sabe que esse é o Gustavo em questão, após ela ameaçar me levar pro hospício caso eu continuasse dizendo que via Gustavos por aí, eu resolvi que é melhor não falar mais sobre ter visto ele e principalmente que era o seu alvo no momento. Mas não importa se Roberta diz que sou doida, agora eu tenho certeza, é Gustavo, o meu não tinha cicatriz ou heterocromina, mas ainda é o mesmo Gustavo. O mesmo corpo e o mesmo rosto e os mesmos lábios e os cabelos escuros como a noite.
- Quem é ele? - Leticia pergunta bastante interessada. Assim como a maioria das garotas do local, inclusive a insuportável Jennifer.
- Minha mãe disse que ele veio de uma cidade perto daqui a... não lembro o nome, mas ele se mudou pra rua de cima perto da minha casa - Roberta volta a falar. - As vizinhas fofoqueiras já estão inventando que ele é assassino, ex presidiário ou algo do tipo - ela revira os olhos.
- Como sempre! - falo - Aquelas velhas não têm o que fazer assim como as da minha rua - reclamo.
- Não importa se ele é bandido ou não, eu me tornaria a alerquina pra conseguir aquele coringa ali - Alice comenta, até ela que prefere os nerds reservados e cultos.
- E tu, Jô - Leticia diz , sugando algo do seu copo vermelho -, o que achasse do boy?
- Ele é bonito - o que eu realmente acho.
- Ah , não! - Roberta bate na testa ao ver Jennifer e suas amigas piranhas irem até Gustavo - Lá vão as cobras envenenar mais um.
- Espera, elas estão olhando pra cá - digo quando os olhos de Jennifer e o dedo apontam para o nosso grupo.
- Essa vagabunda quer mesmo treta? Porque eu tô louca pra puxar aquele cabelo cheio de ponta dupla! - Roberta tem cisma com cabelo, coisa dela. Mas eu não discordo, também quero puxar seu cabelo.
- O gostoso tá vindo - Leticia diz, bebendo mais um pouco.
- Independente do que acontecer, Roberta, não ataca ele, amiga - Alice diz, séria e tocando seu ombro.
Eu rio com desdém.
- Meu amor, se ele vir falar merda, ele vai levar.
- Vocês são loucas - diz Leticia. Ela é a mais preocupada do grupo, até mais que Alice. - E se...
- Não me venha falar da porra das regras da escola - levanto minha mão para ela e fecho os olhos, irritada.
- Tá bom, não vou falar mais nada - Leticia dá de ombros -, quando tiverem ferradas não me venham dizer que eu não tinha razão.
- Eu jamais faria isso , conheço muito bem seu ego e...
- Jô? - admito que o tom da voz dele é bem bonito, mesmo que quando abra a boca só saia merda.
- O que você quer com ela? - Roberta se intromete, ainda na defensiva.
Estou olhando para o garoto que eu juro ser Gustavo, juro mais ainda quando ele está tão perto como agora, ele parece confuso e um pouco... indignado e depois constrangido. Que merda tem esse cara? E quem ele pensa que é pra me chamar simplesmente de "Jô"?
- Eu posso falar com ela? - ele questiona diretamente a Roberta, como se ela fosse minha mãe. Eu saio do local incitando que ele me siga e é o que ele faz. Ao menos é esperto! Paramos num corredor vazio, onde dá pra ouvir pouco a música da festa.
- O que quer? - questiono, encostando na parede e jogando meus cachos pro lado. Por um momento penso que Gustavo está acompanhando os fios que começam castanho escuros e terminam quase louros nas pontas, por outro penso que ele está encarando meus seios sem sutiã que estam com frio e se destacando na blusa preta. Na verdade, meu corpo está um tanto arrepiado com a presença desse garoto. Ainda essas reações... e eu simplesmente não posso controlar. Só espero que ele não perceba.
- O que tá olhando?
- Nada - ele finalmente me encara -, tu é gata , mas eu não tô afim, tá? Então só queria te dizer que não precisa fazer aquilo, mesmo que eles te paguem, isso me parece humilhante. Ao menos quando todos sabem , eu não tô dizendo que tenho preconceito com quem trabalha com isso, tipo vendendo o corpo...
- Vendendo o corpo? - de repente eu estou mais confusa que ele tentando me explicar o que quer me dizer.
- Umas minas disseram que era tipo uma tradição da turma, quando um novato entrava tinha que ser chupado por você. É verdade?
- Claro que não, imbecil! - eu quero ficar surpresa, mas Jennifer joga baixo exatamente assim, desde que eu meio que roubei seu posto no ano passado e recebo toda a atenção do sexo masculino, mas eu não fiz nada pra ganhar isso, só sou piranha, e além do mais, foi a própria Jennifer que ajudou a espalhar os boatos de que eu masturbava caras por aí.
- Todos da turma pagam dez reais pra você ajudar sua mãe que tá doente, é verdade? - ele questiona ,dessa vez rindo fraco como se estivesse debochando. Esse cara é tão idiota! Por que não fecha a boca?
- Tu sabe muito bem que isso é mentira, não sei porque ainda teve coragem de me chamar até aqui - cuspo. - O que foi? é uma tentativa de me humilhar?
- Claro que não - ele está me olhando intensamente, e no corredor quase escuro, vislumbrando um garoto de 1,80 e tantos, com esse olho cinza riscado, eu quase sinto medo. - Eu tinha quase certeza de que era só uma treta de pirralhas , mas quis vir pra ter a prova.
Pirralhas?
- Pirralhas? - a tremedeira, os arrepios e qualquer outra sensação que esse imbecil me causa cessa e dá espaço à raiva. Eu tô enxergando ele vermelho, pode acreditar. Eu odeio ser subestimada e esse imbecil me subestima a cada vez que olha pra mim - Por que tu não fecha logo essa fossa que chama de boca e para de falar merda? Já tá fedendo pra caralho!
- Já te disseram que tu é bem estreessada? - zomba. E como dizem: a fantasia é bem melhor que a realidade. O verdadeiro Gustavo é insuportável.
- Tu tem problema na cabeça ou é só um fetiche teu irritar as pessoas? - tento não gritar.
- Eu não tô tentando te irritar menina, relaxa. Foi só uma dúvida.
- Uma dúvida meu cú! - murmuro pra mim, mas ele ouve e ri antes de se afastar de mim e voltar por onde vinhemos - Peraí - digo quando o vejo se afastar. Ele para. - O que tu vai dizer por aí?
- Ué - dá de ombros -, eu não vou dizer nada. Não quero me envolver nessa treta aí e não curti aquela garota fofoqueira. Não gosto de ser enganado.
Ao menos nisso concordamos. Ele até que tem bom gosto. Um ponto pra você, acho que merece sessenta pontos, na verdade.
- Até que enfim uma dentro, Gustavo! - abro os braços, aliviada.
- Gustavo? - quando o ouço é que percebo que pensei alto demais.
- Que Gustavo? - me faço de sonsa.
- Gustavo? - ele pergunta novamente como se não tivesse me ouvido questionar também - Meu nome é Oliver.
Após trinta segundos em silêncio tentando digerir seu verdadeiro nome e tentando me convencer de que eu não estou ficando doida, finalmente consigo falar e ainda bancar a indiferente. #GloboMeContrata.
- O que eu tenho a ver com isso?
- Tu meio que acabou de me chamar de Gustavo - acusou, sério. - Ou vai dizer que tava falando sozinha? Não que eu duvide.
- Tá me chamando de doida? - aponto, indignada. Mesmo que eu seja, mesmo que eu fale mesmo sozinha. - Isso é só uma frase de um filme, se tu não entendesse a referência, o problema não é meu!
- Que filme? - ele gosta de me desafiar.
- É... - tu pode me dar um tempo pra eu inventar um nome? quase pergunto - O danado do Gustavo - foi péssimo! Até pra mim que minto tão bem. A globo já pode dar meia volta, acho que o meu nível de atuação está decaindo.
- O danado do Gustavo - ele ri fraco. - Vou ver, deve ser bom.
-É - concordo, enquanto penso nas coisas aleatórias que ele poderia achar jogando esse título no Google.
- É - ele diz , balançando a cabeça e rindo antes de finalmente se mandar.
Imbecil!
Nem em um milhão de anos eu poderia imaginar que Gustavo ( Oliver) surgiria na minha frente, e se surgisse, eu nunca imaginaria que ele seria tão idiota, irritante e... sei lá, eu só não gosto da maneira que me desafia, é como se ele fosse o único por aqui que me visse do jeito que eu realmente sou, o única que não acredita nas minhas mentiras e isso me tortura! Porque assim como uma mentira pode se tornar mais real quando todos acreditam nela, ela pode voltar a ser só uma mentira se uma pessoa começa a desacreditar.
Mas ao menos ele vai ficar de bico fechado em relação ao que aconteceu agora pouco, o que me dá liberdade para inventar o que eu quiser, assim como vou fazer agora.
- Obrigada pela encomenda, Jennifer - digo, me aproximando do corpo baixo que ri ( novidade ) com suas amigas piranhas, apenas as piranhas, as crentes não estão.
- O quê? - ela diz, confusa. Anitta fala sobre a paradinha nos caixas de som. É, alguém por aqui tinha mesmo que parar , ou eu vou fazer isso do meu jeito, e do meu jeito não acabaria bem.
- Tô falando do novato que tu me apresentasse para chupar - as meninas da sua roda abrem a boca com espanto. Eu sou desbocada e elas sabem, mas parecem que fazer uma careta para as merdas que eu digo tornam elas menos piranhas , e uma piranha de verdade sempre quer ser menos piranha, ou ao menos parecer. - O pau dele é de engasgar - sussurro para ela. - Meninas, não esqueçam dos meus dez reais, amanhã! - grito - Beijinhos! E beijinhos, Jennifer.
Tirar a porra do sorriso de Jennifer da cara é um ato digno de fazer meu dia ter valido a pena sem ele nem ter terminado ainda. E eu me sinto gloriosa.
Fazer uma brincadeira com os novatos é o lance dela, a idiota faz isso desde o primeiro ano, ela fez isso comigo também, e nesse último ano, resolveu apostar de novo só que usando Gu... Oliveir. Eu tenho que me acostumar!
Eu já imagino qual foi o seu plano, me humilhar e de quebra afastar o cara de lobo de mim , porque por ser carne nova, obviamente ela pensa que pode salvá - lo da perdição que se encontra os outros homens da escola. A perdição se chama Jô.
Provavelmente Jennifer acreditava que Oliver era diferente dos outros , - e ele é, mas não da forma que ela pensou - pela cara que fez quando ela falou sabe se lá o quê de mim, ela esperava uma reação machista mesmo que no fundo soubesse que ele queria ser chupado por mim, mas ainda assim Jennifer esperava que eu fosse humilhada e Oliver me desprezasse para que ela voltasse a fazer o que sempre adorou fazer, seduzir um cara e deixá - lo correndo atrás dela como um cachorrinho , ela não consegue esse feito há um bom tempo e o garoto novo não é quem ela pensava.
Ao menos em meu mundo de mentiras, uma coisa é verdade, eu ofusco o brilho de Jennifer, e ela querendo ou não, o meu brilho é suficiente pra ofuscar a escola toda.
- O que foi que tu fizesse? - Roberta senta ao meu lado na arquibancada quase vazia. Ela me olha com tanta indignação que por um momento penso que vai me bater.
- Do que tu tá falando? - questiono, encarando o slide à frente que mostra algumas fotos dos ex alunos. A diretora tenta deixar esse dia educacional, só que ela não entende que ninguém quer saber de nada sobre a escola e sim sobre mexer a bunda. No entanto, entre algumas músicas e outras a gestão dá uma pausa para falar sobre educação. Agora eu pergunto : quem quer saber?
- Não se faz de sonsa! - ela rebate, furiosa - Tá todo mundo dizendo que tu chupasse o garoto que se mudou pra perto da minha casa!
E Olha que eu tinha falado com Jennifer há menos de seis minutos.
- É, as notícias voam - digo com despreocupação.
- As mentiras, tu quer dizer!
- Shiii - olho pra ela - , dá pra falar baixo? É a minha vida, beleza? Não tem por que tu se preocupar.
- Isso é ridículo - ela balança a cabeça com desdém -, se tu visse o quanto é ridículo!
- Eu não me importo se é ridículo ou não, desde que eu continue me sobressaindo. Qual foi? virasse machista agora?
- Tu sabe muito bem que eu não sou isso! Assim como tu também sabe que não é isso - se refere a minha fachada de piranha. - Só espero que tu não se machuque muito quando todo mundo descobrir a verdade.
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