xvi. Corrompidos pelo mesmo problema
16, Corrompidos pelo mesmo problema (temporada um, episódio 7)
AS TRÊS GAROTAS KOOKS TENTAVAM DESVENDAR O MAPA ENGRAÇADO DE HEYWARD, continha desenhos rabiscados e muito dinâmicos
Sarah passou a mão em seus fios loiros atrapalhados que a impediam de ver quase tudo ao seu redor, ela se reposicionou no banco com os antebraços no acolchoado vermelho
Sophia estava deitada em um dos bancos da frente, completamente imersiva em uma brincadeira besta que inventou com seus polegares, usava uma blusa emprestada de sua amiga loira (ultimamente sobrevivia de favores) e um short jeans
Kiara por outro lado entortou a cabeça dizendo:
— Ele disse que parecia uma coisa assim... ' tá, isso fica a quinze metros e a corda tem trinta, então eu acho que esse carrinho vai... direto ' pra sala de ouro - Sarah riu com as falas da amiga, estava cômico a forma como tentava se auto explicar algumas linhas
Martin olhou para ambas saindo do transe
— Quem desenhou isso? - Cameron soltou em meio a risos
— Quem você acha Sarinha? claro que foi o nosso querido amigo Pope! - Sophia deu um sorriso largo - o namoradinho da Kiara - sugeriu
Kiara virou sua cabeça em direção ao castelo encontrando Heyward com um olhar profundo e alguns sorrisos sem graça, o olhar se manteve por tempo suficiente para ambos perceberem o que estavam fazendo, assim o encaracolado mudou seu semblante para um meio assustado ao ouvir John B o chamar
— Vai me ajudar? - ele disse
— Então... a gente leva isso até lá, bota no porão, prende no chão, baixamos você ' pra pegar o quanto der e dessa vez você não vai cair! - Pope afirmou com segurança
— Isso seria ótimo! - Booker ironizou dando duas tapinhas no ombro do amigo
Carrera ainda o observava; seus olhos brilhavam intensos na luz solar e seu cabelo se mantinha bagunçado, ele estava diferente de como costumava presenciar
— ' Tá vendo! eu sei que tem algo... olha ela não para de tirar os olhos do namoradinho - Martin brincou fazendo Kiara a olhar fundo e repreender-lá
— Cala a boca!
Jesse veio caminhando com um barulho de chaves em seu bolso, usava uma camisa azul desbotada e um boné verde musgo rasgado, cumprimentou o grupo de garotas, soltando as barras de ouro que segurava no chão da twinkie
Olhou para cima esperando uma resposta de sua ação
— Ei Kie tem que funcionar! não vamos poder pendurar se tiver um trigo gigante gravado - se encostou na porta da van velha
— Sério? - Sophia ironizou
— Não enche logo de manhã kook!
— Vai funcionar! - Kiara afirmou com um cilindro que se assemelhava a um extintor de incêndio, mas na realidade era algum tipo de gás em suas mãos - Vamos testar!
Saíram do ambiente e seguiram em direção a John B e Pope, que os aguardavam ansiosos e confusos; a garota deu um sinal baixo que iria começar a brincadeira, colocou seus óculos transparentes de proteção e pediu que se afastassem da panela
— Eu vou começar... afastem dessa merda!
— Como quiser... - Sophia suspirou e foi buscar um lugar para ficar enquanto isso, decidiu mentalmente que seria ao lado de Sarah e John B que se encostavam na árvore do quintal observando cada detalhe, ela colocou suas mãos no joelho e agachou ficando com as coxas pregadas nos calcanhares
Enquanto isso o símbolo marcado há anos atrás se despedia, a cor dourada jorrava pelo espaço e acabava dando voltas para derreter ainda mais, era possível perceber partículas muito pequenas de algo bem claro e amarelo, como um subtom da barra de ouro
Maybank fez um toque com o amigo ao seu lado, sorridente, já era uma grande vitória estar com tal peça em suas mãos, nunca estiveram tão sortudos na vida
Algumas horas depois, no caminho com notas e notas de dinheiro americano, eles rondavam pelas ruas de Outer Banks em busca de uma lojinha central que comprava esse tipo de material e a recompensariam com o que queriam (nesse caso mais de cento e quarenta mil dólares)
O clima estava agradável e quase harmonioso com a situação, era algo raro em meio ao verão da Carolina. Sophia gostava de pensar que o destino lhe daria um presente por tudo
Routledge estacionou no estabelecimento denominado "Pawn", ao descer buscou ajudar seus amigos a fazerem o mesmo, JJ foi o primeiro a colocar seus pés na calçada e consequentemente o primeiro a soltar algo em tanto tempo
— Mandou muito no derretimento doutora Frankenstein! - exclamou provocando a cacheada que revirou os olhos em resposta
— Até parece que você teria feito melhor... - Sophia pensou alto atraindo olhares
— Eu teria feito melhor! - o loiro respondeu
— Ai você fez? Quando hein? - Martin questionou se aproximando e formando uma discussão
Aquilo parecia ser um cenário dos velhos tempos, quando ambos os adolescentes brigavam frequentavam e cuspiam aquilo que não era para ser dito, Martin confessa que sentiu o cheiro do déjà vu a rondando, como se estivesse presa à isso para sempre
Foi algo momentâneo mas estranhamente ruim, não sentiu mais aquele prazer em descontar tudo o que passou no pogue, ao invés disso, se sentiu um pouco culpada por ter respondido daquela forma e ido para um caminho perverso (algo que nunca imaginou que aconteceria em sua vida.)
Era um tanto quanto desconfortável pensar que estava nessa situação de novo; em meio a uma fração de segundos se lembrou de como JJ Maybank exerceu um papel diferente em sua vida semanas atrás. É fato que aprenderam com seus erros
Ou deveriam aprender...
No fundo do cérebro da morena estava escondido um senso de razão que a levou a respirar fundo e engolir seus sentimentos com um gosto azedo da saliva, fechou os olhos com força se arrependendo e sussurrou baixinho
— Droga!
O loiro a olhou com um toque indecifrável em sua íris, passou a língua pelos lábios e aparentou pensar o mesmo que ela, seus punhos (antes fechados, motivado pela raiva) afrouxou lentamente como se toda aquela adrenalina e o desejo de continuar a briga sumisse com o tempo
O inacreditável era que faziam tudo parar ao lembrar daquele papel branco amassado com várias cláusulas idiotas, acima de tudo faziam pelos amigos, este era o único combinado
Jesse fez careta e, sem saber dos movimentos de seu próprio corpo, estendeu sua mão esquerda em direção à Sophia, que recebeu gentilmente o ato fazendo o mesmo
Os amigos franziram seus testas com curiosidade
— É sério?- Booker foi o primeiro a se manifestar
— Eu achei que vocês iriam se matar ou algo do tipo... eh os tempos mudaram - Kiara deu de ombros e Sarah assentiu
— Hum... melhor ficar longe de brigas, Deus me livre ninguém aguenta vocês com isso! - Heyward protestou
Sophia revirou os olhos e deu alguns passinhos para frente
Routledge estendeu o pedaço de ouro para James deixando claro que seria ele a tentar vender-ló
— Porque sou eu que tem que vender, hein? - questionou mordendo os lábios
— Porque você mente melhor! - Pope soltou como se fosse óbvio
Assim, com o soar do pequeno sino da porta de entrada, surgiu o passeio pelo lugar em busca da senhora que lhes traria a tão sonhada recompensa
Era uma loja não convencional, com alguns presentes da cidade, como por exemplo ímãs de geladeira em formato de prancha ou do farol de Outer Banks
Martin se abaixou um pouco procurando entender o que era afinal um quadradinho amarelo, que se espalhava por uma das últimas prateleiras de um dos corredores, ao chacoalhar notou um barulho de algo se mexendo e resolveu se desfazer da ideia e jogar no chão (o que desenvolveu um pequeno estrondo naquele silêncio infinito.)
— O que foi isso? - Sarah sussurrou
— Fui eu... desculpa! - Sophia sorriu amarela
— Boa tarde senhora! a senhora compra ouro? - Maybank a olhou confirmando
— Bom... é o que 'tá na placa não é? - sua voz sútil o respondeu de uma forma seca
Se aproximaram do balcão de madeira escura onde a mulher aguardava com suas mãos descansando; seu cabelo se encontrava quase totalmente raspado e grisalho, usava um brinco de tira dourado e um sorriso amargo nos lábios
Alisson segurou o fôlego para não rir da tal resposta da velha, limpando a garganta logo depois
— Então espero que compre muito porque vai ficar impressionada agora! - Jesse despejou a mochila verde musgo, abrindo o zíper e retirando a grande pepita achada na casa Crain
— Hoje em dia nada me impressiona mas tenta aí - ela deu de ombros
— O que acha de uma maçã de ouro? - o garoto piscou persuasivo
— Não é verdade!
— Não é verdade?
— Não pode ser!
— Então sente só o peso - JJ direcionou o artefato para a palma da mão da mulher — Aqui ilumina melhor a peça! - com as pontas dos dedos resgatou uma lupa com luzes brancas de dentro de uma caixinha
— Tungstênio pintado... - a morena deduziu
— Tungstênio pintado? sério? ' tá... porque você não vê como isso daí é macio? - sugeriu
— Posso?
— Vai, vai fundo! - James repetiu desejando o mesmo que ela
A mulher então, com suas condições específicas para esse tipo de situação, bateu levemente na peça e tocou com o martelo a parte central
Em sua opinião aquilo tudo não passava de uma mera ideia adolescente; Provavelmente imaginaria que quando fosse oferecido para testar, de fato, o ouro, ele não chegaria até o final (muito pelo contrário, seria desmascarado de cara!) para sua surpresa não foi isso que ocorreu, afinal estávamos tratando de barras verídicas de uma caça ao tesouro
— Você está vendo? - Sophia murmurou com alegria
— Nossa calma aí! eu ainda nem fiz o teste com ácido - a velha disse sem expectativas
— Uhh teste com ácido, meu favorito gente! - o loiro riu fraco
Heyward, que se encontrava um pouco atrás de Sophia e JJ, negou a atitude do amigo colocando a palma da mão na têmpora
Uma gotinha de uma solução perigosa foi o bastante para por em prova a procedência daquela "maçã"
— Não é folheado e nem pintado...
— Senhora eu estou dizendo que isso aí é tão real como pode ser! - Maybank reafirmou
— Parece que alguém derreteu isso aqui! - a grisalha olhou de canto para as caras que se dispunham em sua frente, esperando uma resposta conveniente
Martin ficou preocupada ao pensar na possibilidade de não conseguir o dinheiro, colocou suas mãos no bolso de trás do short jeans buscando conforto
— Foi minha mãe! ela tinha um monte de joias pela casa e achou que seria melhor derreter tudo pra consolidar - o pogue fez um sinal de aspas na última palavra
— Três quilos e meio, haja brinco hein? - a velha brincou ao checar o peso na balança
— Senhora... - limpou a garganta - para ser sincero é bem difícil de ver a minha mãe se destruindo por causa do Alzheimer
Kiara fez careta ao escutar tamanha mentira
— Uhum difícil - ela balançou a cabeça não dando bola para a frase de JJ - me dá um minuto! - pediu se retirando do cômodo
— À vontade senhora! - Sophia tentou parecer gentil o suficiente
Quando se certificaram que a vendedora não estava mais presente, rondando pelos corredores ou algo do tipo, o grupo se reuniu próximo de James cuspindo palavras de indignação
— Alzheimer... sério JJ? - Carrera franziu a testa
— Irmão você foi pessimo nessa - Booker deu uma risada nasalada, tirando sarro da situação
— Por favor cara, temos que conseguir mais de cem mil com essa porcaria! - Pope suspirou
— Calma aí galera, eu manjo dessas paradas ' tá legal?
— Falou o cara que meteu um Alzheimer como a desculpa mais esfarrapada que já ouvi! - Martin debochou
— Isso foi hilário! - Cameron transmitiu uma careta
Ao notar passos se aproximando, todos voltaram a fingir algum interesse por bugigangas esparramadas pela loja
JJ respirou fundo se preparando para o que viria
— Então... eu falei com meu chefe e... isso é o que eu posso fazer - empurrou um papelzinho meio amassado contendo um valor escrito por uma caneta azul falhada
— Só cinquenta mil? - Sophia franziu a sobrancelha pensando alto
— Acha que entrei aqui sem saber o preço de mercado? senhora eu sei que isso custa cento e quarenta mil pelo menos! - Maybank se dirigiu o dedo indicador em direção aos olhos da senhora de pele mais escura
— Ah querido, mas isso é uma loja de penhor e não Zurique, tenho cara de suíça por acaso? - ela debochou
— Noventa ou eu ' me mando - o loiro coçou a sobrancelha fazendo careta
— Setenta, é a metade e eu... não faço perguntas de onde conseguiu isso - ela sorriu de canto a canto satisfeita
Maybank olhou pro lado com muita confusão, buscou alguma resposta nos quadros das paredes ou nos olhares dos amigos; Sophia, que já havia sussurrado com Booker sobre o assunto, tocou no ombro do loiro lhe dando a certeza. Ele coçou a nunca dizendo:
— Eu vou precisar de notas grandes por favor!
— Eh... - a mais velha fingiu fundo - tem um porém: eu não tenho tudo isso em espécie, não aqui pelo menos, eu posso fazer um cheque portanto...
— Não um cheque não senhora - Jesse deu batuques na madeira - eu quero em dinheiro, é o que a placa diz! "pago em dinheiro"... é isso que eu quero, eu quero pagamento em dinheiro!
— ' Tá então vai ter que ir ao depósito, eu tenho dinheiro lá, pode ser assim?
— Onde fica o depósito? - ele semicerrou os olhos um pouco curioso
AQUELA SENSAÇÃO A PERSEGUIA, como uma dor latejante dentro do seu peito. A ideia de ter que voltar para casa se mascarava em uma triste realidade que não desgrudava da mente, era irritante saber que o que mais temia era o certo ou de que teria a infame visão de seu pai com raiva a alertando sobre o status da família
Seria o certo voltar para seus lençóis brancos? Aquilo ainda se assemelhava com um lar?
A vontade de chorar era persistente, seus olhos ficavam molhados e depois se secavam sozinhos. Pensou que engoliria a situação muito bem, afinal a escolha da festa de verão foi aconchegante, porém ao invés disso ficou se mutilando com imagens horríveis de Luke a assombrando; não havia mais certeza de que aquela foi a melhor decisão
Saiu do transe ao ouvir palavras interessantes
— Eles... guardam dinheiro aqui? - Pope disse tombando a cabeça de lado
Estavam no Cut, em uma estrada esburacada e matagais altos; era possível ver casas remendadas com pregos escuros e tortos, o grupo seguiu até o destino possível com as sobrancelhas arqueadas de desconfiança
— Foi o que ela disse! - JJ observava a paisagem pela pequena janela quadrada da van, riu um pouco tirando sarro - foi o que ela disse!
— Para! - Heyward repreendeu, fazendo o amigo desmanchar seu sorriso imediatamente
— Eu nunca tinha ouvido falar da rua Ressurection drive - Sarah deu de ombros
— Eu também não... que coisa mais esquisita - Sophia exclamou
— É porque vocês são ricas - Jesse respondeu dando uma piscada
— Você também não conhece - Kiara afirmou
— Valeu Kie! - Martin agradeceu estralando a bochecha - nessa área aqui só tem mato!
— Não é só porque tem mato que... que não pode ter - Maybank gaguejou olhando fixamente para frente, devido a sua posição correspondente ao oposto do começo da twinkie. Os amigos seguiram sua linha de pensamento encontrando o que tanto chamou sua atenção, uma sirene vermelha e azul girava incansáveis vezes
— Polícia...
— Meu Deus, ' tá de brincadeira - o loiro resmungou com os braços
Seu boné escorregou um pouco para perto dos olhos, assim, em questão de segundos, ele estava o ajeitando enquanto passava sua língua pelo lábio inferior. Nervoso, coçou a nuca como sempre fazia
— Caralho, o que fizemos de errado dessa vez? - Martin revirou os olhos
— Esconde isso! - John B encostou seus cotovelos na ponta de cima do banco do motorista e disse com agitação
— Esconde isso JJ! - Pope repetiu mais uma vez
James, sem muita escolha, enrolou o pedaço de ouro em um pano azul turquesa e, começou a espalhar coisas de dentro de sua mochila velha e desbotada
De repente o amigo ao seu lado expressou uma hipótese um tanto quanto curiosa nesse momento
— Você trouxe uma arma?
— Não ' tá! vocês me encheram o saco ' pra deixarem na sua casa cuzão - murmurou
— Graças a Deus! por favor esconde tudo o que você tem na bolsa - Kiara exclamou com preocupação
— ' Tô escondendo! - James respondeu um pouco cheio da pressão
— Quanta erva você carrega cara? - Sophia notou um saquinho transparente caído no chão da van; logo resmungando que era algo nada agradável para se levar nesse momento - bota no baú rápido!
O loiro despejou os pertences no único lugar seguro, era vermelho e pequeno o suficiente para camuflar o que fosse necessário; John B foi alertar que um homem vinha de fininho mas já era tarde demais
— Porque vocês não colocam as mãos pra cima, todo mundo agora? - o homem sussurrou entre sua bandana escura amarrada para baixo da boca; segurava consigo uma arma grande e já ativada - Eu quero ver todas as mãos para cima, você para fora do carro! - indicou para Booker
No banco de trás Sophia se estremeceu ao ouvir esta frase, arrepiando seu corpo inteiro. Poucas eram as imagens dali, o que conseguiu imaginar veio a partir de seus ouvidos; mordeu a bochecha e olhou para o garoto de cabelos encaracolados ao seu lado
— O que vai acontecer?
— Eu não sei... - ele respondeu sussurrando
— Tira todo mundo, abre para eles! ' tá esperando o que? - a voz saiu abafada porque a silhueta misteriosa já havia se afastado um pouco juntamente de Routledge (que desceu em rendição assim como foi pedido.) - Sai todo mundo! anda, anda, pode sair do carro!
Dessa vez a frase saiu mais alta que muitas outras coisas, vindo acompanhado de passos discretos, tendo a certeza de que estavam mais próximos do que nunca
Sarah teve a iniciativa, descendo um pouco ofegante, logo após veio Sophia que olhou de canto para Barry se assustando
— Pode sair queridinha, vamos lá!
Ela sabia quem ele era, poderia ser mais uma loucura fantasiosa de sua mente pregando peças, mas tinha a sensação de já ter o visto
Era como se mesmo com o disfarce ela registrasse seus olhos vermelhos de maconha, a mesma vendida para Rafe Cameron; soube que estava certa quando o garoto moreno em sua frente deixou escapar um gemido baixo
Teria o direito de revelar esta informação nesse exato instante? preferiu assim aguardar e recapitular cada cena em que ele estava presente; chacoalhando a cabeça colocou suas mãos atrás do pescoço
De fato isso ajudaria em algo?
— Olha só, cara a gente... - o pogue loiro foi cortado
— Cala a porra da boca!
— ' Tá legal,' tá legal! relaxa! - JJ respondeu à medida que a arma se aproximou de seu tórax
— Cala a boca ou eu explodo sua cabeça, abaixa aí no chão... todo mundo no chão! - o mascarado continuou a repetição agressivamente - de quatro pro chão, abaixa! bota a cara ' pro chão
A angustia de estar em uma situação tão deplorável a corrompia por dentro, milhares de vezes acreditou estar mais perto da morte do que nunca, porém aquilo era bem diferente, as vermelhidões em seu pescoço nem se quer comparavam a algo tão letal, uma arma fosca e escura
Esse mesmo objeto, que tem o poder da situação nesse caso, fez com que seis adolescentes se encolhessem em meio ao sofrimento e folhas na estrada de terra. Totalmente entregue ao sequestrador, Martin (que ficou entre JJ e Kiara) olhou de canto percebendo o vulto checar-lós
— Fica aí bem assim - deu dois tapas nos ombros de James, que bufou em resposta - abaixem a cabeça eu não quero ver ninguém olhando hein... ' tá bom?
"É só isso que tem que fazer!" gritou em alto e bom coro abrindo a porta da van, os próximos minutos seriam facilmente previstos. Ele sabia que o ouro estava em algum lugar daquele cubículo
Ele ansiava pela pepita
Maybank mastigava sua própria língua ao mesmo tempo que seus olhos pulsavam de ódio, nunca teve algo tão raro e inesperado em seu domínio, era sufocante deixar tudo escapar assim de repente por causa de algum idiota; a verdade foi que a insuficiência o invadiu mais uma vez, o adolescente loiro (com sua vida remota e sombria) nunca desfrutou de tanta felicidade
Aquele pedaço de ouro maciço era a única coisa que o pertencia, sua esperança para uma vida melhor
— Droga, cadê a porra da sua arma JJ? - Alisson o observou profundamente com temores
Com uma troca de olhares ou melhor de arrependimento, concluíram que suas vidas dependiam da bondade de alguém
— Foi uma armadilha! - Kiara concluiu frustada
— Aquela velha armou ' pra gente! - o pogue loiro batucou com força no chão sujando as costas do punho - Merda! Cacete!
Seu pulso cheio de veias, com uma única pulseira marrom, se destacava nessa posição; anéis de prata em seus dedos faziam um belo enfeite e mostravam um pouco mais de sua personalidade para quem tirasse um minuto ao menos para observar
Os amigos se deram o direito de levantarem um pouco as cabeças para uma melhor visão, apesar de já imaginarem o que o mascarado buscava, era sempre bom ter a prova concreta
John B em um ato de coragem deu a entender que se levantaria correndo um grande risco
— Não, não... - Sarah repreendeu - John B não... não vai não por favor! - gemeu
— John B não vai bancar o herói! - Heyward sussurrou com a testa franzida
Ele apenas deu um sorriso e murmurou um "shhh!" em resposta
O relógio biológico aparentava estar quebrado ou passando muito devagar, o ar pesado ecoava o som dos movimentos pequenos e das respirações carregadas de choro; um nó na garganta se formou em cada um trazendo assim aquela vontade incontrolável de pedir perdão e se perguntar o que fizeram para tanta desgraça
— ' Tá legal, fica todo mundo assim ao menos que não queiram seus miolos espalhados na estrada! - a fala fez com que abaixassem pianinho, encostando o queixo na lama - e eu não quero ver ninguém mexendo a cabeça, entenderam?
Na humilde visão de Sophia não havia o luxo de conseguir enxergar o que Booker fez ou fazia no momento, seus dedos cruzados imploravam para a coisa em questão dar certo; seus olhos molhados por lágrimas salgadas despejaram a máscara de cílios preta por todo o maxilar
O som que escutou em seguida foi a da porta do carro se fechando com força, imaginou ser a do carro azul (posse de Barry)
Em uma fração de segundos seu mundo pareceu congelar quando viu Jesse correr em direção ao John B, mais ação se instaurava no matagal do Cut
— Pessoal, eu peguei a arma! - Routledge gritou abafado
Era como um filme de terror, embora estivesse realmente acontecendo e bem ali em frente; quando percebeu o traficante depositando um belo soco em cheio na face de Maybank ela soube que estava na hora da confusão
Chegou com passos barulhentos e segurou a amiga Kiara que caía desorientada devido ao empurrão que levou. Seu sangue ferveu de verdade ao ver que Sarah Cameron (sua melhor amiga) estava prestes a ser agredida também, em um ato desesperado ela a impediu colocando seu braço no quadril da loira, evitando mais uma vítima
— Peguei o ouro!
Com um sorriso maldoso Alisson abriu a porta do carro e começou a bater com toda sua força na cabeça de Barry, que estava no chão tentando similar a sequência de pancadas, uma atrás da outra
Sarah auxiliou com chutes no estômago e por fim um nas partes íntimas do homem
— Seu filho da puta! - ela gritou eufórica
Com a bandana retirada e a identidade revelada Sophia disse:
— Canalha desgraçado eu sabia que era você! - cuspiu ao visualizar o moreno
— Putinha de... merda - gemeu em resposta - o que Rafe irá dizer da namoradinha andando com a guanguezinha dos pogues? - Barry sussurrou com dificuldade
Alisson levantou o dedo do meio enojada com palavras tão estúpidas
— Eu conheço esse merdinha, ele é traficante, vende coca ' pro meu pai! - JJ murmurou com o maxilar travado
— Escuta... eu poderia ter machucado todos... - o indivíduo foi cortado com um arremesso no nariz
— JJ!
— Para aí cara, pega leve!
Maybank se agachou determinado pela adrenalina, passeou com as pontas dos dedos e no bolso sentiu um volume atrativo
Abriu o objeto quadrado e marrom, encontrando documentos em compartimentos desbotados
— Ai vamos embora daqui! - Sophia falou cruzando os braços
— Só mais uma parada! - o loiro afirmou semicerrando os olhos e jogando a carteira no chão - ' vamo ver onde esse filha da puta mora!
JESSE BUSCAVA POR VINGANÇA IMEDIATA, o garoto pogue sentiu-se furioso por correr um risco tão grande minutos atrás, seu instinto impulsivo lhe relembrava milhões de vezes que deveria fazer Barry, o traficante, pagar por tudo o que causou. Virou seu boné para trás colocando as mãos no bolso da frente, suas botas causaram um impacto ao tocarem a grama mal cuidada do que se pode chamar de jardim do local
— Eu sou a justiça! - ele gritou meio eufórico
— Esse cara andou bebendo alguma coisa? - Pope indagou observando o amigo desparecer em meio à propriedade
A fachada da casa era simples e aparentava ser humilde, cadeiras espalhadas assim como latinhas de cerveja. Realmente não se deveria negar que tudo indicava que quem residia em um lugar como aquele poderia ter sacos e sacos de erva escondidos no armário
— O que ele ' tá fazendo caralho? ele é louco? - Sophia bateu suas mãos na testa reprovando as atitudes tomadas por Maybank
— Ótimo, vamos invadir a casa de um traficante, uhul grande ideia! - Kiara ironizou - eu acho que...
— Eu vou! - John B assumiu o papel descendo da van, seu braço esquerdo se encostou quieto próximo as costelas, revelando que ainda estava se recuperando do incidente de dias atrás
Sarah, Pope, Kiara e Sophia decidiram se manterem sentados aguardando o que iria acontecer, evitar ter que discutir com JJ resolveria possíveis conflitos. Não dá para negar que a irritação por ouvir apenas barulhos e murmurinhos era grande, contudo sabiam que Routledge tinha o papel principal (e o único que conseguiria) deter o loiro de colocar mais confusão na jogada
O silêncio era ansioso, as mentes rodavam turbulentas por sentirem apreensão no peito, Sophia mais do que ninguém tinha a infeliz certeza de que JJ era impulsivo a ponto de dar um troco a altura do sequestro, torceu seus dedos para que uma vez em sua vida tivesse errada sobre isso
— O que será que ele está fazendo? - Cameron franziu o cenho com curiosidade, olhou em seu redor esbugalhando os olhos e esperando uma resposta interessante
— Eu não sei... ele é impulsivo demais ' pra prever qualquer merda - Alisson assumiu revirando os olhos
— Estamos ferrados... - Pope olhou para o teto estralando os dedos - mais uma vez!
— Eu acho que vou lá... eles estão demorando! - Carrera disse se preparando para pular da twinkie
— Não Kie... - Sophia a impediu com o cotovelo - deixe eles se resolverem, você só vai piorar a situação
— Sophia está certa, não dá pra ir agora... é suicídio! - Heyward assentiu bufando - merda!
— Esperamos um pouco e se eles não aparecerem a gente vai, pode ser? - Sarah questionou
— Claro - a de cabelos cacheados suspirou fechando os olhos com força
A sensação era de que a cada vez o relógio ficava mais lento, os minutos passavam de pouco em pouco causando uma agonia sem fim, não havia sinal nenhum do que estava acontecendo, do que discutiam ou de que ao menos estavam respirando; um completo silêncio que ecoava juntamente de um grilo barulhento
O calor também aumentou, fazendo com que gotas de suor descessem pomposas nas testas largas dos adolescentes, as mãos não eram suficiente para acalmar os nervos e muito menos diminuir a dilatação das veias. Depois de muito tempo com apenas especulações alguns passos sorrateiros foram ouvidos trazendo alívio instantâneo
— ' Tá legal pessoal aqui tem cinco mil para cada, ' pra compensar o que ele fez a gente passar - JJ vinha com a cabeça baixa e algumas notas em mãos, aparentava estar orgulhoso com sua própria decisão - desculpa aí pessoal!
— Então é isso que a gente faz agora? a gente rouba traficante?! - Kiara cuspiu seus pensamentos na cara do amigo, mostrando que não estava nada contente
— Você é estúpido! - Sophia murmurou cruzando os braços, se referindo ao menino que estava com o maxilar fechado e os olhos semiabertos
— Esse tal de Barry vai descobrir e ele vai vir atrás da gente! - Sarah concluiu jogando seus cabelos para trás
— É ele vai sim, ' tá bem? não é hora de começar com loucura! - Pope completou
— Olha é legal ter uma arma apontada para a cabeça? - JJ questionou mastigando a língua, seu sorriso sarcástico se formou por pouco tempo
— Relaxa... - John B ordenou
— ' Tava apontada bem ' pra sua! - James apontou o indicador para o nariz do amigo moreno
— A gente tem que pegar o ouro, ' tá bom? - Booker sussurrou - me dá essa merda! vamos devolver...
Na pronúncia da última palavra foi impedido de uma forma peculiar, sendo jogado contra a van por Maybank, que bufava com os olhos tremendo e os punhos duros. Esse ato foi uma surpresa para todos que imediatamente deram um passo para frente com as mãos na face, preparando seus corpos caso algo grave acontecesse
— Você se acha durão né? vai fazer o que quando ele vier atrás da gente? - Routledge questionou com as sobrancelhas levemente levantadas
— Eu vou dar um soco na garganta - o loiro sugeriu devagar
— Ah é uma ótima ideia JJ!
— Eu não vou devolver isso! - se direcionou até a twinkie ajeitando-se no banco acolchoado - vão entrar ou não?
Nada foi ouvido, apenas silêncio proposital e trocas de olhares profundas; a realidade é que se concordassem e esquecessem o que aconteceu eles iriam pagar o preço por isso, Barry iria voltar por vingança, com sede pelo gosto metálico de sangue fresco
— Que foi? - James olhou ao seu redor tentando decifrar a atitude
— Chega da suas merdas! - Sophia murmurou cruzando os braços
— Ham! das minhas?
— É isso mesmo!
— É, você aponta a arma ' pras pessoas! - Kiara praticamente cuspiu a frase
— Age como um maníaco! - Pope completou torcendo o nariz
— Como assim... Pope eu me entreguei no seu lugar ' tá? sabe quanta grana eu devo por sua causa? - JJ coçou a nuca apreensivo
Dava para sentir seu tom de voz meloso e chateado, se sentiu traído pelo seu próprio grupo de amigos, sua família. Seu pés balançavam de um lado para o outro enquanto seus braços entravam nos bolsos traseiros do short
— Eu vou te pagar, eu nem te pedi ' pra fazer isso! - Heyward gritou
— Mas eu fiz! eu me vinguei... bem aqui, agora e sozinho! - rangiu os dentes agonizando o corpo, logo após tombou a cabeça para o lado - Querem saber? é exatamente o que eu vou fazer, eu vou embora... sozinho
— JJ! - o encaracolado deu um passo largo
— Peraí não Pope, melhor deixar ele ir...
— Olha ele vai mudar de ideia ' tá? ele só tá sendo o JJ... - Booker suspirou se mantendo positivo
Após ficarem alguns minutos encostados na van, claramente aguardando que seu amigo loiro desse meia volta para trás e dissesse as palavras certas, partiram para um lugar seguro onde se beneficiariam
The Wreck, o restaurante dos pais de Kiara, sempre trouxe aconchego, um estabelecimento calmo, frequentemente elogiado e com (na maioria das vezes) um lanche de graça para os adolescentes
O senhor Carrera era curto com suas frases e em algumas situações rude por sempre tomar prejuízos ao ver a twinkie estacionando, porém apesar de tudo ele cedia um pedacinho de seu espaço para bolarem planos
Sophia estava encostada no batente da janela grande de vidro, seu cabelo estava preso na franja e sua boca se deliciava com um chiclete de morango azedo que encontrou no bolso
— Acha que ele vai ' pra casa? - Carrera soltou de repente sussurrando preocupada
— Zero por cento de chance do JJ ir pra casa - Pope concluiu
— Tudo bem? - John observou a namorada, que passava as mãos no cabelo tombando as costas na cadeira de madeira
Ela assentiu tranquilamente
— Tudo, e você? - devolveu
— Eu ainda ' tô inteiro, então...
— ' Tá, é perigoso demais penhorar isso desse jeito - Heyward caminhou em linha reta - a nossa melhor chance é descer lá e tirar tudo, trazer de uma vez só e botar sei lá... num cofre seguro... e-eu não sei, é só a gente achar alguém que não roube, ' tá eu vou pensar nisso hoje à noite, eu posso preparar tudo e a gente volta lá amanhã de manhã!
— ' Tá legal... eu topo, manda a ver! - o moreno concordou
— E o seu lance com o meu pai? - Sarah olhou de canto para John B, o relembrando que já havia um compromisso marcado
— Merda...
— Que lance? - Sophia indagou
— Eu tenho... que pescar com o Ward - ao escutar tal frase Pope revirou os olhos abaixando a cabeça
— Não vai buscar o dinheiro porque vai... matar peixe? - Kiara mordeu o lábio exterior
— Dispensa, são quatrocentos milhões em ouro! - o de cabelos encaracolados continuou
— Inventa alguma coisa!
— Não, eu tenho que ir ' tá? ele... ele me salvou ' ' tá legal? se não fosse por ele eu iria ' pra um lar temporário, então eu... tenho que ir, e é melhor a gente fazer isso à noite!
— Bom eu estou quase indo para um lar temporário, alguém aí quer me oferecer uma cama quentinha também? - Martin brincou com as mãos em sua cintura
— Tem a sua... em casa! - Sarah exclamou para a melhor amiga - não que eu queira que você fique lá... Deus me livre!
— Valeu!
— Desculpa S! mas você tem que se resolver com ele... ou pelo menos tentar!
— Vai sonhando, eu não quero e nem vou chegar perto do jardim!
— Eu aposto dez dólares que você vai - Booker sorriu travesso
— Eu aposto quinze... desculpa aí Martin! - Pope exclamou dando um riso fraco
— Vocês são estúpidos! - Sophia disse dando passos leves, contorcendo seu corpo para a saída
— Uma hora você se acostuma... - Kiara respondeu depositando dois tapinhas no ombro da amiga
NA FRENTE DA CASA GRANDE E LUXUOSA AGUARDAVA POR UM SINAL CLARO, tudo o que desejava era sair correndo sem um rumo. Tudo menos sentir a textura da madeira da cozinha deslizando em seus pés. A frase de Sarah ecoou tantas vezes em seus pensamentos que ela foi obrigada a resolver essas questões ainda antes do entardecer
Roeu cada unha com esmalte velho, seus dedos chegaram a latejar com tanta pressão; passou a mão nos fios morenos e levantou seu braço mais uma vez em direção à porta central (já havia feito isso aproximadamente cinco vezes) mas falhou miseravelmente uma vez que seu coração pulsou tão rápido que deu a infeliz sensação de estar em sua garganta
Seu corpo se auto sabotou quando se inclinou para frente batendo a cabeça na guirlanda não decorada da porta
"Droga!" foi o que pensou no segundo em que escutou a maçaneta branca girar em uma volta completa, revelando a imagem de sua irmã Emma com um vestido amarelo curto
Mexeu no único anel em sua mão, olhando fixamente para o tapete. Por incrível que pareça não exitou em dar um sorriso sincero, como se estivesse positiva com a reação da familiar
Se decepcionou quando viu que nenhuma palavra seria trocada e o silêncio se manteria, a Martin mais nova parecia muito surpresa com a visita e um pouco receosa do que fazer
— Oi... - Sophia sussurrou baixinho
— Oi... como você... esquece eh... - respondeu a outra morena coçando a nuca
— Quem está na porta querida? - Clara gritou aos fundos
Emma cogitou por poucos segundos fechar a porta e mentir feio, a verdade é que estava chateada e irritada com sua própria irmã por ter abandonado e envergonhado o nome popular da casa; ela havia se juntado a eles. Com um pingo de bondade deu passos para trás revelando à mãe uma surpresa grandiosa, ela deu um sorriso de imediato correndo feliz até Sophia (que batucava com suas pernas inquietas)
— Oh filha... eu senti sua falta, nós sentimos sua falta! - lhe deu um beijo na têmpora com uma lágrima aliviadora pelas bochechas
— Eu também - Sophia assentiu desejando sentir aquele caloroso momento para sempre
Mesmo com todo seu amor pela mãe ela sabia que sua pele não estaria a salvo todo o tempo, olhou de lado a lado buscando seu genitor com aquele perfume forte e a voz assustadora; para sua felicidade não encontrou nada além de móveis da sala e flores nos vasos de porcelana
— Nunca mais faça isso... nunca mais fique longe filha! - Clara sussurrou em seu ouvido no meio do abraço
— Mãe...
— Eu sei que ele é difícil... sei bem... ham deixei seu quarto do jeitinho que ele sempre foi... sabia que iria voltar! - a mulher sorriu se afastando um pouco - suba, pode subir! deve estar bem cansada
Não sentiu agitação alguma em enfrentar as escadas ou quando passou pelo corredor de seu quarto, culpa a definia por rejeitar suas linhagens e seus membros, por não se esforçar o suficiente para escutar tudo calada mais uma vez
Estaria errada em não querer viver essa cortante vida?
Sua cabeça se virou na fronha do travesseiro, notando a linda paisagem da sacada, a maresia podia ser sentida mesmo de longe. O sol se punha em um amarelo novo e trazia conforto em meio a tanta confusão em seus pensamentos, era como se ouvisse vozes do mar a dizendo coisas, chamando para surfar; confessou que foi excitante mas sabia que não era hora para futilidades (por mais que fosse sua grande paixão.)
Exaustão percorria seu corpo, estava sem rumo e sem direção. Sabia que não queria viver mais no Figure 8, depois de tudo; embora tivesse a capacidade de presumir que não saberia viver como uma pogue
Afinal o que seria de sua pobre alma?
Queria tempo para formular seu destino, não era algo que se decidia rápido e instantâneo, abandonar onde cresceu era como retirar um pedaço de si
Com um turbilhão de sentimentos, decidiu esfriar sua cabeça com um belo banho relaxante
Se encaminhou para seu banheiro tocando cada pedacinho de azulejo como se fosse a última vez, sorriu ao ver sua escova de dente rosa que ganhou quando era apenas uma menininha. Se despindo ela respirou fundo descarregando a pressão que sentia nesse momento no tapete felpudo
A água descia em seus olhos mas não a incomodava, estava sentada no fundo do box com a boca apoiada nos joelhos e o cabelo deslizando em suas costas; a quentura que descia latejante desregulava seu corpo como nunca antes
Ali era o lugar mais seguro que poderia querer, sozinha e confusa com apenas um sabonete ao seu lado, foi um basta (mesmo que por pouco tempo) para seus problemas
No momento em que terminava de se trocar escutou uma batida leve na porta
— Entra!
— Oi filha... achei que iria querer uma panqueca! - a mulher morena apareceu de relance na porta principal mostrando apenas sua face e um prato branco com a comida
— Você é a melhor! - Sophia deu um beijo estrelado em sua bochecha direita, a encaminhando para a grande cama
Se sentaram e aproximadamente na segunda mordida o silêncio foi cortado
— Ele ficou furioso - Clara soltou mordendo seus lábios
Martin deu uma olhada cabisbaixa e nada surpresa, como se já previsse esta mesma reação. Terminou de engolir o pedaço em sua garganta, dizendo:
— Eu não sei o que fazer, eu não posso viver aqui... eu não posso! - a kook depositou suas duas mãos próximas ao nariz
— Venha... está tudo bem! - a mãe puxou a menina para um consolo reconfortante em seu colo, lá entrelaçou as pontas dos dedos na raiz do cabelo moreno de Sophia dando pequenos toques gentis - eu entendo se não quiser passar por isso de novo... nunca irei te culpar por fugir disso querida
— Mas onde eu irei? - Alisson olhou para cima virando seu corpo, estava pensativa e frustada; escondeu-se nas pernas de Clara de repente
— Oh minha menininha... daremos um jeito, sempre demos! - a mais velha sorriu de canto a canto como se tentasse se manter positiva com a decisão
— Porque você não sai disso mãe? porque não sai desse inferno... - Alisson sussurrou a última parte com arrepios se formando na nuca
— Eu não posso querida... eu não posso... - Clara pigarreou com o nariz torcido, marejou seu par de olhos para um canto qualquer daquele quarto iluminado - Eu te amo tanto... sempre estarei aqui querida, lembre-se disso... sempre estarei aqui!
— Eu também te amo mãe! - Alisson fez um pequeno esforço depositando um beijinho próximo ao olho da mãe, suspirou fundo passando sua mão na da mais velha
Aquele momento se congelou no coração de ambas, a conexão e o afeto em poucos metros de distância podiam ser observados mesmo que por dois estranhos. Suas almas com histórias lindas se uniam em um só fio
Quando Sophia ainda era um feto na barriga de Clara, já tinha um lugar em cada canto de sua vida; o bebê foi planejado mas para ser do sexo masculino, um administrador do legado Martin, um homem forte e ambicioso
A decepção foi claramente a maior dor de Clara, seu marido rude repetiu tantas noites estreladas que não iria cuidar daquela criança, não estava satisfeito. Mas a mulher nunca sentiu esse sentimento de repulsa por sua filha, muito pelo contrário, dizia para todos ao seu redor que foi o melhor presente que recebeu, Sophia Alisson Martin
As vezes em que acordou por todas as cólicas, os primeiros passinhos, as brincadeiras bobas com bonecas rosas, tudo isso foi observado como uma benção na vida da jovem que sempre sonhou em ter uma família para si, uma geração criada com grande carinho
Eram apenas as duas contra o mundo, contra Luke Martin
— Como tem coragem de voltar aqui sua maldita? - Luke gritou arrombando a porta com força
A menina se levantou num pulo, colocando suas mãos para trás e engolindo seu choro que começaria em instantes. Sua mãe ágil pulou para sua frente, tampando a visão de qualquer silhueta que tentasse desvendar o que havia ali
— Luke... calma! todos nós precisamos respirar, vamos resolver isso tudo com calma! - a mãe tentou negociar com a voz embargada
— Saia da minha frente Clara! - ele gritou fechando os punhos - saia ou eu mesmo te tiro daí!
A morena se manteve intacta, resistindo a cada nova ameaça feita pelo marido; parecia empoderada nesse único momento, seu coração bateu com valentia e decidiu seguir seu instinto materno. Não durou muito para que fosse acertada com um tapa barulhento e vermelho na bochecha, o que a pegou de surpresa fazendo seu corpo dar passos involuntários para trás
— Mãe! Mãe! - Sophia gritou assustada enquanto checava se a mais velha estava bem
— Você, quieta! - Luke ordenou para a esposa que assentiu derramando lágrimas de tristeza
— Por favor... eu - o mais velho se aproximou da filha agarrando seu pulso fino com violência, o que causou uma dor repentina e gemidos
— Você... você sua merda... você envergonha essa família! - Luke gritou e se aproximou mais de seu corpo - você sabe como as pessoas ficaram quando você correu com aqueles pogues?
— Me desculpa pai... e-eu juro que - foi cortada
— Você merecia uns belos tapas sabia? - ele sorriu meio psicopata - não é assim que você gosta?
— Não... não por favor pai
— Não tente bancar a vítima aqui Sophia... Rafe poderia ter te espancado até a morte e mesmo assim você não mereceria o que tem! você não dá valor ao seu redor, ao invés disso fica andando com aqueles... aqueles maconheiros vândalos do Cut! - gaguejou propositalmente
— Eles são meus amigos - ela respondeu com atitude
— Amigos?
— Sim amigos pai!
— Para de ser ingênua Sophia! eles querem seu dinheiro! seu dinheiro! - repetiu tocando a cabeça - eles fizeram lavagem cerebral em você? foi isso? foi isso claro!
— O que? não! não, não! pai eles são meus amigos pai, meus amigos! será que não consegue entender isso? - Sophia dizia cansada, estava frustada de ter que explicar uma simples afirmação
— Por acaso quer acabar na rua, hum? você quer sua merdinha? - Luke parecia raivoso, sua garganta se esforçou para atingir um tom de voz tão forte - você está transando com algum deles Sophia?! É por isso que defende pogues?
— Meu Deus não! você é maluco... completamente maluco! - a morena murmurou rindo ironicamente
Se afastou dando as costas, estava prestes a girar a maçaneta e fugir daquele cômodo quando foi impedida de uma só vez. Seu corpo se estremeceu e implorou para que tudo acabasse
Porque suas desgraças não podiam acabar?
— Eu sempre achei que você se tornaria uma putinha... você estragou a porra dos negócios com o Ward! tem noção disso? VOCÊ TEM NOÇÃO?
A menina revirou os olhos com um semblante risonho, foi como se uma chave virasse em sua mente e ela percebesse que esse tempo todo sua presença nunca importou; era tudo pelos negócios
Em milésimos de segundos refletiu sobre como seu pai parecia um idiota com seus papéis importantes e contratos milionários, nunca foi tão claro a forma como foi usada de isca e prêmio para seu vizinho
Ward Cameron e Luke Martin tinham o desejo supremo de unir com laços amorosos as duas famílias mais ricas da região da Carolina do Norte, era como se todo o dinheiro gerado estivesse os hipnotizando para manipular a ilha inteira, eram certamente perigosos e mais ainda determinados, não parariam até conseguir o que queriam
Quando Sophia saiu correndo naquela noite marcante de verão, os papéis afundaram e o elo foi destruído com uma só ideia, estava tudo longe da realidade agora
— Parem vocês dois! - Clara gritou mas foi ignorada, cruzou os braços com tensão
— Eu estou cansada de negócios! você é horrível... horrível! você só se preocupa com negócios, como pôde pai? - seus olhos lacrimejam quando os flashbacks que a assombravam todo dia vieram novamente, era como se cada experiência fosse vivida de novo - ele abusou de mim... e-ele abusou de mim! você não fez nada... v-você nunca fez...
— Para de ser louca, você se jogou ' pra cima dele ou pensa que eu não sei? você é uma cachorra que só sabe seguir seus próprios interesses, egoísta! - Luke apontou para os olhos castanhos da primogênita, rangendo seus dentes - eu te dei a melhor educação, te dei tudo... e você hum? o que você me deu porra?
— Você quer falar de egoísmo, sério pai? - Alisson não podia acreditar na coragem em que o tal teve em distorcer os fatos; batucou suas pernas e desembaraçou alguns fios de cabelo que estavam colados na testa - Quer saber eu vou embora... espero que seja muito feliz com essas suas merdas que você coloca como prioridade!
Não mentiria que sentiu um aperto enorme em seu peito, a garganta se fechando e suas coxas pulsando com o suor frio; estava certa da sua decisão mesmo que isso só piorasse sua vida
Pensou que o medo de viver sozinha em alguma esquina era menor do que ter um arrepio na nuca a cada vez que pisava seus dedos na sala de estar. Talvez não fosse a melhor decisão, a mais racional, mas era a que melhor lhe protegia de sua vontade de chorar incessante
— É isso que você quer?
— Sim, é isso que eu quero! - tremeu sua voz a indicando que não havia na verdade certeza nenhuma em seu corpo
— Você não é mais bem vinda nessa casa! não pense em voltar quando engravidar e quiser dinheiro... vocês sempre querem dinheiro - o homem mais velho pensou alto resmungando
— Me desculpa mãe... - Alisson suspirou chorosa enquanto mexia nos dedos, estava emotiva por deixar-lá em um lugar onde não sentia segurança
— Não... não... Luke não! - a mãe soluçou nos braços do marido, se debatia mas ao mesmo tempo sabia que sua força não era o suficiente para se desprender
Luke havia lhe envolvido pela cintura, dando beliscões e puxões na pele carnuda para impedir a fuga ou ato inconsciente (em seu ver) de Clara Martin, ele sentia no seu subconsciente que se desse uma única chance ela ajudaria a filha a sair da situação muito bem
Sophia se manteve decidida e forte até então, mas ao notar sua querida mãe sendo forçada a aceitar o que era proposto, seu olho começou a refletir o ambiente, estava espelhado e molhado. Ela fungou fundo passando os polegares no canal lacrimal, não daria esse gostinho de ficar vulnerável em frente a Luke; ergueu sua postura e piscou algumas vezes se livrando das lágrimas que insistiram em atormentar
— Pegue suas coisas e saia, você é uma vergonha... melhor... eu mesmo faço isso!
O homem alto se direcionou ao closet da filha, jogando a esposa no chão frio, (como um abandono de cachorro cruel) assim piorando seu estado emocional; lá começou a puxar roupas dos cabides com agressividade, os espalhando para longe. Sophia correu até o mesmo tentando impedir que fizesse qualquer besteira, contudo ele a empurrou contra a parede dando tempo para caminhar com o bolo de roupas e despejar contra a janela; estavam todas na grama do jardim
Clara não tinha forças para levantar de sua posição, suas mãos enfraqueceram com o esforço que fez para se manter firme enquanto assistia seu coração se despedaçar no ar pesado. A infelicidade corrompia suas veias e lhe deixava sem ar, não acreditava em tanta crueldade no coração do cônjuge que lhe prometeu o amor eterno
— Você não é mais minha filha, desapareça!
AS LUZES COLORIDAS DEIXAVAM A MOSTRA A SOLIDÃO E OS PENSAMENTOS DE SOPHIA MARTIN, seus ombros pulsavam por segurarem suas malas e suas lágrimas ainda persistiam em descer mesmo depois de muitos minutos caminhando até a casa de seu amigo John B
Ela estava machucada, dessa vez não fisicamente, mas sim quebrada e corrompida pela dor de ser rejeitada pela família em uma noite tão escura
Ao levantar seus olhos e amolecer seu maxilar em um sorriso totalmente forçado viu ali Jesse sem camisa com um óculos escuro; aparentava estar tranquilo e ao mesmo tempo tenso pela reação dos seus amigos com sua grande surpresa
Confusão invadiu a mente da kook ao notar uma grande banheira suspeita embaixo da árvore principal do quintal, onde afinal ele havia conseguido isso?
O garoto só percebeu que não estava mais sozinho ao sentir o toque sútil da amiga em seu ombro esquerdo, se assustou um pouco pulando para longe, quando viu aqueles olhos familiares (no momento espelhados com um líquido fluido e transparente) se acalmou e limpou a garganta
— Puta merda você me assustou! - murmurou levando a mão até o peito
Foi aí que se relembrou de enroscar seus braços perto do quadril para evitar perguntas
Ela estranhou a ação mas continuou a fingir serenidade e felicidade genuína, ostentou o sorriso por mais alguns segundos ansiando para o mesmo acreditar. Ele franziu o cenho em resposta, fixando seu olhar em uma única lágrima que desceu pela bochecha de Sophia de repente, nesse momento a morena soube que estava fazendo um teatro em vão, não havia porque esconder a dor em seus olhos se uma pista deslizava chamando atenção
James teve receio em perguntar mas os baseados fumados há instantes atrás lhe fizeram soltar tudo de uma vez
— O que aconteceu? - suspirou com calma sabendo que algo estava errado
— Ham... nada - ela fechou a garganta segurando o choro
— Caralho dá ' pra ser sincera uma vez na porra da sua vida? - Maybank deu um soco no ar repreendendo a fala da amiga
— Porque quer saber? - Martin devolveu um pouco sentimental, JJ a observou balançando a cabeça e respondendo (mesmo que sem nenhuma palavra) que ele não iria perguntar novamente - Bom... ham... não foi nada demais eu só... meu pai sabe...
Soltou a mala escorregando suas costas em uma das pilastras que sustentavam a casa, suas mãos tremiam e sua cabeça se apoiou nos joelhos, chorava abafado com angústia na mente
O loiro paralisou sem saber o que fazer mais uma vez, ficou incrédulo em como em menos de cinco dias ele se encontrava no mesmo aperto e na mesma posição; a pergunta de como poderia ver Sophia Martin tão exposta em sua frente rondava algumas vezes, o suficiente para lhe comover a se sentar ao seu lado e passar os dedos na lombar da amiga como forma de demonstrar seu conforto
Ficou buscando algo para lhe entreter enquanto escutava soluços e fungadas, estava tudo tão caótico e surpreendente. Saber que ela havia os mesmos problemas que ele, problemas com seus pais, tocou sua pena e respeito de uma forma tão simples; a verdadeira forma em que sempre imaginou as famílias perfeitas do Figure 8 não incluía qualquer tipo de situação anormal e violência
Como tudo poderia estar lhe provando o contrário?
Não era um grande baque ver Sophia Martin chorando em seus braços mas sim realizar tal ato por seu pai, não mentiria que já ouviu burburinhos de histórias mal contadas pelos amigos ou até mesmo por ela meio distante, contudo o ponto era que ele não acreditou fielmente em nenhum sentido (até agora.)
A pena por dividir a mesma dor psicológica e física com alguém inesperado era intrigante, doeu mais ainda por saber muito bem cada situação e cada ato repetitivo
Suspirou lembrando da cena cortante de mais cedo em sua vida e murmurou meio rouco:
— Ele te machucou?
Alisson levantou suas pálpebras com dificuldade e tirou os cabelos de sua frente, passou as mãos no rosto se recompondo
— Não... não - ela respondeu e logo se levantou meio torta - Quer saber... hum... não conte isso para ninguém por favor, eu não quero que me encham de perguntas, se é que você me entende! - deu de ombros pensando alto
— Eu entendo - o loiro murmurou compreensivo causando olhares um pouco espantados - Quer entrar no cu do gato? - o garoto sorriu sapeca desfazendo o clima tenso
— Ham? - Sophia franziu o cenho com confusão enxugando as lágrimas
— A banheira princesa kook, é o nome da banheira! não é pica ' pra caralho? - ela riu gostoso e se deu a liberdade de seguir em direção ao objeto, dando a entender que sua resposta era sim
Ambos entraram se acomodando de frente um para o outro, Maybank quase que instantaneamente agarrou sua inseparável erva
— Me dá uma tragada? - ela implorou com os olhos estendidos quando o baseado já estava perfeitamente pronto
JJ pousou suas pupilas nas dela franzindo o cenho, paralisou seu corpo molhado enquanto cruzava os braços
— Não - respondeu com certeza
Ela revirou os olhos em resposta, cansada, uniu seus dedos e sem piscar resgatou o maço das mãos do menino que esbugalhou a visão na mesma hora
— Vai se fuder, isso é meu! - murmurou tentando recuperar o objeto
— Pare de ser ridículo, eu só quero um caralho - Sophia deu uma risada barulhenta por conseguir o que queria, acendeu a ponta do cigarro improvisado e se ajeitou para relaxar daí em diante - isso é muito bom, puta merda!
Ela havia fechado seus olhos a fim de apreciar cada segundo da substância preenchendo seu peito vazio, pensou que era a única coisa que restava em seu corpo, amarelado e fraco, no dia atual de desagraças
O hábito de fumar não estava em seus atos frequentes, mas assim como uma bebida, usava-o quando sentia seus nervos pulsarem por uma válvula de escape que funcionasse (pelo menos nas próximas horas.) O cigarro parecia nocivo demais naquele cenário, se assemelhava com a primeira vez em que a garota recebeu flores ou quando teve seu beijo mais intenso; Maybank teve desejo em seus olhos ao ver uma cena
como essa, sentiu que sua amiga estava aproveitando cada milímetro do cigarro e consequentemente de seu efeito ilusório
— Você já tinha fumado antes? - Disse com um sorriso sapeca
— Sim - ela não pareceu ligar muito pois ao terminar de ecoar a palavra voltou a se deliciar com seu objeto de diversão, devido a esse fato JJ fungou decidindo pensar um pouco mais sobre o momento inesperado, a verdade é que ambos nunca iriam se acostumar com essa relação de amizade
— Você foi expulsa? - o loiro deduziu apontando para a mala bagunçada na grama
Sophia desviou sua atenção e se xingou mentalmente por demonstrar que havia ouvido aquela pergunta tão simples mas ao mesmo tempo dolorosa
— Sim... - suspirou em resposta jogando a cabeça para trás - você já se sentiu perdido alguma vez na vida?
James a olhou dando um sorrisinho irônico e mordendo os lábios
— Quase toda hora - foi uma resposta completa mas fascinante ao ponto de formular milhares de perguntas
Alisson mordeu a bochecha e começou a dar voltas completas com sua língua, o silêncio parecia infinito a partir daí, como se não soubessem o que falar um para o outro. Maybank estendeu seus braços e se levantou rapidamente para buscar uma garrafa de cerveja, a água escorria no seu peitoral musculoso e seus anéis pousaram próximos ao estômago atraindo atenção suficiente
Sophia se sentiu uma tola por não ter notado antes todos aqueles círculos verdes com sombreados roxo avermelhados no local onde se encontra o diafragma do amigo, engoliu seco e despregou seus lábios rosados causando um murmuro suave na escuridão do luar
— Quem fez isso Jesse? - JJ travou seu maxilar e recusou-se a abrir sua boca para responder o mínimo que fosse, foi algo tão desconfortável e como um soco na barriga o acertou causando a vontade de vomitar
Na época em que foram amigos, melhores amigos para ser exata, a relação entre Luke e JJ era favorável, não como a que se vê em filmes mas ainda sim uma relação relativamente saudável.
A garota cogitou ser uma briga cotidiana na vida do loiro ou machucados involuntários por grande esforço, mas claro, aquilo se assemelha à violência proposital, desejou com tudo estar errada
James poderia ser um adolescente problemático e na maioria das vezes não lidava com seus sentimentos em público, não falava detalhes de sua vida nem mesmo para os amigos mais próximos; porém naquela fração de tempo seus olhos brilharam em uma tristeza azul contando que estava quebrado por dentro. Virou seu corpo amolecendo os cotovelos e, paralisado ecoou em completo silêncio por um abraço da morena
Ela trotou até ele ainda molhada, lhe envolvendo com seus braços quentes e consolo, foi tudo o que queria agora ou na verdade em sua vida inteira
Aquele ato foi simbólico, Maybank odiou seu próprio corpo quando suas lágrimas desceram molhando a blusa de Sophia, seus soluços foram embora quando ela passou a mão em seu cabelo como uma mãe amorosa
— Desculpa... - JJ murmurou se sentindo extremamente culpado por desabar nos braços da amiga - Merda do caralho!
— Está tudo bem... - ela sussurrou com um sorriso fraco
Alisson deixou de canto seus problemas e as questões que martelavam em sua mente. Como um estalo na sua mente soube que foi Luke Maybank quem o fez chorar como um bebê, que o deixou vulnerável para abraçar um corpo enquanto marejava; foi ele
O destino fez seu papel para que percebessem que estavam ligados com uma rara maldição de problemas paternos, um vazio enorme que nunca seria preenchido; foi cômico o jeito em que se expuseram pelo mesmo motivo, no mesmo local, quase na mesma hora
— Estamos fudidos pelo mesmo problema - ela sussurrou reflexiva - isso é uma grande merda do caramba...
Sentiu um sorrisinho se formando em sua cintura, soou como uma piada muito engraçada para a situação
E como era...
— Eu... eu vou fumar - JJ se desprendeu do conforto de antes; frio, tentou esquecer o que aconteceu dando passos largos até a banheira
Ele nunca tocaria no assunto novamente e ela sabia disso, respeitou a decisão sábia de jogar seus sentimentos em um lixo imaginário e ficar chapado, talvez fosse o melhor a se fazer, para ambos
Assim que a kook sentiu a hidromassagem em suas costas pulsar, ouviu passos e burburinhos um pouco distantes de onde se localizava. Não demorou muito tempo para descobrir que era Kiara e Pope, estavam distraídos com seus próprios narizes
Maybank deu uma tragada longa, queria arranjar uma forma de agradecer por ter tido um momento libertador mas não conseguia pensar em nada, seu coração vazio palpitou e suas palavras se atropelaram, atrapalhando a chance de se arrepender antes mesmo fazer algo que não fazia com qualquer um, pedir desculpas
— Eu... me sinto uma merda por ter sido um idiota com você - ele disse em um suspiro gostoso e involuntário, esbugalhou os olhos enquanto ouvia seus próprios lábios
Aquelas palavras soaram como uma melodia e, ao mesmo tempo que perfeitamente óbvias, a fumaça incessante do cigarro voava deixando apenas os sentimentos a tona
A garota morena o olhou por uma fração de segundos desejando ouvir tudo aquilo de novo, ele fixava seu olhar nas luzes da banheira como forma de esconder toda sua vergonha. JJ nunca soltou seus pensamentos abertos para alguém, se sentiu tolo por fazer isso justamente para ela
A saliva se engasgou juntamente de sua língua, Martin abriu e fechou sua boca algumas boas vezes. Não pediria para que ele se redimisse por confessar tal coisa, uma vez que soubesse que cada palavra exata era verdadeira, realidade; de repente se encontrou dizendo o mesmo
— Eu fui uma merda também... - Jesse riu um pouco jogando seus cabelos para o lado - estamos quites princesa kook!
— Ham... acho que sim - ela suspirou
Saíram do transe ao escutarem mais alguém rodeando a banheira com boias de animais
— O que você fez JJ? - Pope questionou olhando em seu redor
Não só a banheira chamou a atenção de suas pupilas, mas também as luzes coloridas enroscadas nos troncos grossos de árvore
Sophia deu uma tragada longa soltando a fumaça em um arco, virou-se para trás apoiando seus braços na borda, encontrando Heyward e Kiara paralisados com a cena que viam
— Tem um jato de água direto na minha bunda agora! - JJ brincou colocando seus óculos mais afastados
— Sophia você ' tá... fumando? - Kiara levantou as sobrancelhas, seu semblante parecia estar irritado
— Longa história... é bom ' pra caralho! - respondeu dando um sorrisinho de canto - você comprou alguma merda ' pra beber a não ser cerveja?
JJ virou sua cabeça assentindo, juntou seus braços e resgatou uma garrafa de champanhe lacrada. Quando abriu a rolha com o dente canino despejou o líquido espumoso em duas taças transparentes, servindo assim a amiga
— Aí fiquem à vontade para entrar, ouviram? eu e a princesinha kook já... já conversamos muito com nossos amigos flamingos! - sua voz pareceu alterada e falhada, levantou sua mão fazendo um gesto estranho para a amiga - Saúde!
— Uhum... - Sophia engoliu o champanhe, sua garganta deu uma leve queimada sentindo o gosto do álcool corrompendo a laringe
— Quanto custou isso? - Pope refletiu balançando a cabeça
— Hum... ah, então... com o gerador, a gasolina e opa! a entrega rápida... eu acho que foi tudo é! - os olhos esbugalharam acompanhando a linha de raciocínio do loiro
— Gastou tudo?
— Eh...
— Todo o dinheiro em um dia? é eu esvaziarei todos os bolsos de uma vez! mas olha só ' pra isso gente, olha só: a melhor massagem terapêutica com jatos d'água foi o que me disseram... Kiara o que foi? será que eu não posso ter um pouquinho de luxo na vida? qual é, a gente vive contando os centavos por aí, qual é? a gente só vive uma vez, não é? chega dessa irritação, entra logo no cu do gato! gente ' vamo lá! - Jesse murmurou esticando os braços
— No que? - Carrera questionou inclinando-se para frente
— Ha! a princesinha kook fez a mesma pergunta... no cu do gato, é o nome da banheira - seus olhos se fecharam por um minuto dando a entender que forçava sua mente a relembrar algo importante - ah espera aí, eu quase esqueci!
O loiro apertou um botão quadrado na lateral do plástico, de imediato luzes coloridas apareceram na banheira e nos jatos de água que cortavam o caminho, o globo espelhado girava solitário refletindo a escuridão
— Ham... modo discoteca, é isso aí baby! - continuou
— ' Tá de sacanagem? podia ter pago a indenização! - Pope resmungou
— Ou podia ter doado para qualquer caridade - Kiara completou furiosa, seus braços cruzaram negando com a cabeça
— Melhor ainda podia ter ajudado a comprar o material ' pra tirar o resto do ouro do poço!
JJ coçava a têmpora com os dedos, sua raiva ia passando lentamente pelas veias. Estava tentando se segurar para não explodir e arrematar palavras que ele sabia que sairiam como fogo, mas ouvindo os sermões e interpretando cada um como uma ingratidão ele se levantou com tudo, o que mais uma vez mostrou seu abdômen ferido
Buscava atenção em sua boca e não no que havia passado esta tarde, socou o ar vendo que já era tarde demais
— ' Tá bom, olha... quer saber? eu não fiz isso, eu comprei essa banheira ' pros meus amigos, comprei isso aqui ' pros meus amigos... quer saber? não, quer saber amigos não! comprei isso aqui ' pra minha família... - gritou alto
— JJ o que isso? - Kiara se referiu aos machucados
— Não fica emotiva não, ' tá tudo bem... sabe o que é engraçado? ela foi expulsa e... e eu
Jesse gaguejou pousando seus olhos fixamente nas gotículas que escorriam em seus pelos, apontou seu dedo indicador para a amiga ao seu lado que apoiava a cabeça nos joelhos
— Você foi expulsa de casa? - Pope indagou para a kook
— Uma merda... pois é - Sophia sorriu levantando o cigarro para cima, com agitação fez um símbolo de ironia - não liguem ' pra mim ele precisa de mais um abraço - sussurrou para Kiara e Pope
A verdade é que não precisava ser consolada mais uma vez, seu coração ainda apertava e seu estômago indicava que iria se esvaziar a qualquer momento, mas não desejava que consolo a sufocasse novamente, estava tudo bem, ao menos era isso que ela aparentava forçava sentir e pensar
— Mais um? - Pope semicerrou as sobrancelhas confuso
Kiara entendeu bem o recado, dando passos largos e ágeis; ela pousou seus joelhos na água quente da banheira inflável, abriu seus braços agarrando o loiro que se quebrava outra vez; o ar pesado espalhava o temor que dois adolescentes estavam sentindo no momento pelos genitores
Sophia se acomodou novamente na beirada da banheira, arrastou seus fios morenos para o outro lado de seu ombro dando o último gole na bebida cara, após isso levantou o queixo observando a cena comovente em sua frente
— Olha só isso é muito legal, não é? isso aqui é tudo... eu não consegui, eu não aguento mais ele - Maybank tremia mais uma vez na cintura de uma amiga, sua boca gaguejava e seus olhos derramavam mais lágrimas - eu ia matar ele...
Pope se aproximou sentando ao lado de Alisson, foi sútil com toques que encaminhavam seu corpo para mais próximo do dele, a envolveu com um abraço enquanto ainda processava as informações
— Eu não preciso... me larga! e-eu não... - ela arfava tentando se desvencilhar
Heyward não seguiu sua ordem, muito pelo contrário, continuou a apertar ainda mais lhe puxando para seu pescoço; seu cheiro era fresco e sua pele estava quente. Sophia fungou fundo enquanto se permitia soltar sua chateação em mais lágrimas geladas, não estava nos seus planos (claro) mas, entendeu naquele silêncio compacto que não precisaria guardar tudo para si, seus amigos lhe ajudariam com a dor ácida e os problemas conturbados
— Está tudo bem... estou aqui agora - o encaracolado passou seus polegares por cima da roupa molhada da amiga, sussurrando
oi amores, venho pedir desculpas pela demora mas trouxe esse capítulo tão fascinante e incrível (e o mais longo até agora também!) que eu escrevi, achei que o desenvolvimento ficou muito bom e cá entre nós foi um dos mais tristes episódios que o produtor da série já fez! vim aqui agradecer também as 34K de leituras (levemente atrasada!!!) vocês não sabem o quanto fico feliz por ter pessoas amorosas acompanhando essa história (espero que ela seja tão importante pra vocês como é pra mim!) não posso esquecer de pedir para que VOTEM em todos os capítulos, principalmente os últimos que postei, juro que pensarei em uma recompensa!! não esqueçam de adicionar essa história a sua biblioteca para não perder nenhuma atualização da história dos pombinhos, também por favor comentem o que acham ao decorrer do capítulo
obs: amo fofocar com vocês!!!!!
beijocas :)
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top