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    Eijiro Kirishima era seu inferno astral; pelo menos assim pensava Bakugou Katsuki naquele momento. Não que acreditasse nisso, é óbvio. Pelo contrário, achava tudo aquilo uma besteira, mas de tanto ouvir Mina falar sobre horóscopo estava associando tudo àquilo.

— Parem de gritar no meu ouvido, porra!

— Então decide logo! A gente não tem o dia inteiro!  — Uraraka retrucou, já irritada com a demora de Bakugou.

— Eu já disse que vou fazer essa merda sozinho, não disse?!

— Quantas vezes eu vou ter que repetir que O SEMINÁRIO É EM DUPLA?! DUPLA DE DOIS!

    Aquilo era culpa de Kirishima, que se não tivesse se oferecido para fazer dupla com ele, tudo estaria resolvido: ele não faria o trabalho, já que estava sem saco. Mas o rapaz de cabelos vermelhos tinha que levantar aquela maldita mão e abrir a maldita boca.

— Vamos, Kachan! O Kirishima já disse que faz com você... É isto ou se juntar com a nossa dupla.

    Não. Sem dúvida ele preferiria fazer dupla com Kirishima a ter que suportar Midorya e Todoroki.

'tá bem, eu faço com o Kirishima —  Bakugou balbuciou contra a sua vontade entre os dentes.

— Você o quê? — Uraraka perguntou, pois não havia entendido.

— EU VOU FAZER A PORRA DO TRABALHO COM O KIRISHIMA! — ele gritou, explodindo na carteira.

— Ótimo. Que bom se decidiu. Kiri, pode colocar o nome de vocês aí na folha.

    Kirishima estava um pouco perdido. Já estava acostumado com o temperamento difícil do loiro, mas ultimamente ele estava ainda mais nervoso. Ele havia se oferecido para ser sua dupla pois sabia que se dependesse de Bakugou o seminário não seria feito.

    Também não esperava que o estourado fosse se negar tão veementemente a formar uma dupla consigo, fato que o deixava um pouco chateado, pois achava que eram amigos, porque era o único a quem Bakugou ainda recorria quando precisava que assinassem a lista de chamada por ele ou quando queria tirar cópia das matérias atrasadas.

    Logo que terminou de assinar a folha com seus nomes Kirishima passou à frente, entregando para Iida que, por sua vez, entregou ao professor.

— Bom, acho que todos aqui já assinaram  — Aiwaza falou fazendo uma breve contagem da turma. — Esse seminário é de extrema importância para vocês, pois será a primeira simulação de Júri desta turma. Lembrando que valerá setenta e cinco por cento da nota, ou seja, caso não façam, considerem-se reprovados.

    Ao dizer isso, olhou diretamente para Bakugou, que fechou a cara e virou o rosto para a parede, passando a mão pelo cabelo, em um gesto claro que irritação. Ele sabia que não podia reprovar sequer uma matéria, mas céus, ele estava a ponto de largar tudo aquilo.

— Usem o horário das minhas próximas aulas para desenvolverem seus temas e não esqueçam de reservar o tribunal o quanto antes. Estão liberados.

— Ah, que bom que terminou! Não aguentava mais! Aí Mineta, quer jogar um pouco? — Denki falou se jogando na cadeira e pegando sua mochila no chão.

— Mas é claro! Só tenho que passar no banheiro antes.

    A turma começou a sair e, como sempre, Bakugou esperava todos saírem, evitando conversar.

— Ei, Kacchan! Espera! — Midorya chamou, correndo atrás do loiro que já se apressava pela saída do campus.

— Já falei pra você parar de chamar assim!  — respondeu sem paciência e sem parar de andar.

— Foi mal, foi mal... Ei  — falou, se aproximando—, quer jogar LoL na república do Denki hoje?

— Eu tenho cara de quem gosta de jogar esse merda, Deku?!

— Eu só achei que seria bom pra você... Sei lá, ficar um pouco com a gente...

— Pensou errado. Estou bem assim. — falou já assumindo novamente o caminho.

— Você 'tá bem estranho ultimamente, sabia? Mais distante, mais agressivo, se é que isso é possível, ignorando os amigos-

— É melhor cair fora antes que eu perca a paciência!

— O que que está acontecendo com você? 'Tá todo mundo preocupado!

— Eu não pedi pra ninguém se preocupar comigo, pedi?! Me deixa em paz! — gritou, parando e encarando Midorya. Nessa hora o pátio começava a ficar mais cheio, com a saída dos alunos.

— Nós somos seus amigos! Quer que a gente não ligue?!

— Quero! Aliás, vocês não são meus amigos, só estudamos juntos. Não se ache no direito de falar alguma coisa por mim. E é melhor parar aqui, porque se vier atrás de mim, quebro sua cara em duas.

    Com a advertência, Midorya achou melhor não seguí-lo, voltando para junto do grupo que, de longe, ouvira parte da discussão.

— E aí? — perguntou Iida.

— O mesmo de sempre, acho que até pior. Ele não quer ir.

— Mas como ele 'tá? — Kirishima quis saber, preocupado.

— Nervoso... É melhor deixar ele quieto por enquanto — respondeu, recebendo aprovação do grupo. —  Vamos?

   Todos, exceto Kirishima, assentiram, logo se animando.

— Tem certeza que não quer ir, kiri?— Uraraka insistiu.

— Ah, tenho! — o avermelhado respondeu com um sorriso um pouco desanimado — Er... Vou começar a fazer o trabalho...

— Mas já?!

— Ah, é... Eu também tenho que colocar umas matérias em dia. Mas na próxima eu vou! — respondeu, passando certa animação para o grupo, exceto para Midorya, que sabia o que o amigo iria fazer.

— Ei, Kirishima — ele falou, se afastando do grupo — toma cuidado, está bem? O Kachan 'tá meio nervoso e...

— Pode deixar! — o avermelhado falou com um grande sorriso, apertando a alça da mochila e seguindo o caminho da saída.

    Assim que deixou os arredores da Universidade Yuuei começou a correr para poder alcançar Bakugou antes que este chegasse em casa. Não demorou muito para avistá-lo, no topo da colina que dava para a parte baixa da cidade.

— Bakugou! — gritou, correndo para alcançá-lo.

— EU MANDEI VOCÊ FICAR LONGE DEK- — o loiro começou a gritar, mas parou assim que viu Kirishima se aproximar — ah, é você 'cabelo de merda'. O que quer?

— Ah, nada — começou a falar, um pouco sem graça, dando um sorriso vago e coçando a nuca —, e-eu queria saber se você quer começar a fazer o trabalho...

— 'TÁ BRINCANDO?! NÃO 'TÁ VENDO QUE EU 'TÔ INDO PRA MINHA CASA?!

    Bakugou não estava acreditando no que Kirishima estava falando. Depois de passar o dia inteiro suportando as aulas, ele só queria chegar em casa e dormir.

— Err... Calma, calma. Não estou falando de hoje... É de outro dia...

— Não 'tô com cabeça pra isso —respondeu, já começando a descer a colina.

— Ei, Bakugou!

— Aaarrgghh o que foi?!

— Você está bem? — Kirishima falou um pouco intimidado.

— Estou ótimo — respondeu seco, sem olhar para trás e deixando Kirishima no topo parado, vendo-o se afastar.

— Ei, Bakugou! — o rapaz gritou mais uma vez.

— O QUE FOI AGORA?! — gritou, se virando para encará-lo.

— É... Eu te considero meu amigo — soltou, um pouco receoso.

— Problema seu.

    Com a resposta, Kirishima apenas sorriu e deu meia volta, afinal ele não esperava uma resposta diferente. Mas também se sentia mal por não poder ajudar Bakugou. Por que ele tinha quer ser tão durão? Aquilo não era ser másculo.

    Quase no fim da colina, a luz do pôr do Sol incomodava o loiro, mas não tanto quando seus pensamentos. Ele já tinha problemas demais e o que menos precisava era se preocupar com os sentimentos de Kirishima.

    Colocou as mãos nos bolsos, como de costume, quando não sabia o que fazer com elas, e chutava pedrinhas como se fossem seus pensamentos.

— Droga, 'cabelo de merda'.

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