.q.u.a.t.r.o

    Ao invés de seguir o caminho de sua casa, Bakugou se dirigiu à estação de trem, embarcando naquele que o levaria a um distrito que ficava a duas horas dali.

— Bilhete, por favor — o comissário pediu, depois que todos os passageiros haviam embarcado. — Obrigado — agradeceu após receber o bilhete de Bakugou.

    Se jogando no banco, colocando a mochila a seu lado e encostando a cabeça na janela, o rapaz não consiga identificar a paisagem lá fora devido à escuridão e sua mente começava a sentir os efeitos colaterais de noites sem dormir e da péssima alimentação.

    Não sabia bem o que estava fazendo, mas sabia que precisava resolver aquilo tudo. Conhecia pessoas que poderiam ajudar no caso da mãe e, embora o preço pudesse ser alto, estava disposto a se livrar daquele inferno a qualquer preço.

    Ajeitou o capuz, fechando-o um pouco mais na cabeça e, sem se dar conta, seus olhos começaram a pesar. Ele ainda tentava resistir, com pequenos espasmos involuntários do corpo, mas a exaustão venceu e Bakugou adormeceu pouco tempo depois de embarcar.

— Senhor, senhor! Sua estação... O senhor chegou — o comissário tentava, sem sucesso, acordar Bakugou.

— O-O QUE ACONTECEU?! — o loiro despertou de repente, assustado — Onde... Onde eu 'tô?

— Distrito de Wohui, senhor.

— Ah — respondeu pegando a mochila e empurrando o homem à sua frente sem pedir passagem.

    Pegou o celular no bolso. 11% de bateria. Não duraria muito tempo, então teria que resolver aquilo o mais rápido possível. Àquela altura as ruas que costumam ser agitadas e movimentadas pelo comércio de rua estavam vazias, restando apenas algumas barracas de comida.

    Bakugou aproveitou para comer em uma delas, uma vez que sua última refeição havia sido o café da manhã na Universidade. Ao se lembrar disso, pensou em mandar uma mensagem à Kirishima para saber se ele estava bem. Esse era seu jeito de se desculpar pelo seu comportamento mais cedo, mas preferiu não fazê-lo, pois desencadearia uma série de perguntas da parte do avermelhado.

    Continuou andando pelas ruas sujas de Wohui por um tempo até encontrar, em um beco, um lugar conhecido como Over Night, uma espécie de submundo, onde encontrava-se de tudo, inclusive a pessoa que Bakugou estava procurando.

    Com cara de poucos amigos, tirou o capuz e entrou pela porta protegida por dois caras grandes que não o impediram de entrar. O lugar era quente, ou melhor, abafado; as luzes azuis e verdes se misturavam à fumaça que saía dos cantos; a altura da música, um rap, era quase insuportável, não mais que o cheiro: uma mistura de whisky barato, tabaco e sexo.

    Andou com cautela até o bar onde Chun-Li, a mulher mais respeitada daquela zona, servia. Após anos sofrendo nas ruas e casas noturnas por ser uma mulher trans, conseguiu abrir um pequeno comércio de bebidas e, conhecendo muitas pessoas influentes, acabou sendo contratada para trabalhar ali, durante à noite. Tudo o que Bakugou sabia sobre ela poderiam ser boatos, mas não estava ali para confirmar nada.

— Toga Himiko, ela 'tá aí? — Bakugou debruçou sob o balcão chamando atenção da mulher do outro lado.

— Boa noite pra você também, honey
— respondeu ao ver quem estava do outro lado — veio se divertir um pouco?

— Não. Preciso falar com Himiko, sabe se ela está?

— Está e não está. Ela está em uma... Reunião. E não quer ser interrompida — alertou, colocando um shot de Marguerita na frente de Bakugou — mas você pode esperar, ela vai demorar.

— Não tenho tempo. É urgente — disse sério, afastando o drink — Não pode falar com ela?

— Todos são urgentes. Mas se eu entrar lá, muito provavelmente não vou sair. Você a conhece, pode ser bem temperamental quando quer — Chun-Li falava enquanto servia alguns homens.

    Bakugou virou e apoiou os cotovelos no balcão, ficando de costas para o bar e passou a observar o lugar: há muito tempo não o frequentava, mas reconhecia a maioria daquelas rostos, pois o público era escolhido a dedo, embora o estabelecimento não merecesse tanta pompa.

— Se vai esperar, é melhor sentar loirinho.

    Irritado, ele ajeitou um banco e sentou, aceitando, dessa vez, a bebida, virando de uma vez.

— É cortesia da casa — frizou com um sorriso, vendo Bakugou deixar o copo sob o balcão —  Há quanto tempo não te vejo aqui... O que tem feito?

— Estudando. Lidando com problemas. Essas coisas — respondeu vagamente.

— Hm... Você já deve estar pra se formar, não? Lembro, como se fosse ontem, de você vomitando ali no beco depois da sua calourada. Você e um outro garoto... Um de cabelo amarelo.

— Denki. É, vamos formar daqui três meses, eu acho.

— Que bom, fico feliz. Ei! É bom colocar essa garrafa no lugar, antes que eu a enfie em outro lugar! — Chun-Li falou vendo que um jovem tentava roubar uma garrafa de saquê  — É importado, sabia? — disse, se dirigindo a Bakugou.

— Hum.

— Eu... Fiquei sabendo do que aconteceu com sua mãe, briga de cachorro grande.

— Todo mundo sabe, questão de tempo até a televisão expor.

— Foi por isso que veio até aqui, não é?

    Bakugou não respondeu porque sabia que ela estava ciente da resposta e também não estava a fim de conversar. Olhou o relógio e viu que faltava um minuto para às duas horas da madrugada e, embora detestasse esperar, era aquilo ou voltar de mãos vazias.

    Enquanto se distraía com um inseto que insistia em picá-lo, as luzes apagaram, anunciando o início de mais uma atração.

— Aproveite o show — Chun-Li sussurou no ouvido do rapaz.

    Uma luz vermelha foi acessa no pequeno palco que se estendia até o centro do ambiente. Uma música com melodia sexy começou a tocar, dando lugar à mulher de cabelos curto, ondulados e rosas, vestida com um macacão de borracha azul e que fazia movimentos complexos no polidance. Bakugou a conhecia e sabia que ela era a atração principal da Over Night.

    Todos no lugar eram capazes de tudo para poder se aproximar dela, mas aquilo era o trabalho e a arte de Hatsume Mei, estudante do quinto período de Medicina da mesma Universidade que Bakigou.

    Com movimentos perfeitos, o show tomou cerca de quarenta e cinco minutos da madrugada. Após a apresentação, Hatsume Mei foi aclamada com muitos aplausos até chegar ao bar.

— Ótimo show, Mei.

— Obrigada, Li — agradeceu a amiga, bebendo um pouco da garrafa que foi deixada no balcão.

    Ao ver Bakugou apenas acenou, sendo correspondido da mesma maneira por ele. Não eram amigos, apenas se conheciam e se respeitavam.

    A hora passava e o loiro ficava cada vez mais impaciente. Não estava em seus planos interromper a "reunião" de Toga Himiko, mas aquilo já estava passando dos limites. Então, ignorando os avisos de Chun-Li, levantou e, em meio à multidão, se dirigiu até os fundos da Over Night.

    Encontrou uma porta dupla protegida por uma cortina de pedras brilhantes. Ela sem dúvida estaria ali. Sem pensar duas vezes empurrou a porta, dando de cara com a mulher de cabelos platinados, coques laterais e maquiagem em excesso com outra mulher entre suas pernas e dois homens, um que a beijava e outro que  massageava suas costas.

— Ah! Loirinho! Que surpresa! — gritou com a voz estridente que a identificava — Não sabia que tinha te convidado para a festa hoje... Que carinha feia — disse, fazendo uma falsa expressão dramática — Vem,  aproveite a noite com a gente!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top