.o.i.t.o.

    Já em casa, Kirishima terminava de arrumar sua cama para dormir, tentando não pensar na discussão com Bakugou. A rotina agitada contribuía para dispersar os devaneios, pois o estágio e os estudo o mantinham ocupado e cansado.

    Exausto demais para secar, deitou com o cabelo molhado mesmo, depois de tomar um banho e jantar com a família. Porém, quando estava prestes a pregar os olhos, ouviu o celular tocar.

"Hey, Midorya!"

"Oi, Kirishima! Desculpa ligar a essa hora..."

"Não tem problema! Aconteceu alguma coisa?"

"Não, não! Eu só... Queria saber se você encontrou o Kacchan..."

"Ah, encontrei! Foi mal, eu acabei esquecendo de te falar. Ele apareceu hoje na casa dele, 'tava um pouco estranho, mas parecia bem."

    Kirishima sabia que havia acontecido algo nesses dois dias, mas como Bakugou podia ser muito misterioso e irritadiço, preferiu não insistir para saber mais. De qualquer forma, não era preciso preocupar Midorya também, porque estava ciente de que Bakugou falaria quando estivesse preparado.

"Ah que bom! Fico menos preocupado, valeu! Vou falar pro pessoal que ele apareceu também. Aqui, o basquete amanhã 'tá de pé?"

"Hm... 'tá, 'tá sim! às seis?"

"Isso, na quadra da faculdade. Posso te pedir um favor?"

"Claro! Qual?"

"Pode passar no Kacchan? Sei lá, acho que seria bom ele ir... Ou pelo menos ser convidado"

    O rapaz de cabelos tingidos de verde não cansaria de tentar ajudar o amigo de longa data, diga-se de passagem. Já perdera as contas de quantas vezes tinham brigado, contudo, era grato por Kacchan, apelido de infância dado por ele, pois em diversas vezes era incentivado e ajudado por ele com seu jeito nada convencional.

"Hmm... Eu não tenho certeza de que essa seja uma boa ideia, sabe..."

   Kirishima não contaria sobre a discussão mas também ficava em dúvida se ainda tinha clima para falar com Bakugou; não gostava de ser invasivo e respeitava sua privacidade, embora achasse difícil o amigo esconder e carregar qualquer problema por muito tempo. Ponderou dar qualquer desculpa para não passar na casa de Katsuki, mas qual a diferença? Se ele não quisesse ir, bastava dar meia volta e seguir para a quadra.

"O.K., eu posso passar lá!"

"Valeu, Kirishima! Qualquer coisa é só me ligar ou mandar mensagem!"

"Pode deixar! Você também."

"Tá legal, boa noite, Kirishima!"

"Boa noite!"

    Desligou o celular colocando-o no chão ao lado da cama e, depois de ajustar o travesseiro diversas vezes, sossegou e ficou olhando pra janela até pegar no sono.

The next day

    O reflexo da janela provocado pelos raios solares atingiu os olhos de Bakugou em cheio fazendo-o usar as mãos parar tentar tapar o rosto, sem sucesso.

— Droga... — foi apoiando os cotovelos aos poucos na cama para se levantar e, qual não foi sua surpresa, ao se ver completamente nu com a toalha mal jogada ao seu lado. Sonolento, foi se dando conta aos poucos da noite passada: a discussão, o cansaço e o sono.

    Levantou indo até o guarda-roupa pegar um short e vestiu, passando depois no banheiro para escovar os dentes, lavar o rosto, assim como se aliviar. Ainda com as mãos molhadas depois de lavá-las pegou o celular, agora completamente carregado.

    Quartorze chamadas perdidas: onze de Kirishima e três do escritório de advocacia onde estagiava.

    Algumas mensagens no aplicativo de mensagens, entre elas as de Midorya; Kirishima; seu pai; dezenas de mensagens no grupo no qual ele, Denki, Sero e Kirishima faziam parte; uma no grupo da Universidade —  há muito silenciado; e a última de Dabi. Franziu o senho ao ver seu nome ali, mas ignorou a mensagem.

    De acordo com o relógio já eram três e meia da tarde — havia dormido por um longo tempo e realmente se sentia descansado, porém o estômago reclamava pelas horas sem receber um alimento decente.

    Desceu as escadas e aproveitou para abrir as janelas da casa, deixando que os ares de sábado e a luz solar entrassem. Parado na cozinha pensava no que no podia fazer para comer; abriu a geladeira e encontrou uma lata com aspargos, alguns ovos e molho de tomate picante fresco; no armário, espaguete e pão de uns três dias atrás, julgou. Pegou tudo, colocou na bancada lavou as mãos para começar o preparo do almoço-café-da-manhã.

    Como de costume, usava o avental para cozinhar quando não estava vestindo uma camisa, depois de muita insistência da mãe. Acendeu o fogão ao lado da pia pondo a panela com água para ferver; concomitantemente cortava os aspargos que tirara do vidro de conserva sem trabalho; vendo que a água já fervia despejou o macarrão, acrescentando sal e azeite.

    Na parte de baixo do armário, pegou uma frigideira, depositou um fio de azeite e colocou os aspargos cortados, a fim de selá-los. Sem perdê-los de vista, cortou os pães em fatias e com uma colher foi pondo um pouco do molho em casa uma.

— Cadê aquela porcaria... — resmungou enquanto procurava o orégano que jurava ter, achando-o segundos depois entre a prateleira de temperos.

    Com o auxílio de uma forma pôs as torradas no forno e correu para desligar a boca do fogão na qual os aspargos estavam; pegou um garfo e provou um fio de macarrão: estava cozido. Então quebrou três ovos inteiros em um refratário que achou e começou a bater, adicionando sal. Depois de ver que estavam suficientemente batidos, jogou o macarrão ainda quente ali, misturando bem para que os ovos ficassem cozidos. Sentiu o cheiro das torradas e as tirou do forno.

    Pegou um prato e o encheu de macarrão à Carbonara, seu preferido, aspargos e torradas. Meia hora depois de começar a cozinhar, aproveitava sua refeição na bancada da cozinha. Conzinhar era uma espécie de terapia e, devido à boa condição da família, teve contato com a culinária Internacional, da qual era fã.

    Nunca ficou tão agradecido por comer algo assim. Desesperado como era, comeu rapidamente e ainda com a boca cheia partiu para a segunda etapa: a limpeza. Embora gostasse de cozinhar, odiava limpar tudo depois, mas, agora, era com ele. Não havia ajudantes ou até mesmo sua mãe, que nunca foi chegada à cozinha. Guardou nos potes o que sobrara do macarrão e dos aspargos e acabou com a última torrada da forma. Colocou os pratos e talheres na máquina lava-louças e lavou à moda antiga as panelas, forma e refratário.

    O avental já estava ensopado quando terminou, por isso o tirou e o levou para a lavanderia da casa, abrindo a tampa da máquina e jogando-o ali dentro. Subiu ainda descalço para pegar as roupas sujas do cesto. Qualquer um que visse Bakugou naquele momento não acreditaria no jeito agressivo e altamente irritadiço do loiro, pois estava de bom humor com as tarefas domésticas que o distraíam dos problemas.

    Depois de colocar as roupas para lavar — sem ao menos separar por cores — voltou para o quarto e escovou os dentes. Agora sua aparência estava bem melhor, mas não tanto. Decidiu organizar o quarto um pouco, nada muito detalhado. Estendeu a cama, pegou algumas peças jogadas do chão, organizou a prateleira de livros, os jogos de X-Box, as almofadas do sofá e calçou o chinelo; foi até a varanda do quarto, abrindo a enorme janela, e sentiu o calor do Sol no corpo. Mal fechara os olhos, ouviu o celular tocar; não sabia ao certo o porquê, mas sentiu o coração acelerar.

    Ficou ainda pior quando viu que era Nezu.

"Oi, Bakugou! Como você está?"

    A simpatia e educação exagerada do advogado irritava Bakugou por ele nunca ser direto.

"Pode ir direto ao assunto, Nezu."

"Tudo bem, eu tenho boas notícias! O alvará de soltura da sua mãe acabou de ser expedido!"

"Ela vai ser solta?!"

"Sim e não. O Juiz permitiu que ela aguardasse em liberdade pelo julgamento e que parte dos bens fossem liberados, já que acusação de associação criminosa e lavagem de dinheiro foram arquivadas com o depoimemto de Jin."

"Então ela pode voltar pra casa, não é?"

"Não é bem assim..."

"Porra, Nezu, explica direito isso!"

"Mitsuki vai ficar em liberdade provisória, por isso será levada para um conjunto de apartamentos da Polícia de Tóquio, ela terá liberdade para receber visitas e sair até uma distância estabelecida, mas como ainda é ré, não vai poder voltar a trabalhar nem voltar para casa. Eu te explico quando estiver aqui, pode vir? Vamos transferí-la às seis."

"Claro. Eu vou."

"Ótimo. Até lá."

    Bakugou, como sempre, dispensava despedidas. Desligando a chamada, respirou aliviado. Finalmente aquilo estava tendo fim, mesmo que aos poucos.

    Viu que já eram quatro e meia e precisava se apressar. Fechou as janelas e foi tomar um banho. O suor foi saindo aos poucos na água fria, com o sabonete e o shampoo que ensaboava o cabelo. Saiu com a toalha na cintura e passou as mãos pelos cabelos rebeldes, escuros pela água.

    Depois de colocar o desodorante e um pouco de perfume, escolheu uma camisa social branca e calça jeans bege, pois achou que a ocasião exigia algo mais formal, mas nem tanto, já que calçou um tênis Adidas. Dobrou as mangas até os cotovelos e abotoou a camisa até os dois últimos botões, para não parecer muito certinho. Para terminar, apenas passou gel nos capelos, que ficavam arrepiados com frequência. Ainda procurava a carteira na mochila e o celular quando ouviu a companhia tocar.

    Desceu as escadas correndo, já que estava atrasado para pegar o metrô, e se surpreendeu quando viu Kirishima ali parado com um calção vermelho, regata do Chigaco Bulls, All Star preto de cano alto e sua bolsa esportiva de lado: traje típico para os treinos de basquete.

    Kirishima, por outro lado, também estava admirado por ver Bakugou de roupa social àquela hora. Sabia que ele ia recusar o convite do basquete, mas decidiu fazê-lo do mesmo jeito.

— Oi, 'cabelo de merda' — Bakugou recebeu Kirishima com um sobressalto, um misto de vergonha e constrangimento ao lembrar da noite de ontem.

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