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— Antes que você comece a gritar, eu só vim saber se você quer jogar basquete com a gente agora — o ruivo precitou-se a dizer, mantendo a cabeça baixa e olhos em Bakugou. Não estava a fim de brigar mais uma vez, até porque ele sabia que, dessa vez, não teria tanta paciência. 

    Bakugou suspirou ao ouvir aquilo, se sentindo talvez, ofendido? Aquela sensação era estranha para ele, mas de alguma forma lhe causara certo desconforto saber que o colega esperava esse tipo de reação.

— Entra — apontou com a cabeça para dentro e deu passagem para Kirishima entrar —, eu tenho que sair agora.

—Então por que me convidou pra entrar?!

— Quer calar a boca e me ouvir? — Bakugou gritou enquanto procurava suas chaves e colocava o celular e a carteira nos bolsos — quero que você me explique direito o que tem que fazer pro trabalho, porque não dá pra entender nada das suas mensagens.

— Como não?! 'Tá tudo claro lá! — Kirishima respondeu ainda de pé na sala — Um resumo de no mínimo quinze laudas sobre o livro, que aliás está no mesmo lugar que eu deixei ontem, o que significa que você nem abriu ainda... —  parou para fazer essa observação olhando de soslaio para a bancada. — E um texto argumentativo de tema livre de quinze a vinte páginas manuscrito.

— Hm — Bakugou grunhiu de cara feia já saindo da casa —, fácil pra você que foi à aula. Vamos, já 'tô de saída.

    Kirishima se dirigiu à saída com a mesma interrogação de quando entrou, mas não falou nada. Enquanto o loiro trancava a porta com o cartão-chave e a senha, ele começou a caminhar logo à frente.

— Dá pra esperar?! — Bakugou advertiu logo atrás.

— Então anda logo! — Kirishima respondeu olhando pra ele e parando.

— Perdeu a noção, 'cabelo de merda'?!— disse, surpreso com a ousadia do rapaz.

— 'Tá, calma, calma. Mas vamos logo porque o jogo vai começar às seis.

— E quem vai estar lá?  — não que isso interessasse muito, mas perguntou para manter a conversa.

— Ah, todo mundo.

— Todo mundo quem, caralho?! — o loito até estava tentando ter paciência, mas era impossível.

— Eu, Denki, Sero, Uraraka, Tsuyu, Midorya, Todoroki, Momo, Iida, Mina, Jiro, Aoyama, Ojiro, Mineta e até o Tokoyami.

— Hm.

— Ah, Mirio, Nejire, Tamaki e Hawks também vão.

— O que eles vão fazer lá?! — Bakugou sabia que os quatro já haviam se formado, então não teria motivos para estarem lá. Além disso, odiava Takami Keigo, a quem chamavam de Hawks.

— Eles vão ajudar no treino... Os Jogos Jurídicos estão chegando então temos que ficar ainda melhores.

O loiro não respondeu mais nada e continuram a subir a ladeira que levava ao centro da cidade, saindo do condomínio. Bakugou tinha algo entalado na garganta, mas o orgulho o impedia de falar.

— Sobre ontem... — começou a dizer baixo, encaixando as mãos no bolso e chutando o vento, como sempre fazia.

— Não tem probelma. Já passou — Kirishima o interrompeu, olhando-o com um sorriso sincero.

— Eu vou estourar sua boca se me interromper mais uma vez, entendeu?! — o loiro explodiu, porque aquilo já estava sendo difícil pra ele.

    Bakugou não era o tipo de homem que se desculpava constantemente por suas atitudes, a menos que estivesse realmente errado e, naquele caso, sabia que tinha errado com Kirishima. A maioria das coisas que disse na noite anterior não era verdade, pois Kirishima e, mesmo não querendo admitir, Midorya, eram talvez os únicos que podia chamar de amigos. Tinha também Sero e Denki, mas não na mesma intensidade.

    Claro que também não agrediria ninguém, a menos que o desgraçado merecesse, como já fizera algumas vezes, mas aquele era seu jeito e dificilmente mudaria, mesmo se quisesse.

— Sobre ontem... — continuou depois de pigarrear e perceber o silêncio do ruivo — Desculpa — soltou encarando-o, e foi como se um quilo de chumbo tivesse saído de seus pulmões.

Com o pedido Kirishima parou de andar, atônito. Aquilo era tão raro que jamais pensou que iria ouvir. Bakugou acabou parando também, confuso com a atitude do avermelhado.

— O que foi? — perguntou quando retormou o caminho.

— Nada... É... Eu te desculpo — Kirishima estava um pouco constrangido naquele momento — Me desculpa também.

— Não precisa se desculpar — Bakugou falou enquanto andava.

Kirishima correu para alcancá-lo, andando ao seu lado agora. A essa altura já estavam na avenida central do bairro.

— Eu vou por aqui, vamos treinar na quadra da Universidade — o ruivo parou apontando para o lado oposto ao da estação de metrô.

— Tchau — recebeu como resposta. Então se pôs a caminho da quadra. Mas antes que completasse o quinto passo, ouviu Bakugou chamá-lo.

— Hey, 'cabelo de merda'! Quer vir comigo?!

Kirishima não entendeu o aquilo queria dizer, já que soou um tanto agressivo.

— O quê?

— Vem comigo. Eu já 'tô atrasado, então se for vir, é melhor ser rápido. — completou, caminhando e deixando Kirishima ali parado sem entender nada.

    Embora fosse um convite inusitado e inesperado, Eijiro sabia que era importante, de alguma forma. Bakugou ultimamente preferia ficar sozinho e o fato de, de repente, chamá-lo para acompanhá-lo a algum lugar era, no mínimo, intrigante. Ficou indeciso, já que realmente queria jogar basquete, mas mandaria uma mensagem para Midorya sobre o que aconteceu.

— Hã... Tudo bem — correu até o amigo, alcançando rapidamente. Em meio ao silêncio de Bakugou, aproveitou para mandar uma mensagem para Midorya, dizendo que não iria ao treino hoje, pois estava com Bakugou e que mais tarde explicava melhor, uma vez que ele mesmo não estava entendendo nada.

    Poucos minutos depois, chegaram à estação que estava vazia, pois era sábado, contando com apenas alguns transeuntes; caminharam até chegar ao guichê e Bakugou pagou as duas passagens.

— Espera aqui um minuto — o loiro falou se afastando e deixando Kirishima na frente da parada dos metrôs. Voltou minutos depois com um pequeno buquê de flores campestres comprado em uma das lojinhas de conveniência da estação.

— Pra onde estamos indo? — Kirishima perguntou ainda mais confuso. Porém, quando ia receber uma resposta, Bakugou o puxou pelo pulso, entrando no metrô que acabara de chegar.

    Entraram e se sentaram um ao lado do outro, com a bolsa de Kirishima os separando. O ruivo sentava de forma largada no banco, com um dos braços pendendo no enconsto do lado oposto ao de Bakugou. Já o loiro estava com os cotovelos apoiados sobre as penas, abertas, segurança o buquê com as duas mãos.

— E aí, pra onde estamos indo? — Kirishima retomou o assunto após um tempo.

— Para o presídio — Bakugou falou naturalmente.

— Uhu?! Presídio?! Como assim?! — perguntou alarmado com os olhos arregalos fixados no amigo.

— É — suspirou —, minha mãe está presa. Quer dizer, estava.

— Você 'tá falando sério?!

— Eu tenho cara de quem faz piada?!

— Não, não... Mas... — Kirishima não sabia o que falar. Retomou a postura olhando vagamente para frente esperando mais explicações, que não vieram — Há quanto tempo? — fazer aquela pergunta era estranho, pois Mitsuki sempre foi muito educada e receptiva com todos os colegas de Bakugou além de uma advogada muito respeitada na cidade e no país.

— Dois meses.

— Ah...

— Mas ela vai ser liberada hoje. Por isso estou indo pra lá.

    Agora tudo fazia sentido para Kirishima: o comportamento de Bakugou, seus sumiços não justificados, sua aparência cansada, seu estresse ainda mais aguçado durante os últimos meses. Aquela era a causa de tudo e agora sentia-se mal por não ter prestado atenção aos detalhes. Por não ter sido um bom amigo.

— Bakugou... Me desculpa. Eu não fui um bom amigo nesses dias e-

— 'Tá pedindo desculpa por que, 'cabelo de merda'? Você nem sabia de nada.

— Mas eu deveria ter adivinhado, sei lá!

— Agora 'tá querendo virar vidente também?! Eu agi como um idiota, eu sei, mas é isso que aconteceu.

    Ficaram em silêncio por um tempo até que Kirishima quis saber mais sobre o que tinha acontecido. Bakugou dessa vez falou a verdade, pelo menos, a maior parte dela, excluindo o fato de ter falado com Toga e outros detalhes. Já não tinha mais motivos para esconder aquilo, uma vez que sua mãe sairia daquele lugar hoje.

— E como ninguém ficou sabendo disso? Porque sua mãe é muito conhecida e tal... Seria um escândalo.

— É, seria mesmo. Por isso tivemos que pagar pro caso não vir à público. Isso foi claramente uma armação para deixar nosso escritório fora das investigações que envolvem Chisaki Kai.

— Coisa de gente grande...

— É.

    A viagem durou cerca de quarenta minutos, então, quando chegaram à estação, já estavam um pouco atrasados. Bakugou foi guiando o caminho a pé, embora Kirishima também soubesse a localização. Ao avistar a enorme construção, os dois pararam por um momento, antes de prosseguir.

— Eu vou entrar sozinho — Bakugou falou em tom de ordem, para que o ruivo esperasse do lado de fora.

— Nem pensar. Eu vim até aqui e vou entrar com você — Kirishima respondeu igualmente firme.

    Bakugou apenas assentiu impaciente, mas com um sorriso apontando no rosto.

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