d.e.z.e.s.s.e.i.s
— Vênus está retrógrado, agora tudo faz sentido.
Os dois amigos se entreolharam confusos, porque "tudo fazia sentido" só para Mina.
— E o que isso tem a ver? — Kaminari perguntou.
— Tudo — ela continuava a folhear a revista sem nem mesmo olhar para eles. — Prestem atenção:
"Quando Vênus está em retrocesso, questões relacionadas ao amor e ao dinheiro podem parecer estagnadas. Durante Vênus retrógrado é comum as pessoas enfrentarem desafios aparentemente intransponíveis nos relacionamentos.
Outra situação que pode acontecer é ex-namorados surgirem para a cura e o fechamento. Positivamente, a tensão que experimentamos durante essas semanas pode nos ajudar a ganhar uma nova perspectiva.
Aqueles que já estão comprometidos podem encontrar-se em um impasse romântico. Isso acontecerá porque os afetos esfriam e surgem (ou ressurgem) problemas.
Por mais desconfortável que possa parecer no momento, Vênus Retrógrado pode ser a oportunidade perfeita para debater dúvidas profundas e românticas. Após refletir, conseguiremos voltar a amar com clareza e confiança.".
Mina leu um trecho da página para os dois.
— E isso quer dizer que...
— Kiri, você é libriano, ou seja, é regido por Vênus, o planeta do amor. Além disso, naturalmente é charmoso e indeciso. Quando Vênus está retrógrado isso piora e as relações que envolvem o amor ficam confusas e complicadas.
— Ah sim... E o que eu faço? Tipo, com essa situação com o Bakugou?
— A melhor coisa é tentar não resolver as coisas, mas... Eu sugiro que você resolva.
— Você é maluca? Uma hora diz para ele não resolver e depois para resolver? — Kaminari interrompeu, não vendo sentido nas palavras da amiga.
— Calado. Eu sei o que estou falando. Kiri, você, por natureza, é bonito e charmoso, porém nesse período essas características ficam ainda melhores. Então use a seu favor, homem! — A garota falou convicta, dando um soco no ombro do amigo.
— Mas eu não sei usar isso! Eu só quero saber se o Bakugou tem as mesmas intenções que eu! É tão difícil assim?
— Difícil não é, mas você dificulta... — Kaminari balbuciou desviando o olhar e coçando a nuca.
— Nem me lembre de sexta, por favor.
Sexta-feira.
O dia em que os amigos haviam planejado para que Kirishima e Bakugou se resolvessem, mas que ele acabara por ser levado para casa pelo loiro, por estar bêbado demais. O pior é que ele não tinha ideia do que havia falado para Bakugou e tentava evitar o amigo o máximo que podia, até então.
— Eu que o diga! Tivemos um trabalhão para levar o Bakugou e acontece aquilo...
— Vocês não vão entrar? — Midorya se aproximou da roda de amigos com o namorado — Vimos Aizawa entrar no elevador.
— Midorya! Shoto! Vocês chegaram em boa hora! — Mina puxou as mãos dos dois fazendo-os curvar em direção ao chão, onde estavam estirados no corredor — Me respondam uma coisa: como foi que vocês ficaram pela primeira vez?
Ambos trocaram olhares interrogativos antes de Midorya tomar a palavra.
— Ah, foi naturalmente... Eu acho.
— Naturalmente, naturalmente não foi, né? Porque se me lembro bem, nós marcamos uma social na República para acelerar o processo — Kaminari acrescentou.
— Aquela reunião não ajudou em nada. Só deixou o Izuku mais nervoso — Todoroki disse inexpressivo como sempre, pegando a mão do namorado.
...
Shoto estava dizendo a verdade. Lembrava-se com detalhes daquela noite, de como sabia de todo "plano" e de como tinha certeza que daria errado.
Ele não era o mais sociável entre o grupo, por isso raramente ia às sociais realizadas pelos amigos, mas sabia que Midorya estaria lá, então decidiu ir e encontrou exatamente o que havia imaginado: um grupo de jovens barulhentos e desorganizados.
Exceto por Izuku, que estava se esforçando para parecer natural, embora ficasse extremamente desconfortável quando ele se aproximava. Todoroki sempre fora direto em tudo em sua vida e sempre tivera certeza em relação a tudo o que sentia e pensava, por isso, não via motivos para não dizer isso a Midorya.
Aproveitando o momento em que o grupo se distraía em frente à TV com um karaokê improvisado, sentou-se ao lado de Izuku e pôs-se a falar, sem encará-lo.
— Eles armaram tudo isso, não foi?
Com um sobressalto, Midorya mirou Todoroki com espanto: como ele soubera daquilo? Os amigos prometeram não dizer nada!
— Não é preciso que alguém fale para perceber que isso foi uma tentativa falha de me aproximar de você, ou você de mim — falou, como se ouvisse os pensamentos do rapaz. A essa altura, Midorya se sentia ridículo e só queria encontrar um boa desculpa para aquilo. — Izuku, eu gosto de você — Shoto falou sem rodeios, entrelaçando as próprias mãos sobre o joelho.
— O-o quê?!
— Eu deveria ter falado antes, para não te deixar nessa situação, mas eu gosto de você e se você sente o mesmo, não vejo motivo algum pra gente retardar isso.
As palavras de Todoroki pegaram Midorya de surpresa, porque ele realmente não esperava aquilo. Ainda que possuísse fortes sentimentos por ele, nem em seus sonhos mais fantasiosos, imaginara algo parecido. Era certo que, há alguns meses, ambos haviam se aproximado, contudo, Todoroki era sempre discreto, portanto, impossível de decifrar e, somado à timidez de Midorya, as possibilidades de uma aproximação beiravam a zero.
Mas ali estavam eles. E Shoto havia dito que gostava dele.
— Eu também gosto de você. Não sei se isso ficou nítido — o rapaz falou com um sorriso tímido, porém sincero e que expressava seus sentimentos.
— Não muito, por isso eu quis vir aqui, pra tirar a dúvida e te falar que, se você quiser, eu quero ficar com você — Todoroki falava de modo sério ao pegar as mãos suadas de Izuku e encará-lo.
Àquela altura, Midorya não entendia o sentido das palavras de Shoto: ele queria ficar, como quem diz que só quer estar ali por um tempo, ou ficar, de estar junto?
Contudo, após pouco mais de seis meses e uma aliança nas mãos de ambos, ele soube o significado de ficar de Todoroki.
...
— Kirishima, eu te aconselho a ser direto com o Bakugou, porque ele é um idiota e não vai tomar a iniciativa — falando isso, Shoto pôs-se a caminhar em direção à sala de aula, com Midorya ao seu lado.
— Como é que... — Kirishima pensava confuso enquanto os via se afastar.
— Todo mundo sabe, Eiji. Está quase estampado na sua testa e na do 'Nervosinho': "eu quero te pegar".
O ruivo estava prestes a se defender contra a constatação de Mina quando o professor apontou no início do corredor fazendo com que todos entrassem na sala sob murmúrios e suspiros.
— Se quiserem permanecer no corredor e continuar a conversar, não há problema algum. Porém não terão o direito de pedir acréscimo de nota ao final do período — seu tom soou sério enquanto ajeitava a bolsa na cadeira e ligava o notebook.
Todos na sala ficaram calados e logo despertaram para pegar o material de anotação. Como era a primeira aula da manhã, era de se esperar uma turma tomada pelo sono e cansaço advindos do final de semana. Cada um tomou seu assento e puseram-se a prestar atenção na aula de Prática Jurídica Real II.
— Antes de iniciarmos a aula, é valido observar que pouquíssimos alunos me procuraram para obter informações acerca do trabalho — Aizawa fez uma pausa de efeito —, devo concluir que todos estão sabendo resolver prováveis dúvidas ou-
— Com licença — o professor foi interrompido por um Bakugou abafado, vermelho, um pouco suado e muito bem vestido com trajes sociais que incluíam calça cáqui, camisa social azul clara completamente fechada, ornada com uma gravata e sapatos sociais marrom escuros. Logo que entrou, foi direto se sentar na carteira atrás de Kirishima, com quem tinha que acertar algumas coisas.
— Ou — retomou a fala após repousar o olhar por longos segundos no estudante atrasado —, não começaram a fazer o trabalho.
— Ei, Kirishima! Ele falou alguma coisa do trabalho?
Bakugou sussurrava ao esquivar o corpo para o lado do colega para tentar chamar menos atenção, enquanto tirava o celular do bolso e escrevia uma mensagem.
— Ele está falando agora — Kirishima respondeu, um pouco desconfortável com a proximidade.
E havia uma parcela de constrangimento pelo o que acontecera na fatídica sexta-feira.
— Ah, beleza. Tem ideia do que quer fazer?
— Hã... Hoje?!
— É, acho que sim.
— Bem, err... Pode escolher...
— Não faço a menor ideia, fala alguma coisa aí, que a gente faz.
— Não sei... Pizza, talvez? — sugeriu sem graça.
— Quê?! — Bakugou, que até agora destinava sua atenção a Kirishima e ao celular, parou ao perceber a incoerência da conversa. — Pizza? Como a gente vai fazer isso no trabalho?
— Que trabalho?!
— 'Tá com a cabeça aonde 'cabelo de merda'? O trabalho do Aizawa, em dupla... De simulação de júri, lembra?
— Ah sim! Claro, claro! — o susto do ruivo não poderia ser maior: mesmo envergonhado em admitir para si mesmo, o fato era que ele tinha confundido os assuntos e imaginado uma proposta de almoçarem juntos, numa espécie de encontro. Voltando rapidamente à realidade comum aos dois, apenas riu e agiu como se tivesse com os pensamentos em outro lugar — Desculpa, é que eu estava pensando no que eu iria almoçar no estágio e...
— 'Tá, mas e aí, alguma sugestão?
— Pra quê?
— Pr'o trabalho, porra! — se controlou para manter o tom de voz baixo, mesmo perdendo a paciência.
— Não, caralho! Deixa eu prestar atenção na aula — raramente Kirishima perdia a postura ou falava palavrões, mas todo aquele desconforto o incomodava a tal ponto de não conseguir manter uma conversa decente com Bakugou. Então, voltou sua atenção para Aizawa, que até o momento, continuava a falar.
Em contrapartida, o loiro percebeu que os ânimos do amigo estavam alterados e preferiu recostar à cadeira e terminar de resolver seus assuntos no celular. O tempo da aula demorava a passar para ele, já que havia se desacostumado a participar delas, desse modo, assim que Todoroki saiu da sala, aproveitou para se retirar também, levando o celular e a carteira.
Já no pátio na Universidade, Bakugou se dirigiu direto para a cafeteria, onde também estava o colega de aspecto sério e de poucos amigos.
— Um café puro, forte e sem açúcar, por favor — pediu, tirando da carteira uma nota e depositando no balcão.
— Se tem alguma coisa a dizer a Kirishima, é melhor dizer rápido — o rapaz falou despretensiosamente e de forma austera enquanto mirava a televisão sem interesse.
— Como é que é?! — Bakugou perguntou confuso encarando Todoroki, que também aguardava seu pedido.
— Não seja covarde. Se tem algo a dizer a alguém, vá e diga. Não fique bancando a criança por aí.
Todoroki Shoto apesar de ser conhecido por sua beleza e por ser parte de uma família com tradição política, era ainda mais conhecido por seu senso de humor extremamente escasso e sua falta de empatia quando o assunto era relações pessoais — pelo menos no que tangia pessoas fora de seu círculo de afetos criteriosamente selecionado. Sua maneira de falar e de lidar com as emoções também não eram nenhum pouco desenvolvidas, o que resultava em uma combinação perigosa, quando aliadas à sua coragem.
— Do que você 'tá falando, idiota?! — se aproximou de forma intimidante para tirar satisfação. Se a existência de Shoto já o irritava por si só, quando este lhe dirigia a palavra para falar coisas sem sentido ficava a ponto de lhe explodir a boca.
— Você é mais burro do que eu imaginava — sem dizer mais nada e lançando um olhar sarcástico a Bakugou, Todoroki apenas pegou seu café e saiu pela tangente, encerrando o assunto.
— Volta aqui seu ba-
— Rapaz, seu café está pronto — um senhor, dono da cafeteria, o interrompeu impedindo, assim, um desentendimento ainda maior.
— Obrigado — Bakugou murmurou pegando o café e bebericando com raiva — Tsc... Caralho! Essa porra 'tá quente!
— Sim, acabou de sair — o senhor respondeu de forma educada.
Sem dizer mais nada, se retirou e foi se sentar em uma das cadeiras próximas, verificando com a mão que o café queimara sua língua, deixando uma pequena área avermelhada que ardia um pouco.
O que aquele idiota queria dizer com aquilo? Do nada? Se ele quisesse briga era só vir, não precisava sair falando merda por aí. Porém, depois de bebericar o café e permanecer com um olhar vago, seus olhos cravaram no rapaz de cabelos vermelhos levemente bagunçados apontando no início do pátio e, por um milésimo de segundo, entendeu o que Todoroki queria dizer.
Mas como aquele imbecil poderia saber? Não falava da sua vida pessoal a ninguém, muito menos para ele. Mas, poderia ter sido a linguaruda da Mina, que gostava de confabular situações. Não importava, o fato era que ele não devia satisfação de quando e como falaria para Kirishima aquilo.
Não demorou muito para sair de seus pensamentos e se dar conta de que todos estavam com suas bolsas e mochilas, o que significava que a aula acabara e ele estava ali, tomando café.
— Ei, a aula já acabou?
— Já. E é melhor você subir e pegar sua bolsa, o professor vai trancar a sala — Mina respondeu sem ao menos parar para responder.
— E vocês não podiam trazer a mochila?!
— Não, o Aizawa não deixou, cara.
— Droga... — respodeu a Iida antes de abrir caminho entre o grupo. — Kirishima! — gritou virando-se para trás — Te vejo mais tarde pra gente resolver os assuntos do trabalho?
— Hoje eu 'tô lotado de coisas para fazer no estágio e devo chegar tarde em casa, acho que não vai dar.
— Beleza — Bakugou murmurou retomando o caminho em direção à sala. Era óbvio que não estava nada "beleza", mas ele resolveria aquilo mais tarde.
Do outro lado, Kirishima falara sério. Depois de meses reunindo inquéritos e provas no caso da senhora Shuzenji, Toyomitsu, Tamaki e ele iriam à primeira audiência marcada com os representantes da mineradora. Seria um dia marcante e sua excitação estava às alturas pois, pela primeira vez, ele participaria ativamente em um caso, ainda que, como auxiliar.
Por isso, não poderia assumir qualquer outro compromisso ao longo do dia. Assim, logo que se despediu dos amigos rumou até sua casa para trocar de roupa, pegar sua pasta e se dirigir ao escritório a fim de encontrar o chefe e o colega para a audiência.
Em contrapartida, Bakugou via-se distraído pelas palavras do professor que, impedindo-o de sair, o alertou sobre o risco de reprovação e, como seu rendimento descaíra radicalmente nos últimos tempos, as chances de ser levado ao Conselho eram elevadas.
Somado a isso, ele enfrentava problemas no estágio, que tentava resolver desde o horário de aula, enquanto enviava mensagens que justificassem todas as suas faltas e relatórios não entregues. Por mais que Hakamata Tsunagu fosse um ótimo diretor, ele não poderia ignorar as faltas do estagiário e acabara agendando uma reunião com Bakugou, a fim de elucidar a situação.
Confuso e temeroso, Katsuki se adiantou para o escritório de advocacia empresarial logo depois de sua última aula na parte da manhã — de estômago vazio e cabeça cheia. Da Universidade até o gigantesco prédio nos arredores do centro de Tóquio levava cerca de quarenta e cinco minutos de metrô e, às treze horas, pontualmente, Bakugou chegou à sala de Tsunagu, por quem foi recebido com cordialidade.
— Boa tarde, Bakugou, como tem passado? — o homem esguio e elegante cumprimentou, indicando o assento à mesa.
— Bem, senhor, obrigado. — respondeu, desabotoando o paletó ao sentar-se em frente ao chefe.
— Bom, muito bom. Você já deve imaginar o motivo dessa reunião, já que pedi para que minha secretária se comunicasse com o senhor.
— Sim, senhor. Eu gostaria de pedir desculpas pela minha falta de comprometimento nesses últimos meses. Além disso, não comuniquei muitas das minhas faltas, deixando-o sem margem de conhecimento — falou, fazendo um reverência de respeito.
— O que mais me intriga, além de suas faltas, é o fato de você não justificá-las — Hakamata falou, deixando de lado o ar formal —, pois se estiver enfrentando algum problema, podemos ajudá-lo de alguma forma.
Bakugou era grato por aquilo. Sabia que não haveria problema se contasse a verdade sobre seus desaparecimentos, contudo, não estava pronto para enfrentar os olhares de dó e misericórdia que poderiam ser direcionados a ele. Além disso, acreditava que daria conta de resolver tudo, por isso, não havia motivos para preocupar o chefe.
— Eu agradeço a preocupação, senhor, e peço desculpas por qualquer dano causado por minhas faltas, porém estou com todos os relatórios atrasados feitos e disposto a compensar minhas horas não trabalhadas.
Tsunagu o encarou por um momento. Como fundador e sócio majoritário do escritório, tinha a obrigação não só de exigir comprometimento de todos que estavam sob sua responsabilidade, mas também deveria garantir que todos estivessem em condição de realizá-lo. Com mais de duas décadas no ramo, via que o jovem à sua frente, embora fosse inteligente e perspicaz, não era esperto o bastante para escolher a sinceridade ao invés do orgulho. E, como não poderia voltar aos sócios com justificativas vagas, seria necessário pressioná-lo a falar.
— Senhor Bakugou, como um escritório sério e na posição de diretor, tenho que apresentar relatórios sobre as atividades de todos que estão sob minha jurisdição. O senhor não tem algum documento que justifique suas faltas? Atestados médicos, declarações?
— Não, senhor.
Porém ele tinha. Aquilo poderia se resolver facilmente com uma simples ligação a Nezu.
— Bakugou, você entende que desse modo está me deixando em uma situação difícil de se contornar? — o tom de voz do diretor estava próximo ao apelo, pois não queria assumir o papel que deveria tomar.
— Sim, senhor. Eu agradeço tudo o que o senhor e essa empresa fizeram por mim, dando a oportunidade de estagiar e aprender com os melhores profissionais da área — Katsuki iniciou, dando um ar mais sério e triste à conversa. — Porém, isso é tudo que posso dizer no momento.
Hakamata suspirou. A sua frente via um jovem talentoso com um futuro promissor que estava largando uma das melhores oportunidades que um estudante de Direito poderia ter. Entretanto, ele não poderia deixar-se levar pela empatia, não na posição de diretor.
— Diante disso, sabe que não tenho outra escolha, não sabe?
— Sim, senhor, eu sei. E respeitarei sua decisão.
— Eu não quero fazer isso, mas estou sendo obrigado — disse, olhando seriamente para Katsuki —, dessa forma, senhor Bakugou, peço que se dirija ao setor de Recursos Humanos da empresa, para seu desligamento — falou com pesar.
Visivelmente triste, porém ciente que o chefe fazia o correto, Bakugou acenou, se levantou e, com um reverência se despediu.
— Foi uma honra trabalhar com o senhor, Sr. Hakamata Tsunagu e peço perdão por ter causado problemas ao senhor e à empresa. Eu não mereço estagiar no escritório e o reconheço que o senhor tomou a decisão mais coerente no momento. Mais uma vez, peço perdão e agradeço a oportunidade.
O homem não sabia o que dizer. Se pudesse, forçaria Bakugou a falar a verdade para evitar tudo aquilo, mas não podia, então restava-lhe apenas aceitar.
— Você é um jovem muito talentoso e inteligente. O tempo em que trabalhou conosco foi de grande valia e desejo que tenha uma carreira brilhante. Embora estejamos rompendo por agora, não haverá qualquer impedimento para que nos procure no futuro.
Com um aperto forte de mãos, Bakugou deixou a sala e tomou o elevador para o andar de Recursos Humanos. Sua mente agora era uma confusão de tristeza e revolta: tristeza por ter perdido sua grande oportunidade e revolta consigo mesmo por ter provocado aquilo. Ao ser atendido pela responsável pelo setor de desligamento, teve que assinar uma série de documentos antes de deixar o prédio e se dirigir ao banco, para encerrar sua conta conveniada à empresa.
Já passava das quatro da tarde e Katsuki estava estafado. Cansado dos problemas, de nada dar certo, de correr atrás do vento. Contudo, mesmo sobrecarregado ele não tinha tempo para devaneios, pois logo que parou em uma loja de conveniência para comer, atendeu à chamada de Nezu, o qual precisava que ele comparecesse ao escritório para discutir a cerca do processo de sua mãe.
Ficaram ali por cerca de cinco horas diretas, revisando papéis, procurando testemunhas, tentando se comunicar com o promotor do caso, tendo acesso às provas de acusação contra Mitsuki e elaborando um dossiê com todas as evidências de inocência. Já era noite quando se despediu e estirou-se no banco da parada de ônibus, à espera da condução que o levaria para casa.
Enquanto aguardava, pegou o celular e conferiu que não havia nenhuma mensagem. Uma sensação de solidão o invadiu; parou por um minuto, encarou a rua à sua frente e sentiu pena de si mesmo. Sua vida estava à beira do caos completo e irreversível, porém ele estava ali, sozinho. Sentiu que queria ver alguém, trocar olhares cúmplices e encontrar conforto; desejava conversar sobre trivialidades para esquecer da vida, chorar e se sentir abrigado em um abraço. Aquilo definitivamente não era comum a ele, mas Katsuki experimentava a falta de algo que nunca tivera.
Em meios aos pensamentos, uma imagem veio à sua mente. Imaginava se teria ficado louco e recusou-se a acreditar que queria realmente aquilo. Por fim, desistiu de lutar contra si mesmo e discou o número que aguardava na tela do celular. Esperou por alguns segundos, até ouvir a voz que provocou um efeito anestésico em seu corpo.
— Bakugou?
Ele desejava estar com Eijiro.
— Você 'tá em casa? — como não sabia o que dizer, preferiu ser direto.
— Não, acabei de sair do escritório, estou na estação esperando o metrô. Por quê?
— Pode me encontrar?
— O quê? Agora?
— Sim. Em qual estação você está?
— Estação Harajuku.
— Então pode me encontrar no parque Yoyogi? É aí perto.
— Cara, você não quer deixar isso pra outra hora? Eu estou exausto... — do outro lado da linha Kirishima não estava acreditando que Bakugou pudesse estar disposto a discutir sobre o trabalho àquela hora. Tudo o que ele queria era ir para casa, dormir.
— Eu... Eu preciso falar com você hoje, pode ser? Não vai demorar, eu vou pegar um ônibus e em vinte minutos estou aí.
Sabia que estava sendo egoísta em pedir isso a Eijiro, mas ele nunca precisou tanto ver alguém quanto precisava naquele momento.
Após um longo suspiro, Kirishima encontrou forças para responder.
— 'tá legal, mas é bom você não demorar e me pagar um *imagawayaki.
— Eu pago — Bakugou sorriu —, então, te vejo lá.
Ambos encerraram a chamada e Katsuki notou que até mesmo o tom irritadiço de Eijiro melhorava seu humor. Conferiu o horário do ônibus no celular e só teve que esperar por três minutos para embarcar em um.
Sentou-se em um dos bancos e percebeu que estava ansioso. Não sabia o porquê fizera aquilo, mas todas as circunstâncias levaram-no até ali e, dessa vez, ele não iria fugir ou deixá-lo escapar.
Não dessa vez.
*imagawayaki é um doce típico japonês que consiste em duas massas (semelhantes às de panquecas) unidas por um recheio que geralmente é de anko (pasta de feijão doce), creme de baunilha e doces de frutas.
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