19. A conversa
Capítulo 19 - A conversa
— É verdade que questões mal resolvidas tendem a reacender um sentimento passado?
O loiro encarou seus olhos, erguendo uma sobrancelha e ditando baixo, porém, audível:
— Me diz você.
O encarar que eles mantiveram fez Jungkook notar que Jimin possuía os mesmos olhos atraentes, intensos, um tanto predatórios. Já este, por um instante, se perdeu no belíssimo céu estrelado dos olhos do rapaz que pareciam mais brilhante que no passado apesar de sério.
— Eu digo que precisamos conversar. — o modelo não perdeu a oportunidade, disse firme, com sua voz quase soando uma ordem. Afinal, por mais que desejasse respeitar o tempo do outro, não resolver a questão deles estava acabando consigo a cada dia que passava.
— Olha, não querendo me meter mas já me metendo, eu acho que vocês deviam mesmo se acertar. — disse Jihee.
— É verdade. Estamos esperando por isso há tempos. Vocês não cansam de se enganar? De ignorar essa situação que está passando da hora de ser resolvida? — questionou Taehyung. — Damos cobertura para vocês se quiserem ir a algum lugar.
A sugestão fez o guarda costas se recordar de um ambiente calmo ao qual lhe deixaria menos tenso para, outra vez, se abrir e finalmente pôr um fim naquele incômodo vindo da pendência do passado.
— Ok. — concordou, capturando as chaves dos carros blindados aos quais Seokjin havia disponibilizado, jogando uma no amigo e ficando com a outra, caminhando até a saída.
Jungkook estava estático. Aquilo estava acontecendo? Eles iam sair dali? Teriam a conversa?
— Vocês não vem? — questionou, os encarando por cima do ombro.
O moreno piscou diversas vezes saindo do transe, logo deixando o iogurte que tomava em cima do balcão e o seguindo, assim como os outros dois, torcendo para que ele não mudasse de ideia.
Os dois entraram num dos carros, partindo, o casal foi atrás para garantir uma maior segurança.
— Para onde vamos? — questionou o dongsaeng, um tanto curioso.
— Você verá. — disse simplista.
— Tá bom. — respirou fundo, contendo a ansiedade.
Seu coração quase saiu pela boca quando o viu passar na porta da casa de Hoseok, subindo o morro e parando lá no alto. As rochas. Quanto tempo não ia ali. Sentia falta do seu lugar.
Park já não queria mais fugir, ao menos não naquela hora. Ia aproveitar a conversa inspiradora que teve com Sunmin e parar de adiar, resolvendo aquela questão de uma vez por todas. E, em sua opinião, nada melhor do que o lugar onde trazia uma baita calmaria tanto a Jungkook quanto a ele. Até porque teria que estar leve para encontrar as palavras certas e finalmente dizê-las.
Ele desceu do carro. Não precisou dizer nada pois o rapaz lhe acompanhou. Taehyung e Jihee não demoraram a descer do automóvel também, entretanto, preferiram ficar sentados no capô, mantendo uma boa distância para dar maior privacidade.
— Eu tinha esquecido de como essa vista é linda. — Jungkook suspirou. — Saudades de sentar aqui e ficar em paz. Eu amo esse lugar. — se sentou em uma das pedras.
— Tem muito tempo que você não vem? — perguntou Jimin, também se sentando.
— A última vez foi há uns três anos. Estou andando ocupado demais com meus trabalhos e agora todo meu núcleo está em L.A. Quase não venho à Coreia e quando venho fico com meus pais. — parou por um instante. — Por que me trouxe aqui?
— Porque eu também amo aqui. E porque eu me lembro. — buscou os olhos dele, que sentiu o coração descompassado por ouvir tais palavras. — Eu me lembro de tudo, Jungkook.
— Le-lembra? — sem querer gaguejou, tendo um misto de emoções por lembranças do passado e pelo presente confuso estando reunidos.
— Lembro desde quando te vi pela primeira vez. Você pode não recordar, mas eu disse que te observava e, inclusive, pensei em ser um cara normal para poder te conhecer melhor. Bem, eu te conheci de todo jeito. Me aproximei por uma aposta. Tivemos um caso e ele acabou de forma um tanto trágica. Eu realmente me lembro.
— De tudo, tudo? — mordeu o lábio, nervoso.
— Sim. — focou no céu azul, deixando os pensamentos correrem. — Você era um garoto com músculos demais para sua idade por trabalhar bastante na oficina do seu tio, estava no auge da descoberta sexual, amava dormir, ainda mais de cueca, e com o vento da noite adentrando a janela. Gostava de doces, sabia cozinhar mas vivia comendo sucrilhos com iogurte e comprando besteiras. Detestava dirigir, era um baita mimadinho que não queria depender dos pais mas não focava na própria liberdade e um grande fã de romances. Comédias românticas para ser exato.
— Você se lembra mesmo. — sorriu, todo nostálgico.
— Eu nunca pude esquecer. Por mais que tenha terminado desse jeito triste, você foi alguém especial. Um melhor amigo e paixão que criei um laço que a muito tempo eu não tinha. — sorriu fraco, estava sentindo o nervosismo em seu estômago, todo o medo e insegurança de mencionar o que houve, mas não ia voltar atrás. — E sei que você gostava desse lugar. Você me trouxe aqui e eu nunca me esqueci da calmaria que é, dá uma paz e tranquilidade impressionante. Então é um bom local para esclarecermos as coisas, não é?
— Sim. — respirou fundo, conseguindo mais coragem para continuar. — Eu também me lembro, Jimin-ssi. Do seu jeitinho de bad boy, cretino e conquistador, de me questionar se por um acaso você tinha uma rola de ouro. — riu. — Da forma que você me deixou curioso, das sensações que me causou, de como me inspirou a ser eu mesmo... Lembro de todos os momentos que tivemos: você com a minha ex, eu te vendo em um momento íntimo e desligando seu som, da aposta, nosso primeiro contato na oficina, as minhas descobertas sexuais... Você me abraçando ao ouvir Heaven. Nós cozinhamos cupcakes, comemos dogão na praça enquanto contemplamos a noite estrelada... Você com pesadelos, eu cantando Hey Jude... Você roubando minhas camisetas, eu fazendo minha mudança de visual, eu te trazendo aqui. Fomos numa balada certo dia… Ah, aquele dia… Cheio de sensações memoráveis. — suspirou, tendo os olhos fechados, ao que via flashes de todos os momentos citados.
Continuou:
— Em outros dias vimos diversos filmes, criamos uma rotina nossa, só nossa... Então eu dei uma de detetive, descobrindo toda sua verdade e dei uma de herói mas, no fim, corri como um cãozinho assustado. — sorriu, sem graça. — É. Estar junto de você foi bem emocionante, me rendeu adrenalina e sensações maravilhosas. Nem sei se disse tudo ou se está na ordem certa, mas eu lembro. Até o dia que nos apavoramos e você me deixou por uma mensagem de texto.
O fitou, deixando transparecer sua mágoa. Jimin passou a mão no cabelo desviando o olhar.
— Me desculpe. Eu fui um baita covarde e reconheço isso. Estava sendo até agora a pouco porque só fugia ao invés de resolver nosso problema logo. Naquela época eu não consegui te encarar depois… depois daquilo. A mensagem foi a única solução que encontrei para dizer tchau.
— Na verdade você disse "adeus". — o corrigiu. — Mas tudo bem. Eu fui outro covarde e sequer te procurei.
Um silêncio se instalou ali.
Ambos olhavam para frente, observando a paisagem que continha um céu azul e limpo, abaixo dele casas e prédios. É uma vista bonita. Ainda mais de manhã quando o sol nascia, a tardinha ele se punha ou a noite quando as estrelas e a lua, além das luzes da cidade, a iluminavam. Mas naquele momento, no meio da tarde, estava linda por igual. E a brisa fresca, por estarem num local alto, trazia uma leveza sensacional.
— Eu pensei tanto no que dizer, mas agora mal sei por onde começar. — o guarda costas admitiu.
— Eu posso começar se você quiser.
— Por favor.
— Uhm... Antes quero deixar claro que eu era imaturo e muito ingênuo. Não medi nenhuma das minhas atitudes e, bem, eu acreditava em poder viver uma comédia romântica toda colorida, com final feliz e tudo. — negou, rindo, se sentindo um pouco patético. — Tanto que às vezes me esquecia que a vida é toda diferente dos clichês, dos filmes em geral.
— Você era um garoto sonhador.
— Mas eu tinha que ser mais realista. Se eu fosse, teria notado onde estava me metendo, com quem e o que estava fazendo. Eu fui mesmo ingênuo e inconsequente como todos diziam que eu era. Só pensei em ser seu salvador e ter um final feliz com você sem me preocupar com o grau do perigo. Tudo começou com uma adrenalina, eu estava eufórico, só queria ajudar, impedir que te fizessem mal e eles acharam que aquele seria um bom plano de última hora me envolver. Só que eu sequer sabia o que estava, de fato, fazendo. Eu lidava como se tudo fosse um filme de ação, sem me preocupar com nada, mas a realidade foi apavorante. Quando me dei conta disso, entrei em choque. Depois veio o desespero. Eu não soube lidar com nada.
O mais velho recordava disso, do olhar dele, de como doeu ver o quanto havia lhe afetado...
— Eu sabia sim que aquele homem tinha te feito muito mal, não era bobo ao ponto de ver só você como um ser cruel. Mas me senti péssimo. Não consegui raciocinar muito bem… A questão é que odeio violência, de qualquer tipo, e você o matou. Na minha frente. Por isso eu enlouqueci. Era a vida de um traste mas era uma vida, entende?
— Sim.
— É… Ver ela sendo tirada foi muito para o meu estômago. Eu era só um garoto mimado, que não tinha outra visão de mundo, para mim tudo era perfeito e nosso romance também seria. Ao ver esse outro lado, eu fiquei desnorteado de uma forma que até hoje não consigo explicar. E era muito ruim porque eu sabia ter te prometido coisas. Eu disse a mim mesmo que ficaria com você porque sabia que precisava de mim. Mas eu não havia notado o quão grave era a situação.
Suspirou, logo continuando:
— Você havia me dito tudo o que aconteceu na sua vida, eu não percebi o quão perigoso foi e continuava a ser. Você me alertou, meus pais e amigos, porém a menção da morte pareceu algo tão distante... Quando estava empenhado no plano, seus amigos, meu tio, deixaram as coisas claras, só que eu estava inspirado a pagar de herói. Mas eu não tinha poder algum para ir contra o que estava acontecendo. — riu, sem humor. — Ali, vivendo o momento, eu vi o quanto a morte e o perigo eram reais, então todo aquele pavor me atingiu em cheio. Você saber por alto e viver a situação é completamente diferente. E na minha mente de garoto, você era só um bad boy encantador que havia sofrido e ia dar um jeito para parar de sofrer. Eu te via como todo bonzinho por ser adorável comigo. Meus sentimentos eram fortes e nublados. Te ver naquela posição, todo vingativo... Ah, foi demais pra mim. O pior foi que vi todo o conto de fadas que havia criado, cair. Nada era como eu fantasiava. A realidade era crua e fria. Me decepcionei. Eu sabia quem você era, mas… Não sei. Dentro de mim eu te via com olhos incapazes de ver maldade.
— Eu nunca fui bom. Não completamente depois de perder minha família. — tratou logo de dizer, o interrompendo. — Eu só passei a ser assim, tão mais cuidadoso e de certa forma carinhoso, com você que inclusive não me dava motivos para mostrar meu lado cruel. Por carência, dependência da forma que me sentia bem ao seu lado e por gostar você como a muito tempo não acontecia, eu agia diferente da minha merda comum. Eu tinha me apegado e coloquei na mente que ao seu lado eu era melhor então acho que consequentemente me esforçava para ser. Mas eu sempre tive um lado sombrio. Não sei como você não via.
— Eu também me apeguei. Um mês e alguns dias foi fácil de nos iludir porque foi intenso. — o viu assentir. — Eu nunca tinha provado outro cara, nem de um terço de toda aquela emoção, e você me inspirou a ser livre, a ser eu mesmo sem me preocupar com os outros. Você era especial. Eu cheguei a gostar de você, admito. Só que quando vi esse outro lado seu, diferente de tudo o que o Jungkook mimadinho presenciava, totalmente fora da minha realidade comum, eu saí de mim. Eu me vi num dilema ao qual um lado queria distância e o outro queria que você aparecesse para a gente conversar, para eu continuar te fazendo bem e você retribuindo... Só que eu me decepcionei outra vez. Pensei que você tinha mudado depois de estar comigo, porém, no hospital, eu ouvi dizer que você estava com sua bebida forte e fodendo a todos, sem lidar para mim. Isso me fez não tomar a iniciativa de ir até você.
— Eu tive uma recaída. Foi o que aconteceu. Não estava suportando lembrar de você tão mal, pensando que eu era causador de suas dores e, nossa, eu nem sabia lidar com as minhas próprias.
— Eu desejei não te ver mais, ao menos por um tempo, e foi o que aconteceu. Enquanto eu estava tentando lidar com meus pensamentos e sentimentos cheio de conflitos para, sei lá, tentarmos de novo, você foi embora. — fechou os olhos, sentindo a brisa mover sua franja.
— Desculpa, mas eu precisava. — havia uma sinceridade palpável em sua voz.
— Eu sempre pensei que você tinha seus motivos. Só que isso não impediu de ser algo ruim para mim. Eu estava cheio de paixão por você.
— Como você reagiu? — estava curioso, o analisando.
Jungkook abriu os olhos, porém focava nas pessoas distantes, minúsculas, andando nas ruas lá embaixo.
— Eu chorei. Durante meses. Não queria conversar, interagir com ninguém, só ficava em casa com a dor de te perder. Mas resolvi seguir o que você havia escrito. — sorriu leve. — Eu te deixei ir. Em seguida, corri atrás do meu sonho. Fui ser feliz, mesmo que tivesse o seu adeus e isso me incomodasse. Incomodava ainda mais o fato de não termos esclarecido nada, só rompido. — voltou a olhá-lo por um instante. — Me entreguei a outra pessoa. Eu juro que tentei encontrar o tal do meu galã ou a minha princesa para viver os clichês da vida como você disse que eu merecia, Jimin-ssi. Mas não deu certo. Eu nunca sentia a química, a nossa química, nunca tinha emoção o suficiente. Eu gosto de continuar só quando apaixonado, mas meu sentimento não evoluía. Me decepcionei em todas as tentativas de ter um romance então eu desisti.
— Foi aí que Yugyeom entrou na história? Pois ele é bem insistente. Esta noite até foi ao seu quarto querendo cuidar de você.
Jungkook rolou os olhos.
— Eu o conheço desde a escola por ser primo do Hobi e estarmos na mesma turma. Quando eu senti que estava me apaixonando por você, naquela época que você era um canalha que pegava geral e aparentemente não queria nada exclusivo comigo, saí com ele para provar a mim mesmo que podia pegar outras pessoas também. Foi divertido, mas não consegui continuar porque gostava de você, queria você e meu tesão era só seu.
— Eu me lembro disso. Fiquei chateado porque você nem tinha visto que eu tinha mudado o cabelo. Foi nessa época que pensei estar me apaixonando também. E, quer saber de uma coisa? Eu vi vocês juntos, admito que não gostei.
— Não brinca! Então não vi miragem na janela, foi mesmo você! — ficou boquiaberto.
— Foi um incômodo tão grande para mim que saí para pensar, vim até aqui. Mas eu sabia que você tinha o direito já que não tínhamos nada fixo então fiquei de boa. Você apareceu, todo bonitinho, me ofereceu comida e disse que não entendia o porquê de eu enrolar sendo que com os outros ia para a cama fácil. Dizer que você era diferente não foi totalmente uma mentira, afinal, eu sentia coisas que julguei não poder mais por conta do meu passado. Porém, em partes eu enrolava pela a aposta. Eu tinha que ganhar seu coração e sua bunda, você é demissexual, não ia acontecer do dia para noite, precisava de tempo. Por isso, tentei te conquistar de um jeito meio torto. — riu sem graça, pois hoje em dia achava o que fez pura idiotice.
— Deu certo. Nós nos enganamos fazendo apostas estilo Como Perder um Homem em 10 dias. — riram. — Mas sobre o Yugyeom... Quando eu estava frágil pela sua ida, nós demos uns beijos, ele disse que estava apaixonado, mas eu neguei seus sentimentos. Continuamos amigos. A uns meses atrás, eu estava carente, ele era o mais próximo de amigo íntimo solteiro então transamos no carro. Eu segui normalmente, porém Yu retomou a antiga paixão. Agora estamos desse jeito, eu querendo ficar afastado e ele persistindo em algo a mais. Sinceramente, não temos magia juntos. Tenho esperanças que um dia ele note isso.
— Entendi. — pigarreou, um pouco sem jeito de dizer a desconfiança sobre o amigo alheio mas não deixando de insinuá-la. — Você confia nele?
— Sim, por quê?
— Rejeição pode trazer pontos negativos como a necessidade de uma atenção maior, certa obsessão, talvez ameaças... — o modelo arregalou os olhos.
— Ele não faria isso. — afirmou.
Não podia acreditar naquilo pois, apesar dos pesares, o Jung era seu amigo e sempre esteve ao seu lado lhe apoiando.
— Não estou o culpando.
— Mas está insinuando.
— Temos de ficar atentos a qualquer tipo de desavença ou insatisfação com a sua pessoa, seja ela mínima, de quem é próximo ou não.
— Sim. Concordo que é bom ser racional e ter cuidado, mas não quero falar disso agora. Estamos aqui para tratar de nós dois. Eu disse como me senti, espero que tenha entendido, agora falta você.
O loiro respirou fundo, adquirindo mais coragem. Um pouco dela já estava ali após saber da visão alheia. Esta não era nada do que pensou. Imaginava que Jungkook tivesse lhe visto como o pior dos piores, o ser mais nojento e horrível do mundo. Mas ele só estava sofrendo por deparar com uma realidade diferente e pela dor da paixão interrompida.
— Eu estava mal. Com meu passado, com a vingança, com você e comigo mesmo. O ponto que me fez surtar foi pensar em você me vendo como um monstro. Lá no fundo eu já me sentia assim pela morte dos meus familiares, por outras pessoas que eu eliminei e, ao ver seu olhar naquele dia, cogitei que realmente fosse. — suspirou. — Eu senti que você me odiava, eu estava com medo do seu desprezo, minha autoestima estava pior, os traumas ainda estavam presentes e eu não suportei a culpa de te causar problemas.
Oh, isso era triste para Jeon imaginar. Honestamente, lhe partia o coração.
— Eu tentei ir até você, naquele dia no hospital, mas acabei desistindo ao ver sua reconciliação com seu pai, sentindo que não fazia parte do seu mundo e me entreguei aos vícios. Fiquei noites em claro não querendo dormir e acabar tendo algum pesadelo, pois se você aparecesse neles me tratando mal seria o meu fim. Consegui cochilar algumas vezes, sempre agarrado com uma de suas camisetas. — sorriu fraco pela lembrança da calma que o cheirinho delas traziam. Era tipo um abraço reconfortante de um amigo especial num momento delicado. — Ainda sim, eu tive pesadelos. Chegou num ponto que eu cansei. Cansei de sofrimento. De ficar me remoendo. Não queria dar problemas ou fazer qualquer outra pessoa se traumatizar por minha causa. Então lembrei do meu sonho de viajar, ou melhor, fugir e eu o fiz. Deixei tudo para trás, decidindo recomeçar. Aos poucos eu fui me adaptando.
— Foi onde começou a fazer terapia?
— Isso ainda foi depois de uns meses, ver lugares novos estavam até me ajudando a ver a vida de uma forma bela de novo. Eu conheci Sunmin, minha psicóloga, em um bar no Japão. Acabei bebendo demais e falando o que não devia, ela soube me ajudar a ter algumas respostas e no fim descobri sua profissão. Sequer me lembro qual foi a conversa porque estava mesmo embriagado mas sei que foi boa. Senti que gostei de desabafar, lembrei que meu avô disse para nunca esquecer da minha essência, daí fiquei disposto a recuperá-la. Desde então passei a consultar com ela, a resolver meus traumas e a buscar ser um cara melhor. Foi bom tirar os pesos dos meus ombros. Realmente ótimo. É aliviante chegar ao ponto de não ter mais pesadelos. Estou bem comigo mesmo também, não tenho mais vícios para tentar fugir da realidade, me sinto um novo homem. — o mais novo sorriu, satisfeito em saber, fazendo ele sorrir junto. — Encontrei um trabalho bom onde posso usar as habilidades que consegui nessa vida conturbada que tive. Salvar pessoas é melhor que matá-las, não é? — brincou.
— Creio que sim. — riu. — Como foi entrar em contato com o Jin e entrar para a agência?
— Depois de umas das consultas eu estava decidido que queria fazer o bem, ajudar e salvar as pessoas. Liguei para meu avô, ele disse que havia se aposentado mas sabia de alguém que podia me ajudar. Entrei em contato com seu tio, ele brigou comigo por sumir. Aliás, eu te contei que tinha me aproximado dele antes de fugir do país? — o rapaz negou. — Ele tinha me pedido desculpas por me difamar para sua família e alguns amigos sem nem saber da minha verdade. Era uma inveja boba pelo meu avô me ter como queridinho. Eu disse que tudo bem, desde que me desse notícias suas.
— Você ficou sabendo de mim? — demonstrou surpresa.
— Sim, por alto. Quando fugi, por meses não quis contato com ninguém e não estava a fim de saber de você. Mas depois de me aproximar de Jin fiquei curioso. Soube que havia começado o curso de modelo e mesmo deprimido pelo nosso término tentava curtir com amigos, se reerguer, esquecer.
— Eu realmente tentei, fiz de tudo, superei muita coisa, mas esquecer foi pedir demais. Em todo esse tempo eu só fingi não lembrar, me obriguei a não pensar, nunca…
— Eu sei. — interrompeu. — Também guardei tudo, nunca te esqueci.
Eles ficaram se encarando por uns segundos. Já não impediam mais as lembranças de aparecerem e sentiam uma palpitação no peito, cheia de nostalgia e saudade.
Jimin novamente foi o primeiro a desviar, continuando:
— Enfim, a aproximação com seu tio deu certo, fui treinado de novo, aceito na SS e comecei meu trabalho.
— Naquele dia da gravação no estúdio, você sabia que tinha que me escoltar? — questionou, curioso.
— Não. Foi uma surpresa para mim também. Eu quase infartei. — riu ao lembrar. — Não sabia nem o que dizer então foquei em fazer o meu melhor mesmo que isso custasse meu silêncio.
— Fiquei tão frustrado por você não conversar comigo. — pendeu o corpo para trás, deitando na rocha com os braços embaixo da cabeça, o olhando. Park praguejou mentalmente pelo tanto que ele consegue ser naturalmente gostoso.
— Eu vi. Quis até deixar claro que gostava mais dos meus amigos que de mim. — disse sério, mostrando que não havia gostado de ser comparado assim.
— Desculpa te desmerecer. Eu estava tentando tirar alguma reação de você e foi o que funcionou. Jin brigou comigo depois. — fez bico.
— Bem feito. — sorriu ladino. Jeon gostou disso. Sentia falta de ver Park leve, sorrindo, ainda que para provocar.
— Por que não quis falar comigo sobre nossa situação? Olha só como foi fácil.
— Não pensei que seria. Estava esperando algo apavorante. Paranoias da mente. — deu de ombro. — Eu não queria falar por medo da sua reação, de não ter o seu perdão e assim continuar não podendo superar a última coisa que está pendente em minha vida. Hoje eu conversei com a Sunmin e ela disse que mesmo que você não me perdoe, tudo bem, porque eu tentei, fiz minha parte e isso é suficiente. Por isso resolvi enfrentar de uma vez.
O moreno apoiou nos cotovelos, mantendo o encarar.
— Eu não vou te perdoar. — Park engoliu em seco, sentindo o estômago até revirar. — Sabe por que?
— Eu te fiz sofrer. Reconheço isso. — apertou os lábios.
— Não. — negou. — Não vou perdoar porque você não me pediu nada. — sorriu leve, vendo ele suspirar aliviado. — Apenas me atualizou do que houve com você. Entendi o seu lado, como você entendeu o meu. Estamos ambos sofrendo na época mas de jeitos diferentes. Reconhecemos que eu fui irresponsável, imaturo e covarde nas atitudes e você não foi muito diferente. Deixamos tudo claro. E agora, Jimin-ssi? Como vai ser?
— Resolvemos isso de uma vez por todas. — juntou as mãos, como se rezasse. — Eu peço desculpas, Jungkook. Não queria te fazer cair nesse relacionamento louco, te fazer presenciar aquilo. Não queria que ficasse perturbado e nem que sentisse tanto minha partida. Mas hoje vejo que foi necessário pois foi assim que crescemos como pessoas. — o rapaz assentiu, dando um manear de cabeça para que ele continuasse. — Me perdoe por não te procurar, por não esclarecer as coisas antes. Eu senti medo, eu fui um bobo, mas não teve um dia que não pensei em me reconciliar com você, em superar isso para que possamos seguir em frente. E espero que concorde comigo quando digo que eu precisava mesmo recomeçar e me livrar de toda aquela merda e sentimentos ruins. Assim como você precisou desse tempo para perceber o que houve, para amadurecer. Eu consegui me superar e você lida melhor com as coisas então está tudo bem. Só espero que lide com esses meus motivos também. Eu estava na pior, inseguro, desesperado, agoniado, não conseguia continuar aqui com tanta merda nas minhas costas e muito menos seguir mantendo um relacionamento com você. Seria algo conturbado e nenhum de nós merecia se ferir ainda mais. Eu precisei fugir e tentar finalmente ter uma vida. Então... — lhe faltaram as palavras, porém acreditou que havia dito o suficiente. — É. É isso. Me perdoe? Por tudo?
Jeon respirou fundo e assentiu.
— Eu te perdoo, Jimin-ssi. E peço desculpas por ter reagido tão mal mas realmente não foi fácil para mim e esse meu estômago fraco. Eu reconheço que por mais ruim que tudo isso tenha sido, foi necessário, nós precisávamos de tempo sim, melhoramos bastante, estamos resolvendo essa situação e isso é muito bom.
— Concordo. E eu te desculpo sim. — sorriu se sentindo feliz por estarem sendo maduros.
— Ah, eu já ia esquecendo. Me desculpe por tentar te beijar. Eu... Uhm... Mesmo que nos iludimos nessa, não consigo negar que senti algo intenso, que por algum motivo maluco do universo ainda sinto. Não a paixão forte, mas a mesma atração junta de muitas lembranças. É inevitável. Principalmente agora depois de provarmos que ainda temos uma conexão. — sentou, se virando para ele, soando agoniado: — Sou só eu quem sinto isso? Que nosso laço não morreu? Ele está aqui e traz toda essa vontade de te beijar, te tocar, te sentir de novo… Ou eu estou ficando maluco, vendo coisas onde não tem?
— Não. — foi sincero pois sentia o mesmo. — Mas não podemos nos envolver outra vez.
— Você tem medo?
— Sim. Pelo fato de que eu não sou mais seu vizinho cheio de traumas e problemas, eu sou seu guarda costas, Jungkook. Você está em provável perigo e eu preciso te proteger. Sendo assim, estamos em uma situação parecida com a anterior. Se tivermos algo podem nos usar um contra o outro e isso seria horrível.
— Você é capaz de ser profissional, de estar comigo ao mesmo tempo que me protege e eu provei que posso te salvar se necessário. Mas, sabe, se te preocupa tanto é só ser escondido. Ninguém precisa saber. — sorriu ladino, se aproximando até conseguir alcançar seu ouvido, ditando sensualmente. — Será nosso segredinho. — mordeu o lóbulo, fazendo Jimin apertar sua cintura. — Vamos aproveitar que essa conversa foi leve e o fato de estarmos finalmente perdoados, sem mágoa, sem lembranças ruins ou sombra incômoda do passado. Vamos fazer diferente, sem sermos precipitados. Tentar com honestidade e leveza ou apenas nos divertir num sexo sem compromisso, não acho que isto seja um problema. O que me diz?
— Antiético. Eu estou constantemente trabalhando para um membro da sua família, tenho funções e elas não envolvem transar com você. — disse firme, tentando se controlar para não ceder aquele maldito mimadinho manhoso da porra.
— Eu sei. E você vai. Agora me responda, quem se importa com essa moral de trabalho? Foda-se se é antiético. — debruçou sobre ele, o fazendo ir para trás até se deitar, levando o nariz ao seu pescoço, sentindo seu perfume, vendo a pele arrepiar, aproveitando e iniciando beijos por ela enquanto apertava o meio da calça de Park ao qual estremeceu.
— Eu vi sua entrevista com a Tina. Você não estava na vibe de ser racional? — mordeu o lábio, se esforçando para não tocá-lo de volta mas não tendo forças para sair dali.
— Eu preciso de aventuras de vez em quando. Gosto da sensação de tesão que a adrenalina me dá. Ainda mais quando estou com você. — moveu a mão, massageando o pênis alheio, o instigando. — Se você viu mesmo a entrevista, sabe que ninguém tem a sua intensidade. A nossa conexão. Porra. Nossa química é de matar. Aceite logo.
Aproveitou a camisa de botões estar com os primeiros abertos e sugou próximo a clavícula dele, o tocando com mais firmeza, causando um arfar no outro que tinha os olhos fechados. Fazia tempos que não tinha momentos excitantes com alguém. Estava carente. E o Jungkook estava tão manipulador.
— Eu sinto que já estou morrendo. — murmurou.
O dongsaeng riu cínico, provocando:
— Quando foi que o grande Park Jimin ficou tão sensível e submisso? — ele abriu os olhos, focando nos mirantes brilhantes que agora continham um ar malicioso.
Sorriu debochado.
— E quando foi que o garotinho se tornou um depravado de atitude?
— Quando ele experimentou da tentação irresistível que você é e não pôde ter mais. Agora o garotinho cresceu. E está com uma puta saudade de transar com você. — lambeu e mordeu o próprio lábio inferior, deixando claro seu desejo.
Jimin riu sarcástico.
— Eu não acredito nisso. Eu não te fiz sofrer da última vez?
— Já nos resolvemos. Você também estava mal. Esquece de uma vez esse passado. Foca no presente.
Tornou a acariciar o pescoço dele com beijos e leves mordidas ao passo que ainda o tocava.
O hyung estava duro, pensando que aquilo não era uma boa ideia, afinal, podia levá-los ao mesmo ponto do passado. Seria idiotice cometer o mesmo erro duas vezes. Mas era como o modelo havia mencionado, entre eles tinha intensidade, uma atração e conexão desde o primeiro instante que ficaram e uma química de matar. Portanto, difícil resistir. E ninguém precisava saber mesmo.
— Por um instante. — apenas por um momento ia ceder. — Só porque eu te devo um presente de aniversário. — sorriu sedutor, o puxando a nuca e colando seus lábios com uma vontade quase absurda, não demorando a enroscar sua língua, que Jungkook descobriu ainda conter piercing, na deste que gemeu de satisfação.
Finalmente, estavam matando toda a saudade que fingiam não ser relevante.
E eles teriam continuado, isto se Taehyung e Jihee não chegassem gritando para se separarem imediatamente porque tinha um paparazzi ali a pronto para fotografá-los.
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