11. Esclarecimentos
➼ Preparem os corações e boa leitura, docinhos!
P.s.: o homem que vai aparecer foi pego no pinterest, não conheço mas parece ser um ator ;)
· · • ⊱✿⊰ • · ·
Capítulo 11 - Esclarecimentos
Jungkook fez o primo comprar iogurte e sucrilhos para misturá-los e comer bastante nos dias que estivesse na casa do mesmo, tirando um tempo para pensar em toda situação que se encontrava.
Seu tio Donghae era tranquilo, não se intrometia na vida de ninguém. Também mal parava em casa por conta das inúmeras ficantes, quando estava ficava a trabalhar em algum projeto junto de Yoongi. Logo, nenhum dos dois lhe incomodavam.
Terminou de colocar sua comida favorita na tigela, caminhando para o quarto de hóspedes. No caminho, tinha de passar pela sala, e nela estava Jung Hoseok.
— Podemos conversar? — o ruivo ficou em sua frente, demonstrando certo acanhamento.
— Sim. — disse, inexpressivo.
— É que… Bem, o Yoongi hyung me contou o que houve. Já tem quase uma semana. Você não vai voltar pra casa e resolver o que houve? — perguntou calmo, ao mesmo tempo tenso pois temia que ele reclamasse que estivesse se metendo demais em sua vida.
— Meu pai mandou você...?
— Não. Você sabe que ele não me acha boa companhia por causa das festas as quais já te levei. O hyung acredita que te disse tudo, mas ainda sim está preocupado porque aparentemente você anda deprimido pela casa.
— Eu estou mais pensativo, só isso. Aliás, sobre meu pai, por que ele implica com todo mundo que eu gosto? — resmungou, indo se sentar no sofá.
— Porque ele é seu pai, tem em mente que sabe o que é melhor, e quer cuidar de você custe o que custar.
— Está tentando defendê-lo por acaso? Ele tem todo esse ego de saber do melhor mas não sabe. Apesar de ceder em muitas das minhas vontades e ser carinhoso do jeito dele, no fundo não parece se importar comigo de verdade e eu sei o quanto está frustrado por eu não querer seguir seus passos, acho que é por isso que está agindo tão babaca. Eu destruí os sonhos dele de ser o filhinho perfeito engravatado que herdará a Golden Cars e agora ele quer destruir a minha vida!
— Eu não estou defendendo, nem quis dizer que ele é um santo. Nenhum pai, mãe ou responsável por você é cem por cento certo. Eles podem achar que sim porque estão constantemente tentando acertar e tentam demais fazer o que acham melhor e te convencer do mesmo mas podem errar, são seres humanos também. — suspirou, se sentando ao lado dele. — Eu suponho que pode ser que ele esteja descontando algo, até mesmo inconsequentemente, mas talvez você pode estar criando coisas na sua cabeça e o colocando em posição apenas de vilão, sabe como sua mente consegue ser fertil.
— Você não viu o que aconteceu, ele tinha tanta raiva, ele… Ele me bateu, Hobi! — lembrou do que Yoongi disse. — Tudo bem que eu falei coisas que possam ter provocado a ira dele, porém, não justifica violência, não é?
— Eu não concordo com ele levantar a mão para você, imagino que vocês dois alterados falaram muitas coisas mas vocês precisam conversar e se resolver antes que seja tarde. Você não sabe a dor que é de não poder pedir ou receber perdão, encontrar algo para remediar a situação e ficar de bem depois de uma desavença.
Hoseok sempre se descombinou com a mãe sobre tudo por serem opostos na personalidade e atitudes, na última vez que brigaram o rapaz foi morar com os avós. Dias se passaram, a raiva se dissipou, porém eram orgulhosos, ficaram esperando um ao outro dar o primeiro passo. No fim, a mulher veio a morrer em um acidente de carro, os impedindo de se resolverem.
— Você devia voltar pra casa, conversar com calma e dizer seus incômodos, saber a verdade por trás das ações de Kwang. A iniciativa tem que partir de alguém.
— Mas ele não vai me ouvir, quem dirá entender.
— Você não tentou. Fora que não é a primeira vez que Kwang fica contra alguém do seu convívio, só demonstrou falta de sutileza dessa vez. Sobre namoro, lembra de Gina? Ele foi totalmente contra vocês porque os achava muito jovens para se envolver daquela maneira, também temia que atrapalhasse os estudos e quando percebeu que não atrapalhou, aceitou. Com o tempo ele se acostuma com você e o Jimin juntos. — deu de ombros.
Seu pai só cedeu porque Gina era uma garota, filha de seus amigos, de um patamar elevado e sem sujeira por trás dos negócios da família. Esta demonstrou muito apoio no relacionamento então Kwang não podia ser o estraga-prazeres. Ele foi a favor de Hyuna por novamente ser uma garota, inclusive muito bela, a qual sua mãe era amiga e insistia que faria um belo par consigo. Dessa vez, estava se envolvendo com um homem, de aparência nada tradicional, vindo de sabe-se lá onde, que tem o passado duvidoso e aparentemente vivia entre ser o bad boy e o mocinho. Duvidava que ele ia ceder.
— Você se acostumou? — o encarou, ansioso para saber. — Está de boa com Jimin e eu estando juntos?
O cerejinha admite que não era de dar o primeiro passo para se desculpar com alguém, sempre ficava enrolando até a outra pessoa aparecer e vir falar consigo. Hoseok surgiu ali, sendo seu amigo de sempre, tomando a iniciativa, então não ia negar a oportunidade de se resolverem.
— Mais ou menos. Eu me conformei que você sabe o que é melhor pra você e que, se quer correr o risco de machucar seu coração, tudo bem, não cabe a mim tentar reverter isso. Mas depois que o Yoongi hyung me contou sobre quem ele realmente é… Jeonie, seu vizinho não é só um canalha safado que vive aprontando sem limites e partindo corações, o cara é perigoso. Você está sendo imprudente em se entregar assim, ao ponto de até ficar contra as pessoas por ele.
— Me desculpa por aquele dia. Mas Jimin é minha paixão.
— Desculpado desde que me desculpe também por agir irracionalmente.
— Tudo bem. Só não entendo vocês querendo que eu não o ame se ele é bom pra mim. — fechou a expressão, emburrado.
— Agora já não se trata da pessoa dele em si e sim com o que está envolvido. Não sei como não enxerga os riscos… — suspirou. — Você é importante para nós, estamos todos preocupados. Mas se quer ficar com ele, fique. Só prometa que vai tomar cuidado, sim?
— Eu já nem sei mais. — deixou a tigela na mesa, bufando frustrado. — Todo mundo está me alertando, pensando que vai dar algo errado. Eu prefiro ser positivo. Eu o quero. Mas ele nem veio me ver. Desse jeito eu fico confuso.
— Ele sabe onde você está?
— Eu mandei mensagem, contei o que aconteceu, disse que queria conversar sobre as coisas que meus pais falaram, só que não tive resposta. Jimin não curte me contar sobre a vida dele e fica com medo do que posso descobrir, pensa que posso me afastar ou, sei lá, correr algum risco grande por saber demais. Não deve ter gostado do que me contaram...
— Ao menos ele pensa. — Jungkook lhe deu cara feia. — Que é? É verdade. Se esse povo ficar sabendo do envolvimento de vocês, que está na cara ser diferente dos que ele já teve, principalmente os inimigos, eles podem querer te usar de alguma forma, te ferir para feri-lo. E se o chefe mafioso dele descobrir que ele é um informante que ajuda o outro lado, cara, não quero nem imaginar o que pode acontecer. O Park está certo em ter medo por você, já que você não está tendo.
— Não acho que vai acontecer alguma coisa assim. — esse pensamento estava firme em sua mente.
— Eu espero que nada aconteça mesmo.
=🏍=
Park encheu mais um copo de whisky, enquanto reclamava pela milésima vez naquela semana.
— Eu não devia ter aceitado nenhuma aposta, nem aproximado daquele garoto. Agora sou a razão da discórdia dele com o amigo, com a família. Mas nesses dias que o evitei não consegui esquecê-lo, nem tive sequer uma noite de sono que preste, estou viciado nele, nas sensações de calma e bem estar que me traz. Parece abstinência. Estou estressado pra porra. Eu não sei o que faço.
— Eu já te disse, amigo. Se ele quer saber a verdade, não liga se vai ser perigoso, seja sincero e pronto. — argumentou Taehyung, que calculava dinheiro vivo. Muito dinheiro.
— Eu não vou conseguir. Estamos falando de voltar ao meu passado para explicar o presente e eu não suporto a dor que carrego. Não posso despejá-la em cima dele. Fora que tenho medo dele mudar de ideia, dizer coisas ruins pra mim... — bebeu um gole. — Eu vou ficar muito mal se isso acontecer.
— E não fica mal o evitando?
— É péssimo de todo jeito.
— Então que seja péssimo após uma longa conversa sincera. Você deve isso a ele e a si mesmo, Jimin. Ainda que relembrar machuque, vocês precisam dessa conversa. É assim que vão se resolver e ver se o sentimento que tem vai aguentar. Se não, bola pra frente.
— Você tem razão.
— Então vai procurar o garoto?
— Sim.
Ia deixar Jungkook a par de tudo sobre si, também da necessidade do mesmo ficar fora da cidade por um tempo até que resolvesse o ápice de seus problemas. Quem sabe, depois disso, pudessem ficar juntos de verdade.
O cerejinha ainda estava chateado com seus pais, principalmente com Kwang, logo, não respondia a mensagens e nem aceitava ligações de casa. Também estava emburrado por Jimin deixá-lo de lado. E confuso sobre o que deveria fazer. Opções não faltavam mas temia escolher errado.
Deveria continuar ali? Voltar para casa, seguir as ordens dos pais como sempre fez, e ficar longe do vizinho para não correr os riscos que todo mundo ao seu redor temia? Desistir de Jimin, pegar as economias, pedir ajuda ao tio Seokjin para lhe mandar para os EUA o mais rápido e começar uma vida nova longe das pessoas de sua vida, dos problemas, de quebra correndo atrás de seu sonho? Ou insistir com o vizinho, ficando ao seu lado, sendo livre para ser e fazer o que quiser? A última parecia uma bela escolha mas o hyung estava disposto a tê-lo do seu lado? Aparentemente não, já que sumiu. Ele ao menos se importava consigo?
Mas Jimin devia ter uma boa explicação para ter se ausentado essa semana. Ia desculpar a falta que lhe fez caso dissesse a verdade. Porque acreditava amá-lo como ninguém. Ele é seu combo completo de sensações, emoções, além de ser um fofo consigo, atencioso, cuidadoso, safado, lindo, tudo de bom! Todavia, caberia nessa vida de cúmplice? Não conseguia afirmar já que mal sabia o que estava apoiando.
Foi tirado de seus devaneios quando a porta do quarto abriu. Deu um pulo, assustado, se sentando na cama e encarando a pessoa.
— Jimin-ssi? — exclamou com os olhos arregalados, surpreso visto que não o esperava. — O que faz aqui?
— Acho que precisamos conversar. — caminhou até o rapaz que notou suas olheiras, provavelmente não estava dormindo direito. Claro, havia se tornado dependente de Jungkook para tal feito. Sentou ao lado dele. — Tenho muito o que explicar, né?
— Tem mesmo. Está passando da hora de ser honesto comigo.
— Mas, você sabe, não é algo que eu tenha facilidade de lidar. É por isso que eu estive te evitando, me desculpe pela demora.
— Tudo bem, só diz tudo. Não aguento saber das coisas pela metade. E, antes que pergunte, comece do começo. — exigiu.
O homem assentiu.
Se sentia muito nervoso, é a primeira vez que contaria a história de sua vida, coisas que aconteceram as quais nunca conseguiu esquecer, com tantos detalhes para alguém. E esse alguém era justo quem estava gostando demais, que ligava para a opinião dele, então, ah, que momento difícil.
— Estamos no lado leste da cidade, mas eu vim do oeste.
Visualize uma casa de classe média com aparência de filme americano que tem cercas de madeira pintadas de branco e um belo jardim. Ela é regida por um pai ex-militar pulso firme, uma mãe professora que é um doce que faz tudo pelas suas crianças tanto da escola quanto de sua casa que tem um garoto adolescente e três garotinhas mais novas.
Pelo pai, as pequenas eram tratadas com muito zelo, mas o mais velho era injustiçado desde que se entendia como pessoa. Nada do que ele fazia estava bom, o homem era contra tudo o que ele dizia ou fazia, e detestava sua sexualidade. Não entendia esse "negócio de gostar de gente", dizia que o garoto não era panssexual e sim um devasso que queria foder com quaisquer, "um moleque que não sabia ser homem e honrar uma mulher de verdade". Nunca foi capaz de vê-lo como um bom filho como a matriarca, como o irmão atencioso das meninas, como o garoto inteligente e valente que era, sempre fazia questão de diminuí-lo, humilhá-lo.
Em algum momento esse garoto não suportou mais ser um exemplo e não bastar, fora receber bullying só por ser o filho "nerd" da professora. Se rebelou, largando os amigos certinhos da escola, passando a andar com os colegas fortes, mal falados, muito intimidades. Não os valentões covardes que lhe destratava, eram os que ninguém chegava perto por temer. Eles o influenciaram a fazer a primeira de muitas tatuagens.
Andando com os tais, sentia sua coragem sendo levada em consideração, se via como forte e era mais protegido. Mas não adiantava em um ponto: eles não estavam em casa quando aquele homem lhe batia.
Se ele não lhe aceitava como era antes, depois de sua mudança as coisas pioraram. Sua mãe e irmãs interferiam sempre que podiam, mas nem sempre estavam por perto já que tinham uma rotina cheia.
O garoto se sentia mal com tudo, achava que não pertencia aquele lugar. Ele só tinha dezesseis anos e já estava tão cansado, odiava tanto sua vida... Por ter acumulando muita raiva dentro de si e viver sobrecarregado, sua mãe sugeriu que praticasse boxe para descontar os sentimentos negativos e aprender a se defender.
Aprendeu, passou a desviar, depois correr para o quarto e se trancar, quase sempre funcionava. No entanto, não conseguia devolver, bater de volta porque, querendo ou não, era seu pai. Fora que não queria ser um covarde como ele, abusando da força para impor qualquer coisa.
Com o tempo, de tanto a mulher brigar com o homem pelos seus feitos que no início eram escondidos e aos poucos foram descobertos, ele parou as agressões. As físicas, pois sempre que tinha oportunidade feria o jovem com suas palavras. Este cada vez mais acumulava pensamentos ruins e sentia o ódio crescer lá no fundo do seu ser.
Fazer travessuras com seu grupo de amigos fortes, valentes e inconsequentes sempre foi um bom escape, era divertido e o deixava bem, mesmo que todo mundo o tratasse como um rebelde sem causa. Além disso, cuidar de suas irmãs era uma ótima terapia para seus nervosos. As amava mais que qualquer coisa, apesar de ter inveja delas serem tão especiais para seu pai, do jeito que nunca foi.
Era por elas e pela sua doce mãe que ainda estava li. Senão teria ido embora a tempos. Fugir sempre esteve em sua mente como um sonho.
Devido estar aprendendo ser intimidade e língua solta igual aos amigos, um dia perdeu toda a paciência, não se importou com nada e enfrentou seu pai.
— Foi a nossa pior briga. Pela primeira vez eu levantei a mão contra ele, eu o segurei pelo pescoço quando tentou me bater e disse que nunca mais deixaria que tocasse em mim. Eu o deixei sem ar e quando me dei conta que rendi a ira, o soltei e sai de casa. Mas ainda estava possesso, não contei a ele que havia vazamento de gás por puro ódio, pensando que se aquela casa explodisse, bem que ele podia morrer e ir para o inferno. — sorriu amargo. — Saí nervoso, sem notar que as outras da família estavam lá dentro. Também nem percebi a panela de pressão em cima do fogão...
Jungkook arregalou os olhos já imaginando o que viria a seguir, sentindo o coração apertar.
— Um erro fatal. — fechou os olhos, tendo as memórias ainda vividas em sua mente. — Quando escureceu e eu voltei para casa tudo estava em chamas, eu gritei pela minha família, tentei entrar lá, mas não deixaram. — os olhos estavam apertados, a agonia dominava sua voz. — E o pior era a culpa que eu sentia porque antes eu desejei que aquilo acontecesse. — lágrimas desceram pois relembrar aquilo, dizer em voz alta, doía pra caralho mesmo sabendo que, no fim, a culpa não havia realmente sido sua. — M-meu pai estava louco lá do lado de fora. Quando me viu, me xingou tanto, me bateu tanto enquanto chorava por não ter mais ninguém e por ouvir ele dizer que a culpa era minha, que eu não era um ser humano, que devia ter me matado antes porque sabia que eu ia desgraçar a família dele... Eu… Eu também desejei que ele tivesse feito isso porque, assim, aquele desastre não teria acontecido e as pessoas que eu mais amava iam estar bem, felizes e melhor: vivas.
Jungkook segurou as mãos dele, apertando, tentando lhe dar forças. Jimin fungou e, em busca de parar as lágrimas, piscou várias vezes, engolindo o choro para continuar.
— Meu pai não estava lúcido, ele gritava, dizia coisas desconexas, e após terminar de acabar comigo fiquei deitado no chão, todo ferrado. Só me esforcei em sentar e abrir os olhos quando alguém, provavelmente vizinhos curiosos que estavam ali, gritou. Então o vi terminando de entrar na casa em chamas. Por mais que ele tinha sido ruim comigo, ele era meu pai e o único ali presente, mas em poucos segundos... — negou, apertando a mão do rapaz, sentindo o peito doer por conta das lembranças. — Eu estava sozinho, desamparado e com uma dor fodidamente grande. Eu via aquele fogo, mais pessoas se acumulando por perto, enquanto morria por dentro. Até que não aguentei mais e sai correndo. A culpa era tão grande, o desespero ainda maior.
Jeon não percebeu que lágrimas desciam até vir um soluçar. Imaginar tudo o que o hyung tinha passado estava esmagando seu peito.
— Eu tive uma crise de ansiedade, mas consegui me recuperar. Não sabia para onde ia, o que faria, eu só queria morrer e quem sabe finalmente acabar com aquela culpa e agonia horrível.
Então ficou nas ruas por alguns dias, foram dias horríveis, não gostava de lembrar. Se sentia vazio por dentro, não só pela fome, mas pela grande perda. Não acreditava que ainda existiam emoções dentro de si, parecia ter se destroçado naquele maldito dia e só seu resto vagava por aí. Estava no fundo do poço, sabia muito bem disso. Não tinha foco, nem esperanças, mas seu corpo estava querendo sobreviver por isso cometia todos crimes por onde passava, como roubar o que bem quisesse seja para comer ou usar, e invadindo casas momentaneamente vazias para dormir. Nunca pensava nas consequências. Estava quebrado por dentro, sem nada, e não tinha solução. Apenas um vazio, muita dor e uma vontade de morrer... Todavia, não tinha coragem suficiente para concluir. Para piorar, todo dia ao fechar os olhos para dormir, revivia aquelas lembranças como se fossem a primeira vez.
— Aquele pesadelo nunca abandonou meus sonhos. Até hoje não consigo esquecer. — apertou as pálpebras por um momento. — A dor de perder minha família foi insuportável, ainda mais quando me sentia tão culpado.
— Está tudo bem se não quiser continuar. — disse baixinho, tentando controlar o choro.
— Eu preciso terminar.
Um tempo depois, um cara de aparência chamativa devido a beleza de seus detalhes, cabelo longo até os ombros, olhos penetrantes, boca bem desenhada assim como o maxilar, tendo um corpo fenomenal, cruzou seu caminho. Isso porque tentavam roubar o mesmo carro. O rapaz mais velho se apresentou como Han Yuki e fez um acordo, ele ficaria com o carro, em troca daria quinze mil a Jimin, mas para isso este teria que deixá-lo dirigir para longe dali, para fugir de uns encrenqueiros, e ir onde estava todo seu dinheiro.
Claro que desconfiou, só que ele era insistente e seus olhos e seu sorriso intensos, tão absurdamente lindos, convencia qualquer um a fazer qualquer coisa facilmente.
Han cumpriu com o combinado. Ao que Park deixou escapar que não tinha pra onde voltar, ele ofereceu que ficasse em seu apartamento por um tempo. Aceitou porque não queria voltar para as ruas. Entretanto, estranhou toda a ajuda e gentileza que passou a receber tão de repente de um desconhecido.
A intimidade foi crescendo, uma amizade logo foi formada. O mais novo não ligava com as coisas que o outro trabalhava, mesmo sendo ilegais. Este, o vendo usufruir bem do saco de pancadas que tinha na sala, disse que Jimin tinha talento, o convenceu a ser treinado e a trabalhar consigo.
— Yuki foi o meu primeiro amor. — sorriu fraco.
— Como ele era?
— Charmoso, chamava atenção por onde passava. Extrovertido, fazia amizade com todos, se deixasse até com os inimigos. Manipulador, ele ganhava tudo de mim quando olhava no fundo os meus olhos e sorria. Na verdade, todo mundo caia nesse truque barato dele. — riu, nostálgico. — Louco, se arriscava sem temer as consequências, não tinha medo de nada, corria todos os perigos existentes. Estar com ele era viver de adrenalina. E eu experimentei de tudo, vivi toda ostentação, luxúria e prazer do mundo. Foi com ele que fui à primeira orgia. Yuki não era adepto a sexo bunilha, fizemos muitas loucuras eróticas. Também não era fã de relacionamentos monogâmicos, então tínhamos outros parceiros. Depois trocávamos eles, quando eu via estávamos todos juntos, e no fim voltávamos a ficar só nos dois.
— Você tem uma foto dele? — estava curioso sobre esse cara.
A pergunta o fez lembrar de algo que guardou e ignorou nos últimos anos.
— Eu acho que tenho uma. — mexeu nos bolsos da calça, tirando a carteira, vendo um zíper que nunca abria para não doer seu coração. Lá estava a fotinha abandonada.
— Nossa, ele é realmente muito lindo.
— Por um momento, eu achei que nossa insanidade duraria para sempre. — pensou em voz alta, olhando o ser na foto, suspirando.
— O que aconteceu? — perguntou curioso, afinal, eles pareciam ser tão intensos juntos e se dar tão bem.
— Pra você entender melhor, devo continuar de onde parei. Estando ao seu lado, eu fazia parte da pior gangue da Coréia e a transformei em minha família. Pouco depois conhecio Chefe, ele estava por trás de tudo, e disse que eu deveria ser treinado por suas mãos devido minhas grandes habilidades. Com o que estava aprendendo através dele e de Han, eu tinha combustível. Eu me sentia vivo cometendo crimes, colocando minha vida em risco, sentindo a adrenalina correr nas minhas veias... Descontava os sentimentos ruins em missões que eles me passavam, em jogos, drogas, sexo, enfim, foi assim por quase dois anos. No meio disso, meu romance com Yuki foi longe, ele era incrível comigo, e comentei que tinha um piercing no pau?
— Não.
— Ele tinha. Foi por causa dele que eu coloquei o meu. — sorriu. — Infelizmente não tive a chance de usar junto. Ele… Ah, uns caras o pegaram e… — a tristeza tomou conta de sua face outra vez, Jungkook entendeu. — Sofri muito e acabei ficando bem frio com relação a me envolver emocionalmente de novo.
— Jiminnie…
Agora entendia o porquê do hyung não gostar de comédia romântica e finais felizes, dele nunca levar um de seus casos a sério. Fazia sentido a música Hey Jude o deixava nostálgico, sentimental, por ser a favorita de sua mãe. E agora entendeu o motivo de Heaven mexer tanto com seus sentimentos. Ele perdeu muitas pessoas importantes. Perdeu um amor. Não conseguia imaginar a dor que ele carregava. Seu corpo estava arrepiado de um jeito ruim e o coração muito apertado.
— Não precisa continuar se não quiser.
— Eu consigo terminar. — garantiu.
O Chefe continuou a lhe guiar, querendo Park o mais frio e calculista possível. Não se importava com sua vida, seus sentimentos, só com o trabalho eficiente que prestava. Ansiava que ele fosse perfeito e o rapaz sempre tentava ser, ainda mais depois de perder Han Yuki.
Fez o que estava ao seu alcance, focar 24/7 em ser um bom criminoso para evitar pensamentos e aquele vazio que tinha começado a aliviar mas com a partida de seu amor voltou com tudo.
Desejava estar estar no topo, mandando na porra toda, já que no momento era única meta que sentir estar no seu alcance. O que não via era que o desgraçado estava usando suas negatividades, o sangue que tinha nos olhos, ao seu favor.
Meses depois da morte de Han, descobriu uma carta. Ele contou que se aproximou de Jimin com a intenção de envolvê-lo e levá-lo para o seu lado perigoso, cheio de riscos. O Chefe lhe deu a missão de introduzi-lo naquele mundo. Estava cumprindo tudo de acordo, o encaminhando, até que se apaixonou. O perdoou pois ele, no fim, foi só um peão chantageado, obrigado a obedecer. E lá no envelope da estava a razão do chefão da máfia querer que um garoto órfão, desgraçado na vida, que ele mal conhecia, se tornasse o melhor e o substituísse futuramente…
— O filho da puta é meu verdadeiro pai.
— O que? — exclamou, incrédulo.
— No início do relacionamento minha mãe traiu o cara que eu acreditava ser meu pai e era por esse motivo que ele me odiava e fazia da minha vida um inferno. Eu era um bastardo desgraçado atrapalhando a vida da família dele. Não preciso dizer que enlouqueci quando soube, né? Meu ódio ficou imenso, ainda mais ao saber que aquele lixo foi o culpado da morte deles. Não foi minha culpa. Foi tudo obra dele. Já tinham consertado o vazamento de gás, minha família estava de boa em casa quando a gangue entrou e atirou em todo mundo, depois botaram fogo para o idiota aqui achar que foi culpado. — sorriu sem humor algum, Jungkook podia ver a mágoa e a ira ardendo em seus olhos. — O grande Chefão fez isso só para eu ficar perdido por aí e fácil de manipular. Só para poder pôr as garras em mim e me fazer entrar no crime sem ter nenhuma preocupação. Na mente dele, sem ninguém comigo, eu não corria o risco de ser um cara bonzinho, eu estava livre para cumprir o meu destino futuro substituto. Yuki… Ele foi tirado de mim de propósito também. O demônio sabia muito bem que ele fazia tudo por mim e eu por ele, passou a vê-lo como um problema desde que nos envolvemos, o meu ponto de fraqueza sendo que não aceitava que eu tivesse um. Quando Yuki tinha tudo pronto para me contar e fugir comigo, acabou sendo retirado do mapa. O desgraçado só não imaginava que houvesse uma carta deixada pra mim. E, mesmo possesso, eu atuei bem, fingi que não sabia de nada e fiz meu trabalho sujo perfeitamente. Via todos seus passos e artimanhas e sozinho planejava minha vingança. Tinha planos para acabar com ele, mas seria difícil porque eu estava mais endividado que tudo devido ao estilo de vida de ostentação que o Han e eu levávamos. Então eu passei a ajudar no contrabando, bolando ótimas estratégias com a minha inteligência, assim o negócio foi longe e eu recebi exageradamente por isso. Além dele ter ver cada vez mais orgulho de mim, me ver como o melhor, seu garoto de ouro. Foi assim que acabei com todas minhas dívidas e me tornei um dos grandões lá dentro.
— Meus pais disseram que você faz parte dos mocinhos também.
— Vou chegar lá. — afirmou.
Novamente se viu solitário, não confiava em ninguém que tentava aproximação, enquanto era consumido por ódio e desejo de vingança. Descontava tudo na bebida, sexos prazerosos que relaxam o corpo, de drogas manteve a maconha para aliviar os nervos pois lembrava de Han alertá-lo do vício nas outras ilícitas. Nesse tempo fez diversas tatuagens e colocou piercings só porque era divertido.
Vivia em função de encontrar prazer, coisas que fizessem esquecer de sua vida, seja de qual forma fosse. Enquanto isso, esperava apenas o momento que ficaria a sós com o Chefe para matá-lo lentamente com as suas próprias mãos. Todavia, todas as vezes que pensava dar certo, alguém interrompia.
Em determinado momento, na Nightclub, conheceu Kim Taehyung, que lembrava seu ex-amor por ser tão espontâneo e viver com um sorriso bonito nos lábios encantando a todos por onde passava. Ele colou em si, aparentemente confiou em Jimin ao ponto de dizer que era um agente disfarçado assim como Jihee, que na época era só uma adolescente. Claro que ele se manteve calado, não podia contar a eles nada que fazia e correr risco de ser pego.
Mas já sabiam. Isso porque foram enviados por alguém que nem fazia ideia existir: seu avô. Surpreendentemente, o pai do maldito que desgraçava sua vida.
Conhecê-lo através de Taehyung foi o ponto chave para sua mudança.
Bonhwa - se é que era seu nome verdadeiro - comandava junto de outras pessoas uma agência secreta de investigação e queria pegar o Chefe, que no passado foi um aluno seu e, infelizmente, pegou informações sigilosas, vendeu para o antigo comandante da máfia e depois batalhou para matá-lo tomando o lugar dele.
Seu avô não liga se a escória é seu filho, deseja cortar o mal pela raiz. Por isso fez uma proposta: irá limpar toda a barra suja de Jimin, se ele ajudá-lo a capturar o mafioso, seja vivo ou morto.
Ele lhe treinou também, deixou por dentro das altas tecnologias do SS - serviço secreto -, o fazendo ficar um passo à frente do desgraçado. Também ajudou a focar, diminuindo seu ódio e descontrole que podiam fazê-lo explodir a qualquer momento e por tudo a perder. Não podia, não pode pôr tudo a perder. Não é só uma vingança, aquele lixo prejudicou e ainda prejudica várias vidas.
Durante os últimos anos vem ganhando toda sua confiança, se sobressaindo nos trabalhos, ao que reune informações cruciais contra ele.
Precisava se manter afastado para não vacilar e parecer suspeito de alguma forma em algum instante. Logo, veio morar do outro lado da cidade, no bairro onde está seus servos não põe o pé visto que é dominado por homens da alta sociedade a favor da justiça que podem muito bem pagar para colocá-los facilmente na cadeia. O homem não deseja comprar brigas com quem consegue estar no mesmo patamar que o seu, mas é claro que quer saber seus podres caso viesse a conhecer algo, então Jimin era um informante perfeito.
Ele está agindo normalmente, dizendo passando algumas informações para deixar o Chefe distraído, naquela cidade mantendo sua pose descompromissada para ninguém desconfiar de suas segundas intenções e aproveitando para se divertir, aliviar os estresses, como sempre focado em ter prazer e esquecer seu passado por um tempo, aguardando o momento de fraqueza para atacar o maldito.
— Estamos agindo lento, com cautela para não ferrar com tudo, mas esse inferno está próximo de acabar. — suspirou, agora um pouco mais aliviado. Desabafar, no fim, não era tão ruim.
— É por tudo isso que você evita se envolver com as pessoas e tenta me deixar de fora.
— Eu tentei ficar afastado de todo mundo, evitar envolver alguém nessa, já que fiz o favor de desgraçar qualquer um que se aproximou de mim. Mas você apareceu e sempre foi diferente, não é? — sorriu. — Sabe... Meu coração foi quebrado e estraçalhado duas vezes por um único homem, ao qual eu anseio ver a morte todos os dias. Esse sempre foi meu propósito e eu sabia que ficaria perdido depois de ter minha vingança porque não me restaria mais nada. Só que agora... Sei lá... Tendo você eu penso ainda mais em fugir desse país e viver bem. Eu desejo ter uma vida normal ao seu lado. Mas não agora. Só quando tudo isso acabar. Não quero que se meta no meio dessa merda. É por isso que busquei ser o mais evasivo possível. Não quero que corra riscos. Eu tive um histórico de vida onde todo mundo que eu amava se foi, então tenho muito medo. Não quero que aconteça o mesmo com você. Eu te quero bem, ainda que isso signifique que precise ficar longe de mim. — foi sincero com ele e consigo mesmo.
— Eu não vou a lugar algum. — ditou com certeza absoluta, ainda mais depois dessa história. Jimin claramente precisava de apoio, do seu carinho, da sua bondade, para continuar bem.
— Você vai se afastar para não correr perigo. Para quando chegar o fim, eu poder correr para seus braços e fingir que tudo foi um pesadelo ruim.
— Mas, hyung, eu não quero sair do seu lado. — choramingou. — Não depois de saber o quanto está sofrendo.
— Sabia que você me agradou à primeira vista? — acariciou o rosto dele. — Eu ficava te observando da janela todos os dias, pensando o quanto eu desejava ter uma vida diferente, imaginando poder agir como um cara normal, te chamar para sair e todos aqueles clichês que você gosta. Mas eu não podia. E, depois que nos envolvermos, depois que notei estar apaixonando, eu secretamente pensei em partir seu coração para te afastar de mim. Mas eu sabia o quanto isso doía, então eu desisti. Além de que era muito divertido ficar contigo. Você é uma espécie de calmante. Achei que não teria muito problema te esconder tudo e ficar mais afastado, mas de todo jeito você se entregou pra valer, foi um maldito curioso se metendo onde não devia e ainda exigiu a verdade... Agora, por ser a pessoa mais especial pra mim, não posso deixar isso prosseguir. Me desculpe, Jeon. Eu não posso continuar com você. Não nesse instante. Não quero que se machuque, odiaria que te usassem contra mim e eu sei que farão. Quando for minha hora de agir, será uma disputa, uma matança horrível e eu não suportaria te ver no meio disso. Por essa razão, você tem que ir embora. Peço que me perdoe por não ter dito tudo antes, eu admito que não tinha coragem alguma. E eu gosto de você. De verdade. Foi tão repentino mas tão bom. Entretanto, temos que encarar a verdade. Eu preciso aceitar que não posso ficar com você.
Jungkook o abraçou fortemente, deixando mais lágrimas escaparem de seus olhos.
— Me chame de idiota ou o que for mas não vou me afastar. Quero você do meu lado. E se for para correr risco de morte, tudo bem, ao menos vou estar com você!
— Você não sabe o que está dizendo! — segurou seus ombros, afastando de si para encará-lo sério. — Você tem seus sonhos para conquistar, uma vida toda pela frente, Jungkook. Não quero te arrastar pra isso, nem te privar de ter uma boa vida. Também tem sua família, ela pode correr perigo. Não quero que perca ninguém, só eu sei o quanto dói, e quero muito menos que você morra por minha causa.
— Vai à merda, Jimin! — o empurrou, tirando as mãos dele de si. — Você sabe como eu vou me sentir se me deixar depois de ser sincero e ainda se declarar? O quão eu vou ficar mal estando longe, sabendo o quanto você está machucado e todo perigo que vai passar?
— Para de ser um teimoso! Não é hora de ser um garoto mimado, birrento e inconsequente! Estamos falando de algo sério aqui. Sua vida e sua família vem primeiro que eu. Não posso te deixar acabar com tudo o que eu não tive e desejo que você tenha. — segurou seu rosto. — Escuta, se isso tudo acabar bem, já que agora estamos em um momento crítico, e se eu sobreviver, ficaremos juntos. Eu prometo que vou te buscar no mesmo instante e podemos até fugir juntos pra onde você quiser.
— Se você...? Jiminnie… Não. — choramingou.
— Eu não posso te prometer mais que isso. Não nas condições que eu me encontro. Ouça, vou pedir passagens ao Seokjin. Ele já disse ao Bonhwa que concorda de mandar vocês para bem longe até isso acabar - antes que pergunte, ele é um dos meus superiores e foi punido por dar com a língua nos dentes para seus pais -. Ele vai escolher o destino, você vai entrar no avião, mesmo estando brigado com seu pai, e vai esperar o momento certo para ficarmos juntos. E não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. — foi firme, certo do que dizia.
— Eu vou. Só porque eu sei que você não vai desistir de me afastar. Mas meu coração vai ficar aqui.
— Oh, bebê. — o selou carinhoso, deixando suas testas coladas. — Vai dar tudo certo. Eu vou acabar com aquele filho da puta e então ficaremos juntos, ok? — era o que seu coração sendo esperançoso dizia.
— Tome cuidado. E se mantenha vivo. E não demore a me buscar!
— Vou fazer o meu melhor. — o abraçou, lhe dando beijos por todo rosto, cheio de afeto, finalmente se permitindo aproveitar de todo aquele sentimento ao menos naquela hora.
— Ah, e só para você saber… Eu também gosto muito de você, hyung. De verdade. — falou, olhando nos olhos dele.
O homem sorriu largamente, de seu jeito adorável, sentindo o coração bater rápido. Imaginava que nunca alguém gostaria de si, não sendo quem era, tendo o passado que tinha, mas ali estava Jungkook sendo diferente e único. Pela primeira vez acreditou que, depois de anos, tinha ganho algo bom em sua vida, que era o garoto e todo o sentimento nutrido por ele.
Já o jovem, depois de ter as declarações e ver o quanto o hyung se preocupava consigo, teve a certeza de que realmente era diferente na vida dele, também que sua forte paixão era recíproca independente se havia sido rápida demais ou na circunstância nada convencional que ela surgiu e se encontrava.
Porém, mais tarde ambos iam descobrir que ela não era o suficiente.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top