04. Recompensa

 Capítulo 4 - Recompensa

Naquela noite, Jungkook demorou a dormir. Estava com a mente cheia demais. Cheia de Park Jimin. Ficou horas imaginando quem ele poderia ser de verdade, qual sua personalidade por baixo daquela prepotência e provocações, seus gostos e sonhos. Talvez ele fosse mesmo um fora da lei, um cara sem moral, sem escrúpulos e sem futuro. Mas e se ele fosse mais que isso, assim como mostrou ser bem melhor do que imaginava? 

Não dormiu direito tanto por conta desses questionamentos quanto pela lembrança quente e vívida daqueles toques em seu corpo, dos lábios carnudos... A boca do vizinho era muito charmosa e parecia apetitosa. Ah, queria muito beijá-la. Chegou a sonhar com o selo que recebeu sendo aprofundado, a língua com piercing tocando a sua. Mas acordou às sete e meia com o despertador e seguiu a rotina.

Arrumava seu café da manhã quando a campainha tocou, lhe assustando pois não esperava que ela fosse soar ainda mais a esse horário. Caminhou até a porta, se surpreendendo ao abrir e deparar com o vizinho. Ele trajava uma camiseta, uma bermuda, sandálias e no rosto um óculos de sol. Quanto charme! Mas o que ele estava fazendo ali, a essas horas? 

— O que...? — murmurou ao vê-lo passar por si, adentrando sua casa sem permissão.

— O que está comendo aí? — o abusado pegou a tigela, mexendo a colher e analisando o conteúdo. — Como consegue comer isso? — demonstrou uma careta desgostosa.

— Meu sucrilhos com iogurte é muito gostoso se você quer saber. Além disso, tem um valor sentimental, eu me lembro da minha infância e me sinto feliz. — resmungou, ofendido por ele aparentemente achar nojento.

— Oh, que fofo. — apertou sua bochecha, sorrindo sarcástico. Que fofo só para ele porque para Jungkook era uma vergonha. Talvez tenha corado. Já Jimin, curioso, pegou a colher cheia e levou a boca. — É comestível... Uhm... De fato parece comida de criança. — concluiu, devolvendo. 

“Bela maneira de chamar atenção da paquera”, pensou o dongsaeng. Pigarreou, resolvendo mudar o assunto.

— Por que está aqui? — perguntou, vendo o azulzinho passar os olhos em cada centímetro da residência e por fim se jogar no sofá da sala de estar com toda sua folga.

— Esperando você terminar seu café pois quero companhia. Meu Deus, que TV, hein? — soou admirado ao ligá-la e ver o quanto a imagem era ampla, clara e bem colorida. 

— Por que eu? — eles mal se conheciam e pelo o que sabia Jimin não misturava seus focos de desejos sexuais com sua vida particular. 

— Porque eu gostei de você. — o jovem não conseguiu conter a risada de deboche.

— Conta outra, Park. — fechou a porta, caminhando até a cozinha, terminando de tomar seu café. 

O vizinho logo apareceu por ali.

— É sério. Tem algo em você que me deixa… Intrigado. E como estamos naquele lance — eles tinham algo? Um lance? Sério? — Pensei que pudesse me acompanhar até o estúdio hoje.

— Que estúdio?

— De tatuagem. — aproveitaria para fazê-lo sentir que o conhece e para dar um empurrão pois se Jungkook visse o quão tranquilo é, poderia se soltar e, se tivesse o interesse que pressentiu, fazer alguma.

Seus olhos arregalaram e ele quase se engasgou com o que comia.

— Outra?

— Quanto mais, melhor. — sorriu confiante.

— Sinto muito. Tenho que trabalhar. — querendo ou não, não podia esquecer de suas obrigações. Até porque eram elas que determinariam o estágio ao qual estava de olho. 

— Que porra. Você não cansa de ser o sr. Certinho? — às vezes, porém, ser assim trazia o orgulho dos pais e a aceitação da sociedade, coisa que Jimin claramente não deve saber já que aparentemente é todo ilegal.

— E você não cansa de ser o sr. Erro? — provocou de volta, recebendo um sorriso cínico.

— Pelo menos eu sou e faço tudo o que quero.

— Eu também. — o homem se aproximou, ficando quase colado ao corpo dele, o encarando fixamente.

— Tem certeza, Jeon? 

Ele não podia olhá-lo assim, tão intimidador e sedutor. 

— Tenho. — disse ao desviar o olhar.

— Você não me olhou nos olhos e pelo o que falamos ontem, vi que faz todos os desejos dos seus pais. É para garantir recompensa, não é? Eu sei que você é o típico filhinho de papai. Como quer que eu acredite em você, tendo essas provas contra sua palavra? — perguntou com a sobrancelha erguida, o desafiando com seu olhar.

— Eu realmente tenho que ir pra oficina. — desconversou, afastando, deixando a tigela na pia e pegando o celular que estava em cima da mesa, ignorando aquele maldito sorrisinho de lado vencedor que surgiu nos lábios volumosos. — Você vem ou prefere morar na minha casa?

— Não me incomodaria morar nesse quase palácio, mas não vou ficar. Tenho algo mais interessante a fazer. E prefiro que vá junto. — o seguiu até a porta. — Tem certeza que não quer matar trabalho? Só hoje? Fugir dessa sua rotina monótona e fazer algo divertido não parece bom? 

— Não é a melhor escolha a se tomar. — disse mais para si mesmo do que para o azulzinho.

— Eu não sou de sair com as pessoas e estou abrindo uma brecha. Você bem que podia aproveitar, não? 

Agora ele lhe pegou. Isso é fato, fora que tinha uma aposta pendente e essa seria uma oportunidade de saber mais do misterioso Park Jimin ao qual conhece só por fofocas.Tinha que continuar o mais próximo possível enquanto ele demonstrava querer antes que desistisse de si por ser um garotinho certinho e careta.

— Só um minuto. — pegou o celular, enviando uma mensagem a Namjoon dizendo que não se sentia bem, por isso não ia comparecer.

E em poucos minutos estava subindo na moto potente do vizinho, circulando a cintura dele com os braços, orando para os deuses não permitirem que se arrependesse dessa decisão.

=🏍=

Jungkook tentava não ser alguém fácil de se deixar influenciar, mas na maioria das vezes acabava se deixando levar. Ali estava ele vendo Jimin, aos poucos, ganhando mais traços em sua pele e se sentindo tentado a também fazer uma tatuagem. Afinal, estava matando sua curiosidade, vendo que não devia temer pois era algo simples e tranquilo de se fazer - desde que fosse com um profissional.

Na verdade, pensou em fazer nem era tanto pela influência e sim pela descoberta de que apreciava esse tipo de arte, só que sabia que seus pais eram contra tal coisa mal vista pela sociedade. Logo, reprimia sua vontade por causa disso. E precisava continuar firme se quisesse mesmo ter a chance de ir para os EUA.

— Tem certeza que não quer fazer uma depois que eu terminar? — perguntou o tatuador ao qual não lembrava o nome mas que era simpático.

— Querer não é poder. — murmurou.

Observando Jimin, sentia seus desejos secretos, queria poder eternizar algo importante em seu corpo e colocar um piercing ou outro na orelha e até pintar o cabelo, no entanto, seus pais colocaram em sua mente ser absurdo. Tudo porque queriam um filho dentro dos padrões, nada de aparentar ser rebelde ou um delinquente qualquer. Para eles, o estilo, o exterior de alguém, ditava caráter. 

— Ele é o típico bebê mimado que nunca desobedece ou quebra regras. — disse Park, sorrindo sarcástico. Nem parecia se incomodar com as picadas das agulhas em sua pele. Com certeza já era acostumado.

— E o que esse bom moço está fazendo andando com um renegado como você? — perguntou curioso, um tanto debochado. 

"Renegado? Ele foi jogado para fora da família ou algo do tipo?", Jeon se questionou. Mal sabendo que nem família ele tinha mais.

— Aprendendo a como se divertir, eu espero. 

— Faz sentido.

— Para de se achar, Jimin-ssi. — resmungou, recebendo uma gargalhada cínica.

Observou com mais atenção as agulhas espetando a pele e depositando a tinta sobre o desenho escolhido que ia aos poucos ganhando cor e formato.

— Não dói? — perguntou, curioso.

— Não, bebê. É só uma picadinha.

— Ora, Jimin. Para de tentar se fazer de fortão na frente do garoto.

— Não estou. Eu me acostumei a sentir dor. — deu de ombros.

— Você que nunca fez pode ser mais sensível. No fim, é relativo. Depende de pessoa para pessoa.

— Ah… Entendi.

— Então...? — o tatuador pareceu esperançoso, ansiando fazer mais um trabalho.

— Passo. 

— Eu falei. — disse Park para o homem.

Nos minutos que seguiram, o rapaz continuou achando aquele afazer interessante enquanto os dois conversavam sobre coisas banais e ele raramente dava algum palpite. De repente, o celular do vizinho tocou, bem no meio do processo.

— Alô... Ah, fala sério! Agora?... Sim, vou ver o que posso fazer... Tá... Eu já entendi, cara! Tchau!

— Quem era? — perguntou, não contendo a curiosidade.

— Trabalho. Preciso ir. Podemos terminar depois, John? — o cara deu de ombros, fazendo o que devia fazer para poder liberá-lo. 

Jimin parecia com pressa então assim que tudo terminou puxou o acompanhante rumo à saída.

— Não sabia que você trabalhava. — não conteve o comentário.

— Eu tenho alguns trabalhos por aí. — disse evasivo, colocando o capacete nele. 

Jungkook sabia como arrumar, mas não o impediu porque achava bom observá-lo de perto, afinal, seu rosto másculo é muito atraente, tem uma beleza única. Talvez por isso, chamava atenção de todos.

— Você me fez perder um dia de trabalho para fazer a metade de uma caveira e ir trabalhar? — perguntou meio indignado, mesmo que tenha gostado de ir no estúdio com ele e ver como aquilo funcionava.

— Não estava nos meus planos, mas eu preciso ir. Vou te deixar em casa e mais tarde prometo te recompensar, bebê mimado. — ditou provocante, com a sombra de um sorriso, terminando de colocar o capacete em si e montando na Harley.

Jeon não foi contra a isso, ainda que o apelidinho tenha lhe feito bufar. No entanto, não era lá uma mentira. Park era um bom observador e estava certo em tudo o que dizia sobre si, ficava incomodando justo por ouvir as verdades, porém ia se acostumar. Até porque ouvir sinceridades era bom e esse parecia ser o jeito dele.

Se agarrou a ele quando sentiu a moto arrancar, sentindo o corpo bem trabalhado e quente, retornando a sua casa onde dormiu até a hora do almoço. 

Passou o resto do dia tentando não pensar no vizinho, o que era difícil já que estava com inúmeros questionamentos em mente. Por que ele veio até si? Isso era novidade. E com que ele poderia trabalhar? Talvez, por algum milagre supremo, estivesse interessado de verdade em si. Já sobre o emprego... Jimin não tinha jeito de quem fazia trabalhos sérios. Ou será que estava sendo preconceituoso como seus pais? Mas não dizia pela aparência e sim porque ele passava muito tempo à toa, fazendo merdas por aí, então que local sério o contrataria? Como tinha tempo para trabalhar? Quem sabe a pessoa fosse tranquila demais e aceitasse todo tipo de gente. Ou então tal emprego se encaixa na personalidade aparentemente insana que o azulzinho tinha.

À noite, ao sair do banho, se vestiu e pegou o celular, deparando com uma mensagem no grupo composto por ele, Yoongi e Hoseok. 

|Hobi: Kookie, você está bem?

|Kook: Tudo ótimo, e vocês?

|Yoon: Estamos bem. Por que faltou?

|Kook: Park Jimin foi fazer outra tatuagem e quis que eu fosse junto. Dessa vez é uma caveira no braço direito, não é muito grande, só mais uma para a coleção.

|Yoon: NÃO ACREDITO! Vocês estão tão íntimos assim?

|Kook: Talvez hehe

|Hobi: Apenas não se esqueça da aposta. E que Jimin nunca quer nada a sério. Tente não se iludir, por favor

|Kook: Não vou. Boa noite ^-^

A aposta... Uma parte de si acreditava que ia conseguir transar com o vizinho, afinal, tinha curiosidade sobre como seria transar com um homem, com ele que parecia ter uma rola de ouro e uma bunda de diamante que diziam ser intocável. Pensava ser fácil fazê-lo ser o passivo da relação. Porém, a outra parte, dizia que tudo poderia dar errado. E, depois de ontem, quando ele lhe fez perder toda a razão apenas com poucos toques, passou a crer que se o maldito pedisse quem ficaria de quatro no mesmo instante era ele. 

Não o julguem, Park é muito bom no que faz, mesmo que Jeon tenha provado pouco já conseguia ter essa perfeita concepção. Então tinha que se agarrar na sorte dele preferir ser comido. Todavia, lá no fundo, nem ligava tanto pra isso. Seria uma experiência gostosa de qualquer jeito. Foda-se se ganharia ou perderia aquele desafio desde que conseguisse sentir todo tesão e prazer possíveis.

A campainha tocou, lhe tirando dos devaneios. Saiu do quarto e desceu as escadas, já imaginando quem seria.

— Posso entrar? — dessa vez Jimin perguntou. 

Devia dizer que ele estava muito charmoso com aqueles sapatos lustrosos, uma calça preta apertadinha, uma camisa social azul escura com as mangas puxadas até os cotovelos e os primeiros botões abertos mostrando um pouco do peitoral - deixando mais tattoos à mostra - e o cabelo repartido no meio de um jeito que o deixava ainda mais sensual. O perfume que usava também era maravilhoso. 

Onde será que ia? Não acreditava que tivesse se produzido tanto só pra vir lhe ver, isso seria um exagero.

Assentiu, dando passagem. O azulzinho entra, ficando na sala de estar, usando seu atrevimento para reclinar o sofá de couro e deitar nele. Folgado. 

— Então...?

— Ia sair com meu amigo, mas ele furou.

— Amigo? — estreitou os olhos. — Só amigo? — perguntou querendo saber quem era o dito cujo, se poderia estar sendo único no momento ou só mais um passageiro enquanto ele continuava a pegar geral. Mas talvez estivesse sendo precipitado. 

— Por que? Você tem ciúmes? — sorriu ladino, soando provocante. 

— Só curiosidade. Aliás, o que faz aqui, exatamente?

— Sanando sua curiosidade, é o Taehyung, um dos meus melhores amigos. E eu estou aqui porque pensei onde poderia passar uma boa noite e sua casa me veio à mente. Fora que prometi te recompensar. 

— Bom saber que só sirvo para passar a noite em casa. — deixou o corpo cair ao seu lado.

— Awn, tadinho do bebê. — ele faz  bico dramático. — Eu poderia te chamar para sair, mas você não vai gostar de frequentar os tipos de lugares que vou.

— Como sabe? — cruzou os braços.

— É óbvio. Você é certinho demais pra isso. 

Assim Jungkook se sentia desafiado.

— Eu quero ir.

— Sem chances. Está muito melhor aqui.

— Não está. 

— Mas vai ficar. — aproximou, deixando suas bocas a centímetros uma da outra, trazendo junto uma tensão.

Jungkook não conseguiu controlar, deixou os olhos caírem nos lábios cheinhos, tão chamativos… Sentia como se tivesse um imã entre eles que o obrigava a se aproximar. Jimin parece partilhar da mesma sensação então o dongsaeng acredita que será beijado. Mas o maldito se afasta com o controle na mão. Era só isso que ele queria? Pegar o controle que estava atrás de si? Agora sentiu o dobro de frustração! 

Não era bobo. Sabia bem como eram festas ilegais, seus amigos iam desde novinhos e sempre lhe arrastavam mesmo que só para vê-los dançarem, não era nada demais em sua visão. Ainda que não concordasse com o que rolava dentro de tais locais e sequer contasse aos pais. Por que Park não queria levá-lo? Achava que Jeon era mesmo um bebê ou tinha algo a mais por trás disso? Mas o principal incômodo na verdade era: por que ele não lhe beija logo? 

— Jimin-ssi... — chamou, soando manhoso e quase se bateu por isso. O canalha deu um sorriso malicioso que, com certeza, só ele tinha.

— Agora não, bebê. Vamos assistir a esse filminho. — apontou para a enorme TV. E Jungkook só concordou porque era Simplesmente Acontece. 

— Você já viu esse filme? — questionou diante da ação do garoto de murmurar algumas das falas.

— Várias vezes. É o meu preferido. — sorriu.

Então ficaram em um silêncio confortável, focados nas cenas do filme até ele chegar ao final.

— O que achou sr. Bad boy? — se virou para ele.

— Bad boy? — questionou com uma expressão divertida, Jeon apenas deu de ombros. — Apesar de ser um filme romântico foi engraçado e surpreendente, não teve muito clichê também, então foi legalzinho. Não que eu vá repetir.

— Eu entendi certo? Você não gosta de romance, nem de clichês? — ele negou, o deixando indignado. — Mas são as melhores coisas que existem!

— Não é real.

— Ao menos faz a gente ter esperanças de ter um final feliz, buscar o amor verdadeiro mesmo que quebramos a cara, flutuar num mundo de sonhos e...

— Eu estou muito longe de querer ficar perto das nuvens e flutuar nisso, Jungkook. — o cortou, soando rude. 

Pelo visto, nada de falar dessas coisas com Park Jimin. Não soube porque estava insistindo nisso de qualquer maneira. Ele é mesmo um bad boy e, como um, é natural detestar romances ou coisas do tipo. Então por que diabos se sentia frustrado? Queria que ele abrisse uma exceção para si como estava fazendo, mas sobre tudo? "Sou um bobo fácil de cair em ilusões mesmo", pensou. 

O hyung não gostou de sua expressão.

— Foi mal, vai. Eu só não consigo ver o lado bom das coisas e sonhar não faz parte de mim.

— Tudo bem. — por mais que ele tenha suavizado o tom, o rapaz continuou tenso. — Sou só eu quem gosto dessas coisas que a maioria dos caras consideram "de mulherzinha".

— Não tem problema. Cada um gosta do que gosta, Jeon. Eu por exemplo prefiro filmes sem muito enredo e coisas bonitinhas. Deixa eu te mostrar. — zapeou os canais, entrando num proibido. 

"Não, não, não! Isso será desconfortável!", pensou Jungkook.

— Não acho uma boa ideia você colocar nessas coisas... — tentou argumentar.

— Que é? É tão certinho ao ponto de nunca ter visto um pornô na vida? — provocou.

— Claro que não.

— Então aproveita. — ergueu a sobrancelha, sorrindo desafiador.

Jungkook estava tenso, ansioso, e curioso imaginando as intenções alheias. Era como se inconscientemente esperasse Jimin lhe beijar e tocar como nas cenas que surgiram à sua frente. Mas o vizinho não fazia nada. 

Em todos os minutos que passaram, o moreno segurou bastante para não tomar nenhuma atitude, pois seu vizinho era uma caixinha de surpresas. Ou melhor, parecia um gato. Essa era uma boa comparação porque os gatos têm limites, são misteriosos e complexos, não sabia lidar com gatos e tinha medo de agir e assustá-los, causando afastamento. 

Todavia, a vontade de experimentar seu beijo estava lhe consumindo desde a noite anterior. Era até ridículo a forma com que esse cretino era tão sedutor e estava lhe deixando com um desejo a qual não esperava mas não podia dizer que desgostava.

De repente, ele passa o braço por trás de si, lhe puxando pelo ombro para mais perto e, mesmo tenso, Jungkook mantém uma cara de falso tédio enquanto olhava a mulher chupando o homem descaradamente na tela de sua TV.

— Acho que esse filme não atrai sua atenção por ser comum. Vamos mudar.

Então o safado colocou um pornô gay bastante envolvente. Estava fazendo de propósito e o rapaz não conseguia evitar a admiração com certas cenas diferentes que nunca tinha visto antes, se sentindo curioso em como seria as sensações de, por exemplo, ter o cu chupado. Merda. Agora estava excitado.

— Jungkook. — o chamou baixinho, apertando seu ombro minimamente. O tal lhe encarou percebendo que estavam perto demais. — Que tesão te ver assim.

— A-assim como? — tentava prestar atenção nos olhos felinos mas era difícil não desviar para os lábios.

— Todo excitado, corado, com esses olhinhos maiores que o comum e essa boca gostosa entreaberta. — ditou num tom um tanto rouco, sedutor, deslizando os dedos pelo maxilar alheio e o segurando, curvando para cima dele e, finalmente, colando seus lábios.

"Caralho!", a mente do jovem berrou. Seu coração estava acelerado mas tentava não prestar atenção, focando em mover junto do hyung. 

A língua dele explorava a cavidade, para encontrar a sua, passando a brincar em um enrosco sensual. Jeon correspondeu necessitado, sentindo o piercing lhe acariciar, e as mãos alheias entrarem em ação. A que estava em seu rosto, encontrou a outra em seu peito e deslizou para baixo, puxando a calça larga de moletom cinza.

— Que garotinho levado. — sorriu sacana, notando outra vez que ele estava sem cueca.

Jungkook franziu o cenho, gemendo mudo ao sentir os dedos segurar seu pau firmemente passando a estimular. Tentou retomar o beijo, todo sedento, mas o canalha se afastou. 

— Hora de te recompensar. Qualquer coisa, me pare. — sob o olhar atento e curioso, não demorou a se acomodar devidamente entre pernas longas e torneadas.

O dono delas soltou um grunhido ao sentir aquela língua quente, macia e molhada, junto do piercing passar por todo seu comprimento. E estremeceu, choramingando, ao senti-lo rodear a glande sensível e sugar enquanto acariciava suas coxas.

Park não demorou a descer, chupando o falo para valer, mantendo um ritmo rápido, ousando aprofundar cada vez mais em sua garganta. "Ah, que gostoso. Ele chupa tão bem!", era apenas isso que passava pela mente de Jeon que mordia os lábios para não gemer perante as sensações tão deleitosas do boquete.

Da última vez que recebeu um tão bom foi quando namorava, mas depois de meses de prática. Eles eram inexperientes, afinal. Já Jimin sabia muito bem o que fazer e como fazer, de primeira captou o jeito que mexia com sua sanidade e o deixava de pernas bambas. 

Seu quadril passou a se mover sozinho em busca de continuar a receber prazer, percebeu que ele não se importava então arfou, levando a mão para a cabeça dele, entrelaçando os dedos nos fios azuis e puxando ao que fodia aquela boca gostosa.

Às vezes o vizinho se afastava para retomar fôlego, nisso o encarava com toda malícia no olhar e lambia o comprimento, passando o piercing lentamente pela cabecinha, o sentindo pulsar em sua mão. 

Dessa vez, após utilizar dos movimentos intensos e afastar de novo, o punhetou com uma mão enquanto brincava com a língua, arrastando o piercing, nos testículos sensíveis que, porra, eram sensíveis para cacete!

— Oh! — suas pernas ameaçaram se fechar, mas Jimin as segurou no lugar e continuou a mover a língua. 

Jungkook estremecia, resmungando coisas inadiáveis, sem sentido, ao que sentia e tentava acostumar com a sensação nova que no fundo era boa. Muito boa para enlouquecê-lo.

Sentindo o rapaz pulsar cada vez mais, voltou a chupar, sentindo na língua o pré-gozo, se empenhando então em fazê-lo gozar com os movimentos ligeiros e que tocavam sua garganta. 

Em meio a isso, ainda que estivesse com os olhos cerrados, às vezes se fechando, Jeon notou que o cretino estava se tocando pelo movimento que fazia com a mão que sumiu de sua coxa. Rolou os olhos, pensando no tesão e prazer que o homem estava sentindo e nas coisas boaa que estava lhe causando. Não suportou por tanto tempo a mais, gemeu, latejando sobre a língua alheia, com seu corpo sentindo espasmos, e liberando seu gozo que foi engolido. 

Não que Park fizesse isso com todo mundo - ainda que deitasse com muita gente, sempre se prevenia contra DST's - a questão é que sabia que com aquele garoto podia baixar a guarda. Tinha todas as informações necessárias sobre ele.

Jungkook gemeu de novo, de olhos fechados, quando sentiu o homem juntar o pau no seu e continuou os movimentos, prolongando suas sensações de deleite ao que buscava o próprio ápice.

— Jimin-ssi... — a voz saiu rouca e dengosa, suas pernas formigavam.

— Ah — soltou o ar que havia prendido, pulsando, e grunhindo ao atingir o limite, melando o moreno com sua porra.

Após se sentir já recuperado, o dono da casa se levantou, foi ao banheiro, voltando limpo e vestido. O mais velho já estava vestido, assim como si, e se encontrava espalhado no sofá. 

O acompanhou, deitando ao seu lado.

— Vamos ver mais filmes? — ele lhe encarou com uma expressão maliciosa. — Não desse tipo, seu safado!

— Que seja.

— Eu escolho. Você tem muito o que aprender com as minhas comédias românticas. — disse com uma expressão sapeca, um tanto adorável. O hyung desviou os olhos, focando na tela.

— Como Perder Um Homem Em Dez Dias? — leu o título.

— Acho que você vai gostar. Mas, antes, vamos comigo até a cozinha buscar minhas melhores companhias para filmes: salgadinhos e doces.

— Não precisa pedir duas vezes. Se bem que deixarei os doces para você.

— Que atencioso. — debochou, mas deu para perceber que ele estava negando por não gostar.

Até que estavam criando uma boa intimidade, considerando que se aproximaram a apenas um dia. Jungkook não sabia explicar como isso era possível ou como era exatamente aquele sentimento de liberdade que apossou de si desde que entrou em contato com Jimin, mas afirmava ser ótimo e fundamental para que continuasse levando as coisas adiante sem estresse.

Devoraram as delícias enquanto viam o filme na magnífica TV 110 polegadas. O rapaz ficou expondo os pontos positivos durante ele, de certa forma influenciando o vizinho a concordar consigo. 

No final, Jimin gostou. Mais do que o favorito de Jungkook para falar a verdade. Agora eles estavam comentando sobre.

— Achei bem engraçado esses dois.

— Em qual parte? — perguntou, sorridente.

— Em várias, mas estou falando sobre a aposta. — só dele dizer esse nome o interior de Jeon gelou. — Não foi ridículo eles ficarem magoados?

— Não acho. Eles estavam apaixonados e se decepcionaram com a atitude do outro.

— Mas não faz sentido. Os dois se aproximaram por uma aposta que ambos fizeram, se apaixonaram, ok. Depois descobriram que o outro apostou algo em benefício próprio, ok também. Não tem porque surtar. É muita hipocrisia cobrar algo sendo que você também fez, não acha? 

Por um instante, o jovem se perguntou se aquilo poderia estar acontecendo entre eles, pois isso explicaria porque o vizinho galinha havia se aproximado tão ligeiramente e estava lhe conquistando dessa forma inexplicável e inesperada. Mas preferiu acreditar que não, puff, seria muito coincidência. Então pediu aos deuses para que Jimin, quando descobrisse, não se decepcionar ao ver o quanto ele era imaturo ao ponto de apostar uma posição na cama.

— É. Eu concordo com você.

Iniciaram outro filme. Dessa vez foi de terror que se provou genérico, acabaram dormindo na metade.

De repente, o Jungkook acordou assustado com o sofá mexendo sem parar. Estranhando, abriu os olhos, notando que era Jimin. Ele suava e não parava de gemer sofrido, de chorar, estava tendo um pesadelo horrível pelo jeito. 

Sentiu o peito apertado e ao mesmo tempo o coração a mil por conta da situação. O que devia fazer? Acordá-lo ou deixá-lo acordar sozinho? Preferia a primeira opção, pois ele parecia estar agoniado demais.

— Park, acorda. É só um pesadelo. Jimin! — ditou alto então ele deu um pulo assustado, parecendo perdido por um instante, mas logo encarou Jeon com os olhos vermelhos, inchados e cheios de lágrimas.

Sua expressão demonstrava confusão e desespero, era de partir o coração. O moreno não pensou mais, apenas lhe abraçou, o aconchegando em seu peito. Para sua surpresa, ele correspondeu, continuando a chorar e a tremer, sentindo toda a merda de sentimentos ruins invadirem seu peito como de costume.

— Foi só um pesadelo. Fica calmo, está bem? Você está aqui comigo, não tem nada te fazendo mal. 

— N-não... Não é só um pesadelo. — soluçou, abalado pelas lembranças. — Foi muito real. 

O garoto nunca viu alguém tão vulnerável assim, do mesmo modo como nunca pensou em ver justo Park Jimin dessa maneira.

— Relaxa, Jiminnie. — soou carinhoso, tentando acalmá-loo. O mesmo fechou a expressão, estranhando o apelido repentino. — Foi só um sonho ruim. 

Eles permanecem assim por minutos até que Jungkook o convenceu a tirar aquela roupa que parecia incomodar e ir deitar na cama consigo.

— Vamos tentar dormir de novo, vem. — o puxou para seu peitoral, afagando os fios coloridos e sedosos.

— Eu não vou conseguir. — apertou os olhos, segurando o choro e aquela ruindade no peito.

— Vai sim. Só... Relaxa. 

Por um ato de impulso, começou a cantar baixinho para acalmá-lo e fazê-lo dormir, exatamente como fazia com Megan, sua irmã, quando a mesma era pequena e tinha sonhos ruins. Aliás, usou a música favorita dela.

Hey, Jude, don't make it bad
(Hey, Jude, não fique mal)

— Jungkook, não dá.

— Shh… — pediu para que ficasse caladinho. — Só fecha os olhos e foca na minha voz. Eu estou aqui com você. Nada de ruim vai acontecer.

Take a sad song and make it better
(Pegue uma canção triste e torne-a melhor)

Remember to let her into your heart
(Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração)

Then you can start to make it better
(Então você pode começar a melhorar as coisas)

Jimin se aquietou, prestando atenção, conhecia aquela música de algum lugar pois a letra estava em sua mente ainda que não soubesse muito bem inglês. Mas, de onde? Forçou a memória. Oh, sua mãe adorava ela! Era Hey Jude de The Beatles.

Hey, Jude, don't be afraid
(Hey, Jude, não tenha medo)

You were made to go out and get her
(Você foi feito para ir lá e conquistá-la)

The minute you let her under your skin
(O minuto que você deixá-la debaixo de sua pele)

Then you begin to make it better
(Então você pode começar a melhorar as coisas)

Aos poucos foi acalmando os ânimos, ainda que uma saudade imensa gritasse e apertasse seu coração.

And anytime you feel the pain
(E qualquer vez que você sentir dor)

Hey, Jude, refrain
(Hey, Jude, vá com calma)

Don't carry the world upon your shoulders
(Não carregue o mundo nos seus ombros)

Com aquela voz doce cantando toda a música para si, seu corpo ficou leve, seus olhos fecharam e de repente estava dormindo calmamente. 

Agora quem não conseguia dormir era Jungkook. O que será que aconteceu de tão ruim nesse pesadelo? Será que eram lembranças perturbadoras ou até traumas do passado? Só sabia que Jimin parecia uma criança apavorada e, seja lá o que for, tomara que não se repita.

Enfim, acabou viajando bastante em meio aos pensamentos cheios de perguntas e suposições até que caiu no sono também.

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