01. Um mês de férias

BEM VINDES À MEU VIZINHO!

Leiam o capítulo avisos antes de começar. Obrigada ❤️

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Capítulo 1 - Um mês de férias

Janeiro de 2018, Busan, Coréia do Sul 

Em um bairro nobre, dentro de uma casa luxuosa, se encontrava Jeon Jungkook, um jovem de recém dezoito anos, mimado e muito bem sustentado por seus pais.

Ele repousava sobre um espaçoso sofá de couro preto e reclinável na sala de sua enorme residência e jogava vídeo game em sua nova televisão de 110 polegadas a qual, vamos combinar, seu pai gastou uma boa grana para adquiri-la sendo que mal parava em casa para aproveitá-la. Mas seus filhos, Jungkook e Megan - quatro anos mais nova -, se encarregavam disso muito bem, até disputavam entre si para saber quem iria usá-la.

Dessa vez o momento era todo do rapaz então estava com headphones, concentrado em matar zumbis. Tanto que sequer notou a porta da sala de visitas abrir. Quando percebeu, seu pai, Jeon Kwang, passava por ali, suspirando e puxando a gravata para se livrar um pouco do aperto daquele pano. Jungkook não sabia como ele conseguia ficar vinte e quatro horas de terno, pois vestia um daqueles para ficar no máximo seis horas nos eventos que a família tinha que comparecer e já se sentia sufocado.

O Sr. Jeon veio em sua direção, ainda bem que seu jogo tinha a opção pause, caso contrário, o ignoraria, nisso ele ficaria puto e o garoto ganharia sermões.

Tirou os fones e sorriu, recebendo um "boa tarde" e um beijo casto na testa. Por mais que seu pai tivesse aquela pose de homem velho, sério, prepotente e rude, o achava carinhoso com a família. Mas nunca ousem duvidar de seu pulso firme, principalmente quando nervoso, ele vira o próprio cão do inferno e chega a dizer absurdos.

— Chegou mais cedo. — comentou.

— Sua mãe e eu vamos viajar, lembra? — ele soltou um "Ah" de quem havia acabado de recordar tal fato.

Havia se esquecido que eles iam comemorar o aniversário de casamento longe dele e de sua irmã. Seria, pela terceira vez, uma grandiosa lua de mel junto de suas férias dos respectivos trabalhos. Mas os Jeon eram estupidamente ricos, podiam fazer o que quisessem a qualquer momento, então, nesse caso, até deviam fazer e aproveitar dos luxos que a empresa de Kwang trazia. 

A tal era a Golden Cars, que fabricava os carros mais caros da Coréia do Sul, quem sabe de toda Ásia e boa parte da Europa também. Entretanto, mesmo com ela famosa, eles não eram. Quer dizer, até eram no meio da alta sociedade mas não na mídia. Tudo porque o homem não gostava de ser alvo da mídia, vivia por trás de representantes e em eventos via tudo de pertinho mas sem demonstrar que era o CEO.

Jiyeon, a matriarca, que havia saído bem cedo do salão de beleza ao qual era dona, ao ouvir a voz do marido veio até a sala de visitas, o beijando e causando uma careta no filho.

— Boa tarde, meu amor! 

— Boa tarde. Está tudo preparado para nossa viagem?

— Claro. Só falta ver o que Kookie vai querer da vida. — seu tom brincalhão continha um leve sermão.

O rapaz havia terminado o ensino médio a dois meses e atualmente não fazia muita coisa a não ser dar uma mãozinha na enorme oficina do tio Namjoon, a qual tinha parceria com a empresa de seu pai e com a empresa de motores do tio Donghae. Quando o primeiro pedia, o ajudava a montar gráficos e ajustar os designers para a montagem, mas de vez em quando também trocava um pneu ou algo assim. 

A questão era que seus pais esperavam que ingressasse em uma ótima faculdade, seguisse os passos de Jeon Kwang e se tornasse um homem sério ao qual cuida dos negócios. Entretanto, só porque sabia muito sobre a empresa já que a conhecia a vida inteira e ainda por cima trabalhava com Namjoon nas coisas básicas, não queria dizer que desejava seguir tal caminho. 

Seu sonho é outro. Jungkook quer ser modelo. Ele afirmava desde mais novo. Porém, ninguém levava a sério. 

Seus pais preferiam acreditar que ele queria ser o filhinho de papai mimadinho que não queria nada da vida à aceitar uma "carreira instável" ou "fútil". Eles não viam a paixão de Jungkook pela profissão. Ou, pior, viam e ignoravam.

O rapaz se lembra até hoje que tinha apenas dois aninhos quando descobriu que posar para fotos era divertido e se ver preso nas câmeras, como sua mente infantil imaginava, era surreal! Desde então passou a viver fazendo caras e bocas, assim como proezas, para que todos ao seu redor achassem fofo e digno suficiente para capturarem o seu momento. 

Com oito anos já implorava para a mãe para participar de concursos, mas ela nunca permitiu dizendo que era complicado demais e que quando estivesse maior Jungkook poderia se virar sozinho. Pois ao completar seus dezesseis, realmente se virou sozinho, tentou e conseguiu o que estava ao seu alcance: mister estudantil. Ganhou ao lado de Ma Hyuna, sua colega desde pequeno quando começou a estudar. Atualmente eles andam saindo, trocando beijos, mas nada sério. 

Naquela época, os Jeon adoraram a conquista, ficaram orgulhosos pelo filho estar no topo, gabaram a todos os amigos da alta sociedade que ele era o favorito do colégio e ganhou o título de mister por ser extremamente lindo e simpático. Mas travaram ao ouvir da boca de Jungkook que sua vontade era seguir trilhando esse caminho seriamente.

Não deixaram de expressar que não apoiam porque "ser modelo não é profissão" e seu desejo era de "garotinho fútil", era melhor focar em ser um homem de respeito como Jeon Kwang e fora da mídia que pode te amar mas pode te ferrar a qualquer instante quando bem entender. O jovem fingiu concordar só para não criar uma guerra, mas seguia com seus planos em segredo.

Seu tio, irmão de sua mãe, Kim Seokjin, trabalhava em várias áreas. Não fazia ideia de como ele conseguia, manter uma multicarreira deve ser uma loucura, mas isso o fazia muito influente. Atualmente anda junto do pessoal de uma agência famosa, Model Dream, e nesse ano a mesma quer fazer algo diferente: selecionar diversos candidatos de vários países para fazer um estágio nos Estados Unidos onde, após os aprendizados, irão escolher o merecedor para ingressar carreira mundial. Claro que as esperanças de Jungkook estavam borbulhando fortemente, ele via ali uma grande chance, por isso, convenceu seu tio à ajudar. 

O, carinhosamente apelidado por Jin, o levou a um grande estúdio, montaram um book com um ensaio fotográfico maravilhoso, e no final deu todo o apoio com a papelada porque, diferente dos pais do rapaz, levava o sonho do sobrinho a sério. 

Agora, Jungkook estava torcendo para ser selecionado em meio a milhares de candidatos, de infinitas nacionalidades, para fazer parte do estágio. Pelas suas contas, ainda faltavam um mês e alguns dias para a resposta definitiva dos escolhidos para a primeira etapa. Seria o prazo de seus pais irem para a Itália e voltarem, se tudo desse certo, sem saberem de nada. Isso lhe pouparia estresse.

— Eu estou pronta. — a irmã de quatorze anos apareceu com suas malas. 

— Então, meu filho, vai acompanhar a Megan para a casa de Seokjin? — perguntou o homem.

— Prefiro ficar aqui. 

Estar sem eles por ali significava dormir e jogar bastante, comer besteiras, ver todos os filmes de comédia romântica se possível, quem sabe se divertir o dia e a noite inteira com seus amigos. Ah, era simplesmente um sonho onde ficava sossegado e em paz.

— Você vai conseguir se virar, meu bem? — a pergunta veio de Jiyeon, a qual possuía estatura baixa, rosto miúdo e um cabelo negro, brilhante e macio semelhante ao seu, só mudava que o dela era longo e extremamente bem cuidado.

— Mãe, até eu que tenho quatorze sei me virar, não é possível que o JK não consiga. — disse a garota idêntica a mulher.

— Eu consigo. — afirmou.

— Iremos confiar em você. — o deu um beijo carinhoso na bochecha. — Caso se saía bem, podemos conversar sobre aquele estágio dos Estados Unidos.

Sua boca foi ao chão devido ao espanto.

— Como sabem? Foi o tio Jin que contou ou descobriram sozinhos? Não mandaram me vigiar, né?

— Não mandamos, mas temos nossos contatos. — disse Kwang, tentando se manter misterioso.

— Foi a Hyuna. — sua mãe acabou contando. — Ela acredita que vocês vão arrasar juntos como um casal de modelos assim como foi na época da escola. Nós conversamos bastante e pensamos em permitir que você vá junto dela pois, tadinha, ela precisará de companhia, é uma ótima pretendente e tem o mesmo sonho que você. Se tudo der certo, será uma ótima futura esposa, não acha? — perguntou, sorridente.

Megan rolou os olhos. Não gostava de quando seus pais tentavam juntar tanto Jungkook, quanto ela que se considerava nova para tal coisa, a filhos de amigos pomposos. Tudo bem que seu irmão estava ficando com Hyuna mas ele tinha apenas dezoito anos, tinha que conhecer mais pessoas, fora que uma relação séria tinha que partir dos dois, então para que forçar a barra? Isso faz seu maninho adiar terminar com a garota que, na sua opinião, era chata pra caralho.

— Sério? — questionou com os olhos arregalados e o coração pulsando em esperança. Para ser sincero, não prestou atenção sobre esse negócio de pretendente e casamento, só em poder ir atrás de seu sonho.

— Claro, Kookie. — sorriu, afagando seu cabelo.

— Mas, para isso, você não pode sair da linha. Ouviu? — alertou o pai. Ele tinha o cabelo semelhante ao deles, tirando os fios brancos, e com a diferença que o arrumava em um topete charmoso. 

Jungkook acreditava que toda sua família - tirando seu tio Seokjin e o primo Yoongi - possuíam o cabelo preto assim. Era um padrão comum na Coréia. Já quis sair dele várias vezes, no entanto, seus pais não aprovam. Eles são a favor da naturalidade, do tradicional, tudo o que é fora do comum tratam como errado e tem péssimas visões de meninos e meninas de cabelos coloridos, roupas diferentes e se tiverem tatuagens e/ou piercings a situação piora. Quase tudo para eles é sinônimo de rebeldia e péssima imagem, coisas que não aceitavam. Logo, se os filhos queriam fazer algo fora do padrão, os compravam dando dinheiro ou algum bem material que quisessem em troca de se manterem "normais".

Após o assentir de cabeça, Kwang continuou:

— Ajude seu tio Namjoon na oficina e nada de bagunça em casa. Se tudo estiver nos conformes iremos conversar. Caso contrário, pode esquecer essa ideia e focar no vestibular, entendido?

— Sim, papai. Até parece que não me conhece. 

Além de querer muito e ter em mente que ia se esforçar para alcançar seu maior objetivo de vida, não achava difícil se comportar. É um rapaz tranquilo, afinal. Costuma apenas ajudar na Kim Checkings, jogar vídeo game, ver comédias românticas, dormir, às vezes saía com Hyuna, e raramente curtia uma festa com os amigos. A qual sempre voltava a meia noite pois depois disso sabia que aconteceria loucuras nos lugares que iam.

— Não sei porquê estão preocupados, ele só come e dorme.

— Ora, sua pestinha. — puxou a irmã, fazendo cócegas, obrigando a rir e se encolher até pedir piedade. Sorrindo, a soltou. Então se voltou aos seus pais. — Podem ir tranquilos. Juro que me comportarei mais do que já sabem que comporto. — garantiu.

— Então nos ajude a colocar as malas no carro que já vamos. Ainda temos que passar na casa do seu tio para deixar a Meg. — informou Jiyeon.

Jungkook assentiu, fazendo o que lhe foi pedido. 

— Juízo, ouviu? — falou seu pai enquanto o abraçava, bagunçando seu cabelo em carinho. 

— Claro. — sorriu.

— Até o fim do mês, Kookie! — sua mãe lhe encheu de apertos e beijos antes de pegar sua bolsa e seguir o marido para o carro.

— Tchau, JK. Nos vemos por aí. — disse Megan, acenando, e correndo animada para o carro de luxo branco de sete lugares da Golden Cars. Ela adorava passar o tempo com Jin, desde pequena. Jungkook também gostava, seu tio era muito divertido e compreensivo, mas no momento preferia ficar sozinho como a muito tempo não acontecia.

Viu seus pais colocarem os cintos, acenando como se dissessem um: "Até logo!"

— Boa viagem! — exclamou, então voltou para dentro da casa, sorrindo largo. — Yeah! — deu um salto, fechando as mãos em punho e vibrando.

Estava comemorando pois era um mês todinho sem seus pais lhe mandando e sem sua irmã querendo atenção a todo momento. Seria um sonho? Se fosse, não estava afim de acordar.

Não é que não os amasse, os ama muito, e sabe que os ensinamentos dos mais velhos são fundamentais para que cresça bem, assim como seus conselhos são necessários para sua irmã ainda que ela seja muito inteligente. Mas qual é o alguém que não deseja ficar sozinho em casa, sem regras ou falatórios em sua cabeça? 

Sem regras não queria dizer que ia aprontar pra caralho como um inconsequente, fazer farras, ficar fora à noite toda, levar várias garotas para transar, fazer orgias com drogas ou sabe-se lá o que garotos de sua idade, principalmente os riquinhos de seu bairro que podiam tudo, faziam. Para Jungkook, sem regras significa não ter horários marcados para fazer nada, a rotina é sua e você pode aproveitar como quiser sem ninguém ditando seus passos ou perguntando se fez ou deixou de fazer algo.

Se encontra sozinho. Apenas ele e as responsabilidades costumeiras que nem eram muitas, muito menos difíceis. Isso não é ótimo? Manteria o discurso que isso dava muita paz.

Foi até a cozinha cheio de entusiasmo, pegando vários pacotes de salgadinhos, coca-cola, iogurte com calda, chantilly e doces, muitos doces - agora não tinha a mãe para proibi-los, ordenando que seguisse a dieta como todo mundo da casa para manter a saúde e aparência. 

Se jogou no sofá, deixando seu headphones e o console de lado, mudando a televisão para sua escolha de filmes favorita: comédia romântica. 

Que começasse suas férias!

Cerca de vinte minutos depois seu celular começou a tocar. Eram Yoongi e Hoseok, seus melhores amigos, em uma vídeo chamada.

— Hey! Como você está? — perguntou Yoongi, dois anos mais velho, que inclusive era seu primo.

— Estou bem, hyung. E vocês? — mordeu um pedaço da barra de chocolate.

— Estamos bem.

— Sua irmã está em casa? — perguntou Hoseok, um ano mais velho, olhando para todo lado da tela, vendo se a garota surgiria ali para lhe tirar do sério.

Megan tinha um crush nele então não podia ouvir sua voz que vinha correndo. Quando ele estava na casa dos Jeon, ficava tentando flertar consigo. Suas investidas eram fofas, bobas e engraçadas, mas Jung Hoseok não se divertia e, tendo seus dezenove anos com pensamentos bem mais maduros e depravados, a recusava gentilmente. Talvez gentilmente demais porque a mesma continuava a insistir.

— Não. Nem ela, nem meus pais. Eles vão ficar fora durante um mês. — disse como se não fosse nada demais. 

O rapaz ruivo deu um berro do outro lado, recebendo um xingamento de Yoongi por tê-lo assustado. Ainda assim, continuou eufórico.

— Um mês? Como assim? Para onde eles foram? E você só conta agora? 

— Como todo ano, meus pais foram comemorar o aniversário de casamento, dessa vez na Itália. Férias, curtição e sexo. — fez careta ao citar o último. — Meg ficou com o tio Jin, e eu-

— Está livre! — completou. — Podíamos dar uma festa para comemorar! Sua casa é enorme, vai caber um pessoal maneiro. O que acha? Vamos, diz que sim! É uma oportunidade única na vida, você não pode desperdiçar!

— Está aí o motivo dele ter contado só agora. — disse o platinado, apesar de amar uma boa festa também. — Você pega no pé demais.

— Para de ser chato. — o empurrou, recebendo um rolar de olhos. — Nós vamos na sua casa e iremos conversar sobre isso.

— Não vamos não. — afirmou o hyung.

— Também não quero.

— Caretas.

— Não é que eu não quero me divertir, Hobi hyung, é que será através das minhas ações que meus pais vão considerar se eu vou ou não para os EUA fazer aquele estágio. Vocês dois sabem que é algo importante pra mim. Então o que eu puder evitar, vou evitar.

— Tá bom. — ele se deu por rendido com um beicinho. — Mas eu estou muito a fim de dançar. 

— Uma ideia! Você sabe se o seu vizinho gostoso vai dar alguma festa hoje? — Yoongi sorriu malicioso e Jungkook rolou os olhos.

Há cerca de três meses mudou um cara pra casa ao lado, Jungkook ainda não o conhecia pessoalmente pois os horários quando saíam na rua não batiam e também por total falta de interesse de sua parte. Entretanto, já sabia bastante coisas sobre o tal.

Ele se chama Park Jimin e, de acordo com Yoongi - que o crusha mas nunca investiu pois, segundo o mesmo, a concorrência é grande demais - ele possui vinte e seis anos, cabelo azul royal, boca cheia e charmosa a qual chama atenção de todo mundo, 1,75 de altura, o corpo magro e musculoso, belas coxas e bunda farta, e para completar é famoso por suas inúmeros tattoos e piercings. Um verdadeiro pecado na opinião de várias pessoas.

Também tinha o conhecimento de que o Park amava uma farra, mais do que qualquer pessoa no mundo. Era festa praticamente todo dia, quando não era na sua casa, era na dos amigos ou em boates, bares e afins.

Já viu o casal de amigos dele passar pela rua, um mauricinho e uma patricinha, tatuados e vestidos do tipo que se acham os gângsters. Na sua visão estavam mais para pessoas indo para os trinta com alma de adolescentes rebeldes. Isso não era ridículo? Ao menos era a visão que seus pais lhe passaram a vida toda.

Desde que Park Jimin se mudou, escutava Yoongi citar tudo sobre o tal e ressaltar o quanto ele é gostoso sempre que tinha chance. Mas sua visão já estava formada. Seus pais sempre deixaram claro que homens assim não passavam de delinquentes, sem escrúpulos e sem futuro. 

Não punha a mão no fogo por ele. Quem sabe, ele fosse até um bandido vagabundo ou um criminoso barato. Dizia isso não só pela aparência mas porque ele, pelo o que sabe, é oficialmente um fora da lei. Havia perdido a conta de quantas vezes seu tio Namjoon disse que Park foi preso fazendo racha, pichando muros, transando em locais públicos, usando drogas ou demais coisas ilegais. 

Sendo alguém assim, que parecia nem trabalhar, como poderia morar em seu bairro tão nobre? Talvez Park Jimin fosse traficante. Isso explicaria sua aparência e a casa chique onde vive naquelas redondezas luxuosas. Também justificaria as infinitas vezes que viu pessoas de todos os tipos saindo e entrando da residência ao lado. Quem sabe, podia ser um prostituto. Ok. Estava fantasiando. Provavelmente só era mais um filhinho de papai como todos os outros por ali, bem mais revoltado com a vida diga-se de passagem, mas que ganhava tudo o que queria em mãos.

E era verdade que o vizinho dormia com todo mundo. As sombras que via em sua janela e as coisas que Yoongi contava, juntando com relatos que ouviu de funcionários e/ou clientes pela oficina sem querer, denunciavam que as pessoas que via entrar e sair eram como um rodízio de sexo.

Sentia que Park Jimin era um grande metido a bad boy que gostava de se exibir, de fazer tudo proibido apenas por prazer e sem ligar para consequências. E, o que mais achava estranho era o fato de, quanto mais cretino ele e fora do padrão ele era, mais pessoas caíam por ele. Quanto mais corações partia, mais pessoas o desejavam. O que diabos era isso? O canalha tinha uma rola de ouro?

E ele podia ficar com quem é que fosse e, aparentemente, gênero algum ou a falta de gênero não importava. Porém, no fim não permanecia com ninguém. Disso sabia pois a lista de pessoas, de qualquer aparência, sexualidade ou etnia, que viu passar em sua casa ao longo desses meses foi enorme! Seja quem fosse, Park Jimin estava pegando. Por que? Bem, ele era um baita cretino que fazia tudo por pura diversão e bel prazer. Bem, era o que seu primo dizia. Não a parte do cretino, isso era coisa de Jungkook.

Sinceramente, já se encontrava cansado de ouvir todo mundo naquele maldito bairro falar disso, cansado de escutar comentários de que o vizinho fez algo ilegal, cansado de saber que ele é um grande sem vergonha que gosta de trepar com geral e no processo ferrar com alguns corações iludidos. 

Tinha implicado sem nem mesmo conhecê-lo. Todavia, não era só o rapaz quem não ia com a cara dele, alguns vizinhos mais próximos, seus pais e seus tios também não gostam de Park Jimin e sempre estão falando mal dele. 

Com todas essas informações que possuía sobre o mesmo, se sentia bem em nunca sequer tê-lo visto. Uma pessoa assim não merecia 1/5 do seu tempo.

— Jeonie? — Hoseok lhe chamou, o obrigado a sair de seus pensamentos e encarar os garotos que aguardavam ansiosos por uma resposta.

— Acho que ele tem compromisso com alguém em um motel ou algo do tipo, ao menos foi o que ouvi na oficina ontem. — deu de ombros, não se importando.

— Uma pena. Queria conhecer a casa dele... Quem sabe o quarto... Mas, então, sem saideira hoje? — perguntou Yoongi.

— Oh, na verdade, hoje é aniversário da Hyuna!

— E agora que você diz?

— Poxa, eu tinha esquecido, Hobi hyung.

Estava junto dela a quase três meses, desde o baile de formatura da escola onde foram coroados como rei e rainha. Gostava dela mas não conseguia sentir as famosas borboletas na barriga, não ficava pensando nela o dia todo, nem mesmo sentia todo aquela ansiedade e desejo causado pela paixão inicial. Sentia que tinha alguma coisa errada ali, mas seus pais insistiam que estava tudo certo, ela era uma ótima pretendente e o amor viria com o tempo.

— O importante é que lembrou, se não seria uma mancada. Passamos na sua casa às oito e meia! — exclamou Hoseok, novamente animado pois estava doido para beber e dançar desde mais cedo.

Eles ainda conversaram algumas banalidades para depois desligarem. Então Jeon focou no filme que assistia anteriormente e em comer suas "porcarias" até dar a hora de se arrumar.

Mais tarde, a buzina do carro cor vinho, grande, espaçoso, da Golden Cars, de Yoongi soou. Seu primo estava cinco minutos atrasado mas tudo bem.

Jungkook apagou as luzes, trancou a enorme porta com senha e correu até eles que estavam nos bancos da frente, então sentou no banco super confortável do carona, fechando a porta e dando boa noite.

— Sabe o que nossa querida Hyu está esperando que você dê pra ela de presente, Jeonie? — perguntou Hoseok, sorrindo malicioso, ao que o hyung dava partida no carro.

— O que? — eles se entreolharam, sorrindo maliciosos.

— Uma noite encantada de puro amor. — respondeu Yoongi, suspirando como um garotinho apaixonado.

— Você vai foder com ela, né? Pelo amor de Deus, diz que vai! — suplicou o ruivo.

A maioria dos homens, julgava dizer que algumas mulheres, achavam Ma Hyuna muito linda e gostosa, tinha um crush e sonhavam em passar a noite com ela mas, bem, ela sonhava em passar a noite com Jungkook.

— Eu não sei se quero...

Jeon Jungkook é demissexual. Cada ser humano funciona de uma maneira, para ele as coisas são: conseguia beijar meninas que achava bonitas mas depois de conversar um tempo com elas. Agora se não sentisse uma conexão de algum tipo, seja emocional e/ou mental, ou intimidade - que podia vir em meia hora de conversa ou dois anos de amizade -, não conseguia ir adiante. Podia tentar, no entanto, não passava de amassos de roupa. Caso insistisse, só iria se frustrar pois estaria se forçando a fazer e, ir até o final, transar, sem sentimentos, era horrível.

E não é que nunca tenha tentado. Já testou algumas vezes, a experiência foi completamente negativa com direito a crise de ansiedade. Todavia, quando esteve apaixonado, sentia vontade de fazer de tudo com a garota, sem restrições.

Jungkook se masturbava, claro, tinha libido ainda que não totalmente voltada para algo apenas carnal - como por exemplo seus amigos que viviam batendo punheta ou seu vizinho que trepava com vários desconhecidos - mas bem menos que o comum de um cara e, quando acontecia, era sem pensar em alguém em específico porque ninguém lhe atraia o suficiente para isso.

Em resumo, se não sentisse muitos sentimentos pela garota, transar não era opção, era praticamente impossível pois o tesão não existia e se por algum motivo aparecesse era pouco e sentia maior conforto, sabia ser mais satisfatório, resolver sozinho do que com ajuda.

— Vamos supor que sim. Ela é virgem, pode esperar por mais e não posso dar mais. Na verdade, sendo bem sincero, talvez não possa dar nenhuma vez. Sabem que eu não a amo. 

— Não precisa se preocupar tanto. Acho que pra ela sexo é só sexo, não deve ser isso tudo que é pra você. O caso é você mesmo estar confortável.

— Concordo com o Yoongi hyung. E você é praticamente o namorado dela, já foi até jantar com seus pais e você com os dela, tem certeza que não está sentindo nada?

A conhecia desde pequeno, gostava de Hyu, sentia confortável para beijá-la sempre que quisesse e até dar uns amassos. A moça grudou em si querendo uma chance desde o concurso escolar que ganharam juntos e cedeu, afim de conhecê-la melhor, no dia do baile. Seus pais a amam e gabam seu relacionamento, só que não conseguia corresponder romanticamente como imaginou um dia poder. Seus sentimentos não iam além de carinho e consideração.

Em sua opinião eles eram uma combinação bonita visualmente, mas não passava disso. Sabia ser egoísta ainda manter aquele caso apenas para agradar os pais e por gostar dos beijos que trocavam. Mas para si era melhor essa zona de conforto do que ter que se obrigar a conhecer pessoas novas e passar tempo com elas até sentir vontade de alguma coisa.

Todavia, a virgindade dela não ia tirar. Não mesmo. Não ia se forçar e, no final, iludi-la de vez. Não queria que o tombo fosse grande e ela se machucasse em maior quantidade após notar que ele era um idiota que só queria aproveitar a relação confortável que eles possuíam e o fazia se sentir mais "normal".

Alguns minutos depois ele e seus amigos chegaram na casa da garota morena de olhos azuis ocidentais, cabelos pretos lisos como os seus, corpo cheio de curvas - seu pai era asiático, sua mãe estrangeira, então ela tinha uma mistura bem trabalhada - muito linda por sinal. E legal quando estava longe do bando de amigas fúteis.

Assim que entrou pela porta, Ma Hyuna veio em sua direção mas parecia sorrir forçado. Estranhou.

— Jungkook! — o abraçou rápido. — Obrigada por ter vindo. — lhe deu um beijo no pescoço pois foi onde alcançou devido a sua estatura. — Espero que goste da festa! — soou apressada, logo virando para sair dali. 

Estranhou mais um pouco. Ela geralmente lhe agarrava e não soltava mais fazendo questão de exibi-lo aos presentes. Segurou sua mão com delicadeza, questionando:

— Por que está com presa?

— Sabe como é, tenho muitos convidados para cumprimentar.

— Entendo, mas me deixa te dar os parabéns direito. — a puxa para si, abraçando apertado. Mesmo não querendo entrar em um romance ou levá-la para cama tão cedo, admitia ter uma quedinha por ela, caso contrário, não estariam a mais de mês juntos. — Feliz aniversário. — murmurou doce em seu ouvido, colocando uma pequena caixa em sua mão. 

Ela se afastou um pouco, abrindo a caixinha, vendo os brincos de Ouro Branco com Esmeralda e Diamantes que tanto queria. Foi comprado pelos Jeon que já a consideravam como parte da família, logo queriam agradá-la.

Hyuna sorriu. Porém, seu sorriso estava diferente. Jungkook sentia que ela estava diferente. 

— O que foi, Hyu? — a garota não sustentou seus olhares como sempre, pelo contrário, vira o rosto. Nisso, ficam aparentes as marcas roxas em seu pescoço moreno.

— Não é nada. Obrigada pelo presente.

— Nada? Isso não são chupões? — ela rapidamente cobriu com a mão, se mostrando nervosa. 

É sério que Hyuna estava com outra pessoa sem avisar? Não tinham algo sério, mas ao menos uma noção de que havia outra pessoa na área Jungkook tinha que ter, certo? Pois, se fosse consigo, deixaria claro desde o início. Acreditava que isso fazia parte da sinceridade, confiança e consideração. Sempre teve isso com suas ficantes.

— Com quem você estava?

— Com ninguém, Jungkook. — sua voz doce se alterou, ficando firme. — Com licença.

— Você não vai a lugar algum sem me explicar. — voltou a puxá-la para perto. 

Não foi bruto, não estava bravo, nem nada, só queria esclarecer a situação. Por mais que não namorassem, estava começando a sentir a dor de um belo par de chifre. Jungkook tinha respeito e muita consideração por ela, então por quê ela, aparentemente, não estava tendo por si? Ele não merecia? Nem ao menos ter sua sinceridade? Ou devido ser demi ela o considerava um trouxa fácil de trapassear? Ia jogar em sua cara que isso era resultado da sua falta de ação? Por Deus, não. Não queria se sentir culpado por ser quem era. Mas por via das dúvidas ia se preparar para caso isso fosse jogado na sua cara.

Voltou a perguntar, agora bem baixinho, já que não estava afim de escândalos e aparentemente a aniversariante também não.

— Você transou com alguém? — porém, ela que estava sendo discreta, muda de ideia assim que suas amigas se aproximam. Ia começar. Jungkook já sabia. Ela sempre se tornava insuportável ao lado das outras amigas patricinhas.

— Sim. — sorriu prepotente, empinando o nariz. — Se quer saber, acabei de perder minha virgindade em um motel dez estrelas ou mais. E foi maravilhoso. Você demorou demais, querido. Perdeu para um homem de verdade. 

Jeon a soltou.

— Bom pra você. — demonstrou pouco caso, mesmo estando ofendido e sentido com aquilo.

Pelo jeito, vir a esse aniversário foi um baita erro. Deveria ter continuado fora de suas lembranças e planos de hoje. Que merda. Só não tinha deixado de aparecer por pura consideração, mas pelo jeito não era recíproco. Nunca era recíproco.

— Não quer saber com quem?

— Não me interessa. — se pôs a andar, afim de sair ao menos de perto dela.

— Park Jimin! — "Porra! Justo ele?", pensou. — Ele me fodeu gostoso e provou que é muito mais macho que você! 

"Ah, vai a merda! Você só foi mais uma na lista interminável daquele cretino, só um objeto sexual nas mãos dele. Ainda vai querer parabéns por isso?" conteve a vontade de dizer estas palavras, a ignorando e simplesmente indo até a mesa onde estavam os amigos.

Se sentou em uma cadeira ao lado deles com a maior cara de bunda. Estava mesmo chateado. Hyuna tinha que faltar com diálogo, consideração e respeito desse jeito? Para completar a desgraça, tinha que desmerecê-lo justo por aquele cara sem escrúpulos? E tudo por sexo. Qual o problema das pessoas de colocarem isso na frente de qualquer outra coisa? Por que caralho não "pegar a mulher de jeito" para alguns o tornava menos homem?

— Então o meu garanhão pegou a sua gostosa? — perguntou Yoongi, segurando para não rir.

— Já estão sabendo? — perguntou sem nenhum pingo de humor.

— Todos vimos o que houve e quem não viu, não vai demorar a saber, Jeonie. — afirmou Hoseok.

— Legal. Ela vai se gabar e eu vou ser taxado de "frouxo" além de ganhar fama de corno. Êeee. — move o braço em uma animação lenta e totalmente irônica.

— Pega a amiga dela. — encarou o ruivo com uma expressão desacreditada. — Você vai mostrar que isso não te afetou e ela vai sentir na pele.

— Isso seria ser baixo e me vingar. Eu não sou assim, deixa isso por conta do karma. E, outra, qualquer coisa que eu fizer vou ficar rebaixado por ter meu vizinho na história. — rolou os olhos. — Prefiro ficar na minha, afinal, eu não posso competir com o "grande Park Jimin". 

Não compensava gastar seu tempo tentando provar ser melhor que ninguém. E foda-se aquela enganadora, que finge cair de amores, depois expõe o relacionamento para todos fazendo questão de lhe ferrar só por não ter dormido com ela. Apenas desejava distância de gente idiota e inconsequente como esses dois. Até porque de idiota e inconsequente já basta si mesmo. 

Sem vontade para curtir qualquer coisa, foi embora daquela festa. Mas só depois de exigir de volta o presente caro que deu a Hyuna.

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