Capítulo 4 - SEDUTORA FUGITIVA

Adriena me olhou e ia começar a falar, quando o toque alto do celular de Albert a fez pular, assustada.

— Desculpe — ele murmurou, se afastando um pouco para atender a chamada. Pouco depois voltou praguejando. — Sra. Sullivan, era o John. Ele chegou ao estacionamento e viu um SUV preto parar e três homens saírem. Desconfiamos que sejam os seguranças do Harrison.

Seus capangas — murmurou Adriena, estremecendo. — Ele me encontrou, Evie.

— Não, nós vamos sair daqui. Pega tua bolsa e vamos — eu respondi, olhando para o Albert, a fim de saber se teríamos como escapar de um confronto.

Ele me olhou, preocupado, dirigindo um olhar a ela, que pegava sua bolsa com as mãos tremendo. A mensagem era clara. Meus seguranças davam conta de três homens e eu sabia me defender, pois estava acostumada a treinar com Luke duas vezes por semana, mas Adriena estava fraca, ferida e assustada, mal conseguia andar e eu duvidava que poderia correr, o que provavelmente teríamos que fazer para não enfrentar os homens do Pierce, pois não sabíamos se eles estavam armados.

— Hum... Adri, você permite que o Albert te carregue no colo? — eu perguntei, e ela deu um olhar desconfiado, obviamente amedrontada por aquele homem enorme. — Não se preocupe, ele é um homem muito bom. É casado com uma de minhas empregadas e tem uma filha. Trata as duas como princesas, você pode confiar nele, está bem?

Ela aquiesceu com um gesto de cabeça.

— Senhora, no que está pensando? — Albert questionou.

— No velho método que tem funcionado há milênios: sedução. Você vai levar Adriena até o carro pelas escadas enquanto eu atraio os homens do Pierce para o quarto, depois você volta para me buscar. Vamos ver se as aulas de atuação com o Ryan serviram para alguma coisa.

Meu peito apertou quando falei o nome dele e vi uma expressão de dor passar pelo rosto da Adri. É claro, ele era seu irmão, seu ombro amigo, ela sentia tanta falta dele quanto eu.

Assisti Albert pegar Adriena no colo como se fosse uma boneca de porcelana, o que não estava longe da verdade, dada a situação lamentável em que se encontrava. Peguei um espelho em minha bolsa e um batom vermelho, soltei o cabelo, que estava atado em uma trança. Os fios loiros não estavam mais compridos como antes, pois eu os cortei na altura dos ombros meses antes para fazer uma peruca que foi doada a um projeto que visava aumentar a autoestima de mulheres vítimas de escalpelamento.

Guardei minhas coisas de volta na bolsa e pensei um instante. Logo retirei a blusa de seda que usava e dei para Adriena segurar. Ajeitei a regata que usava por baixo, de modo que meu decote ficasse mais visível, mostrando o topo do sutiã branco de renda.

Albert desviou o olhar, em respeito, e eu soube que só essa pequena mudança já me deixou mais atraente. Vimos a porta de acesso às escadas abrir e ele se escondeu atrás de um grande armário de metal que ficava no corredor. Eu fiquei nervosa, pois na verdade o Ryan não me dava aulas de atuação, ele apenas brincava sobre eu precisar trabalhar minhas expressões faciais para que as pessoas não me lessem como um livro aberto, como ele fazia.

Respirei fundo, andando rebolando e aparentando estar distraída, fingindo que não via os três homens tão grandes quanto Albert andando pelo corredor e olhando atentamente ao redor. Andei rapidamente até me chocar contra um deles. O impacto foi tão forte que nem precisei fingir a falta de ar e o gemido de dor ao bater naquela montanha de músculos.

O maior dos homens me segurou pelos braços para evitar que eu caísse.

— Opa, cuidado aí, princesa. — Ele tinha uma voz grossa, um tanto quanto rude. — Tudo bem, minha linda?

Suprimi a vontade de dizer que eu não era nada dele e apenas assenti com a cabeça, lançando um olhar sedutor e murmurando com voz doce:

— É claro, com um homem como você, como poderia não estar bem?

Ele piscou e deu um sorriso convencido.

— Ah, meu bem, como você é linda. Eu bem gostaria de parar para te conhecer, mas estou aqui a trabalho.

— Oh, que pena — eu disse, tentando parecer chateada. — Seria bom conhecer um homem todo viril como você. — Olhei para os três. — Talvez até pudéssemos fazer uma festinha. Por que não vêm comigo? Meu quarto é logo ali.

— Eu bem gostaria, gata, mas estamos trabalhando — falou um loiro, menor que os outros, me olhando de um jeito nojento que só podia ser entendido como cheio de tesão. — Você viu essa mulher por aqui? — Ele me mostrou uma foto da Adriena. — Ela é uma ladra e nós somos caçadores de recompensa. Ela é perigosa e pode estar armada.

Eu quase revirei os olhos para as mentiras do sujeito. Em vez disso, arregalei os olhos e dei alguns pulinhos, colocando a mão na boca e dando um gritinho, como já vi muitas fãs obcecadas fazerem ao encontrar seu ídolo.

— Ah, meu Deus! Essa é Adriena Harrison, uma estrela de Hollywood! E se vocês estão procurando por ela, devem ser os seguranças dela! — Dei outro gritinho e bati palmas, falando mais alto. — Ah, por favor, por favor, quero conhecê-la, tirar uma foto e ter um autógrafo, por favor!

Comecei a gritar o nome de Adriena e corri para o quarto onde a encontramos minutos antes, percebendo, satisfeita, que os homens vieram atrás de mim, provavelmente para me fazer calar, pois estava chamando atenção.

Senti quando um deles me puxou contra seu corpo e tapou minha boca com sua mão enorme, enquanto os outros entraram e fecharam a porta. Por um momento senti um frio na barriga, mas logo relaxei, pois sabia que ficaria ali com eles apenas o tempo em que Albert descesse com Adriena e subisse ou mandasse John subir para me resgatar.

— Shh... fica quietinha, princesa. — Ele cheirou meu cabelo e pescoço e eu estremeci de repulsa. — Hum... Cheirosa... Sim, nós somos seguranças da Sra. Harrison, mas preferimos ser discretos, pois ela entrou aqui para fugir de um grupo de paparazzi.

— Exatamente — emendou o outro moreno, que até então esteve calado. — Se conseguirmos levar a patroa em segurança para casa, podemos conseguir uma foto e um autógrafo pra você, belezura.

— Jura? — Eu arfei propositalmente quando o moreno maior se aproximou e passou a mão na minha barriga. — Vocês fariam isso por mim?

O outro moreno se aproximou e mergulhou os dedos em meu cabelo. Eu estava imprensada entre os três homens e o pânico começou a me fazer suar frio.

— É claro, meu bem — disse o loiro ao meu ouvido. — Mas pra isso você precisa ser discreta e fingir que não nos viu, está bem? Se me der o número do seu celular, eu posso ligar e nós marcamos de te encontrar aqui mesmo, o que acha?

O moreno maior segurou meu queixo e aproximou perigosamente a boca da minha, seu hálito fedia a cigarro.

— Ah, eu queria tanto ter tempo para aproveitar com esse corpo delicioso... pena que estamos trabalhando. Mas talvez um beijo, só pra você não esquecer de mim. — Ele beijou meu queixo e deu uma mordidinha. — Ou de nós...

Meu estômago se contorcia de nojo, mas enfim fui salva por uma batida na porta e a voz de John me chamando. Bem, não exatamente a mim.

— Carly, querida, eu te esperei no carro, mas você está demorando. O que aconteceu?

Eu arregalei os olhos teatralmente e sussurrei com urgência:

— Meu marido! Rápido, se escondam! Ele é assessor de um político importante que veio se encontrar aqui com uma amante. Se ver vocês, vai fazer um escândalo, o que pode expor a Adriena também. E eu não quero perder meu marido, nem quero que vocês sejam caçados como animais. Ele é cruel, se escondam!

Um deles pegou minha mão esquerda e todos viram a aliança no meu dedo. O moreno que tinha os dedos em meu cabelo se afastou e disse para o maior deles:

— Temos que ser discretos, são as ordens que recebemos. Existem outras vadias por aí para brincar depois.

Eu fiquei indignada pela forma que ele me chamou. Senti vontade de socar sua cara de fuinha, mas me contive. O loiro me soltou e o outro moreno suspirou antes de dar um passo atrás.

— Que pena. Eu queria mesmo mergulhar nesse corpo sensual.

Eles se afastaram e entraram no pequeno banheiro do quarto.

Aliviada, eu abri a porta e fiz sinal para que John ficasse em silêncio.

— Querido, me desculpe. — Eu peguei a chave do quarto e coloquei do lado de fora enquanto falava. — Esqueci meu batom favorito.

Ri baixinho enquanto trancava a porta por fora. Eles iam se atrasar um pouco em sua busca, e isso era suficiente para nós. Murmurei um "vamos" e saí correndo com John pelas escadas. Chegamos logo no carro e Albert deu a partida enquanto eu entrava ao lado de Adriena no banco de trás e John sentava no carona.

Eu ainda ria, cheia de adrenalina pela pequena traquinagem, como se fosse uma adolescente "dando perdido" no namorado chato. John me olhou de lado enquanto Albert me olhava pelo retrovisor e vi os dois trocarem um olhar.

— O que foi? — perguntei e John pigarreou.

— É que já fazia muito tempo que eu não a via rir assim por coisas tão banais, senhora — ele respondeu. — Você era tão alegre e ultimamente só a vemos rir quando brinca com a Sophie.

O sorriso morreu em meus lábios. É claro que eu era alegre antes, pois tinha Ryan ao meu lado. Mas agora Sophie era um dos poucos motivos dos meus sorrisos sinceros.

Fiquei calada o resto do caminho, apenas aninhando minha cunhada em meu ombro. Ela chorava silenciosamente, seu corpo ferido tremendo. Eu não tinha certeza se seu choro era por lembrar de seu irmão ou pelo inferno que estava vivendo, mas ela precisava de ajuda e eu estava ali para apoiá-la em tudo.

Eu estava distraída lembrando de Ryan e nem percebi quanto tempo passou até que chegamos ao aeroporto onde o jato nos esperava. As pessoas costumavam perguntar como eu mantinha um jatinho, pois é dispendioso manter em um hangar, mas aquele pequeno avião tinha sido um presente de um bilionário inglês como agradecimento, pois sua filha era minha fã e do Ryan, tinha até fã-clube para nós.

Acontece que a garota escreveu um e-mail, com uma foto anexada, dizendo que gostaria muito de ser uma personagem de um livro meu. Eu, que estava de muito bom-humor, prontamente escrevi um livro de fantasia, dando o nome e características físicas dela a uma fada. O livro foi lançado, com patrocínio de seu pai, no dia do aniversário da garota, que foi à estreia e ganhou um livro autografado, assim como um pôster do Ryan e uma foto com nós dois.

Duas semanas mais tarde eu recebi a visita do assistente do bilionário, dizendo que seu patrão tinha me presenteado com um jatinho que ficaria em seu hangar particular em Seattle, sem necessidade de pagar aluguel, apenas as diárias dos pilotos quando precisasse deles. Desde então o jatinho se tornou útil para viagens rápidas como aquela.

Ao chegarmos ao aeroporto, ajudei Adriena a sair do carro enquanto John carregava nossas bolsas e as sacolas de roupas que ele, com seu olhar clínico e muito bom gosto, comprara para ela. Albert foi entregar as chaves do carro para o motorista da loja de aluguel de carros.

Tão logo entramos no avião, eu indiquei o banheiro para que ela pudesse tomar um banho e se trocar, afinal, a viagem de volta seria longa e nós só tínhamos poltronas reclináveis para descansar. Também pedi que o comissário de bordo que sempre acompanhava o piloto Arturo Diógenes providenciasse analgésicos e um lanche leve à base de frutas, pães, queijo e chá, pois provavelmente Adriena estava o dia todo sem comer.

Meia hora depois ela saiu do banheiro, vestindo um vestido longo e folgado, do tipo confortável e leve que não a faria sentir incômodo por causa do tecido roçando os machucados em seu corpo. Os cabelos úmidos pareciam ralos e sem vida, e eu sentia uma ira incontrolável se apoderar de mim cada vez que olhava para seu rosto inchado e cheio de hematomas.

Como um homem podia ser tão covarde? Isso me deixava revoltada. Se o Ryan estivesse vivo, ele iria caçar o desgraçado do Pierce até o inferno para fazê-lo pagar por ter machucado sua irmã caçula.

Suspirei tristemente. Se ele estivesse vivo, mas não estava e a dor dessa realidade nunca se afastava de mim.

Adriena sentou na poltrona à minha frente enquanto olhava para os pãezinhos com queijo, maçãs, morangos e o bule de chá fumegante dispostos na pequena mesa entre nós.

— Imaginei que teu corpo precisasse de alimento. Sei que você não deve estar sentindo fome agora, nessa situação tensa, mas precisa se alimentar e precisamos conversar.

Ela concordou com a cabeça.

— Obrigada, Evie. Eu sinto até vergonha por ter te procurado depois de um ano sem falar com você ou com a Sophie... mas eu não podia ligar para os meus pais, eles estão idosos. Papai tem o coração frágil, Louise está em Milão organizando o desfile da sua nova coleção e eu... — ela engasgou com as lágrimas que tentou suprimir, em vão. — Me desculpe, eu só não conseguia falar com você depois que meu irmão...

Ela começou a soluçar desesperadamente e eu levantei para abraçá-la.

— Shh... eu sei, nós te lembramos do Ryan e isso causa dor. Acredite, eu entendo e não me importo de você ter me procurado, Adri. Você sempre será a irmã do meu marido e tia da minha filha, e eu sempre vou te amar como irmã. Você não tem culpa das coisas horríveis que aquele cretino te fez, e agora está segura comigo. Você precisa se alimentar e eu preciso que seja honesta comigo e me conte o que aconteceu. Também preciso saber se está disposta a tornar público os abusos do Harrison, pois assim que você denunciá-lo, a mídia vai estar a postos para viralizar a notícia do fim do casamento de vocês. Você pode ter o tempo que quiser para pensar e descansar, mas precisa denunciá-lo agora, enquanto as marcas do abuso dele estão visíveis. Eu estou com você e vou te apoiar nas decisões certas, você só precisa decidir tudo o quanto antes. A Julie deve estar na mansão agora, nos esperando.

Ela se acalmou aos poucos e comeu. Quando chegamos na mansão quase duas horas mais tarde, Albert nos conduziu para o meu elevador privado, fugindo das vistas dos novos hóspedes que chegaram à mansão naquele dia, antes da metade do elenco do filme, que chegaria no dia seguinte.

Julie nos esperava no meu quarto, junto com Bryce e duas mulheres que nos foram apresentadas como a Dra. White e a Detetive Peterson. Bryce saiu para ir brincar com os três filhos e Sophie, e Adriena passou as próximas duas horas relatando tudo o que tinha acontecido, não só naquele dia, mas em todos os anos de casamento em que sofreu abuso.

Julie e eu choramos com ela quando relatou os estupros e espancamentos. Não entendíamos como um marido poderia ser tão cruel com sua esposa porque nossas próprias experiências eram completamente opostas a essa monstruosidade que ela nos revelava.

A Dra. White examinou detalhadamente o corpo da minha cunhada e a detetive Peterson gravou cada palavra do depoimento dela enquanto Julie redigia os termos do processo e todos os documentos necessários.

O dia foi longo, mas quando finalmente Adriena foi para o quarto de Adam, que mandei preparar para ela, eu relaxei e me preparei para descansar, com a certeza de que a justiça seria feita.

Nesses momentos, ser quem eu era tinha muitas vantagens.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top