Prólogo



E que o rolo comece!

✝🌹🌹✝

   O fogo se alastrava mais uma vez sobre o solo sem vida, os demônios baixavam a cabeça mostrando sua submissão e medo perante seu rei e sua rainha.

    O Diabo e Lilith brigavam mais uma vez, ambos pareciam furiosos. A Mãe dos Demônios tinha os lumes num belo azul escuro que reluzia em fúria, o mesmo tom que se encontrava as chamas que lhe tomavam as mãos. Lúcifer não estava diferente, tendo os olhos cor de sangue sendo dominados pelo brilho assustador de sua raiva assim como suas mãos cobertas por fogo.

   A qualquer momento um atacaria o outro. De novo.

   O chão tremulava, o ar quente do submundo era ondulado por suas energias negativas desenfreadas anunciando que seria dado o início de uma nova batalha.

- Eu te odeio com todas as minhas forças. – Proferiu Lilith, não hesitando em deixar aparente o desprezo em seu tom de voz e em sua bela face.

- E também ama com todas elas. – O Diabo devolveu, lançando seu melhor sorriso zombeteiro. Logo ele deu um passo á frente, insinuando assim uma aproximação, mas notando a expressão alheia parecendo mais endiabrada com o ato, acabou por parar ali mantendo o sorriso. – O que foi, minha Lilith? Irá me atacar?

- Não sou mais sua há muito tempo, Lúcifer. – Ela cuspiu, tencionando mais o corpo, pronta para ataca-lo se esse fizesse mais algum movimento.

- Ah, você sabe que é. Você mesma me disse, não se lembra? – As orbes vagaram para o nada por um momento, parecendo se lembrar de algo. – Como foi que me disse há alguns milênios, quando eu jurei meu amor e disse que a trataria como minha companheira, sendo minha igual? Ah, sim – Ele voltou a encará-la. – "Serás meu e eu serei tua para toda a eternidade." – O sorriso de Lúcifer aumentou. – Para toda a eternidade, meu amor.

- Seria se não fosse por sua traição. – Ela apontou.

O Demônio revirou os olhos.

- Sabe que só o fiz por você ter me traído primeiro com Leviatã.

  Lilith o fuzilou com o olhar.

- E você sabe muito bem que não foi uma traição. Você o castigou e o trancou nos confins do Inferno antes que algo de fato acontecesse. – A mulher parecia cada vez mais transtornada. – Diferente do que aconteceu com Lâmia, que você já estava aos beijos, pronto para possuí-la.

- Eu não o fiz. Nunca me deitaria com outra que não fosse você e você sabe muito bem disso! – A voz do Diabo agora era tomada pelo que parecia ser mil e uma vozes dentro de si. Seus lumes intensificaram o brilho enquanto ele a fitava. – Já chega, Lilith. Já estamos nessa a quase meio milênio. Volte para o meu lado, seu trono e nossa cama a esperam.

- Nem ferrando, Lúcifer. – Ela rosnou, deixando seus olhos serem tomados pelo azul ainda mais profundo.

- Sabe que não faz sentido lutarmos um com o outro, meu amor. – Havia indignação nas palavras do rei do Mundo Inferior. – Acontecerá o mesmo do que nas outras vezes. Abalaremos até mesmo as energias que cercam o Mundo dos Mortais, traremos agonia aos nossos filhos e depois, quando já estivermos exaustos, faremos amor até que não nos sobre mais energia alguma. – Ele fez uma pequena pausa. – Irei embora logo depois, deixando-a numa cama vazia enquanto me sento num trono com um vazio logo ao lado.

   Foi apenas por um segundo, um único segundo, contudo o Diabo presenciou a dor e as saudades competindo com a ira nos olhos de sua amada. Lilith também sentia falta de seu Lúcifer.

    Um suspiro em derrota deixou os lábios finos do Demônio quando a rainha ergueu a cabeça e um olhar sombrio caiu sobre si.

- Não poderá me tocar dessa vez, pois mesmo que não possamos nos matar, eu farei questão de deixar seu espírito ferido por umas boas décadas, esposo. – Proferiu, cuspindo a última palavra.

   E, no segundo seguinte, Lilith o atacou.

     Os demônios por perto grunhiram em agonia pelo peso da força do ódio que irradiava de sua Mãe, o ar ondulou mais, trazendo novas tremulações ao Inferno.

    Lúcifer precisou se mover rapidamente, já pensando em quanto tempo ficaria em posição de defesa, erguendo sua magia para se proteger da de sua companheira.

   Mas, para a surpresa de ambos, e de todos ali ao redor, um fio grosso de luz brilhante encandeceu sobre o breu que dominava sobre suas cabeças, simulando os céus. Uma rachadura brilhante se formou em meio ao nada e dela um portal se abriu, revelando segundos mais tarde a criatura celestial que dali saiu.

    Os demônios correram para longe, onde o breu ainda tomasse no campo aberto ali, escondendo-se atrás de pedras e mais pedras.

    Tanto Lilith quanto Lúcifer estavam imóveis, observando o visitante inusitado: Deus.

    O ser celestial na forma de um homem alto, boca carnuda, olhos bem rasgados e cabelos brancos acompanhando as vestes em mesma cor deu-lhes um pequeno sorriso.

- A que devemos tamanha honra de ter a presença de Vossa Graça em nossa humilde casa? – O Diabo perguntou com seu tom transbordando em falsidade.

     O homem de branco passou seu olhar pelo casal e então voltou-se para o outro ali com um novo sorriso tomando o rosto.

- Vejo que brigam novamente.

    Lilith ergueu uma sobrancelha.

- Veio assistir, meu bom Deus? – Questionou ela deixando o deboche nítido em sua frase.

- Ah, por favor, minha cara Lilith, creio que já lhe pedi muitas vezes para usar meu nome real... – Disse a divindade educadamente.

    A mulher sorriu falsamente.

- Queira me desculpar, Pai, mas Namjoon não me parece um nome à Sua altura... – Soltou, não esquecendo de manter o tom zombeteiro.

- O que veio fazer aqui? – Lúcifer perguntou ao Altíssimo novamente, agora em tom mais firme.

     Namjoon o encarou em silêncio e então deixou a sobriedade tomar sua face perfeita.

- Vim cessar esta batalha antes que tenhamos problemas na Terra novamente. – E deixou o olhar pousar de um para o outro. – Suas discussões são muito poderosas e vocês sabem muito bem disso. Da última vez que tanta energia negativa escapou para o Mundo Mortal, muitos humanos foram induzidos a deixar seus pensamentos mais obscuros tomar-lhes, fazendo atrocidades por aí. Isso não deve acontecer novamente.

- Então temos um problema, Pai. – Lilith anunciou antes de desviar suas orbes para o Diabo, deixando o azul que havia apagado em seus olhos agora cintilar novamente. – Porque eu estou com raiva, muita raiva, e preciso deixá-la sair ou eu juro que da próxima vez que visitar o Inferno, será porquê a terá sentido invadir os Céus de tamanha que será.

- Diz isso, mas daqui umas horas não sobrará alguma, pois estará muito ocupada enquanto nos amamos novamente. – Lúcifer jogou descaradamente.

Uma carranca então tomou a face da mulher.

- Você pensa que eu ainda o amo, não é, Lucy? – Ela inclinou sua cabeça deixando o cabelo negro em camadas e camadas de cachos cair parara o lado. – Mas não, Lúcifer, meu amor por ti se definhou com o tempo.

- Não é verdade. – O Diabo afirmou num sussurro quase falho, não conseguindo esconder a dor que alcançou seus olhos.

     Lilith viu que o machucou e não hesitou em continuar.

- E verdade. – Afirmou, reforçando com um aceno de cabeça. – Eu tive muito tempo para pensar desde que me afastei de você. Pensei em tudo, em nós desde o início... você se aproveitou do meu sentimento de desapontamento pelo ato de Adão...

- Eu não o fiz. – Ele rosnou.

- Você me seduziu... me fez mil promessas...

-Não, não. – O Diabo negou prontamente dando passos em sua direção. A dor transbordava em sua feição, sua única companheira o havia ferido.

    Lúcifer estava pronto para negar tudo, começar outra batalha se fosse preciso, alegando até que perdesse as forças que sua amada estava errada. Lilith era tudo para si, seu ponto fraco. E ele sabia disso.

    E Namjoon também.

    O Demônio foi surpreendido quando Deus deu alguns passos em direção a Lilith, ficando mais próximo dessa, conseguindo sua atenção por isso.

- Você diz que não o ama mais, certo? – Namjoon questionou-a.

    A mulher afirmou com a cabeça. Deus sabia que era mentira, ele podia ver, assim como Lúcifer, mas não havia problema, não desde que a próxima resposta fosse positiva e verdadeira.

- E você se arrepende de tê-lo aceitado como seu esposo no lugar do companheiro no qual a fiz como companheira?

    Aquela era a pergunta chave e, pelo olhar da mulher sobre si, Namjoon já sabia a resposta.

    Lúcifer fitou o Todo Poderoso parecendo assombrado. Ele sabia pelos olhares de Deus sobre si e Lilith que Ele lamentava pelos filhos que perdeu. E Lúcifer sabia que Deus era capaz de insistir em suas criações até a última centelha de esperança que encontrasse em seus interiores.

     E foi o que Deus viu em Lilith ali, debaixo de toda a ira, de toda a dor. Ele viu que ela estava perdida no que uma vez foi e se tornou. Ainda havia esperança para ela.

- Namjoon. Não. – Repreendeu o Diabo, sabendo que não podia intervir naquela situação.

     Deus o fitou por um momento e então voltou-se a sua primeira filha.

- Eu vi o Mundo Mortal atual, Eu vi as mulheres lutando por igualdade. – Ele alegou com os lumes em azul cristalino focando os lumes escuros dela. – E agora eu entendo a sua luta no passado, minha criança.

     Deus então tocou o alto da cabeça de Lilith e afagou-a num ato carinhoso.

     O ar saiu vagaroso dos pulmões da rainha do Submundo.

- Você me entende. Pai? – Perguntou ela em um sussurro carregado, parecendo querer chorar.

     Namjoon afirmou com a cabeça.

- Você pode deixar o Inferno se desejar, minha filha. – Sussurrou de volta. – És bem-vinda nos Céus futuramente.

      Os olhos do Diabo agora estavam esbugalhados, sua face transmutou para uma pura expressão de pavor. Deus estava tirando sua Lilith de si.

- Não! – Ele gritou com suas mil e uma vozes o acompanhando, os lumes voltando-se a um intenso vermelho sangue.

- Silêncio, Lúcifer. – Namjoon ordenou-lhe com a voz firme, ainda que jamais necessitando aumentá-la.

    O Demônio prendeu o ar e converteu as mãos em punhos, fincando as unhas em suas palmas, esperando que a dor reprimisse um pouco da ira que o tomava.

- Isso seria impossível, Pai. Minha alma está totalmente manchada... – Lilith lembrou-lhe num fio de voz tomado pela tristeza.

    Deus lhe sorriu pequeno e negou com a cabeça.

- Há um modo de livrá-la de suas impurezas. – Revelou. – Dar-te-ei a benção de viver por sete vidas, cada uma com o objetivo de se redimir por um pecado. E quando chegar ao fim de sua última, buscarei a ti e irei levá-la ao Paraíso, onde sempre deveria ter sido seu lugar.

- Lilith, não. Por favor, não! – Implorou o Diabo, aproximando-se, porém logo sendo impedindo pelo que pareceu ser um escudo que Namjoon criou para que evitasse de fazê-lo por completo.

    Lilith virou a cabeça e encarou aquele no qual vivera por milênios ao lado. Seu coração se apertou ao ver Lúcifer parecendo vulnerável pela primeira vez em tanto tempo. Uma parte sua queria ceder e dar um passo para trás, afastando-se do toque de Deus e também negando sua proposta, mas outra, uma maior estava ferida. E foi essa a que venceu numa batalha interna que teve ali consigo mesma sob o olhar de seu amado.

    Os lumes azuis voltaram-se para Namjoon antes de se fecharem por um momento e ela respirar fundo antes de focar em si mais uma vez.

   Ali foi o momento em que as duas figuras em forma de homens souberam de sua decisão.

- Eu aceito. 

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 Muito obrigada por ler até aqui. 

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