Capítulo 18

Ian

     Depois da tensa e triste revelação da verdade sobre a vida de Missy Kedard, agora eu me divertia vendo ela e Jamie discutindo até chegarem à um acordo de negócios, rindo internamente ao perceber o quanto esses dois são parecidos.

-- Eu já disse que não vou aceitar o seu dinheiro! -- ela insistia.

-- Senhorita Kedard, eu não sei porque teima nisso! Você precisa de recursos e eu os estou oferecendo, então o assunto está encerrado. -- Jamie retruca, já exasperado.

     Agora era ele quem sentia na pele o quanto essa mulher é decidida, e eu me deliciava por, pelo menos dessa vez, não ser eu na outra ponta daquele olhar afiado dela.

-- Eu preciso que o senhor volte a ser nosso cliente principal! O senhor vai me ajudar comprando meus grãos e não me dando esmolas.

-- A quantia que quero lhe dar é qualquer coisa, menos esmola, senhorita!

     Não resisto e dou uma gargalhada, tento ser discreto mas falho miseravelmente.

-- Está achando isso engraçado? -- Jamie pergunta com olhar afiado.

-- Na verdade eu estou sim. Vocês estão nesse impasse há quase meia hora e ainda não chegaram à um consenso!

-- Ian tem razão, Jamie. Você é um teimoso e a senhorita Missy aqui não fica atrás. Nenhum de vocês quer ceder, mas eu creio já ter a solução.

-- Diga o que pensou, meu amor. -- meu irmão pede à esposa.

-- Proponho que a senhorita aceite a quantia ofertada para as melhorias na fazenda e em troca, receberemos dez por cento dos lucros das vendas das colheitas futuras até que o valor seja pago. Isso vai lhe dar bastante tempo para pagar, Missy, e sem a pressão de ter um prazo a ser cumprido.

-- Mas vocês não entendem, de nada adianta se eu não tiver a quantidade de compradores! -- Missy bate uma mão na coxa.

-- Logo eles virão, pode ter certeza! Sua fazenda retomará a antiga glória e, claro, Jamie e eu vamos dar uma ajudinha nisso também, recomendando seus produtos.

     Quase vejo as engrenagens da cabeça de Missy calculando a analisando a proposta. Leva alguns segundos até que ela se pronuncie

-- Tudo bem, então, me parece um bom acordo. -- ela aceita.

-- Finalmente! -- Jamie diz, levantando as mãos para o céu.

-- Mas eu quero um contrato formal especificando tudo desse nosso acordo. -- Missy pede.

-- Chamaremos nosso tesoureiro ainda hoje para trazer o dinheiro e o contrato. -- Jamie se levanta e estende a mão direita para Missy -- Negócio fechado?

     Missy observa a mão estendida, que para ela significa tanto, depois olha para Lizy que lhe sorri abertamente. Em seguida se levanta e aperta a mão de Jamie.

-- Negócio fechado, lorde Mackenzie. Muito obrigada a todos vocês. Eu... não quero abusar de sua hospitalidade, e também não posso me demorar pois preciso encontrar trabalhadores urgente para a safra que começa em alguns dias, então partirei assim que assinar o contrato.

-- Jamie já vai enviar um bilhete para o tesoureiro, não é irmão? -- ele assente em confirmação -- Então, temos algumas horas até lá. Que tal conhecer a propriedade, senhorita?

-- Mas ela já conhece de cabo a… -- Jamie começa mas Lizy lhe dá uma violenta cotovelada nas costelas o fazendo perder o fôlego.

-- Nós fizemos algumas melhorias portanto ela vai precisar conhecer de novo, então divirtam-se. -- ela diz, sorrindo para nós.

     Missy lhes dá uma pequena reverência e se retira da sala, sigo atrás dela mas antes de sair viro-me e agradeço Lizy com um piscar de olhos. Ela sorri e me dá um joinha, Jamie também sorri um pouco ainda acariciando as costelas. Já no corredor pego a mão da jovem e cruzo nossos braços, e assim seguimos até fora da casa.

-- E então, o que vai me mostrar primeiro? -- ela pergunta.

-- Na verdade, nada. Eu só sugeri aquilo para termos um tempo a sós. -- digo, sorrindo travesso.

-- Mas eu gostaria de um passeio, Ian. O dia está muito agradável hoje. -- ela me pede de forma tão doce, com um sorriso tão feliz, que seria impossível de negar.

-- Então vamos começar pelos jardins, que tal? -- ela concorda e nos encaminhamos até lá a passos preguiçosos -- Antes das crianças Jamie não dava importância à aquele lugar, quando os gêmeos nasceram tudo foi reformado e ampliado. Fizeram até um pequeno lago artificial, e tem um par de balanços.

-- Eles são uma família muito feliz, não é? -- ela fica pensativa um momento -- Eu gostaria de… deixe para lá.

-- Diga, Missy.

-- Eu de certa forma os invejo. Não de uma maneira ruim, mas… eu apenas gostaria de ter uma família assim. -- ela assume sem olhar para mim -- Mas isso seria impossível de acontecer.

-- E porque acha isso? -- sua resposta é apenas um dar de ombros -- Missy, você é jovem, linda, tem um caráter magnífico e… porra qualquer cara seria muito sortudo em ter você.

-- Está sendo muito gentil por alimentar o meu ego, senhor. -- ela me dá um leve empurrão, brincalhona -- Mas você me conhece pouco e, além do mais, quantos casais conhece que tem o que eles têm?

-- Nenhum, realmente. A história deles foi conturbada, enfrentaram muita coisa juntos. E foi exatamente isso que os uniu mais, a cada adversidade. Se deseja uma história de amor, Missy, não espere que seja fácil, pois nunca é.

-- Não digo apenas pelo romance, mas… a família, Ian. Eu nunca tive isso. Eu fiquei encantada e desconcertada no café da manhã, ao ver aquele monte de gente, e as conversas e brincadeiras. Na verdade até agora eu não havia percebido o quanto desejo isso.

      Eu entendo exatamente os sentimentos que estão dentro dela agora, pois eu os senti por anos quando sonhava com a mesma coisa. Mas decido distraí-la.

-- Está me pedindo em casamento, Missy? -- agora eu que a empurro de leve.

-- Ah, pelos deuses, é impossível ter uma conversa adulta com você, Mackenzie. -- ela ri.

-- Que blasfêmia!

     Chegamos ao nosso destino e Missy admira o lugar. O jardim agora tem o dobro do tamanho de anos atrás, está bem cuidado e cheio de arbustos, flores, bancos e tem até um caramanchão. Quando estou a levando para ver o pequeno lago, somos interrompidos.

-- Titiiiiiio! O tio Ian está aqui, Owen! Fomos pegos! -- ouço Robb gritar.

     Viro-me olhando ao redor e encontro cachos louros correndo por detrás de um arbusto a poucos metros de onde estamos. Missy ri e eu a puxo até la, já imaginando o que esses dois estão aprontando.

-- O que vocês... Pelos deuses… -- interrompo minha frase para admirar a bagunça do lugar.

     Eles estão numa pequenina clareira, onde há apenas grama. Ou melhor, havia, pois agora há somente os buracos onde eles cavaram. E, apesar do aviso de Robb, Owen continua com a tarefa, cavando um buraco, que já está na altura de seus joelhos, com a grande colher que Nita usa no caldeirão.
    

-- Oi, titio! Que acha de nos ajudar aqui, heim? -- Owen pergunta meio sem fôlego pelo esforço.

-- O que diabos vocês estão fazendo? Seus pais vão matar vocês! E a vovó Nita também por usarem a colher preferida dela.

     De fato, hoje os gêmeos se superaram. Ainda não é nem hora do almoço e eles já destruíram parte do jardim e estão sujos de terra da cabeça aos pés.

-- Tio Ian, a mamãe contou uma história de piratas para nós. -- Robb começa -- E você sabe o que piratas fazem, não sabe?

-- Eles enterram tesouroooos! -- Owen grita, levantando a colher em comemoração criando uma pequena chuva de terra.

     Missy gargalha ao meu lado.

-- Ainda quer ter uma família assim? -- pergunto apontando a bagunça.

-- Deixe de ser chato, tio Ian. Você deve ser sido tão travesso quanto eles, ou talvez até mais.

      Sim, eu era. Mas isso não vem ao caso agora.

-- Meninos, não tem nenhum tesouro aqui.

-- E se tiver, titio? -- Owen pergunta.

-- Não tem, há muito tempo eu também procurei tesouros aqui e tudo o que achei foram minhocas.

-- Ah, isso nós também achamos, estão ali, ó, onde a moça bonita está pisando. -- Robb aponta os pés de Missy.

     Ela olha para baixo e dá um pulo ao perceber estar em cima de um significativo monte de minhocas, então começa a gritar e sacudir as mãos e os pés. Contendo a vontade de rir eu a pego no colo e a retiro dali, colocando-a em segurança numa parte limpa do gramado, enquanto os meninos se contorsem de tanto gargalhar.

-- Eu disse que eles são dose. Que tal você levar um, heim, talvez os pais nem percebam e eu não vou contar.

-- Cale a boca. -- ela responde rindo, mas ainda conferindo se há minhocas nos pés.

    Volto-me para onde estão as crianças, e vejo que já retornaram ao trabalho.

-- Que barulheira é essa? -- ouço a voz de Lizy -- Hã… Jamie é melhor você não vir até aqui.

     Depois que Jamie quase arrancou os cabelos em um surto nervoso, ele fez com que os filhos tampassem os buracos que cavaram, e os castigou  sem sobremesa por um mês. Depois, com uma pontinha de remorso o corroendo por ter sido duro demais, ele escondeu um pequeno baú cheio de guloseimas atrás de um arbusto. Os gêmeos ficaram extasiados com a descoberta do "melhor tesouro do mundo todinho", e prometeram nunca mais sair cavando por aí na procura de mais tesouros, já que nas palavras de Owen "foi um trabalhão a toa e que deveriam apenas perguntar ao pai onde encontrar um novo baú".

     Quando esse assunto foi resolvido, o tabelião chegou com o dinheiro de Missy e o contrato. Ela leu e releu tudo atentamente, e com um lindo sorriso no rosto assinou a papelada. Agora falta pouco para a hora do almoço, os pestinhas já estão fazendo a refeição enquanto os adultos esperam. Deixo Annelizy e Missy na biblioteca, na companhia de Clary, e saio às procura de meu irmão o encontrando em seu escritório, onde discutimos sobre os planos que estão em minha cabeça desde ontem. Planos esses que se concretizaram da forma exata que eu esperava.

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