Capítulo 16

     Ian me acompanha até o quarto, e sinto-me ansiosa com o que acontecerá. Eu desejo esse homem, mas sei que não devo ceder à isso. Agora que lorde Jamie aceitou me ajudar, ter um caso com o irmão dele complicaria muito as coisas. Ah, estou em um misto de confusão, receio e excitação. E sinto-me tão cansada agora que não sou capaz de pensar com muita clareza. Chegamos no aposento e, quando acho que Ian se despediria de mim para dormir na sala de visitas, ele entra e fecha a porta do quarto.

-- O que está fazendo? -- pergunto.

-- Em meu banho frio fui acometido de um terrível resfriado, senhorita. -- ele diz, fingindo tossir -- Então, pelo bem de minha saúde, precisaremos dividir a cama essa noite.

-- É mesmo?

-- Ah, sim, apenas por motivos médicos, obviamente. -- ele diz com um grande sorriso.

-- Você é incrível, senhor Mackenzie. -- digo indo até a cama e retiro a colcha.

-- Já está dizendo isso e ainda nem começamos. -- ele vai até o armário e busca algumas cobertas.

     Apenas dou risada e coloco a colcha na cadeira no canto. Ian é muito divertido com esse jeito sedutor dele, e agora depois de assumirmos nossa atração mútua, ele está muito mais a vontade comigo. Ele joga duas cobertas na cama, e começa a retirar as calças.

-- O que está fazendo? -- pergunto alarmada, mas não consigo desviar os olhos dele.

-- Não vou conseguir dormir com essa calça. -- ele diz -- Não se preocupe, vou manter o calção e a camisa. Aliás -- ele segue até a cômoda e ao voltar atira um pano preto para mim -- uma camisa para você ficar mais a vontade fora desse vestido.

     Abro o pano e vejo que a camisa é grande e cumprida, e o tecido escuro me dará mais privacidade. E com certeza será mais confortável que esse vestido apertado. Olho para Ian, que já está deitado, de pernas cruzadas, observando-me com um sorriso no rosto. Minha boca seca ao ver suas pernas nuas, torneadas e musculosas, com uma penugem discreta. Ele percebe meu escrutínio e amplia o sorriso, esse cafajeste convencido.

-- Vire-se. -- exijo.

-- Missy, querida, ambos sabemos que eu verei cada centímetro desse corpo, mais cedo ou mais tarde.

-- Vire-se ou vai dormir no sofá da sala, seu imbecil.

     Ian apenas dá uma gargalhada e se vira de lado, dando-me as costas. Retiro o vestido apressadamente, o colocando cuidadosamente sobre a cadeira para que não fique amassado, e visto a camisa dele. Nunca usei anágua e as outras roupas íntimas, coisa que me arrependo agora pois essa bendita camisa é tudo o que cobre meu corpo no momento. Sigo até a cama, puxo minha coberta e me deito confortavelmente, soltando mais um bocejo.

     Ian logo se vira e ficamos frente a frente.

-- Está mesmo cansada, querida. -- ele se aproxima e acaricia meus cabelos -- Durma, a senhorita teve um longo dia.

-- O senhor também. -- digo, já sentindo os olhos ficando pesados -- Ian, você não se incomoda que eu não queira fazer agora hã… você sabe.

-- Missy, quando fizermos amor eu quero que você esteja bem desperta, para aproveitar completamente o prazer que vou te proporcionar. E saiba que eu vou me demorar fazendo isso.

     Que os deuses me ajudem, já sinto minha libido despertando ao ouvir o que Ian disse, a promessa presente em sua voz.

-- Se continuar falando assim, vou acabar perdendo o sono, Mackenzie. -- sorrio, me aproximando mais dele.

     Ian me puxa e me aninha em seu abraço.

-- Já parei. Agora durma, querida. Amanhã começa uma nova vida para você.

     "Para nós" acho que o ouço sussurrar mas não tenho certeza. Mas sim, sua frase é verdadeira, penso feliz.

-- Sua mãe desconfia de nós, Ian.

-- Minha mãe desconfia de qualquer garota que esteja num raio dez metros próxima a mim, Missy. -- ele ri.

-- Isso acontece porque a sua lista de conquistas deve ser imensa.

-- Não tão grande quanto a maioria pensa.

-- E você já se apaixonou? -- pergunto e me arrependo assim que as palavras saíram de minha boca.

     "Isso lá é pergunta que se faça pro cara que você estava dando uns amassos mais cedo, Missy?", aquela minha voz intrometida me acusa.

-- Não, nunca me apaixonei de verdade. E quando desconfiava que alguém estava criando esse sentimento por mim terminava tudo logo. Não me mantenho em nenhum relacionamento que os interesses e sentimentos de ambos não sejam recíprocos. Então, todas minhas relações tiveram a duração bem curta.

-- Isso é um aviso de que eu levarei um pé na bunda caso me apaixone por você? -- pergunto divertida.

-- Não, eu só estou falando um pouco de mim para que me conheça melhor.

-- Então você é um mulherengo com responsabilidade afetiva, que fofo!

-- Rá, rá, engraçadinha. Mas e quanto a você, heim? Pelo seu comportamento digamos, empolgado, de mais cedo, estou errado em supor que não seja mais virgem?

     Dou risada mentalmente, lembrando-me da gravidez, e sinto uma pontada de culpa de esconder isso dele. Mas agora não é o momento dessa revelação.

-- Está bem óbvio que não sou mais virgem, não é? Isso o incomoda?

-- Está brincando? Nada contra as puras, mas eu prefiro as mulheres que já sabem o que fazer, e como fazer, e do que gostam no sexo. É muito mais divertido.

     Dou risada, concordando com ele. Lembro-me de minha primeira vez e de como mudei desde então. Depois, sinto o remorso e culpa por todas as consequências de minhas escolhas.

-- Quantos homens teve, Missy? Droga, me desculpe, isso não é da minha conta, não precisa responder.

-- Eu tive apenas um, Ian. Nós tivemos um caso que durou uns seis meses.

-- E vocês não estão mais juntos há quanto tempo?

--  Mais ou menos dois meses.

-- E onde esse homem está agora?

-- Ele está morto.

     Ian solta um suspiro de surpresa diante dessa revelação. Eu nunca conversei sobre Paul com ninguém. Mas, estranhamente, não estava sendo tão difícil desabafar com Ian quanto pensei que fosse.

-- Merda, eu não tinha idéia, me desculpe. -- apenas dou de ombros -- Você... você o amava? -- ele pergunta, tenso.

-- Não, eu nunca o amei. Eu também nunca me apaixonei, Ian. Meu pai sempre tentou me vender aos rapazes solteiros, o que fez com que qualquer chance de romance fosse repudiada por mim. Paul era um empregado da fazenda, um Zé ninguém sem um tostão no bolso, do tipo que meu pai nunca aprovaria, mas era um belo homem e… o resto você pode imaginar.

- Foi uma relação apenas física, então?

-- Totalmente.

-- E como você está depois da morte dele?

     Como estou? Bem… estou grávida, sinto vontade de dizer. Sei que esse é, talvez, o melhor momento de colocar as cartas na mesa, falar logo toda a verdade, mas não consigo. Se eu disser isso, terei que confessar também outras coisas que ainda não estou pronta e, além do mais, Ian não precisa saber pois, como ele mesmo disse, esse nosso caso não vai durar.

-- Eu estou bem, Mackenzie, não se preocupe comigo.

-- Certo. -- Ian faz silêncio por um momento mas não aguenta a curiosidade -- Como ele morreu, Missy?

-- Ian, podemos deixar esse assunto de lado agora, por favor? -- peço.

-- Claro, claro. -- ele me aperta em seu abraço -- Não quis ser invasivo, me perdoe, é só que nunca me deu tantas informações sobre você, Missy. Então quando começou a conversar sem rodeios eu não pude me conter.

-- Então não me acha mais misteriosa e auto suficiente? -- digo, lembrando do que ele disse em nossa primeira discussão.

-- Ah, a senhorita certamente é as duas coisas, mas quanto aos seus mistérios, serei paciente e os descobrirei aos poucos.

-- Fique a vontade para tentar, Mackenzie. -- digo e bocejo de novo.

     Ian me solta e se levanta um momento para apagar as velas e eu observo seu belo corpo a cada passo. Quando retorna a cama, me pega em seus braços de novo.

-- Gostou do que viu? -- ele pergunta.

-- Você é muito convencido, sabia? -- desvio da pergunta, pois minha resposta apenas alimentaria o ego já enorme dele.

-- Boa noite, Missy. -- ele beija minha testa -- Tenha bons sonhos, querida.

-- Boa noite Ian, e… obrigada por tudo. De verdade. -- puxo seu rosto para baixo e dou um beijo casto em sua boca.

     Essa pequena carícia, esse aconchego delicioso e o calor do corpo dele, fazem com que eu durma rápido e com um sorriso nos lábios.

     Acordo sentindo um leve sacolejar, tento abrir os olhos que ainda estão pesados, e mesmo com a mente ainda sonolenta, percebo já ser dia.

-- Missy, acorde! -- Ian chama, me sacudindo novamente.

     Isso me desperta rapidamente.

-- Bom dia, dorminhoca! Se apronte, estamos quase atrasados para o café.

-- Bom dia, senhor Mackenzie. -- digo baixo, levantando-me.

     Noto que Ian já está completamente vestido, com os cabelos castanho avermelhados alinhados, e seu suave perfume amadeirado tomando conta do ambiente. E noto também que ele observa atentamente meu caminhar até meu vestido sem nem piscar, admirando minhas pernas nuas.

-- Senhor Mackenzie? Nada de me chamar de Ian hoje? -- ele cruza os braços.

     Pego o vestido o colocando à frente do meu corpo e viro para ele.

-- Só depois que eu me alimentar. Agora me dê licença.

     Ian se retira e eu me visto, faço uma rápida higiene para tirar o mau hálito matinal e arrumo os cabelos revoltos numa trança um tanto bagunçada. Saio do quarto e não o encontro em cômodo algum da casa então sigo para fora e ali está ele, sorridente, me esperando.

-- Eu prefiro que use os cabelos soltos. -- ele diz quando começamos a caminhar.

-- Então eu o usarei assim quando quiser agradá-lo, senhor.

-- O que será em breve, obviamente.

-- Talvez sim, talvez não. Quem sabe? -- respondo sorrindo.

     Ian apenas balança a mão no ar, desconsiderando minha resposta evasiva. Já estamos quase chegando na casa quando ele corre por alguns metros na direção de um arbusto e ali para. Quando eu o alcanço o vejo segurando uma pequena flor alaranjada, que sem dizer palavra, ele delicadamente coloca atrás de minha orelha. Fico surpresa pensando em como é possível que Ian Mackenzie seja tão safado e devasso, e ao mesmo tempo seja tão romântico e carinhoso?

     Ainda em silêncio, pega minha mão e a apoia em na curva de seu braço, e assim chegamos até a casa principal, seguindo diretamente até a sala de jantar que já está cheia com a família completa, junto de Agnes.

     Lorde Jamie está na ponta da mesa, com os dois filhos no colo, um em cada perna, e tenta fazer com que os meninos parem de brincar com a comida, enquanto sua esposa coloca a pequena bebê numa manjedoura que há na cadeira ao seu lado. Em seguida, ela se levanta e pega um dos meninos para dividir a tarefa de alimenta-los com o marido. Nita e Klan estão sentados se servindo e Agnes já está quase terminando a refeição.

-- O café da manhã aqui é sempre agitado com a família completa. No almoço e jantar, as crianças são alimentadas primeiro, então depois os adultos comem em paz. -- Ian me explica sussurrando -- Bom dia, pessoal! -- ele cumprimenta, agora quase gritando.

     Todos nos encaram por um momento e nos cumprimentam, sinto-me acanhada com tantos olhares sobre mim, porém tudo está tão agitado com as crianças que eles não nos dão muita atenção. Apenas Nita nos lança um olhar desconfiado e coro ao saber que suas suspeitas tem fundamento.

-- Bom dia a todos. -- digo seguindo até a cadeira vazia ao lado de Agnes.

-- Se sente melhor, senhorita? -- é Annelizy quem pergunta -- Robb, não, me de um essa faca aqui! -- ela toma o objeto das mãos do menino.

-- Sim, muito melhor, agradeço os cuidados e a hospitalidade de vocês.

     Sirvo-me enquanto observo o menino no colo da mãe agora bater palmas cantando uma canção, e sorrio ao ver o irmão, que está no colo do pai, o acompanhar na cantoria com a boca cheia de pão, fazendo voar farelos por todos os lados.

-- Owen, não pode cantar com a boca cheia, filho! -- lorde Jamie o repreende carinhosamente -- Sim, meu irmão é realmente muito hospitaleiro, ainda mais quando se trata de jovens e belas damas.

-- Se bem me lembro você também é, Jamie, não foi assim que conheceu sua esposa, a amparando sob seu teto? -- Ian o provoca.

-- Na verdade, sim. Então, devo supor que o desfecho da história de vocês será o mesmo?

-- O quê? Não, não, lorde Jamie, não há nada acontecendo entre seu irmão e eu! -- me intrometo na conversa para esclarecer as coisas.

-- Ainda. -- Ian murmura, mas todos ouvimos mesmo com a cantoria das crianças.

-- Isso vai ser no mínimo interessante. -- Lizy diz ao marido -- Agora deixe-os em paz, Jamie, a pobre Missy já está mais vermelha que um tomate.

     E assim, seguiu o café da manhã mais agitado e constrangedor que tive na vida. Em meio à canções infantis, os olhares conspiratórios da família de Ian e o sorrisinho de satisfação no rosto de Agnes.

  
   

    

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