Frio como gelo
É segunda-feira, minha primeira aula com o Geovani desde que tudo aconteceu, eu ainda não tive notícias dele. Mandei pedido de amizade no Facebook, mas ele não aceitou ainda, se é porque ele não viu ou porque ele viu e preferiu ignorar eu não sei, e no Instagrammeu pedido continua igualmente ignorado. E como eu não tenho o número dele e nem ele o meu, não tenho outro meio de fazer contato com ele além da sala de aula, e sua casa é claro, mas não posso simplesmente aparecer lá.
Vou pra faculdade sozinha dessa vez, quero chegar mais cedo para tentar falar com meu professor, mas justo hoje ele chega quase em cima da hora, com a boca levemente inchada e ainda marcada com o machucado que eu deixei. Bem, ele também deixou um chupão em mim, mas felizmente a maquiagem faz milagres na vida da gente, e claro que uma aluna espertinha questiona a boca dele machucada.
— Nossa professor, beijou muito esse fim de semana foi?
— Antes fosse.
— E esse machucado aí? Apareceu sozinho foi?
— Isso foi um acidente, vamos começar a aula? — Ele se vira e logo começa a aula, sem olhar na minha direção em momento nenhum. Na hora do intervalo ele também me evita, saindo da sala. No final da aula eu tento novamente falar com ele, dessa vez ele não consegue fugir.
— Professor, posso ter uma palavrinha com você?
— Na verdade, hoje eu estou com um pouco de pressa Mellanie, na próxima aula, ok.
— É importante.
— Estou com pressa, desculpa — E antes que eu possa dizer maus alguma coisa ele sai rapidamente de perto de mim.
— Sabe eu achava que você era a queridinha do Geovani, não achava que você também tomava gelo dele haha — fala uma colega da turma de quem não me lembro o nome.
— Pois é, acho que acontece com todo mundo né!
— É o que parece, eu sou a Sarah, prazer.
— Prazer Sarah, eu não vi você na balada com o pessoal no fim de semana.
— É, eu não fui, eu tive um imprevisto, quem sabe na próxima! Tchauzinho Mellanie, mais sorte na próxima tentativa de falar com o Geovani!!
— Obrigada!!! — Eu não falo nada, mas não preciso de sorte. Eu viro pra Ana — Posso ir com você? Vou passar na casa do Geovani pra falar com ele.
— Olha, você sempre pode ir comigo, mas, você acha realmente uma boa ideia? Ele não parecia muito receptivo.
— Se eu perder a coragem, talvez eu nunca mais recupere. E eu preciso fazer isso.
— Ok, então eu te levo lá e fico esperando, se você acabar ficando por lá você me manda uma mensagem e eu vou embora, se não eu te levo pra casa, ou pra minha casa, dependendo de como for, eu tenho sorvete no congelador!
— Certo, mas espero não precisar do sorvete!
— Eu também espero!!
Chegando na casa do Geovani, pergunto ao porteiro sobre ele e o porteiro me diz que ainda não chegou. Ótimo, vou esperar aqui, onde as chances dele fugir são mínimas. Eu espero cerca de 20 minutos até ver ele dobrando a esquina, de mãos dadas com uma mulher ruiva de cabelos longos, quando me vê parado na frente da casa dele ele arregala os olhos e segue até mim.
— Boa noite Mellanie, posso ajudar?
— Eu tenho uma duvida muito importante, não dá pra esperar, será que o senhor poderia me responder agora?
— Posso Mellanie, posso sim — ele solta um suspiro e se vira pra ruiva, se despede dela com um beijo no rosto e ela fala algo no ouvido dele, antes de entrar no prédio. Claro, ele já estas saindo com alguém, me pergunto se a ruiva já existia no domingo, se ele só me usou ou se só me substituiu rápido demais, de qualquer forma, não faz diferença, não é pra isso que eu estou aqui.
— Eu acordei nua.
— Achei que você não quisesse falar sobre o que aconteceu.
— Isso não tem nada haver com o que aconteceu, antes, de manhã, eu acordei nua. Se nada tinha acontecido, se você só me deitou lá e saiu, por que eu estava sem roupa?
— Você tem certeza que isso não infringe todo aquele papo de não falar?
— Geovani, será que você não pode por favor, só responder logo, pra eu voltar pra minha vida e você voltar pra sua ruiva?
— Minha ruiva? Está com ciúmes?
— De forma alguma, eu não tenho nada haver com quem você dorme ou deixa de dormir, nós não somos nada, não temos nada. Só quero a resposta.
— Você estava sem roupa por que você meio que acordou no meio da noite, ainda estava bêbada eu imagino, não estava totalmente consciente, tirou a roupa e foi até mim no meu quarto, tentou ficar comigo, eu não quis e você insistiu, eu disse pra você ir pro quarto que eu ia logo depois, você foi, e eu tranquei a porta do meu quarto. Mas de qualquer forma você não voltou. Deve ter dormido enquanto me esperava.
— Foi só isso?
— Foi, eu só não contei antes porque achei que seria constrangedor pra você. Mellanie, não volte aqui pra me acusar, se quer algo de mim, seja direta. Você disse que quer esquecer o que aconteceu não disse? Como pretende fazer isso vindo aqui o tempo todo?
— Eu... Não venho aqui o tempo todo, essa é a primeira vez!
— Segunda Mellanie, apesar de na primeira eu ter te trazido. Enfim, não importa, boa noite Mel.
— Boa noite Geovani — viro as costas para sair quando ele chama meu nome novamente.
— E Mel, eu não estou dormindo com ela.
Quando termina de dizer ele se vira e entra na casa dele. Eu me viro de volta e retorno pro carro.
— Você está bem?
— Ele disse que nada aconteceu, eu me ofereci pra ele me recusou, por isso eu tava nua.
— E você está bem?
— Ele disse que não está dormindo com a ruiva, mas isso, isso não significa nada.
— Não, realmente não significa nada.
— Eu preciso sair daqui .
— Você está bem?
— Estou, só preciso dar o fora daqui! — apesar do que eu digo, meus olhos tão cheios de lágrimas que eu me recuso a derramar.
— Vai querer o sorvete imagino?
— Com certeza!
~ ♡ ~
Já se passou um mês, e eu não consigo tirar o Geovani da cabeça, desde aquele dia eu nunca mais falei com ele, nada que não fosse sobre a aula pelo menos. Mas isso não impede que metade dos meus pensamentos sejam sobre ele, é quase como se eu estivesse enlouquecendo. Bernardo apareceu na minha casa algumas vezes e eu fingi que não estava, não tem sido tão difícil ignorar ele, e apesar da Ana insistir que eu deveria me mudar, eu não acho que seja necessário, eu não acho que o Bernardo faria algo que me machucasse intencionalmente, apesar de tudo, ele é uma boa pessoa, eu sei que é. Meu telefone toca e quando vejo que é a Ana, eu atendo na mesma hora.
— Fala gata.
— Oi Ana, tudo bom?
— Tudo ótimo... Eu tô ligando por que... Bem eu quero te pedir um favor...
— Favor, qual?
— Lembra que eu disse que desde o Lucas eu não saio com ninguém? Então, eu conheci uma pessoa...
— Sério Ana?! Que ótimo, eu fico muito feliz, mas ainda não entendi onde eu entro nessa história.
— Eu conheci essa pessoa num chat de pessoas que passaram pela mesma coisa que eu, eu ainda não conheço ela pessoalmente, só vi algumas fotos, e ela também, eu fico meio assim de sair com alguém da Internet sabe, mesmo sendo num restaurante onde vão ter mais pessoas, aí pensamos e achamos que seria uma boa ideia cada um levar um acompanhante, ela vai levar um cara, que ela jura que é muito gato e eu, bem, eu queria levar você!
— Eu? E isso seria um encontro duplo?
— Sim, mas sem nenhuma responsabilidade de ter que fazer algo. Só conversar e se for uma roubada, a gente pode ir embora na hora! Por favor Mel, eu tô muito animada mas eu nunca vou ter coragem de ir sozinha.
— Tudo bem, mas se der tudo errado, você me deve uma! Agora, moças? Você nunca me disse sobre isso.
— Pois é ainda é novo pra mim também, eu, eu acho que sair com uma mulher vai ser mais fácil que um homem, e tipo, eu já gostei de mulheres antes, eu só nunca... Sabe, nunca tive nada com nenhuma.
— Eu entendo, estou muito orgulhosa de você, estar se permitindo finalmente seguir em frente! Quando é o tal encontro?
— Então, é hoje... Algum problema com isso?
— Você tem muita sorte que eu não tinha planos, vou me arrumar e espero você.
Algumas horas depois, estou pronta, maquiagem leve, um vestidinho solto e sandálias foi o que eu escolhi pra usar hoje, espero pelo menos nesse jantar, conseguir esquecer um pouco do Geovani. Na hora combinada Ana me pega na minha casa.
— Você está linda! — e ela estava mesmo, o vestido vermelho justo que ia até o meio das coxas, delineador e cabelo arrumado de lado deixavam a Ana estar de parar o trânsito. — essa menina não vai resistir! Espero que ela esteja a sua altura!
— Eu também haha, estou nervosa, ela reservou mesas separadas pra gente, uma do lado da outra, pra termos privacidade ela disse, eles já estão esperando lá, será que vai ficar tudo bem?
— Tenho quase certeza que sim. Haha
Quando chegamos Ana da o último retoque na maquiagem e saímos em direção ao restaurante, esperando de verdade que não seja uma roubada. Estou tão nervosa que nem tinha tentado ver quem é meu par até ouvir alguém gritar "Ana" e no momento que eu olho, meu coração dispara e o mundo sai fora de foco. A mulher gritando a Ana é nada mais nada menos que a ruiva que estava com o Geovani na outra noite, e por falar no Geovani, ele se encontra ao lado da mulher, na posição de meu par nesse maldito encontro duplo.
— Oi Ana, eu sou a Camila e esse é o Geovani, eu estava ansiosa pra conhecer você finalmente!
— Camila essa é a Mel, minha melhor amiga.
— Prazer Mel, espero que esteja feliz com seu par!
— Prazer Camila... Na verdade, estou feliz sim.
— Que bom!! Vamos entrar?
Ao entrarmos no restaurante logo somos separados, o Geovani ainda não deu uma palavra, e espero que isso mude agora que estamos sozinhos. Talvez isso acabe sendo uma boa coisa, talvez seja a chance de esclarecer as coisas com ele, e talvez, depois desse encontro ele possa finalmente parar de me tratar de maneira tão fria, podemos não ter nada, mas ainda podemos ser amigos. Quando vemos o garçom se aproximando ouço sua voz pela primeira vez na noite.
— Tem alguma preferência? De bebida?
— Pode ser um vinho?
— Vinho está ótimo.
— Boa noite, sejam bem-vindos querem fazer o pedido?
— Vou querer o filé por gentileza, e a senhorita...
— Eu quero o Spaghetti à Carbonara!
— Ótima pedida, querem ver a carta de vinhos?
— Queremos sim — Geovani escolhe o vinho e no que o garçom se afasta ele se dirige a mim, felizmente não ficando em silêncio de novo — Não precisava mentir, sabe.
— Mentir? Sobre o que?
— Sobre ter gostado da Companhia.
— Eu não menti Geovani, eu realmente gostei, que fosse você, acho que temos uma chance de finalmente conversar.
— Tenho certeza que você preferia conversar com outra pessoa. Alguém de quem você não precise sair correndo.
— Você está enganado, não foi assim.
— Estou? Você não arrumou uma desculpa bosta qualquer e foi embora da minha casa o mais rápido possível Mellanie?
— Fui, mas o que mais você queria que eu fizesse?
— Queria que ficasse. Queria que não fugisse de mim, queria ter a chance de conversar com você, queria não ter lido num bilhete que você preferia esquecer, enfim, como pode ver eu queria muitas coisas.
— Pra que ficar e conversar? Pra que passar por uma saia justa desnecessária? sabemos que o que aconteceu foi só sexo, não tinha motivos continuar ali.
— Você está falando por você Mellanie, pra mim, não seria uma saia justa conversar com você. E pra mim não foi um sexo qualquer.
— O que foi pra você então Geovani? — No momento em que eu faço a pergunta o garçom chega com os pratos e ambos ficamos em silêncio, e permanecemos em silêncio enquanto comemos.
— Se foi só sexo como você diz, porque você ficou com tanto ciúmes da Camila?
— Você não respondeu a minha pergunta.
— Você também não.
O resto do jantar é silencioso, nenhum de nós dois quer dar o braço a torcer, então ficamos só observando a mesa ao lado, e vejo com certo orgulho, como a Ana parece feliz. Quando as meninas finalmente pedem a conta, nós também pedimos, vemos elas saindo na nossa frente srm nem olhar pra gente e entrar no carro da Ana, elas estão animadas e conversando, não passa muito tempo até que elas se beijam, é um beijo doce, cheio de sentimento e eu me sinto mal por estar olhando, então me encosto no carro que imagino ser do Geovani, e fico de frente pra ele.
— Você se arrependeu?
— De ter ficado com você? Não, não me arrependi.
— Mas foi só sexo? —Enquanto pergunta Geovani dá um passo pra mais perto de mim.
— Foi!
— Sexo casual? — mais um passo pra frente.
— Sim Geovani, sexo, casual e sem sentimentos.
— Você não teve nenhum sentimento? É isso? — Ele da mais um passo pra frente e estamos quase encostados um no outro.
— Sentimentos só iam atrapalhar tudo, foi sexo casual, foi muito bom, mas não foi nada além de sexo casual — eu digo e olho pra ele. No mesmo momento sua boca envolve a minha, ele pressiona meu corpo com o seu, mas não forte o suficiente pra que eu não consiga sair caso eu queira, mas eu não quero, no fundo eu ansiava por esse beijo, e beijando ele eu me sinto quase como se estivesse completa de novo, como se faltasse algo esse tempo todo e eu finalmente tenho o que faltava.
Eu passo os braços em volta dele e o seguro firme, quase como se tivesse medo dele ir embora, e me entrego a esse beijo totalmente, nossas línguas dançando em nossas bocas, as mãos apertando prendendo o outro contra si, eu solto um gemido, sua boca continua na minha, o beijo é doce mas ao mesmo tempo é quente, envolvente, seus lábios são macios contra os meus, sua língua buscando a minha a todo momento, sinto sua mão acariciando meu cabelo, enquanto a outra me segura forte. E continuamos nos beijando, até que de repente ele se afasta de mim, e eu me sinto quase vazia.
— Esse foi um beijo sem sentimentos também Mellanie?
Não tenho resposta pra essa pergunta, ele não diz mais nada, só se afasta de mim, cada vez mais. Entra no carro e eu fico ali sozinha, ainda sem resposta pra pergunta que ele me fez.
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