18- Explicações

Hoseok

Para muitos, o sábado serve para sair e se divertir com os amigos. Para mim, ele serve para visitar Yeontan, e no momento, eu não trocaria isso por nada.

Mas, ver Yeontan, implicaria em ver Kim Taehyung, e depois do que fizemos ontem, eu confesso estar bastante envergonhado. Claro, não foi quase nada, nós não transamos, mas mesmo assim, as poucas coisas que fizemos me deixam levemente desconcertado.

- Para onde está indo? - Yoongi me pergunta, da cozinha, quando me vê indo em direção à porta. Ele sempre faz essa mesma pergunta, e sinceramente, parece não acreditar na resposta que eu sempre dou.

- Estou indo fazer caminhada, mais tarde eu volto - eu disse de forma simples, antes de sair de casa, sem esperar uma resposta dele.

Eu pensei em dizer a verdade sobre isso, mas tenho medo de que talvez ele queira me impedir de ver Yeontan por causa de Taehyung. Eu sei que não é certo que eu fique vendo ele com tanta frequência, principalmente com tudo o que sinto por si.

Eu realmente gosto muito de Taehyung, e sinceramente, não faço ideia de como esse sentimento surgiu tão rápido. Eu queria poder ficar com o Tae, mas enquanto ele for meu professor, não vai acontecer. E principalmente, não vai dar certo se ele ainda tiver o trabalho de prostituto, porque mesmo que ele queira, não vai poder ser só meu, e mesmo que eu esteja disposto a tentar não me importar com isso, sei que ele não aceitaria ficar comigo sabendo que não pode deixar a outra vida.

Imerso em meus pensamentos, eu só percebi que já estava perto da casa de Taehyung quando escutei um latido, esse que eu conseguia reconhecer como o de Tannie. Ele estava para o lado de fora da casa com Taehyung, que parecia ter saído para pegar as correspondências.

Ao chegar mais perto, pude ver Yeontan correr até mim, me lambendo quando o peguei no colo, sem parar quieto por nem um segundo. Ele tem bastante energia.

- Alguém está muito animado hoje - eu disse, quando me aproximei mais da casa, encontrando meu professor já esperando na porta, depois de pegar as correspondências na caixa de correio no pequeno portão de sua casa.

- Ele sempre fica animado quando sabe que é o dia de você vir vê-lo - Tae disse, me dando passagem para entrar, antes de fechar a porta.

Ali dentro, eu tomei a liberdade de ir diretamente até a sala, me sentando no sofá com o cachorrinho nos braços.

- Como você está hoje, bebê? - eu perguntei, rindo enquanto recebia várias lambidas de Yeontan.

- Ele está bem. Eu estava pensando, você pode levá-lo para passar um fim de semana com você, se quiser, como fazia antes - Taehyung não olhou para mim enquanto falava, acariciando os pêlos escuros do cachorro. - Eu sei que você cuida bem dele - dessa vez, no entanto, ele me olhou, e pude ver um tipo de brilho em seu olhar.

- Eu não sei, Tae... O Yoongi ainda não sabe que eu venho aqui. Mas eu queria muito levar ele, então vou tentar conversar com meu primo antes e te aviso - eu sorri, olhando de Taehyung para Yeontan.

- Hobi... - ele começou dizendo, me chamando pelo apelido, coisa que ele não fazia e que acabou me causando um frio na barriga.

Estar com Taehyung realmente me faz bem, mesmo que eu não possa tê-lo. Tae me faz feliz com muito pouco, e a intensidade dos meus sentimentos me assusta às vezes.

- Eu queria conversar com você sobre uma coisa... - eu estava ansioso para saber sobre o que ele queria falar, e aguardei ansiosamente. - Eu não sei como começar isso - ele sorriu pequeno, desviando o olhar do meu, mirando em alguma coisa a sua frente. - Nós dois, de alguma forma, e querendo ou não, nos aproximamos muito, não tem como negar isso. Eu te considero meu amigo, e... Você está se tornando alguém muito importante para mim.

Certo, ser chamado de amigo pelo cara em que você está apaixonado não é exatamente a melhor sensação do mundo, mas não vou reclamar disso, parece ser o mais perto que vou chegar dele. Mas quem sabe eu não consiga o cargo de melhor amigo mais para frente, não é?

- Eu quero te contar como eu acabei parando na vida que tenho hoje, e quero te contar como é.

- Mas eu já sei, Tae, você me disse. Você precisou, para pagar dívidas que não eram suas - ele não precisava me contar nada disso, e eu não queria forçá-lo a isso.

- Mas eu quero te contar desde o início.

- Tudo bem, então - era uma coisa que ele queria, e talvez me contar fosse fazer com que ele se sentisse melhor, então vou deixar que ele diga.

- Eu estava me formando como professor, como você sabe. Eu vivia de forma tão tranquila, e não me importava muito com o que os outros pensavam de mim sobre nunca ter namorado, eu não queria, então não fazia. Minha família vivia bem, nós tínhamos uma boa casa e nunca faltava nada, era assim desde quando eu era criança. Mas um dia, eu descobri que meus pais saíam para jogar, e até conversei com eles sobre isso, mas me prometeram que era apenas por diversão e que não era nada sério. Naquela mesma noite, meus pais sofreram um acidente de carro e acabaram não sobrevivendo. Com isso, eu descobri a enorme dívida que eles tinham feito.

- Tae...

- Por favor, deixe eu terminar de contar primeiro.

- Certo, pode continuar - ele suspirou antes de continuar.

- Nós não tínhamos mais dinheiro, eles tinham gastado tudo com os jogos, e ficou para mim pagar toda a dívida, e ela era tão grande, Hobi... Eu vendi a nossa casa, e comprei essa aqui antes de usar o restante do dinheiro para pagar parte da dívida. A outra casa era bem grande e muito bonita, em um bom bairro, então me rendeu bastante, e essa aqui é uma das mais baratas que eu encontrei, então sobrou bastante dinheiro, mas não foi o suficiente. A dívida continuou bem grande, e com a demora, as pessoas para quem meus pais deviam disseram que iam cobrar com juros. Eu fiquei apavorado, porque além de pagar as contas de casa e a faculdade, eu precisava pagar eles, e meu salário como estagiário de professor não dava para quase nada. Então eu precisei... - ele não completou, mas eu entendi o que ele quis dizer. - Eu conheci o Jin naquela boate a tempos atrás, e um dia em que estávamos bebendo, fora do expediente de trabalho dele, ele acabou deixando escapar que estavam contratando pessoas que estivessem dispostas a fazerem sexo com os clientes, e receberiam bem. Ele tentou me impedir, claro, mas eu já tinha colocado isso na cabeça, então ele não pôde fazer muita coisa.

Eu não consigo imaginar Taehyung tendo que fazer isso por um erro que nem era seu, ao menos não sem sentir tanta dor por isso. Me dói ainda mais saber que Tae não é o único que precisa fazer coisas assim no mundo.

Eu não sabia o que fazer enquanto ele falava, então, com uma mão acariciando Yeontan, que decidiu tirar um cochilo no meu colo, a outra eu apoiei em suas costas, começando um carinho ali, tentando ser reconfortante.

- Eu entrei em contato com o dono da boate, dizendo que estava interessado no trabalho... Eu precisei passar por alguns exames, e ele me fez algumas perguntas bem constrangedoras, e é claro que ficou extremamente animado quando descobriu que eu ainda era virgem. E, bom, o meu primeiro salário foi mais alto por isso. Se ao menos tivesse sido com uma pessoa qualquer, talvez não tivesse sido tão ruim...

- Não me diga que ele fez você... - ele apenas assentiu, passando a mão pelo rosto. - A sua primeira vez foi com o seu chefe, Tae?

- Bom, ele faz isso com todos, até onde eu sei, é como um treinamento para todos nós, e ele não dispensa ninguém depois disso, mesmo que não ache a pessoa apta para o trabalho, ele sempre diz que podemos aprender. Ele normalmente paga a mais quando é com ele, mas o fato de eu ser virgem me rendeu mais que o normal, e isso me ajudou bastante, de certa forma.

- Como pode ter te ajudado?

- Eu dividi todo o meu primeiro pagamento entre as pessoas que meus pais deviam, não sobraram muitas, eu já tinha conseguido eliminar algumas, e eles aceitaram não cobrar os juros por isso. Então estabelecemos um dia e um valor fixo para que eu pudesse pagar aos poucos, e às vezes eu conseguia adiantar algumas parcelas - ele parou um pouco, respirando antes de continuar. - Eu tenho vinte e seis anos, comecei minha faculdade com dezoito, comecei o estágio com dezenove, e estou trabalhando na boate desde os vinte. Quando eu me formei e consegui um emprego de verdade como professor, com vinte e três anos, as coisas melhoraram um pouco, já que meu salário aumentou. Agora, com quase vinte e seis anos, eu vivo economizando, então sempre consigo adiantar alguma parcela da dívida com uma parte do salário de professor, mas o salário como prostituto continua sendo minha maior fonte para o pagamento.

- Ainda falta muito? - eu não queria que Taehyung sofresse tanto, e mesmo que não tenha nada que eu possa fazer, ainda sim queria saber sobre o tempo que ainda falta. Para o meu alívio, dessa vez, Taehyung sorriu, se encostando totalmente no sofá, com a postura relaxada.

- Esse era o último ano, então está acabando, talvez no fim do ano acabe tudo.

- Sério? - ele assentiu, animado. - Eu fico muito feliz por você, Tae.

- Bom, eu tinha que ter terminado ano passado. Mesmo que tenham dito que não iriam cobrar os juros, e por causa de um atraso que eu tive, eles decidiram que iriam cobrar uma certa quantia, mas que não chega a ser metade de tudo. Felizmente, de todas aquelas pessoas, eu já consegui pagar a maioria, ficaram apenas as que as dívidas eram maiores.

- Se você precisar de alguma coisa, eu posso tentar te ajudar...

- Não, não quero sentir que devo para você também... Não para você. Você foi uma das únicas coisas boas em meio a todo esse caos. Depois de Yeontan.

- E como você conheceu ele? - eu perguntei, sorrindo, tentando não demonstrar como o que ele disse mexeu comigo.

- Tannie é de raça, mas eu o encontrei na rua. Eu decidi adotá-lo, mesmo que não tivesse tantas condições para isso. Eu não poderia ter deixado ele lá, com frio e com fome.

- Você fez certo, que bom que decidiu adotá-lo - eu sorria enquanto olhava para o cachorrinho em meu colo.

Nós estávamos envoltos por um clima que era bom, de certa forma. Eu gostava de conversar com ele, e saber que ele confia em mim para contar tantas coisas sobre o seu passado me deixa feliz.

No entanto, toda aquela atmosfera foi quebrada com o som da campainha tocando, indicando que alguém estava ali, e alguém impaciente, pela quantidade de vezes em que tocou até campainha em seguida.

- Estranho, eu não estou esperando ninguém - ele disse, se levantando e indo até a porta. - Ah, meu Deus - eu escutei ele dizendo, parecendo preocupado, antes que alguém entrasse na casa, parando assim que me viu ali.

Yoongi havia chegado, e não parecia nem um pouco feliz.

- O que você está fazendo aqui? - ele perguntou, ignorando totalmente a presença do professor ali.

- Eu posso te explicar tudo, e não tem nada a ver com o que você está pensando.

- Ótimo, comece a dizer - ele ignorou totalmente as formalidades, sentando em uma poltrona que estava posta em frente ao sofá em que eu estou.

- Você sabe que eu vinha ver Yeontan antes, e sabe o quanto ele gosta de mim. Mas depois que Taehyung e eu brigamos e eu parei de vir aqui, ele ficou doente, eu não podia deixar ele assim.

- Claro, mas além do cachorro, o que mais vocês fazem? Porque eu sei que faziam algumas coisas antes.

- Nós não fazemos mais nada, agora eu venho aqui exclusivamente para ficar com o Tannie. Sim, confesso que fiquei com Taehyung recentemente, mas foi na boate, ontem, e não teve nada a ver com o fato de eu vir.

- Hoseok, eu não sei se é uma boa idéia você ficar vindo aqui. Pode pegar o Yeontan e levar lá para casa, mas não vejo a necessidade de você vir.

- Eu não posso ficar levando ele direto, Yoon, você sabe que não seria tão fácil, essa aqui é a casa dele. Não me faça ter que parar de vir vê-lo. Eu sei que você é só meu primo e eu não preciso te obedecer, mas não gosto de ficar brigado com você e gosto de levar suas opiniões em consideração... Por favor, me deixa continuar vindo - Yoongi nunca resistia quando eu pedia assim, de forma um tanto manhosa, e fico feliz em perceber que ainda funciona.

- Certo, pode continuar vindo - ele respondeu, não muito feliz com isso. - Mas tomem cuidado, vocês dois. Sabem que ninguém no colégio pode saber, alguém pode interpretar errado. E além disso, tomem cuidado com certas atrações que vocês possam sentir.

- Pode deixar, senhor Min - foi Taehyung quem disse, se sentando novamente onde estava instantes atrás, antes de meu primo chegar.

- Viu, bebê, agora eu posso ver você sem preocupações - eu disse para Yeontan, que ainda estava deitado em meu colo.

Aleatoriamente, depois que acordou, Tannie ficou de pé, ainda em meu colo, e começou a latir para Yoongi, enquanto abanava o rabo. É, parecia que ele também sentia falta do meu primo, e não só de mim.

Algum tempo depois, após Taehyung lhe oferecer um café, esse que foi recusado, meu primo decidiu ir embora, me dizendo para não voltar tão tarde para casa.

Como hoje era sábado, eu tive a permissão de Taehyung para levar Yeontan para casa, se eu quisesse. No entanto, como eu já tinha visto ele hoje e pretendia ficar por mais um tempo, eu decidi que levaria Tannie no próximo fim de semana.

O restante da tarde seguiu tranquila, com brincadeiras e risos, tantos meus como de Taehyung. Nós não tocamos mais no assunto da conversa de momentos atrás, e sabia que estava tudo bem em relação a isso.

Taehyung é uma pessoa ainda mais incrível do que eu imaginei que fosse ser, e mesmo com tudo de ruim que passou, ele consegue ser uma pessoa tão boa. Tudo o que ele me disse, confiando em mim para dizer, só fez com que eu gostasse um pouco mais dele. Sempre um pouco mais, nunca menos.

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