Capítulo Único.

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"Dizem que o amor machuca. E é verdade, ainda mais quando o medo maior é que não seja o suficiente."
— Tessa Scopelli.

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Os relatos de uma mãe para seu filho.

— Estou grávida.

Tinha juntado todas as minhas forças pra dizer aquilo pra ele. Tinha arranjado coragem de lugares que jamais imaginei existir. Disse a ele. Sua reação não foi nenhum pouco supresa pra mim.

— Você tem certeza que o filho é meu? Até onde eu sei você pode ter dormido com qualquer um.

Claro, eu podia mesmo. Mas não dormi. Eu chorei, ele me mandou embora. Jogou algumas notas em cima de mim e disse confiante que eu devia tirar essa coisa. Ele chamou meu filho de coisa.  Agiu como se não estivesse tratando-se de uma vida.

Mas tudo bem. Quando me envolvi com ele, estava ciente de que nosso relacionamento não era como os outros. Ele era casado. Eu? Eu era a faxineira que limpava o lar de sua família perfeita. Fui uma diversão. Eu sabia disso desde o início, mas é como os clichês: — Mesmo sabendo o final, nunca deixamos de ler a história. E foi isso que me motivou a deixar acontecer. Deixar que ele me tocasse daquele jeito e me envadisse por completo. Foi uma enxurrada de prazer que durou por algumas semanas. Até hoje.

— Eu vou embora sim. — Falei decidida. Ele me olhou com o cigarro entre os lábios e nenhuma preocupação.

E parti.

Daquela vida. Daquela casa. Meus pais não me ajudaram em nada. Eles disseram que se não revelasse quem era o pai, nem precisava voltar mais pra casa. Que não criariam o filho bastardo de um homem qualquer. Eu chorei naquele dia. E chorei por todos os outros que se seguiram.

Sozinha e sem ter pra onde ir. Arrumei vários trabalhos de meio expediente pra poder me manter, mas no quarto mês quando a barriga começou a aparecer eu fui mandada embora de quase todos. Quem daria emprego pra uma grávida?

— Menina? — Encarei a moça na frente do balcão. Limpei uma lágrima e sorri pra ela.

— O que vai querer, senhorita?

— Primeiramente, saber o porquê estava chorando, minha jovem. — Fiquei sem jeito, e não sabia o que responder. — E depois pode me dar uma água?

— São 2$.

— Ah... vocês cobram água por aqui também? — Seu sorriso se tornou triste.

Foi ali que parei para analisar aquela senhora. Suas vestes eram um trapo comparadas ao meu uniforme, seu cabelo estava uma bagunça de emaranhado, seus olhos fundos com grandes olheiras e carregava um cobertor nas costas. Uma sem-teto, concluí.

No meu bolso havia algumas pratinhas. Não o suficiente pra uma Boa refeição, mas dava para um pão com mortadela e um cafezinho. Estava tudo arranjado e esse seria o meu jantar.

Seria...

— Pode se sentar, eu trago algo pra senhora . — Falei sorrindo.

— Me perdoe, eu não tenho dinheiro.

— Tudo bem. Pode se sentar.

E foi o que ela fez. A senhora se sentou em uma mesa nos fundos isolada e eu a servi minutos depois. Ela comeu apressiando como se não comesse assim a tempos. Eu me vi bem com aquilo, mas meu estômago reclamou e me vi chorando logo em seguida. No escondidinho atrás do balcão. Chorei de dor.

Que futuro eu daria pro meu filho?

As semanas foram se passando e eu trabalhava naquele bar ainda. Não consegui outros empregos, mas também algumas pessoas eram gentis. O dono do bar me deixou ficar em um quartinho nos fundos da casa dele. Ele era casado e a esposa tentou ser legal também. Os clientes do bar vinham muito com frequência. Traziam coisas pra nós. Roupas, cobertores, fraldas de bebê.

Quando o oitavo mês chegou eu estava enorme. Meus pais, eles não me procuraram uma vez sequer. O pai do meu filho... bom, ele não tinha pai. Tinha a mim.

— A bolsa estourou! - Gritei.

O bar estava lotado. Era domingo, dia de jogo e todo mundo parou o que estava fazendo pra ajudar a esterica aqui. Todo mundo mesmo. A caminhonete do Zé Leôncio foi posta a minha disposição. Zé Tadeu tentava me acalmar e Zé Marcu foi quem preencheu minha ficha.

Não era permitido que outra pessoa além do pai ficasse comigo na sala. Então, por um momento foi apenas eu e meu pequeno. Eu o vi ainda muito sujo e me emocionei, sabia? É, pode rir, mas eu me emocionei.

Depois eu fui pro quarto, me trouxeram minha criança limpinha pra cuidar. Eu o vi. Perfeitamente pela primeira vez. Cá estava aquele ser. Aquele do qual eu só conseguia pensar: — Como vou cria-lo? Eu não sabia a resposta, mas de algo eu sabia: Tínhamos de estar juntos.

Sua primeira palavra foi com apenas 1 ano e meio. Ele até andava já e queria correr pra todo lado. As perninhas eram algo novo, então meu pequeno acabou me deixando com os cabelos brancos cedo demais.

— "ZÉ!"

No começo eu fiquei muito brava por sua primeira palavra ter sido o nome de outra pessoa. A mãe sou eu! Mas então eu pensei melhor e vi que não tinha como ser outra: - Você está rodiado de Ze's, então é justo.

— "Mama..."

Veio com o tempo. Eu adorei. Fiquei tão boba. Todo mundo riu da minha carinha de felicidade ao ouvi-lo chamar meu nome. Eu ria e chorava.

Aí, meu bebê....

Sempre foi maravilhoso. Por um bom tempo eu me questionava: - Como vou cria-lo? Sem dinheiro, com um trabalho ruim e nem uma casa direito nós tínhamos. Eu chorava quase todas as noites. Durante o dia estávamos rodiados de pessoas boas e gentis. Todo mundo era legal com você e comigo também, mas a noite... elas eram frias sem as respostas que precisava.

Quando consegui por minha criança numa escolinha do governo, ali eu soube, ele era inteligente e seria alguém na vida. Diferente da mamãe.

— Parabéns pelo diploma. Você vai ser um bom advogado, garoto. — Eu chorei ali.

Sabe, só o que eu fiz durante anos foi chorar. Eu chorava por não saber das coisas. Chorava angustiada com medo de não ser o suficiente e chorava assustada. Mas ali, pela primeira vez em tempos: - Eu chorei de felicidade.

Me desculpe, pequeno filho.

Você fez mais por mim do que eu por você.

Eu amo você.

FIM.

Obrigado a todos que leram até aqui. Esse conto escrevi em um momento super aleatório da minha vida. Motivos zero, mas que se tornou muito importante pra mim em cada detalhe.

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