Desabafos de um coração


"O que aconteceu com seu pai?"

Aquela pergunta estava martelando em minha cabeça.

__ Senhorita Jones?_senhor Richard me chamou com sua voz de veludo virei minha cabeça para ele, eu tinha a certeza que em meus olhos formavam lágrimas _-Tudo bem se não quiser responder. Não se sinta pressionada pra isso.

__Senhor...é que ainda dói, sabe?

Ele assentiu delicadamente ainda olhando pra mim e uma lágrima escorreu do meu olho esquerdo, para minha surpresa, senhor Rickman a enxugou impedindo-a de seguir caminho, aquele gesto me deixou sem palavras enquanto olhava para ele ao mesmo tempo sentindo meu coração quentinho em meu peito enquanto batia descompassado.

__Não precisa me dizer se não quiser. Eu sinto muito ter lhe feito esta pergunta.

Sorri com tristeza e me virei para frente, fechei os olhos e respirei profundamente, ao voltar a abri-los, comecei a contar.

__Quando eu disse aos meus pais qual faculdade seguir após o colégio, meu pai nos disse que tinha arrumado um novo emprego e que este era muito melhor, então conseguiria assumir as despesas de casa e pagar minha faculdade sem nenhum problema. Bem, meu pai sempre foi o homem da casa em tudo, mesmo que eu tivesse dito que arcaria com o valor da faculdade pois procuraria um emprego, ele não permitiu, então com o contrato assinado, descobrimos que papai iria trabalhar em outra cidade todo início de mês e só teria folgas em um final de semana. Mamãe é claro, não gostou da idéia, mais como meu pai era teimoso, ele aceitou o emprego que por sinal, receberia muito bem com todos os direitos possíveis para seu cargo, que seria de despachante em uma fábrica. _suspirei e olhei rapidamente para o senhor Rickman que havia cruzado os braços enquanto me ouvia atentamente_-No primeiro dia de seu emprego, também era o dia que eu entraria na faculdade de administração e logística. Por um lado minha mãe estava feliz por mim, por outro, ela estava aflita porque meu pai iria viajar pra longe e só o veriamos no fim do mês. Tentei deixa-la confortável quando ele se foi, mais lembro que naquele dia nenhuma de nós conseguiu dormir. Minha mãe sentia uma angústia e tinha passado mal duas vezes naquela noite. Na manhã seguinte, recebemos uma ligação de um hospital dizendo que meu pai tinha sido levado pra lá depois de sofrer um grave acidente a caminho do trabalho. No início minha mãe não acreditou, lembro que tentamos ligar doze vezes para o celular do meu pai, porém dava fora de área ou este número não existe. Foi aí que soubemos que aquela ligação do hospital não era mentira, então pegamos um taxi e fomos ao endereço passado pela recepcionista...quando chegamos, minha mãe conversou com o médico que tinha atendido meu pai, a conversa não foi nenhum pouco agradável e logo ele nos levou a UTI, lá dentro, estava meu pai ligado a aparelhos, pois era o que o estava  mantendo vivo _senhor Rickman me olhou e eu o olhei com lágrimas escorrendo em meu rosto _-Mamãe tocou a mão dele, pois o médico disse que não poderia fazer muito e que meu pai não sobreviveria. Assim que minha mãe perguntou se ele estava a ouvindo, meu pai pareceu reagir por instantes mais depois, o aparelho cardíaco apitou, sinalizando que ele estava partindo e para sempre. Ali nos encontramos perdidas, meu pai não voltaria pra casa e nós duas precisariamos conviver com a sua falta. Jurei que daquele dia em diante eu seria como meu pai, assumiria a casa e trabalharia o que fosse preciso pra nos manter confortáveis  _funguei e limpei minhas lágrimas _-Ele faz muita falta, e é por isso que minha mãe tem traumas sobre viagens.

__É compreensível! ela teme que o que aconteceu com seu pai, possa se repetir.

__É isso mesmo! _virei minha cabeça para o senhor Rickman e ele me olhou_-Minha mãe tentou tratar seu trauma com um psicólogo mais não adiantou muito. _meu chefe assentiu entendendo_-Perder uma pessoa não é fácil, ainda mais se for alguém que você ama.

__Conheço muito bem este sentimento. _Meu chefe disse e franzi o cenho quando ele desviou o olhar, apertou os lábios e respirou fundo antes de continuar._- Precisei de dois meses longe da empresa por motivos pessoais, e não por diversão como muitos devem ter pensando, inclusive a senhorita. _ele me olhou rapidamente voltando a olhar pra frente em seguida._-Eu estava cuidando dos últimos dias de vida da minha mãe. Queria que fossem os melhores pra ela. _suspirou tristemente _-Minha mãe estava com Alzheimer muito avançando, ela ficou doente após a morte do meu pai, na verdade ela nunca aceitou a perda porque já tinhamos perdido uma pessoa da nossa família antes... o meu irmão mais novo, Brandon... _engoliu seco_-Ele também ficou doente. Quando meu pai morreu, ela quis ver em mim, ele... e quando dizia a ela que meu pai não voltaria, minha mãe começou a me tratar indiferente, ela não olhava pra mim e nas vezes que fazia, em seus olhos, podia-se ver apenas ódio e magoa. Ela dizia que eu estava mentindo e queria seu mau, daí comecei a perceber que estava mudando, sempre que eu a via ela dizia que não me conhecia, achei que fosse pela raiva que estava sentindo mais as coisas ficaram ainda piores com o passar dos dias. A levei em vários médicos mesmo contra sua vontade e dois meses depois, eles a diagnosticaram com Alzheimer. Minha mãe teve que ir para uma clínica mais eu sempre estava com ela, na maioria das vezes que você me via falar ao telefone, era sempre os medicos me passando resultados de exames laboratóriais e ficha médica. Minha vida nunca foi fácil, senhorita Jones, mais eu sempre tentei parecer que fosse. Porém, com um tempo , por mais que tente evitar, seus sentimentos acabam sendo descobertos... eu estive camuflando minha vida sendo um homem mal-humorado, frio e calculista, sempre querendo me distacar perto das pessoas, quando que por dentro, estava tentando juntar os cacos que foram se rompendo pelo caminho.

__Senhor_eu estava chorando por sua história_- Eu... sinto muito.

Encostei no braço dele que estava por dentro do edredom e o acariciei, senhor Rickman olhou em meus olhos e pela primeira vez em anos, o vi chorar, ele chorou de partir o coração, eu só queria poder abraça-lo naquele momento, porém, nossas posições não permitiriam.
Esperei que ele se acalmasse e assim que o fez, voltou a colocar sua máscara de que estava tudo bem. Limpei minhas lágrimas do rosto e respirei profundamente para me acalmar.

__Eu não sei porque_disse sério _-Mais me sinto melhor contando a você, senhorita Jones.

__Fico feliz por confiar em mim senhor Rickman. Saiba que sempre que quiser e precisar desabafar, estarei aqui...como uma amiga.

Ele me olhou e sorriu, também nunca o tinha visto sorrir daquela forma, foi um momento único e inesquecível.

...

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