MAGIA
Meu corpo todo dói. Lucas ajuda no banho me colocando sentado no chão do banheiro; sinto uma moleza não física mas mentalmente. A água em contato com meu corpo causa uma certa repulsa em mim, mas a escondo o suficiente para deixar que seja lavado de forma satisfatória. Logo porquê eu estava todo sujo da corrida na floresta. Lucas fala sobre a noite de hoje e sinto ele meio tenso. O conheço suficientemente bem para perceber que ele está com medo, por mim. Também sinto que algo está errado, e por mais que eu acredite fervorosamente que o meu mal venha de algo relacionado à ciência, pelo menos algo ligado à uma mutação ou elementos radioativos, sinto que há mais nisso tudo. Uma palavra que sooa patética, mas que levada as atuais circunstâncias, faz um sentido pequeno, mas palpável: magia.
Nos contos de horror, nos filmes, série, etc, os lobisomens são tidos como desequilíbrio da natureza, tal como as bruxas que manipula a força natural da vida em suas façanhas obscuras, como os vampiros que desafiam o tempo e a lógica. Os três são ligados à uma só palavra: mágica.
Não precisamente nesse fio de pensamento. Vampiros são como os filhos da escuridão, as bruxas como donas do mal e os lobisomens como o cães dos homens. Os primeiros são vulneráveis a luz do dia, na cultura pop são retratados como belos, ultra rápidos e letais; as segundas como seres de paz ou guerra. Mesclam o caminho entre o bem e o mal, ajudam e matam, e (também) morrem tão facilmente como qualquer humano normal; o último é o ser eloquente, inimigo dos dois primeiros, o problemático.
Fico debaixo da água fria imaginando esse turbilhão de fantasia. Fantasia essa que lhe é presente em sua vida a cada noite de lua cheia, diz uma vozinha na minha cabeça. De fato, não posso ignorar que sim, talvez a magia dos contos de terror exista de fato. A ciência não conseguiria responder perguntas que eu tenho acerca disso tudo, não de forma lógica e plausível.
Radiação? Toxinas combinadas com outras gerando uma reação tão grande que é complexo até mesmo pondo em folhas e folhas de um formulário médico? Sim, você sofre algum tipo de doença, é algo que deve ter explicação científica. Magia? Deixe de ser tolo.
Mas não era tolice. Sou um lobisomem, eu viro uma fera na fase exata da lua cheia, uma transformação tão radical e medonha que me revira o estômago.
Lucas e eu vasculhamos os mais diversos tipos de livros (fantasia/romance), os científicos não dizia nada sobre o híbrido que sou, pelo contrário, sou tão ridículo em uma página científica quanto a existência do éter. Tudo que liga ao que eu me torno está ligado à fantasia, estórias para crianças, entretenimento na TV e tantas outras coisas que não condiz com a realidade. Mas eu estou aqui, na realidade. Sendo o monstro de forma real, provando que o fantasioso é controvérso.
Continuo sentado de olhos fechados ouvindo os sons estridentes das gotas de água tocando minha pele. PUM! PUM! PUM! Milhões PUM!
— Que horas são, amor? — pergunto ainda de olhos fechados.
O ar é deslocado há um segundo à oeste, sinto as moléculas de poeira serem agitadas de forma eloquente, aí, como se um avião de grande porte passasse do meu lado em um URRRRHHHH colossal. Depois um metal é sacudido e me faz lembrar o som de vários carros se colidindo simultâneamente; isso tudo fora somente o braço de Lucas, indo até perto do seu rosto, para que o mesmo visse a hora no seu relógio de pulso.
— Seis e vinte e cinco. Será que a lua cheia vai vir cedo? — pergunta ele.
— Não sei.
— Levanta, deixa eu te lavar.
Eu rio e minha presa é mostrada: Não abuse de mim.
Sinto ele rir: Bobo. Você está bem?
Eu: Tô sim. Mas você sabe como meu humor fica horrível. — abro os olhos e o fito.
Lucas: Seus olhos já estão ficando amarelos.
Eu: Pelo visto a lua veio cedo esse mês.
Lucas chega perto: Levanta (o faço), isso. Talvez seja hora de a gente procurar alguém na área da saúde.
Eu: Sim, a primeira coisa que irão fazer é me cortar em pedacinho para examinar cada parte do meu corpo peludo.
Lucas faz uma careta: Talvez sim. Talvez não. Como eu disse, se existe você, devem existir mais. E não é de agora, logo deve haver quem ajude...
— ... ou combata, matando todos que são assim.
Lucas treme ao ouvir isso: Me sinto tão incapaz sobre isso. Tão... perdido. Eu me sinto um inútil... eu... eu... Não quero te perder... eu sinto que você não está aguentando. Eu... tenho medo de te perder... — ele começa a chorar e eu me apavoro.
— Calma, Lucas, calm... Hey, shii, vem cá.
O abraço de baixo do chuveiro e ele balbucia: Eu te amo. Eu te amo muito, amor.
Eu faço uma leve curva com o corpo para olhar para seu rosto e tocar seus lábios: Não mais que eu. Eu vou ficar bem. Talvez isso tenha uma data de validade — que talvez seja a morte, completo com a mente.
※
Galerx, lembrem-se de que os capítulos são, simultaneamente, um do Lucas e um do Petros. Isso pra vocês não se perderem na leitura. Outra hora tem mais. Chero!
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