A LATA

Chego em casa, vou até a cozinha e abro a gaveta onde está uma lata também prateada. Chamo ela de plano B, para deixar tudo sob controle.

Olho para um enorme arranhado na parede perto da pia e volto a 3 meses atrás, quando as correntes falharam. Prendi Petros, esperei cerca de 2 horas no sofá e resolvi ir tomar água. Ele uivou alto no andar de cima, me gelando a alma, porque havíamos feito um teste e ele não falhava fazia um tempo (o de não uivar). Corri rápido para a escada e petrifiquei, pois uma silhueta bizarra já me encarava do alto dela. Os olhos amarelos e os dentes saltados focavam em mim. Parecia um demônio me encarando, me cobiçando. Algo estava errado, das vezes que Petros se transformara eu nunca o havia visto daquele modo macabro. 

Então, antes de eu falar algo, ele avançou com tudo e eu corri para cozinha, minha opção era a porta dos fundos. Quando cheguei nela a mesma estava trancada, antes de pensar em mais alguma coisa, um par de garras arranhou a porta onde segundos antes estava minha cabeça. Desvencilhei do golpe letal e caí no chão. A fera sedenta de sangue veio mansa em minha direção e seu olhar queria uma coisa; minha morte. Não tinha nada de Petros ali, não era meu amor.

Ele rosnou e com isso me arrastei de costas de forma bem clichê, como nos filmes. Bati na geladeira e dela caiu uma lata vazia cheia de moedas que eu juntava para dar aos orfanatos. No mesmo instante que a lata caía, a fera iria atacar e me matar. Com suas garras carregadas de um veneno contaminante*. Fechei os olhos e ouvi a lata cair fazendo um som estridente. Quando abri-os, lá estava ele com as mãos nos ouvidos e gemendo. Eu não entendi na hora, mas vi a lata. Peguei ela em meio a meu pânico e sacudi. O lobo gemeu e esganiçou como se tivesse dor. Gemeu mais e eu sacudi a lata várias vezes, ele pensou em correr, mas joguei a lata nele antes, acertando sua cabeça, com isso ele caiu no chão em posição fetal, olhou para mim e vi o meu Petros.

Apavorado. Parecia um filhote de lobo vendo seu predador pronto para matá-lo. Estendi a mão e toquei nele. Ao sentir meu toque o mesmo fechou os olhos e balançou a cabeça pedindo mais do afago. Mas eu sabia que ele queria algo, ele queria a liberdade. A fera estava ali, personificada. Algo fez com que ela eliminasse meu Petros e deixasse somente a si mesmo tomando conta; de forma irracional.

Toda vez que Ela vinha, eu via a mesma e o meu namorado, juntos, não em harmonia, mas tolerando um ao outro de forma natural. Levantei e o bicho rosnou em protesto, não me importei. Fui até a porta dos fundos — a que leva direto pro bosque — olhei pra fera e ela me olhava com curiosidade.

— Vai — disse e fiz um gesto com a mão para a saída. Ele veio calmo então, alto, o focinho afunilado, os olhos amarelos e os caninos saltados da boca. Fixou aquelas duas bolas cor de ouro líquido em mim e aproximou o nariz até minha testa. A tocou e eu fechei os olhos. Depois senti uma brisa rápida e quando abri-os ele não estava mais lá. Ao longe ouvi um uivo, mas notei uma mudança no tom. Não era um uivo de gelar a alma, era de felicidade.

Olho a lata e a guardo. Subo até o quarto e olho pro suporte que Petros fizera quando chegamos aqui. Na parece, duas barras de aço estão chumbadas verticalmente na parede em paralelo. [ ] Como esses dois colchetes. Entre elas passo a corrente a qual comprei e o cadeado.

Ela segura bem a fera até a metamorfose de ira passar. Sim. Os primeiros minutos da transformação são os mais violentos, mas com o passar das horas tudo fica mais calmo e sinto meu namorado lá no fundo daquele pelo todo. Sento na cama e suspiro um pouco. Apesar daquela enorme bizarrice, sinto meu amor por aquele cara aumentar. Talvez fosse alguma magia em torno da gente, mas nem mesmo as noite de lua cheia faziam eu perder o meu amor por Petros.

Rio pensando nele e resolvo tomar um banho demorado. Depois desço para sala e lá arrumo umas almofadas confortáveis para passar a noite, afinal, o quarto não seria um lugar muito legal para se dormir. Ouço um farfalhar no bosque e olho pela janela pássaros e mais pássaros voando em todas as direções, pareciam amedrontados com algo.

Estranho aquilo e ligo a TV. Passa-se um tempo o qual a distração não me faz notar e então alguém mexe na porta de casa. Vou até o hall e vejo Petros todo sujo, com pequenos cortes na roupa e o cabelo bagunçado. Mas paro em choque quando vejo sua feição. Pura dor. O rosto está vermelho e com isso ele coloca as duas mãos em cada orelha tapando-as. No mesmo instante cambaleia e cai no chão. Se debate um pouco e desmaia.

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