Passa para esquerda, passa para direita.

Sarada Uchiha estava bem interessada no mais novo aplicativo que havia descoberto. Claro que não era para ela, afinal, a garota tinha apenas 17 anos, mas sim para o seu pai. Ela estava cansada de ver seu pai sozinho e, no seu ponto de vista, ele deveria sair mais para namorar. Sasuke era divorciado há 15 anos, já estava mais do que na hora de voltar à pista.

E com esse pensamento singelo, a garota decidiu criar uma conta no Tinder para seu pai. Claro que a ideia surgiu após um comentário de seu amigo de longa data e ficante nas horas vagas, Boruto.

A Uchiha esperou seu pai sair de casa e pegou o celular dele escondido, arquitetou e colocou em prática tudo aquilo que havia planejado. A menina selecionou a melhor foto do homem, montou uma biografia com a frase " Em busca de alguém para ter algo casual", colocou idade e mais algumas informações necessárias. Sarada baseou-se naquilo que pensa que irá combinar com o seu pai, não poderia ser alguém chata e fútil. Sasuke é desconfiado e bem quieto, então, a parceira deveria ser uma mulher espontânea, bonita, bem humorada e inteligente.

Pouco tempo depois, o Uchiha retornou para casa, ele estava com algumas sacolas em suas mãos, demonstrando que havia ido no mercado. Os planos dele para essa sexta-feira a noite seria fazer algo delicioso para jantar e assistir um filme com a sua filha. Devido à sua rotina de trabalho agitada e cansativa como professor de cálculo, ele acaba perdendo mais tempo corrigindo provas, trabalhos, planejando aulas e deparando-se com perguntas bestas de alunos turistas do que fazendo aquilo que realmente gosta. Passar um tempo com sua filha enquanto maratona alguma saga até tarde da noite. Apesar disso, o homem gosta do seu trabalho, afinal, como professor universitário ele ganha bem e além disso, gosta de ensinar.

Após deixar as sacolas na cozinha, ele lava as mãos e começa a guardar as compras e separar os ingredientes que usaria para o jantar.

Notando que seu pai já havia retornado, Sarada tenta ao máximo não fazer alarde, afinal, tinha acabado de achar alguém que julgava perfeita para o seu pai. A mulher é médica, bonita, tem um sorriso enorme e um gosto peculiar para tintura de cabelo, já que seus fios estavam em uma tonalidade linda de rosa. Além disso, seus olhos são verdes e, pelas demais informações do perfil, Sakura Haruno está com trinta e sete anos, é apaixonada por gatos e literatura. Sem falar que possui um ótimo gosto musical.

Para não perder tempo, Sarada se apressou e curtiu o perfil de Sakura. Logo em seguida, a mais nova saiu de seu quarto e foi até a cozinha, até que se depara com uma visão extremamente familiar, seu pai com um avental cor de rosa escrito "Melhor pai do mundo" — que recebeu no dia dos pais — pantufas nos pés, enquanto corta cebola ao som de Bon Jovi.

"This ain't a song for the broken-hearted", cantarola baixinho.

"No silent prayer for the faith-departed"

ain't gonna be just a face in the crowd", Sarada resolve cantar um trechinho da música para chamar a atenção do seu pai.

"You're gonna hear my voice when I shout it out loud"

A criação toda dela foi escutando Bon Jovi; Sasuke quis se certificar que sua filha crescesse ouvindo o seu ídolo da juventude.

"It's my life, it's now or never, i ain't gonna live forever, i just want to live while I'm alive", ambos cantaram essa parte do refrão com tanto entusiasmo, que é quase imperceptível que estão um pouco afinados. Eles demonstraram muito vigor e amor por essa música.

Claro que depois desse mini show, Sarada deu uma risadinha e puxou a cadeira que estava perto do balcão para se sentar. Nesse mesmo instante, a garota recebe uma notificação no celular do pai. De imediato, ela vai ver o que é. Seu sorriso aumentou quando percebeu que a mulher de cabelo rosa deu match com o seu pai e ainda mandou uma mensagem.

Sakura H:

Bon Jovi?? Finalmente alguém que escuta um clássico! Eu adoro "Livin' on a Plrayer"

— Vai fazer o que para o jantar? — perguntou para disfarçar, e digitou rapidamente.

Sasuke U:

Esse cara é uma verdadeira lenda! Essa música é boa, eu fico em dúvida entre It's my life e Always.

— Estou pensando em fazer carne acebolada.

— Nus, meu preferido!

— Eu sei — afirmou. — Eu ia pedir pizza, mas aparentemente alguém está fazendo dieta e não quebra ela por nada.

— Ah, sempre tem exceção para uma noite de pizza. — Revirou os olhos. — Dava para chamar algumas pessoas e irmos para um rodízio.

— Nesse lance de chamar pessoas, o filho do meio do Naruto está incluso? — Sarada segurou o riso, ela viu outra notificação.

Sakura H:

A melodia e o ritmo são sensacionais, sem falar que a letra é emocionante! Escutei muito quando era mais nova, na verdade, eu era meio roqueira.

Meio roqueira? Sarada refletiu um pouco sobre isso, seu pai não comenta muito sobre sua juventude, porém, o melhor amigo dele já contou que ele era alguém bem revoltado e que aprontava horrores, sem falar que amava um bom rock. Eles tinham mais em comum do que ela pensava. Antes de responder a mulher, ela retorna para seu pai:

— Somos amigos, por que eu não o chamaria? — questionou. — Além disso, eu sou amiga da Hima, mas com certeza ela chamaria o resto do pessoal, convidaria a Sumire também. Tenho quase certeza que Kawaki iria de intrometido.

— Ou seja, nada de pais — Sasuke pontuou.

— Ah, não é pra tanto, pai. O senhor pode levar alguém…

— Karin e Suigetsu são insuportáveis, eles brigam mais do que comem.

— Tem o tio Juugo — lembrou. — Além disso, você pode chamar outra pessoa.

— Ué, vou chamar quem, Sara? — Os dedos da garota digitaram rapidamente.

Sasuke U:

Podemos nos encontrar em algum lugar, dessa forma poderíamos compartilhar mais histórias e músicas e talvez jantar. Eu pago.

— Sei lá, o senhor não é feio… Não tem nenhuma amiga no trabalho? Uma ex-colega?

— Está querendo chegar aonde, Sarada? — Parou o que estava fazendo e olhou para a filha, com as sobrancelhas arqueadas.

Nesse mesmo instante, o celular vibrou, a Uchiha desviou o olhar para o visor da tela e viu que Sakura tinha acabado de responder sua mensagem.

Sakura H:

Bem, claro. Amanhã à noite no restaurante Akimichi?

— Sarada?

— Pai, é que você… — Manteve os olhos conectados na tela do aparelho e deslizou o dedo pelo visor e digitou em resposta.

Sasuke U:

Estarei te esperando às nove.

— Eu, o quê? — A essa altura, o moreno olhava com uma certa curiosidade para sua filha única, ela estava com uma reação indecifrável, semelhante à de uma criança que havia sido pega no flagra.

— Marquei um encontro para você amanhã à noite, mais específico no restaurante dos pais da Chocho, às nove da noite.

Agora, quem estava indecifrável era Sasuke, o homem parecia processar o que a filha havia dito. A noite seria longa e, com um pouco de sorte, Sarada não ficaria de castigo.

— Do que você está falando, Sarada? — Sasuke deixou as coisas sobre a mesa. — Como assim, marcou um encontro pra mim?

— Ah, pai… Você só pensa em trabalho e, apesar de eu te amar muito, às vezes você parece sentir falta de algo. Então, é interessante você sair para conhecer gente nova — explicou- se. — Por isso, marquei um encontro para você, e pelo que pude perceber, vocês deram um match, lindo! Ela até gosta de Bon Jovi.

O Uchiha ainda olhava incrédulo para a filha. Sasuke precisou respirar fundo para não brigar com a garota. Ele odeia ter que fazer isso, na verdade, ele nunca sequer brigou com a morena. O rapaz sempre foi muito protetor quando o assunto era Sarada. Diversas coisas passaram pela cabeça dele, coisas que ele mal conseguiria responder. Sua ex-esposa não era uma mulher fiel, muito pelo contrário, traiu ele com qualquer um que surgiu e optou por fazer uma família bem longe da cidade em que moravam. Sasuke pensou em colocá-la na justiça, mas decidiu ignorar e fazer o melhor para filha deles. Desde então, cada decisão e atitude foi focada nela. Ele acabou se deixando de lado por essa escolha, apesar de agora, sua primogênita estar no auge dos seus 17 anos, quase finalizando o ensino médio. Claro que já pensou em se envolver com algumas mulheres, mas acabou desistindo da ideia. Ele não tinha mais 23 anos, onde era um jovem rebelde, galanteador e que vivia em festas. Atualmente, é um homem de 43 anos que fica de avental rosa e pantufas em plena sexta à noite.

— Vai ser divertido, pai. Um encontro não significa nada — continuou insistindo.

Talvez esteja na hora dele sair em busca de coisas novas, além do mais, não é como se ele tivesse muito o que fazer amanhã de noite.

Sarada estendeu o celular do pai para que ele o pegasse Sasuke arregalou os olhos quando visualizou as mensagens, ele nunca chamaria alguém para sair daquele jeito. O Uchiha clicou na foto da mulher, o que deu um zoom, e ele conseguiu visualizar com maestria. Apesar de querer negar qualquer coisa, ele sentiu-se meio intrigado pelos olhos verdes dela, pareciam familiares. Sasuke desligou o aparelho e apontou com a cabeça em direção às panelas.

— Vem me ajudar.

— Tá.

Foi audível mais uma notificação. Dessa vez, não foi do celular de Sasuke, mas sim no de Sarada.

Boruto:

Enviou uma foto.

Antes que Sarada pudesse abrir a mensagem, Sasuke pegou o celular e desligou também.

— Nada de celular, mocinha. Isso pode esperar.

— Poxa, pai! — Suspirou, porém se levantou, foi até a pia e lavou as mãos.

Ambos os Uchihas seguiram a programação normal de uma clássica sexta à noite. Fizeram um jantar e comeram juntos na sala enquanto assistiam a Velozes e furiosos 10. Claro que na sequência vieram outros, como: Homem Aranha e Continência Ao Amor. Ficaram desse jeito por um bom tempo. Depois disso, Sarada pegou seu aparelho alegando que estava com sono, enquanto Sasuke limpou a sala e também foi para o seu quarto. Porém, diferente da filha, ele tomou banho e vestiu uma bermuda para dormir confortavelmente no seu aposento.

Nesse meio período, ele aproveitou para reler as mensagens, já imaginando que iria se arrepender daquilo. Com esse pensamento, o Uchiha adormeceu.

…

O dia foi bem tranquilo. Sasuke tirou a parte da manhã para fazer o planejamento de suas aulas da semana, em seguida, corrigiu alguns trabalhos que precisavam ser entregues logo. O homem passou o restante da tarde escutando uma música enquanto realizava os demais afazeres.

Sarada, por outro lado, estava chamando Boruto para sua casa, logo depois que seu pai fosse embora.

Nesse mesmo instante, só que em um cenário diferente, encontra-se uma mulher levemente desesperada. Sakura estava se perguntando o porquê de ter aceitado a ideia maluca de Ino. Foi seguindo a onda de sua melhor amiga que ela conseguiu um encontro com um homem.

Ela poderia deletar sua conta no aplicativo e fingir que nada daquilo havia acontecido. Caso o avistasse pela cidade, era só ignorar, não é?!

Todos os encontros anteriores de Sakura foram um fracasso total. Ela sempre encontrava-se com algum homem que era definitivamente desprezível. Esse não poderia ser diferente, não?!

Conforme o horário se aproximava, Sasuke e Sakura repensavam a ideia de ir ao tal encontro, mas devido ao empurrãozinho de uma certa loira e uma certa adolescente, ambos cederam e foram. Para a surpresa de muitos, os dois adultos chegaram quase juntos Sakura estava elegante: a saia preta que usava marcava bem seu quadril esbelto e a blusa vermelha fez um contraste lindo com a cor de sua pele.

Sasuke estava usando sua clássica vestimenta: calça jeans e blusa preta. Por ser a única pessoa de cabelo rosa do local, não foi difícil para o Uchiha encontrá-la.

— Boa noite — cumprimentou.

— Boa noite — respondeu.

Ambos foram para uma mesa disponível no local. Como não precisava de reservas, você precisava torcer para que algum canto estivesse livre. Apesar de estar calado, Sasuke estava pensando em algum assunto para dizer. O homem pensou em elogiá-la, porém, não quis parecer invasivo.

— Já veio aqui antes? — Sakura deu o primeiro passo. Ela sentia-se como uma adolescente de 14 anos prestes a dar o seu primeiro beijo.

— Já sim, minha filha adora a comida desse lugar. — O Uchiha decidiu deixar bem claro esse fato.

— Ah, você tem filha? — Ficou interessada. — Ela tem quantos anos?

— Ela tem 17 anos.

— Saudades dos meus 17 anos, dei trabalho para os meus pais.

— Bem, essa é uma idade onde os jovens estão se descobrindo e estão impondo mais de sua opinião. Eu me expressava escutando música alta enquanto fugia de casa durante a madrugada.

— Eu nunca fugi de casa, porém, eu tinha uma banda de rock — contou nostálgica.

— Qual era o nome?

— Mortíferos.

As orbes do Uchiha se arregalaram, essa era uma de suas bandas preferidas da adolescência, e ele olhou ainda mais interessado para a mulher à sua frente. Agora ele entendia porque achou ela familiar: a Haruno era a vocalista da banda naquela época.

— Por Deus! Mortíferos?! Eu amava essa banda.

— Você definitivamente tem bom gosto. — Levou a mão até a boca e riu.

Um garçom apareceu, ambos fizeram seus pedidos e continuaram conversando por horas. Em outros termos, foi uma noite agradável. Tiveram momentos em que relembraram os melhores momentos da década de 90 e a entrada dos anos 2000. Também conversaram sobre trabalho. A conversa dos dois foi tão fluida que mal perceberam que o tempo estava passando.

Quando ficou aparente que já estava bem tarde, Sasuke ofereceu-se para levar Sakura embora.

Com o interesse recente de ambos e a atração física que sentiram um pelo outro, trocaram números do WhatsApp e marcaram um próximo encontro.