|Prólogo|

O auditório estava lotado, com inúmeros pais orgulhosos e filhos prestes a se formar. Havia cerca de cem lugares naquele espaço e, em um deles estava uma belíssima garota. Seus cabelos estavam na altura dos ombros, lisos e negros, enquanto balançavam com seus movimentos de pescoço. Seus olhos ônix buscavam ao redor alguém familiar, percebendo que vários convidados a olhavam por sua extrema beleza.

Quando a jovem desistiu de procurar quem queria, sentou-se corretamente em seu assento e aguardou o início do evento. Seus braços estavam cruzados na altura dos seios, enquanto mantinha uma expressão zangada e decepcionada. Mas quem diria que alguém era capaz de irritar uma moça formosa como ela, não é mesmo? A entrega dos diplomas começou a ser feita e, nesse instante, seus batimentos aceleraram.

Ao ouvir seu nome ser pronunciado, levantou-se e caminhou pelo extenso carpete preto, deixando a grande barra do vestido vermelho segui-la. Andava como se fosse modelo, abusando da postura e das feições exageradas para as câmeras. Recebeu seu certificado e, ao parar no centro do palco, percorreu o salão mais uma vez. Viu alguém abrindo as portas duplas do espaço e adentrar rapidamente.

Suas sobrancelhas se uniram em repreendimento, assim que os olhos esmeraldas a encararam. Um suspiro saiu de seus lábios rosados, enquanto ainda recuperava o fôlego pelo atraso. Possuía um terno preto, perfeitamente feito a mão por um dos melhores estilistas. Devido a correria seus cabelos curtos e castanho claro estavam um pouco bagunçados, mas ainda permanecia incrível, como de costume.

Os saltos altos bege desceram apressados do palco e voltaram para o lugar anterior, parando em frente ao rapaz, segundos antes, e fitando suas órbitas com grande fúria. Ele não podia se desculpar pela demora, ela não aceitaria, então apenas abaixou a cabeça como rendimento e a mesma seguiu seu trajeto. A celebração ocorreu fabulosamente até encerrar-se e todos partirem para alguma festa, exceto a garota de Minnesota.

- Dulce. - aquele mesmo rapaz de antes a chamou, fazendo o tronco da jovem virar-se bruscamente e estampar uma cara fechada. - Me desculpe pelo atra...

- Calado! - ordenou, interrompendo suas falas. Ela sentia-se triste naquele momento, por ter acreditado que ele chegaria no horário combinado, mas como sempre, sua promessa havia se quebrado.

- Em minha legítima defesa, posso dizer que o trânsito estava horrível e por isso cheguei tão tarde. - concluiu, sabendo que ainda assim não adiantaria. Sua confiança estava comprometida de novo.

- Esquece, Jason. - Dulce balançou a cabeça, segurando firmemente as lágrimas que queriam cair, mas que estragariam sua maquiagem. - Já devia estar acostumada com tudo isso.

- Do que está se referindo? - o garoto franziu a testa, confusa com o que ela estava insinuando.

- Não é óbvio? Tudo isso, Jason, tudo que envolve nós dois! Você promete coisas que sabe que não pode cumprir, ou somente não faz porque não quer. Estou farta de aturar suas malandragens, é cansativo demais. - decretou, exaltada e aos prantos. - Você sabia, há mais de uma semana atrás, que hoje era um dia especial para mim. Só que não se importou com esse fato, fez pouco caso e, novamente, me decepcionou.

- Dulce, me perdoa... Eu posso recompensar você... - interveio, tentando acalmar a jovem, ao sentir-se culpado por vê-la naquele estado.

- Me recompensar? - repetiu, incrédula. - Como? Com jantar, com flores, ou com presentes caros? - deduziu. - Você não me compra mais com isso, Jason. Chega de tentar me manipular, chega!

- Não estou tentando fazer isso, cacete! - elevou o tom, atraindo diversos olhares das pessoas que ainda estavam por perto. A moça encolheu-se, ficando envergonhada com a atenção que recebeu e, assustada com o grito que escutou. - Céus... Me desculpa, Dulce. - sua mão direita tentou tocá-la, mas a garota recuou.

- Não toca em mim, nunca mais! - declarou e virou-se, disposta a ir embora.

- Então é assim que vai agir, como uma criança mimada? - questionou, seguindo-a até um ponto de táxi, ou qualquer lugar que ela estivesse indo.

- Criança mimada? - trincou os dentes e ergueu a palma da mão, prestes a dar um tapa na cara dele.

- Não ouse. - enunciou, segurando seu pulso com firmeza.

- Me solta, seu cretino! Vai caçar alguém para se divertir, como costuma fazer, e me deixa em paz de uma vez por todas. - sugeriu, deixando escapar alguns soluços de seus lábios, que obtinham a cor de uma batom alaranjado.

- Beleza. - afirmou, largando a jovem, que cambaleou para trás e, por pouco, não caiu na calçada. A mesma entre abriu a boca, pasma com sua reação e confissão de que aceitaria tal sugestão, mas não deixou-se abalar.

- Eu odeio você! - deu-lhe as costas e caminhou, respirando fundo para não desabar e seguiu seu percurso.

Depois de mais ou menos quinze minutos, parou em frente uma grande casa, que tinha a pintura em cinza e amarelo. As luzes estavam apagadas, então deduziu que todos estavam dormindo ou haviam saído. Deu alguns passos até a entrada e destrancou a maçaneta, adentrando a residência em seguida. A luz da sala de estar foi acendida e seu corpo congelou, com o susto que levou ao ver um senhor sentado na poltrona.

Tentou sorrir para aliviar a tensão, mas não funcionou, já que a expressão do mais velho não era uma das melhores. Ela soltou o ar preso, sabendo que não haveria escapatória e retirou os sapatos apertados para sentar-se no sofá. Esperava receber um sermão ou uma baita bronca, para depois ficar de castigo durante o resto da sua vida.

- Pode começar, papai. Sei que prometi não ir a formatura, mas a mamãe deu-me esse vestido e me incentivou, dizendo que me cobriria para o senhor não descobrir. - pronunciou, olhando fixamente para o teto do cômodo.

- Sabe bem que esse não é o problema, Dulce, e sim àquele seu namorado, o Jason. - proferiu, zangado.

- Eu sei, papai, me desculpa. - disse, cabisbaixa.

- Me escute quando digo que não quero você perto dele, sei que já se decepcionou demais com aquele rapaz, mesmo sendo filho do mais prestigiado advogado dessa cidade, isso não significa que ele seja uma boa pessoa e não é. - ressaltou, deixando claro algo que a garota já sabia.

- Estou ciente disso, papai, mas não se preocupe. - sorriu e levantou-se, prontificando-se para subir para seu quarto e deitar para dormir, esquecendo daquele dia catastrófico. - Eu não vou mais vê-lo. Prometo. - a jovem depositou um beijo na testa enrugada do senhor e caminhou para os degraus.

Entrou em seu quarto e fechou a porta, encostando-se na madeira e deixando assim toda a mágoa sair de dentro de si. Sabia que seria difícil superar e esquecer, mudar a rotina e viver como se nada a afetasse, mas tentaria o seu melhor, pois era uma guerreira que pertencia a família Devis; àquela que nunca desistia.

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