|Capítulo 01|

Dias se passaram e a ansiedade tomava conta da jovem Dulce, que esperava impacientemente uma carta de alguma faculdade. Tinha esperanças de que seria aceita, mas só não sabia quando esse momento chegaria. Acordava todas as manhãs às exata seis horas, corria escada abaixo até a janela da casa e aguardava a chegada do carteiro.

Sua mãe admirava a feição agitada da filha e a consolava quando a família Devis não recebia nenhuma correspondência. E assim as semanas iam passando e, enquanto isso, Dulce continuava trabalhando em uma lanchonete, para ajudar os pais nas despesas.

Numa tarde de sábado ela estava limpando as mesas para os próximos clientes que chegariam, quando ouviu o som do sino e olhou na direção da entrada do estabelecimento. Notou que era Jason, junto de seu grupo de amigos e agarrado a uma garota. A mesma teve que se conter para não explodir com o descaramento dele.

Quando os olhos do rapaz encontraram os dela, ele endireitou a postura e soltou a jovem que o acompanhava. Dulce estampou o melhor dos sorrisos no rosto e caminhou até os adolescentes, para executar seu serviço, o qual era paga e não podia reclamar. 

- Boa tarde. Querem alguma mesa? - indagou, deixando os garotos pasmos ao verem ela. 

- Olá, Dulce. - cumprimentou um dos amigos de Jason. 

- Oi, Samuel. - respondeu, com um aceno de cabeça. 

- Pensei que só trabalhasse nos dias de semana... - disse o garoto de íris esverdeada, ainda analisando a garota que tinha manchas de farinha de trigo no rosto. 

- Como não estudo mais, posso trabalhar nos finais de semana também, até arranjar coisa melhor para fazer. - desdenhou. - Mas enfim, querem alguma coisa, ou preferem ficar em pé? 

- Queremos a mesa perto da janela. - interveio Maggie, a loira de olhos azulados que acompanhava os meninos. Era uma antiga amiga de Dulce, que a muito tempo não se falavam, depois dela tentar roubar o namorado de Devis. 

- Ok. - assentiu a morena, escoltando os jovens até o assento escolhido. A moça anotou cada pedido e retirou-se, seguindo até a cozinha da lanchonete. 

- Como você consegue? - indagou Tyler, um colega de trabalho e homossexual, que terminava de preparar o café para ser servido. 

- O que? - a menina franziu a testa, confusa com seu questionamento. 

- Aturar Jason com esses babacas e aquela vadia. - declarou, entediado. Fazia horas que estava no turno, desde manhã e ficaria até anoitecer, e sentia-se cansado demais. 

- Ah, não sei... - deu de ombros, pegando algumas xícaras de porcelana. - Eu só tento lidar o máximo possível, já que não posso ignorá-los. 

- Podia ter me pedido para atendê-los, sabe que faço esse favor para você, meu docinho. - o mesmo abraçou a colega, que sentiu-se acolhida. 

- Obrigada, Tyler, mas tenho que aprender a lidar com meus problemas do que fugir deles. 

O rapaz ficou orgulhoso da garota, de estatura menor que estava em sua frente, que logo encaminhou-se para a mesa dos jovens que conversavam e gargalhavam alto. Ela sentiu-se incomodada ao saber que não tinha tantos amigos para passar o tempo, como Jason tinha. Na verdade, havia uma grande diferença entre eles: ele era popular e charmoso, e ela nem tanto. 

- Dulce, Dulce, Dulce! - alguém entrara as pressas na lanchonete, procurando pela menina que servia os clientes. Ela virou o rosto e viu sua mãe parada na entrada, buscando a filha pelo espaço todo, até encontrá-la e abrir um largo sorriso. 

- Mamãe? O que a senhora está fazendo aqui? - uniu as sobrancelhas em confusão. 

- Meu anjo, vim dar-lhe uma fantástica notícia. - pronunciou, caminhando até a mais nova. 

- Qual? - perguntou, ficando curiosa com o suspense. 

- O carteiro acabou de deixar esta carta em nossa casa. - estendeu e os olhos ônix da jovem brilharam ao ler o remetente. 

- Oh céus... - a mesma tampou a boca com tanto entusiasmo. 

- Abra, Dulce. - incentivou Tyler, que estava atrás do balcão, sorrindo para a colega com doçura. 

Seus dedos com unhas mal feitas, somente com base quase descascando, pegaram o envelope avermelhado e abriu rapidamente. Seus olhos passaram numa velocidade absurda pelas letras douradas, até concluir o que havia de tão importante escrito. Seu sorriso se alargou mais, deixando à mostra suas covinhas. 

- Então, o que está dizendo aí? - quis saber a senhora, que começava a chorar de emoção. 

- E-Eu... Fui aceita... - balbuciou, sem acreditar. - Eu fui aceita na faculdade! - exclamou e abraçou sua mãe, agarrando forte seus músculos. 

- Meus parabéns! - gritou Tyler, batendo palmas e sendo acompanhado pelas pessoas presentes no estabelecimento. 

- Você vai para a faculdade? - a voz de Jason soou atrás da garota e ela se virou, percebendo que ele havia se levantado e parecia abatido. 

- É o que parece, né. - respondeu, mostrando-lhe a carta. 

- Nossa... Meus parabéns, Dulce. - o mesmo coçou a nuca. - Era seu sonho, não é mesmo? 

- Ir para Chicago? Me diz quem não quer isso. 

- Eu não quero... - enfatizou, fazendo o sorriso da jovem sumir, gradativamente. 

- Ah, verdade... Você irá para Nova York, não é? - proferiu e ele assentiu. - É, mas no seu caso você tem dinheiro para pagar, e eu não. - sua feição enrijeceu. 

- Qual é, Dulce... - Jason tentou tocá-la, mas a garota teve a mesma reação do dia da formatura.

- Espero que se dê bem por lá, como consegue fazer em todos os lugares que aparece. - decretou e apanhou seus pertences, prestes a ir embora da lanchonete, já que não precisaria mais daquele emprego pois iria viajar e ir embora de uma vez por todas daquela cidade.

- Dulce! - chamou Tyler e a garota o olhou. - Arrasa em Chicago, gata! - esbravejou e a fez sorrir. 

As mulheres Devis saíram do estabelecimento que se encontravam e foram caminhando para casa, enquanto conversavam animadas sobre as coisas que fariam para a partida de Dulce. A mãe dela estava tão feliz e orgulhosa, sabia que a filha estaria realizando um sonho e conquistaria muitas coisas na faculdade que iria. 

Quando adentraram a residência, encontraram o senhor sentado na mesa da sala de jantar, separando contas que deveria pagar. O sorriso da jovem desapareceu ao pensar como pagaria as despesas, enquanto seus pais estavam com dificuldades para pagar a moradia em que se estabeleciam. 

Ao anoitecer, Dulce permaneceu em seu quarto estudando, distraindo-se com a música nos fones de ouvido para não ouvir a discussão que acontecia no andar inferior. Ela sabia que realizar seu maior desejo seria difícil, mas não iria desistir de tentar. 

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