um
Capítulo único
Respirei fundo mordendo os lábios na tentativa de segurar as lágrimas. — Os guardas podem chegar em qualquer momento. — Minha mente insistia em lembrar.
Trinquei os dentes e inspirei, meu estômago se retorceu com o ato, o cheiro de mofo e vômito me atingiu em cheio, só não vomitei novamente porque já não havia nada para vomitar, me encolhi um pouco mais sentado no canto escuro daquela cela
É o fim! Dessa vez é tarde demais.
Não tenho que me preocupar em morrer como um homem honrado, porque não sou.
Se a morte tivesse que chegar que fosse rápido, conhecia muito bem a lei para saber que ficaria ali por muito tempo como um castigo pessoal, talvez até enlouquece. Por que me matar se podia antes roubar o resto da minha sanidade
O único barulho naquele lugar, era de uma goteira que pingava do outro lado da cela, pela pequena e única janela dava pra perceber que ainda chovia lá fora, abracei meus joelhos tentando me aquecer mas as lágrimas corriam violentas e geladas por meu rosto, qualquer barulho lá fora fazia meu coração dar um salto imaginando se não havia chegado a hora da execução
Eu mereço, dessa vez fui longe demais e agora sem perdão!. — tentava me convencer.
Se fosse um homem de verdade não estaria chorando estaria esperando meu fim com a cabeça erguida, mesmo em uma cela mofada mesmo que á dois dias sem comer, ainda sim, deveria manter a cabeça erguida mas a mesma estava enterrada em meus joelhos, eu não saberia dizer o que era pior, o frio o fedor a fome ou as lembranças daquele dia quando tudo aconteceu.
Era por volta da *sexta hora do dia já estava impaciente em frente a tenda de tecidos todo mundo ali em suas ocupações eu observava, as mulheres acompanhadas, não sou rápido o suficiente então o jeito era esperar, "pensava, sozinho". um tempo depois passou uma senhora rechonchuda seus olhos brilhavam enquanto encarava os tecidos expostos e ria alto colando alguns sobre o corpo procurando um que combinasse, passei os olhos pelas pessoas caminhando tentando identificar se alguém esperava pela mulher, as pessoas inertes em seus afazeres parecia nem ver o que acontecia, meia hora depois caminhei atrás da mulher que andava devagar levando o tecido escolhido e cantarolava uma canção
Luz do sol, brilho igual
Luz do amor, luz igual
Já havíamos nos afastado o suficiente da cidade só o canto dos pássaros se misturavam a canção que ela continuava entoando ainda distraída, tapei sua boca no mesmo momento que a joguei no chão os olhos da mulher se arregalaram soltei sua boca e revistei o corpo a procura da bolsinha com dinheiro que eu tinha certeza, estava escondida em algum lugar. Quando a mulher começou a gritar fui tomado pelo desespero peguei a faca presa na cintura e dei o golpe seus olhos ficaram esbugalhados enquanto o corpo batia no chão, já sem vida. Fugi correndo deixando tudo pra trás e as mãos cheias de sangue pingando pela estrada. Até que dois dias depois os guardas me capturaram alguém me viu saindo da cidade atrás da mulher
Uma vida por outra vida é o que se repetia na minha cabeça a cada segundo naquela cela fria
Escutei de novo passos no corredor mas dessa vez não era alucinação era real. Meus olhos se apertaram focando o soldado parado em frente a minha cela. Com um risinho contido ele abriu a grade ao mesmo tempo que meus joelhos fraquejaram na tentativa de ficar de pé, então ele abriu as correntes e falou com a mão no cabo da espada
— Você pode ir em paz, hoje é seu dia de sorte, alguém vai morrer em seu lugar.
No misto de surpresa e alegria caminhei o mais rápido possível entrando no longo corredor cada passo era um alívio, eu não estava indo pra morte, eu estava caminhando pra liberdade
Foi quando passei pelo homem acorrentado que fazia um caminho contrário ao meu nosso olhar se encontrou rapidamente eu entendi
Ele era inocente
Eu era o criminoso
Eu havia matado, roubado a vida toda e ele estava ali para morrer no meu lugar
As palavras não saiam da minha boca, tudo que fiz foi me ajoelhar envergonhado ele parou na minha frente e murmurou um rápido .— vai em paz.
antes de desaparecer do meu campo de visão, passei por aqueles longos portões sentindo a chuva agora fina,decidido a honrar aquele gesto a começar de novo
— Não é possível, não sei nem mesmo seu nome. — É Jesus, Barrabas . O nome dele é Jesus alguém murmurou não identifiquei a pessoa em meio a multidão caminhei com passos largos rumo a uma nova vida
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Eu era a malícia e ele era sem maldade, eu era a mentira e ele era a verdade
* sexta hora do dia: por volta de meio dia
Mini conto inspirado na música: Barrabás, Gerson Rufino (820 palavras)
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