Capítulo quatro


                                

Já era a quarta vez que observava o ensaio do coral. Não! Não havia encontrado defeitos, mas ainda assim exigia que a banda ensaiasse as músicas já decoradas e repetidas.

Dom o velho maestro se mantinha calmo e sereno com a observação do amigo, que em nada lhe incomodava, apenas lhe dava ânimo para fazer seu melhor.

Eram conhecidos de longas décadas, depois de crescerem juntos plantando vinhas, Dom melhor que ninguém conseguia entender a importância de tudo ali sair perfeito.

Cada vez que o maestro olhava para Davi se lembrava de como tudo havia acontecido tão sutilmente que ninguém havia conseguido perceber até que Lipe desaparecesse completamente.

— PAI!, pai... — Lipe gritava pela casa. —Pai, tenho algo pra te contar, Pai...

Escondendo o sorriso de quem já sabia do que se tratava, o velho Davi apareceu aos pés da escada.

— Estou aqui Lipe, — respondeu atraindo a atenção do garoto que desceu as escadas pulando os degraus de dois a dois para chegar mais rápido.

— o Senhor não vai acreditar, eu passei! — gritou abraçando o velho, — Eu passei.

O coração de Davi ardia, escondendo as lagrimas por trás de um enorme sorriso, estava feliz pelo filho, conhecia melhor que ninguém os esforços do garoto, seu menininho havia passado agora iria estudar em uma das melhores faculdades do país estava orgulhoso, mas pensar em estar longe do filho era dolorido.

No dia da despedida o pai sorriu mesmo que em seu coração houvesse um aperto, sabia que o filho só estava se mudando para a cidade vizinha e que havia lutado muito por aquilo.

Todos os sábados Lipe vinha pela manhã contar as novidades e passar o fim de semana com o velho pai que se mantinha orgulhoso, nenhum dos dois pareciam se importar com o relógio as conversas eram longas e quando o fim de semana chegava ao fim a saudade já apertava antes mesmo que o garoto fosse embora.

Em um sábado algo estranho aconteceu, Lipe ligou dizendo que não teria como visitar o pai, o velho se sentiu triste mas compreendeu que o garoto tivesse muito trabalho, eles se falaram um pouco por telefone e o rapaz desligou com a promessa de reaparecer no próximo fim de semana.

Com o tempo as desculpas passaram a ser mais frequentes e o rapaz cada vez mais se afastava, o pai algumas vezes dava ao filho um presente ou outro, mas sua maior alegria era a companhia que tanto amava, a voz do rapaz que trazia aos seus dias alegria.

Agora Lipe raramente aparecia, muitas vezes ignorava as ligações de Davi e quando vinha estava com pressa demais para ficar, em poucos minutos ia embora.

Davi sentia uma enorme tristeza ao ver que seu filho estava se afastando,

Até que em um final de semana Lipe não apareceu ou mesmo telefonou, nem mesmo atendeu quando Davi ligou.

No próximo e no próximo a situação se repetiu , Davi sem notícias do garoto resolveu ir atrás mas não o encontrou, soube por vizinhos que o filho já não morava mais ali, também foi até a faculdade, mas soube que Lipe havia saído há um bom tempo, com uma imensa tristeza Davi voltou para casa .

Disposto a encontrar o filho chamou um velho amigo, Dom o maestro do coral, para ajudar naquela ideia, daria uma enorme festa em homenagem ao rapaz, sim! planejou tudo nos mínimos detalhes, nada ficaria muito barato, mas cada centavo valia apena para o velho que sonhava de novo com a voz do filho,

Durante semanas carros com alto falante passava pela cidade anunciando a festa, panfletos também foram distribuídos.

Quando finalmente tudo estava pronto o velho colocou sua melhor roupa e ficou no meio do salão esperando que a ideia surtisse efeito.

Dom se levantou e o silencio tomou conta do lugar aquele era o momento pela qual todos estavam esperando, com delicadeza a canção começou.

Hoje Eu fui te procurar naquele lugar

Onde você me chamava de Pai

Esperei com tudo que me pediu

Mas você não foi

Onde é que você está?

Já não ouço mais a sua voz

Você não tem mais tempo para vir aqui

Tá tão ocupado com as suas coisas

Que se esqueceu de mim

Mas se precisar de um ombro pra chorar

Ainda vou estar naquele lugar

Onde você buscava e eu ia te encontrar, meu filho!

No santo lugar, eu quero te encontrar

Sarar suas feridas e te perdoar

Lá naquela cruz, morri em seu lugar

Filho, nada irá Me impedir de te amar

Filho, dei minha vida por você

E Eu não te fiz para viver assim tão longe, meu filho

Filho, Eu inspirei o compositor

Pus essa canção nos lábios do cantor

Só pra te dizer, te amo!

Amo você, filho, amo você

Amo você, meu filho amado, amo você

Amo você, amo você

Meu filho, meu filho

Amo você, te amo tanto

Eu te amo tanto, meu filho

Davi chorava com a letra que dizia tudo aquilo que seu coração vinha sentindo desde o sumiço do filho, quando as últimas notas eram tocadas, um jovem que até o momento observava tudo de cabeça baixa se levantou e caminhou até o velho que se mantinha em meio ao salão, o jovem vestia trapos sujos e pela aparência podia se dizer que estava há muito sem um bom banho, então a música se encerrou quando o garoto se ajoelhou aos pés de Davi chorando.

Davi não podia acreditar no que estava acontecendo, era ele! Seu filho, alguns cochichos já começavam a se espalhar pessoas indignadas.

— Como pode estar feliz olha a situação do garoto, — Alguns diziam.

— Que decepção. — Outros falavam.

Davi alegre demais não se importou com os comentários, tomou o jovem pela mão se desculpou por ter que sair mais cedo da festa que continuou até a madrugada, tudo que queria era um tempo com o filho e nada mais parecia importar.

Lipe chorava e se desculpava, a vergonha era tanta que não queria olhar nos olhos do pai, como podia ter magoado tanto o velho e agora receber todo aquele amor.

Davi emocionado nada dizia, enquanto cortava os cabelos do filho e fazia sua barba, depois deu um banho no garoto que permanecia de cabeça baixa, por fim o vestiu, lhe deu um longo abraço e permitiu que aquele perfume impregnasse em suas narinas.

Quando abriu a boca foi para dizer, eu te perdoou.

(Inspirado na canção O santo lugar de pastor Lucas) 

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