Epílogo - Somente aquela que o amaldiçoou, o libertará (Parte Inicial)

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Dias depois...

O vento soprava sombrio lá fora. O cenário estava pálido enquanto a neve caía lenta do céu cobrindo tudo com sua branquidão cegante. Tudo estava envolto em um silêncio sepulcral, talvez ainda mais silencioso que um próprio sepulcro. Kristen estava na sacada de seus aposentos observando a paisagem branca de neve com uma morbidez dolorosa. A mansão estava mais do que nunca envolta em silêncio e dor marcada por memórias dolorosas que jamais poderião ser apagadas.

Sob sua pele perolada, ela podia sentir a brisa gelada eriçar seu pelos enquanto delicados flocos de neve pousavam sobre si derretendo lentamente sob o calor de sua pele. Ela não sentia frio, pelo menos não mais do que sentia a cada vez que colocava seus pés dentro da mansão. Embora a paisagem mostrasse um tempo frio de um inverno tenebroso que se instalava lentamente, o pior e mais tenebroso inverno havia, na verdade, se instalado na mansão entre as paredes dos corredores vazios e monótonos.

Ela suspirou cansada. Viktor havia se tornado um completo estranho para si desde o fatídico dia em que ela e ele viram o mundo desabar sobre suas costas. Após aquele dia de escuridão, ele simplesmente se trancara em seus aposentos não saindo de lá nem mesmo para a varanda de seu quarto. As grossas cortinas de seus aposentos permaneciam fechadas dia e noite e o silêncio por trás da madeira negra da porta era quebrado apenas pelo soluçar baixo que escapava de sua garganta.

Kristen, por sua vez, tinha em si seus próprios demônios e carregava em seu coração e alma um luto frio e impiedoso por sua irmã, Elena. De fato haviam se passado dias, mas embora suas lágrimas houvessem secado a dor da perda ainda estava lá a golpear seu peito com facadas profundas e impiedosas. A imagem do rosto de sua irmã se mantinha vívida em sua cabeça, como se estivesse em sua frente.

A cada instante sabendo que nunca mais a veria novamente era como se fosse uma eternidade, mas ainda assim, embora ela a tivesse perdido, Kristen sabia que sua irmã havia feito aquilo que julgara ser o certo e estava em paz consigo mesma. Embora Kristen sentisse a saudade golpear seu peito e as lágrimas lutarem para brotar novamente em seus olhos, ela entendia que Elena agora finalmente estava em uma paz da qual jamais pudera desfrutar enquanto Elizabeth estava viva.

Dando uma última olhada para a paisagem branca lá fora, ela suspirara vendo a fumaça branca sair entre seus lábios e então ela girara seus calcanhares entrando novamente em seus aposentos. Fechando a porta de vidro atrás de si, ela fechara as cortinas brancas fazendo com que a luz de fora entrasse em um fio.

Os passos dela soavam em um baque surdo enquanto seus braços enlaçavam seu próprio corpo. Finalmente ela estava em frente ao espelho e fitava o reflexo de sua face pálida com uma monotonia gritante. Seus cabelos outrora longos com cachos em brasa agora estavam pouco abaixo de seus ombros. Após os cortes irregulares que Elizabeth havia feito, Elliot lhe ajudara a cortar as demais mechas em tamanhos iguais. Mais uma marca de seus pesadelos para carregar.

De forma lenta ela fitara a penteadeira sentando-se e fitando a si no espelho. Então pegara a caixinha achatada da qual tão bem se recordava erguendo sua tampa passando a ponta de seus dedos sobre as pedras preciosas daquele belo colar. Um sorriso sutil pintou seus lábios ao recordar-se da ocasião em que aquela joia fora posta de forma tão bela em seu poder. Mantendo as memórias daquele momento vívidos em sua cabeça ela pegara a joia sentindo o frio de suas pedras sob seu tato, logo em seguida colocando em volta de seu pescoço fechando o fecho atrás da sua nuca. Era belíssima.

Aquela delicada rosa que agora enfeitava seu pescoço brilhava ao mínimo toque de luz e Kristen não podia deixar de admirá-la. Olhar para aquela delicada flor era como recordar dos momentos felizes que vivera sob aquele teto e, por mais que as lembranças dolorosas viessem junto, ela conseguia apreciar cada detalhe das boas lembranças.

Então batidas sutis foram depositadas sobre a madeira da porta de seu quarto, e ela, embora duvidasse, não pôde conter o batido acelerado que seu coração fora embalado. Seria ele? De forma automática ela levantou-se ajeitando a saia de seu vestido sentindo um grande nervosismo nascer em seu peito. E então, mesmo que tentasse controlar as batidas nervosas de seu coração ela deixou que a voz baixa saísse de seus lábios dando a ordem para entrar.

— Kristen — a voz masculina soou quando a fisionomia já conhecida apareceu quando a porta fora aberta. Entretanto, era na verdade a faces de Elliot. Mesmo que sem intenção um discreto suspiro desapontado escapara de sua boca. No entanto, embora seu coração houvesse diminuído consideravelmente as batidas que estavam embaladas, ela também estava feliz em vê-lo.

— Irei partir — ele anunciou fazendo com que ela se agitasse inquieta indo na direção dele.

— Por que? — ela o fitou inquieta.

— Eu não posso ficar mais aqui, Kristen. Eu nunca deveria ter posto meus pés aqui, na verdade — ele dissera em um tom monótono fitando-a. Em seguida ele erguera suas mãos colocando-as sobre a face dela fitando os olhos azuis a sua frente — Kristen, venha comigo, vamos embora deste lugar que só nos trouxera dor e luto. Volte comigo para a taverna, vamos recomeçar a nossa vida longe deste lugar e sermos feliz como éramos antes de conhecer estas paredes.

Kristen então colocara suas próprias mãos sobre as mãos dele que tomavam sua face retirando-as dali tomando as mãos dele entre as suas.

— Eu gostaria muito poder partir junto a ti, Elliot — antes que ele pudesse sorrir em alívio, no entanto, ela continuara — Mas eu não posso.

— Por que não, Kristen? O que falta para que te convenças que teu lugar é na taverna?

— Se eu partir, Elliot, jamais entenderei o porquê me sinto ligada a este local, a estas paredes.

— Kristen, — ele novamente tomara o rosto dela entre suas mãos — nossa irmã morrera aqui, Elena está morta por causa dele, por causa deste lugar.

— Não, Elliot — ela interveio se desvencilhando de seu toque — Elena está morta por causa de Elizabeth. Elizabeth matara nossa irmã. Viktor é tão vítima das maldades daquela mulher quanto nossa irmã fora.

Elliot a olhou a poucos passos de si, e em uma constatação dolorosa deixara as palavras saírem de seus lábios com um grande peso.

— Tu o amas — ele dissera soltando aquela afirmação fazendo com que o coração de Kristen desse um solavanco imediato — Mesmo depois de tudo, mesmo depois de perder nossa irmã sob este teto, mesmo depois de tudo que sofreste neste lugar ainda assim não consegue deixa-lo.

— Elliot, não é questão de... — ela tentara falar em sua defesa, no entanto ele a interrompera.

— De amar? — ele soltara o ar em uma lufada rápida pelo nariz — Então o que é, Kristen? Olhe para si, veja seu corpo. Tu carregas cicatrizes sobre tua pele desde o dia em que pusera seus pés aqui. Vejas o que aquela mulher fizera com teus cabelos somente porque escolheste permanecer aqui com ele. Tu já nem consegues pensar em ti mesma longe deste lugar, não é?

A cada palavra que ela recebia dele, seu coração saltava em seu peito. Mesmo que quisesse negar tudo aquilo as palavras pareciam presas a sua garganta.

— Elliot... — ela tentara falar, mas calara-se em seguida. Ela simplesmente não sabia o que poderia falar. Elliot lambera seus lábios deixando que um rápido sorriso sem graça pintasse seus lábios e morresse em seguida. Então como se doesse em si fitar aquela sua frente ele virara as costas continuando a falar sem olhá-la.

— Mesmo que me doa saber que nunca a terei como minha amada, eu não desejo-lhe mal. Não, não faria isto jamais. Desejar-te qualquer mal seria como matar-me com meu próprio desgosto de vê-la infeliz — ele dissera já com as lágrimas a tentar tomar seus olhos.

Kristen por sua vez se aproximara dele tocando suas vestes como se pedisse que ele lhe fitasse. Ele, fechando os olhos com força impedira que as lágrimas escorressem por sua face engolindo-as como um amargo remédio finalmente virando-se para olhá-la novamente.

— Kristen, — ele dissera acariciando sua face uma de suas mãos — saiba que por mais que eu a ame e a deseje do meu lado, eu não tentarei impedi-la de ficar. Eu a amo, isso é verdade e sempre será, mas é por amá-la que eu a deixo livre para fazer aquilo que teu peito lhe diz para fazer — a esta altura as lágrimas tomaram novamente os seus olhos e como os seus os dela também foram tomados por suas próprias — Mas saiba que nunca, nem mesmo em seus piores pesadelos eu a deixarei desamparada. Não importa o que aconteça, Kristen, não importa o que aconteceu, se precisar de mim para qualquer coisa, eu não hesitarei em largar tudo para ajuda-la — suas lágrimas escorreram por sua face e Kristen não pudera evitar que suas próprias lavassem sua face.

— Eu sei, Elliot, — ela dissera com a voz embargada — e quero que saiba que eu nunca irei esquecer tudo que fizeste por mim e por Elena — ela tocara o rosto dele olhando-o em seus olhos com profundidade — Eu o amo mais do que poderia contar, e sei que como nossa irmã, eu o amo mais do que todo o universo e suas estrelas. Não tenha dúvida disto jamais.

— Não tenho — ele lhe dissera em um sussurro enquanto limpara as lágrimas em sua face. Em seguida ele acariciara o rosto perolado dela e fitou seus olhos — Partirei agora deste lugar, mas saiba que minha distância jamais significará que me ausento de tua vida. Eu sempre estarei a seu alcance não importa a distância de nossos passos. E peço, Kristen, que me prometa que não importa quanto tempo se passe ou o que possa acontecer daqui para frente, se um dia perceber que este não é o teu lugar, se enxergar nesta escolha de permanecer aqui um erro, prometa que irá me procurar. Prometa que se sentir que precisa voltar não irá se prender a mais nada, que apenas me procurará. Me prometa de todo o teu coração.

Ela não pudera conter que um sorriso singelo pintasse seus lábios e com sinceridade deixou que sua promessa fosse selada.

— Eu prometo.

— Eu estou falando sério, Kristen. Prometa de todo seu coração que fará isso quando preciso, não minta para mim.

— Eu também estou falando, Elliot — ela disse tocando seu rosto — Eu prometo de todo o meu coração que se precisar eu não hesitarei em procurá-lo.

Um rápido sorriso nasceu nos lábios deles e em seguida ele a puxou para mais perto envolvendo-a em seu abraço beijando o topo de sua cabeça em um momento terno em que seus corpos quentes pareciam se despedir.

— Meus braços sempre estarão abertos para ti, raposinha teimosa — ele dissera baixo. Ela sorriu de lábios fechados.

— Tenha certeza que não há melhores braços para onde esta raposinha teimosa queira estar — Elliot sorriu de modo verdadeira permanecendo naquele ambiente escuro dentro do melhor abraço que poderia encontrar.

***

Já nos poucos degraus que davam para o chão de ladrilhos Elliot fitava Kristen estando ele em um degrau abaixo do que ela estava. A neve continuava a cair lenta e fria e os flocos brancos ficavam presos nos cabelos castanhos dele assim como nos fios em brasa dela. O vento frio os abraçava naquela despedida.

— Nem quero ver quantos bêbados tentarão dormir na taverna neste tempo frio que inicia. Deuses, já até sei que varrerei mais bêbados das mesas do que se tentasse varrer toda essa neve! — ele disse arrancando uma discreta risada dela.

— Sei que não será um problema. Confesso que varres deveras bem para um cavalheiro sofisticado — ela disse com tom de brincadeira deliciando-se ao ver um sorriso desenhar os lábios dele. Ela o fitou com ternura tocando o seu rosto — Venha me visitar, Elliot. Eu adoraria poder vê-lo novamente.

— É até um insulto me dizer isto. Quando eu disse que minha distância não significa minha ausência eu não estava apenas tentando ser filosófico — ela sorriu abertamente.

— Ainda bem, pois como filósofo, tu és um ótimo varredor de bêbados — ele fingiu sentir um pontada em seu coração colocando um de suas mãos sobre seu peito. Ela deixou que uma risada saltasse de seus lábios.

— Machucou, sabia? — ele disse em uma falsa expressão de dor. Ela riu novamente dando um soco de leve em seu ombro.

— Não seja dramático, olhos de mel — ela dissera acariciando os cabelos castanhos salpicados de neve — Não me deixe sentir tua falta.

— Não seria capaz de fazer algo assim — ele dissera tomando as mãos dela nas suas — Cumpra com tua promessa, cabelo de fogo. Confio em ti demasiado.

— Nem deveria me pedir algo assim. Tens meu coração, olhos de mel. Não poderia mentir para o dono dele.

— Ainda bem — ele respondeu suspirando em seguida. Ela desceu para o degrau onde ele estava abraçando-o em seguida refugiando-se em seus braços enquanto fechara seus olhos — Meu coração se contorce com a falta dela.

— O meu também. Mas sei que por mais que doa saber que nunca mais a verei ela está finalmente em paz.

— Eu espero que esteja — ele disse baixo.

— Sei que está — ela respondera em mesmo tom — Eu o amo mais que todo o universo e suas estrelas — ela dissera em um sussurro.

— Eu também, cabelo de fogo. Eu também.

***

O vento frio continuava a cercar cada canto daquele local. Ao longe Kristen via a figura de Elliot a se afastar enquanto a cada passo que ele dava ela sentia a solidão a abraça-la com seus braços frios. Quando a imagem dele sumira confundindo-se na branquidão do cenário ela girara seus calcanhares e contemplara a mansão. A sua entrada estava destruída, a porta de carvalho negro havia desabado, as paredes ou estavam rachadas ou haviam desmoronado grande parte de suas estruturas. Os troncos de árvores arrastados pela magia de Elizabeth ainda estavam jogados pela sala enquanto o lustre luxuoso estava destruído.

Olhando por instinto para a sacada dos aposentos do anfitrião daquele lugar ela sentira uma pontada de tristeza ao ver as grossas e escuras cortinas ainda fechadas. Ela suspirara cansada abraçando seu próprio corpo subindo os degraus entrando novamente para o local. Sob seus pés o riscar da terra em contato com suas sapatilhas produziam seu barulho contínuo. O mármore outrora branco e lustrado a esta altura não podia sequer ser visto.

Desviando dos obstáculos em seu caminhou ela caminhara à longa escadaria também ofuscada pela sujeira sobre seus degraus subindo-os evitando olhar para o cenário abaixo que lhe trazia tanta dor. Já nos corredores vazios ela deslizara por ali como um fantasma vagando sem rumo. O único som que podia ser ouvido eram os de seus passos. A solidão de fato parecia lhe abraçar com seus braços frios, talvez ainda mais frios do que o próprio inverno lá fora.

Ao passar pelo corredor que parecia ser mais frio que os outros ela parara subitamente respirando fundo antes de fitar a madeira negra da porta ao seu lado. Como se visse um monstro que lhe assombrava em seus sonhos ela sentiu o coração disparar em seu peito em um misto de receio, medo e ansiedade. No cômodo por trás daquela madeira negra tudo permanecia silencioso e Viktor parecia sequer estar ali. Mas ela sabia que ele estava. As mãos ao redor de si apertaram o tecido de seu vestido entre seus dedos enquanto a respiração saira pesada de seus pulmões. Deveria bater? Chamá-lo ou tentar alguma comunicação?

Desde aquele fatídico dia tudo havia sido assim. Kristen em seus lapsos de coragem caminhava até aquela porta decidida a por um fim naquele silêncio sufocante, mas sempre que a madeira negra estava frente a seus olhos a coragem se esvaía como água entre seus dedos e ela voltava com passos pesados para a melancolia de seus aposentos silenciosos. Haveria ela de penar mais tempo enquanto a coragem parecia esquecer de aparecer para si? Talvez fosse melhor sair dali. O que faria afinal se sequer coragem para bater na madeira ela tinha.

No entanto, quando ela dera o primeiro passo para seguir seu caminho solitário, um som vindo de dentro daquele cômodo lhe fizera parar subitamente atentando seus ouvidos. Haveria de ser uma voz? Aproximando-se novamente da madeira escura ela tocou a madeira encostando seus ouvidos na mesma em busca de qualquer som. De fato logo ela constatara que havia sido uma voz. Viktor.

Deuses, — a voz abafada atrás da madeira lamentava com a voz sôfrega — por que ainda tenho de estar nessa escuridão sem fim? De fato mereço todo esse castigo que me fora imposto? Quantas vezes meu coração ainda terá de partir-se?

Ouvindo aquelas palavras Kristen sentira seu próprio coração partir-se. O suspiro pesado escapara de seus lábios a medida que ela fechara seus olhos tentando evitar que as lágrimas nascessem em seus olhos. As batidas de seu coração pareceram pesar dentro de si a ponto de fazê-la sentir o aperto incômodo no peito. Não poderia mais suportar aquilo, ela tinha de vê-lo. Sendo assim ela deixara que o chamado receoso escapasse de sua garganta enquanto em si a esperança de uma resposta lutava contra o medo de falhar.

— Viktor — ela dissera afastando seu rosto da madeira fitando-a com pesar. Nenhuma resposta fora ouvida — Viktor, eu sei que estás ai. Por favor, deixe-me entrar. Temos de conversar, tu sabes bem.

Novamente nenhuma resposta fora ouvida. Ela suspirou pesado sentindo seu peito ser golpeado pela decepção e em seguida ela deixou que a cabeça novamente descansasse sobre a superfície dura fechando os olhos.

— Eu sei que está sofrendo, eu também estou. Eu perdi minha irmã, Viktor, e a dor de seu luto ainda está vívida em meu coração e sei que essa ferida em minha alma nunca irá sarar. Mas ainda assim eu estou aqui, com você — ela engolira em seco fitando novamente a madeira a sua frente com os olhos cheios — Elliot acabara de partir, não suportara a perda de Elena e não suportaria ficar. Mas eu fiquei independente dos inúmeros pedidos de partida vindos dele. Eu fiquei por que estou presa, Viktor, e não seria capaz de deixar este lugar sem que pudesse vê-lo novamente, nem que seja uma última vez — ela respirara fundo limpando a lágrima fina que descera por sua face — Me deixe ajuda-lo, Sr. Greembell. Me deixe nem que seja por esta única vez acalentá-lo deste inverno que recaira sobre nossas cabeças. Por favor... — ela terminara em um sussurro deixando uma de suas mãos repousar aberta sobre a madeira imitando o gesto que fizera outrora quando a poucos centímetros de sua palma estava a de Viktor.

Novamente o silêncio ainda estava lá e Kristen não pudera conter o sentimento de decepção que nascera em si. Entretanto, finalmente o barulho de trancas a serem destravadas e ela permitira afastar-se da madeira com os olhos fixos na maçaneta dourada. Enfim uma pequena fresta fora aberta finalmente em um sinal de que ela poderia entrar. O suspiro em alívio que escapara de seus lábios acendera a chama de esperança em seu peito.

Ela não tardou a tomar o metal dourando em sua mãos abrindo a porta do ambiente. Estava escuro, as cortinas escuras permaneciam fechadas, a única fonte de luz ali era somente o candeeiro sobre a mesa-de-cabeceira.

— Deuses! — ela não pudera conter a surpresa diante do que vira levando instantaneamente sua mão até seus lábios.

Sob a luz fraca e amarelada do candeeiro Kristen pudera constatar facilmente que o local estava tão destruído quanto a própria sala daquela mansão. Cacos de vidro que parecia ter sido um espelho estavam espalhados pelo chão, a cama desfeita tinha seus lençóis jogados pelo lugar, o armário de roupas estava vazio enquanto os tecidos em sua grande maioria negros cobriam o mármore. Uma grande poltrona estava deitada sobre o chão enquanto seu estofado estava rasgado deixando seu enchimento exposto. O quadro de Marie ainda estava lá, entretanto um grande e longo rasgo passava por seu rosto deixando-o desfigurado no tecido rasgado.

— Está a procura de um homem que não existe mais, Srta. Sartórios — a voz monótona dele vinda de perto das longas e escuras cortinas chamara a atenção dela — Sinto em dizer-te que não vais encontrar mais do que fragmentos aqui.

— Viktor — ela dissera em um sussurro, todavia fora impedida de continuar pela voz dele.

— Não, não me chame assim — ele a fitara finalmente — O homem a quem procuras está morto, não existe nada dele aqui se não seu fantasma maldito que vaga na escuridão deste quarto.

— Não fale assim — ela dissera fechando a porta atrás de si dando os primeiros passos para alcança-lo. Porém ele erguera sua mão espalmada em um claro pedido de pare. Ela parara.

— Não se aproxime — ele dissera — Não sei se poderei conter minha tristeza diante de tudo que acontecera. E eu não quero mais chorar por ser essa aberração repugnante cujo sequer a morte visita-o.

— Não ouse chamar a si mesmo de aberração, Viktor — ela dissera doendo ouvir aquelas palavras em si — Já a muito eu descobri que não há aberração alguma sob este teto que não fosse Elizabeth.

Embora ele a ouvisse, Viktor parecia não escutar suas palavras mantendo-se a distância dela como se ele temesse a si mesmo. Ele estava de fato destruído. Com os olhos tristes ele abaixara sua cabeça virando-se novamente de costas para ela afastando uma pequena parte da cortina somente o suficiente para que seus olhos fitassem a paisagem pálida lá fora.

— Eu sinto muito por Elena — a voz dolorida saiu em uma frase rápida que terminara com um suspiro pesado — Eu gostaria de tê-la salvo de Elizabeth. Mas sequer isto eu pude fazer.

Kristen por sua vez abaixara sua própria cabeça fitando as mãos cujos dedos se entrelaçavam enquanto a tristeza de recordar a falta de sua irmã a assolara novamente.

— Não cabia a ninguém salvá-la. Ela não queria ser salva, na verdade. Eu acho que talvez ela mesma sempre soubera que de fato só estaria a salvo de Elizabeth quando a mesma estivesse morta. Infelizmente ou felizmente, eu ainda não sei, ela só encontrara paz em sua própria morte.

Viktor a fitara novamente embora ela não o estivesse fitando mantendo seu olhar baixo sobre suas mãos.

— Margareth partiu e eu sequer me despedi dela — ele dissera com voz triste atraindo o olhar dela sobre si — Deuses, como eu gostaria de nunca tê-la posto nisto tudo!

— Não foras tu que a colocaste nisto, Viktor. Margareth na verdade já sabia de tudo antes mesmo que tu contasse a ela.

— Ela assim como Elena morrera por minha causa, Kristen — ele dissera com os olhos cheios embora sua face tentasse lutar contra o pranto que queria nascer em sua garganta — Sabe o quão infeliz eu me sinto ao saber que a morte delas fora em vão?

— Em vão? — ela perguntara confusa o olhando com uma grande interrogação em sua face — Elas morreram para libertá-lo de Elizabeth, Viktor. Elas morreram para libertá-lo depois de tanto tempo sofrendo. Como ousas falar que suas mortes foram vãs?

Ele soltou um pequeno sorriso sem som ou graça, como se estivesse sendo sarcástico consigo mesmo. Ela franzira seu cenho sem entender a reação dele.

— Então ainda não sabes... — ele falou para si próprio com o tom triste abaixando seu olhar em seguida.

— O que eu ainda não sei? — ela perguntou tentando enxergar em meio toda aquela escuridão. Ele engolira em seco mantendo seu olhar baixo. Em seguida dera as costas para ela segurando uma pequena parte do tecido escuro da cortina que impedia a luz daquele dia pálido entrar por dias. Lentamente, como se aquele ato pesasse sobre seus ombros ele deslizou a cortina para o lado deixando finalmente a luz entrar.

Seu pés em seguida deram a meia volta finalmente estando de frente a ela novamente ainda com os olhos baixos.

— Eu ainda sou o mesmo, Kristen — as palavras saíram pesadas de seus lábios pálidos. Lentamente ele a fitou com os mesmos olhos amarelos opacos de sempre, mas que mais que nunca carregava uma sombra negra consigo — Nada mudara.

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4189 palavras

Continua na outa parte, então se for pegar um cafezinho ou fazer algo antes aproveita agora ksksk

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