Capítulo XXXIV ­­­- O início da tempestade


Elena estava parada a alguns poucos metros de Viktor e Kristen, todavia nenhum dos três ousava dar nenhum passo a frente de onde estava. Com alguns passos de diferença, na entrada da porta, surgira a figura de um homem que trazia consigo uma espada na bainha em seu cinturão.

— Elliot? — Kristen perguntou surpresa, sobretudo, muito curiosa. O que eles estavam fazendo ali?

— Olá, Kristen — Elliot respondera de forma contida quase como que incomodo.

— O que fazem aqui? O que você e este homem querem aqui? — Viktor perguntou um tanto áspero. Ele lembrava-se bem daquele rapaz, era o mesmo que havia estragado sua tarde na feira e o qual, por um triz, não matou. Kristen franziu o cenho confusa com a cena. De onde eles haveriam de se conhecer?

— Vocês se conhecem? — ela perguntou realmente ansiosa pela resposta.

Elena sorriu levemente para ela, todavia o seu olhar recaira sobre Viktor.

— Ela tem de partir imediatamente — ela falou simplesmente fazendo tanto o cenho de Viktor quanto o de Kristen franzirem.

— O que disse? — ele perguntou.

— Disse que ela tem de partir agora. Hoje. Neste instante.

Viktor sorriu de lado em deboche, já Kristen tinha uma interrogação gigantesca piscando em sua cabeça. O que Elena fazia ali com Elliot? Como eles a acharam? De onde eles conheciam-se? Do que ela estava falando, ou de quem?

— Com que direito julga entrar em minha casa sem ser convidada e ainda me dizer o que fazer? — Viktor respondeu ríspido. Cada vez mais Kristen sentia-se perdida ali.

— Viktor, sei que estou sendo abrupta e invasiva, mas acredite, Kristen tem de partir AGORA.

— Alguém, por favor, pode me explicar o que está acontecendo aqui? — Kristen interveio entre os dois totalmente fora dos acontecimentos — Minha irmã, como soube onde eu estava? O que tu e Elliot fazem neste lugar?

Elena, pela primeira vez desde sua chegada, saira de onde estava e andou em direção a Kristen. Viktor que estava ao seu lado, fechou o punho alarmado com a aproximação. O que aquela mulher fazia ali? Elena parou frente a Kristen e tomou as mãos da mesma entre as suas.

— Minha irmã, acredite, sempre quis o seu bem e hoje venho provar isso — Elena a olhou com intensidade e falou séria a seguinte notícia — Tu corres sério perigo e tens de partir ou será tarde demais.

— Do que está falando? — Viktor aproximou-se interrogativo — Que perigo refere-se?

— Ela está vindo, Viktor — ela sentenciou fazendo ele ficar inquieto — Elizabeth está voltando.

Viktor sentiu o baque em si. Ele olhou para um ponto qualquer no ambiente atônito pela notícia. Por mais que soubesse que aquela notícia um diria chegaria, ele não podia impedir que seu ser tremesse em um receio crescente. Deuses, o que haveria de fazer?

— O que ela quer? — ele perguntou verdadeiramente inquieto e alarmado — Por que está voltando?

— Ela quer o mesmo que outrora teve, Viktor — ela soltou a mão de Kristen para dar inteira atenção a ele — Vingança. Ela sabe de Kristen. Ela sabe o perigo que a aproximação dela a ti representa. Ela fora bem clara quando rogara a maldição e não deixará que nada atrapalhe seus planos.

— Do que está falando? — Kristen perguntou confusa — Essa Elizabeth, é a bruxa, não é?

— Tu contaste para ela? — Elena perguntou para Viktor. Ele acenou com a cabeça.

— Tudo — reforçou.

— Pois bem — Elena fitou-a — Sim, Kristen. Elizabeth é a bruxa que amaldiçoara Viktor e agora ela está voltando. Atrás de você.

Kristen sentiu o peito saltar com o susto. Atrás de si? Mas o que fizera? Por que aquela mulher estava em sua procura? Kristen estava alarmada. Fosse o que fosse, a volta daquela mulher horrenda não traria coisas boas.

— Como tu sabes? O que sabe sobre ela? Por que fala como se a conhecesse?

— Por que eu a conheço — ela afirmou segura, mas não pode conter engolir em seco — Eu sou... — Viktor a interrompera completando a frase que ela havia começado.

— Elena Sírius Winslav, irmã gêmea de Elizabeth.

Tamanha fora a surpresa de Kristen que por um segundo tudo girou. O que estava acontecendo ali? Como Elena poderia ser irmã gêmea de Elizabeth? Tudo estava muito giratório, ela mal conseguia raciocinar com clareza.

— Por que ela está atrás de mim? — perguntou um tanto atordoada, mas ainda surpresa com aquelas revelações.

— Por que você está viva, Kristen. Você deveria estar morta.

— O que? — ela perguntou realmente surpresa e atordoada.

— Morta? — Viktor perguntara pesarosamente interrogativo.

— Sim — ela afirmou — Ela mesma tentou mata-la.

"Final do ano de 1664. Floresta local.

Elena olhava em todas as direções procurando por qualquer pista ou vestígio de Elizabeth. A noite estava clara sob a luz da lua cheia, o vento suave, tudo muito silencioso. Os galhos quebrando sob seus pés causavam-lhe um reboliço estranho no estômago aumentando ainda mais sua angustia. Ela sabia que algo estava errado com sua irmã, eram gêmeas, deveriam ter alguma ligação sobrenatural pois ela sentia algo sempre que Liz se embrenhava na floresta.

O estômago dela remexia-se inquieto e seus olhos atentos não encontravam nada em meio aquele amontoado de árvores. Elizabeth estava muito diferente de quando criança, andava sozinha pela floresta, especialmente em noites de luas cheias, tinha sempre o rosto vazio, olhos sombrio, vestes negras. Elena sentia imenso penar com aquilo. Sua irmã, sua doce e animada Liz havia se tornado algo que jamais pensara. Tudo por um amor não correspondido. Até que ponto as pessoas poderiam ir por algo que anseiam? Até onde o amor será puro e não mortal? Elena estava cansada de nunca obter respostas.

Mais um tempo de caminhada se estendera, tudo muito calado e vazio. Todavia, uma chama semelhante a uma fogueira a alguns poucos metros de si lhe chamou a atenção.

Ela pôs-se em alerta e andou mais depressa não se importando com o som dos galhos sob seus pés denunciando sua presença. No entanto, antes de alcançar seu destino, ela teve de parar. Um choque tomou seu corpo, uma vibração dolorosa invadiu seu peito com a cena a alguns passos de distância. Elizabeth estava no meio de um círculo de velas e cruzes, algumas ervas estavam próximas a si fumaçando, a fogueira próxima crepitava, e, pior do que queria aceitar, sangue lavava o chão e restos de animais estavam a alguns poucos centímetros espalhadas pelo chão além de um grimório aberto em sua frente. O corpo dela estava tombado sobre a terra escura, olhos fechados, rosto sujo de sangue.

Elena sentiu o peito apertar como entre um aperto de ferro. O que sua irmã estava fazendo consigo mesma? Elena respirou fundo procurando coragem para se aproximar. Era uma cena pesada demais até para si. Em todas as vezes que encontrara Liz em cenas semelhantes, de todas, essa era a pior. Nas últimas não envolvia Magia Negra.

Elena se aproximou cautelosa sentindo o peito apertar a cada passo. Sua irmã não abrira os olhos, sequer parecia notar sua presença. Ela andou na ponta dos pés desviando dos restos de carne no chão fazendo um careta com a cena e o cheiro do sangue. Algumas das velas do círculo haviam se apagado ou queimado por completo e outras apenas oscilavam com a brisa suave.

Elena passou por cima das velas, abaixando-se ao lado do corpo inconsciente de sua irmã. Se é que poderia chamar aquela mulher assim ainda.

— Liz — ela sussurrou tirando os cabelos loiros colado na face dela — Liz, acorde!

Elizabeth se remexera inquieta, abrindo os olhos com relutância como se tal ato pesasse demais.

— Está feito, Lena — ela respondeu também em um sussurro cansado desistindo de levantar — Eles pagarão por tudo que me causaram.

— Liz, por que faz isso? — ela acariciou o rosto da irmã sentindo remorso por ter deixado sua irmã chagar a tal ponto — Tu não tens de se tornar isto.

— Meu coração partiu-se demais para que os deixe imune — ela começou a apoiar-se nas mãos em uma nova tentativa de sentar, desta vez, melhor sucedida.

— Isso só está lhe fazendo mal, minha irmã — Elena disse realmente triste fitando o rosto da outra respingado de sangue.

— Tu ainda não conheceste o verdadeiro mal, Lena. E se pensas em tentar me deter, saiba que não é por seres minha irmã que a polparei.

— Liz — ela repreendeu assustada com aquela ameaça — Eu sou tua irmã e só quero ajudá-la. Como ousas me ameaçar?

Elizabeth fitou-a enquanto levantar-se. Já de pé, fitou Elena no chão com um olhar vazio e sombrio.

— É bom que saiba o que pode acontecer se entrar em meu caminho — Elizabeth encurvou-de aproximando o rosto de sua irmã — Eu não quero fazer-te mal, Lena, mas se for preciso, eu sequer me lembrarei que tu és minha irmã.

Elena não pôde conter arregalar os olhos. Deuses, onde sua irmã houvera parado? Pois ela tinha certeza que aquela mulher em sua frente não era sua irmã. Pelo menos não mais.

Elizabeth endireitou o corpo e com um movimento leve de suas mãos as velas que restavam acesas apagaram com um vento mais forte.

— Eu a amo, Lena — ela começou — Mas não meta-se em minha frente — dito isso, ela saiu dali indo pelo caminho que Elena havia chegado ali deixando Elena para trás".

Elena suspirou pesadamente fitando vagamente um ponto qualquer.

— Após aquele dia eu soube eu havia perdido minha irmã — ela engoliu em seco como se falar aquilo houvesse rasgado sua garganta — Mas também foi a partir daquele dia que eu soube que tinha de arrumar um modo de para-la antes de fosse tarde.

— Como tu poderias para-la se ela havia se tornado uma bruxa e tu somente uma humana? — Kristen perguntou verdadeiramente curiosa.

— A começo eu também pensei assim. O que eu poderia fazer para parar uma bruxa? Que poder eu teria para sequer ter uma chance contra ela? — ela puxou o ar pesarosa desviando o olhar e dando as costas para Kristen e Viktor que ouvia atentamente. Elena focou o olhar na porta do local que havia sido fechada por Elliot que aguardava como um guarda armado ao lado da mesma. Elena puxou as memórias dolorosas.

— Houve uma época em que eu pensei que só o amor familiar poderia deter Elizabeth. Fazendo ela ver que embora Viktor a houvesse rejeitado, mas que sua família, pessoas próximas a amavam demasiado. Pra mim isso parecia ter sentido. Quem sabe se mostrando a ela o quanto a queríamos bem, ela veria que o amor de Viktor poderia ser esquecido e substituído por um afeto mais intenso, duradouro e puro. Com essa idéia na cabeça, eu procurei meus pais. Eu disse tudo que estava acontecendo, chorei enquanto relatava e eles realmente entenderam o quão grave era o caso. Precisávamos agir o mais depressa possível e naquela noite nós o fizemos — ela calou-se subitamente. Os que escutavam aguardaram em silêncio a retomada do relato seguindo por vários segundos numa espera paciente e ainda assim ansiosa. O assunto parecia pesar na boca de Elena, e saber que a irmã havia se tornado um ser tão sombrio e horrendo, deveria de fato pesar toneladas. Kristen sentiu compaixão por ela.

Elena fungou e ergueu a mão em direção o rosto o que fez com que Kristen pensasse que ela estava chorando. Ela quis sair de onde estava e tomar sua irmã de criação nos braços, acalenta-la como fosse possível, mas ela recomeçou seu relato, e Kristen então pensou que talvez fosse melhor dar o espaço que ela parecia precisar.

— Quando Liz chegara em casa, estava tudo silencioso e escuro. Eu e meus pais nos escondemos junto a outras pessoas que convidamos e julgamos que ela gostaria de ter por perto — ela sorriu de forma triste abanando lentamente a cabeça — Quanta ilusão.

Ao lado de si, Kristen sentiu o corpo de Viktor enrijecer e seu olhar cair pensativo e aflito como se já soubesse o desfecho que toda aquela história antes mesmo que Elena terminasse.

— Naquele dia, Liz sequer se deu ao trabalho de nos procurar. No fundo, creio que ela pouco se importava se estávamos em casa, ou enterrados embaixo da terra — ela fungou novamente e Kristen contorceu o rosto em pena — Mesmo agindo daquela maneira fria, nós fomos discretamente ao encontro dela. Fizemos barulho para chamar a atenção dela e atrai-la para o salão de música. Ela foi, de fato. Ao menos nesta parte nossa surpresa dera certo. Mas no fim, quem tivera uma surpresa fora nós — Elizabeth começou a fungar vezes sucessivas enquanto passava a mão no nariz para conter o líquido que escorria. Na face, finas linhas de lágrimas quebravam um pouco da beleza angelical. Kristen quis intervir, quis dizer a ela que ela não precisava chorar, que ela não tinha mais que falar, mas Viktor estendera o braço na frente do corpo dela impedido que ela avançasse. Ela olhou para ele que fez um leve aceno com a cabeça a incentivando a ficar onde estava. Kristen ainda olhou para Elena de costas a si a alguns passos de diferença, e novamente olhou para ele. Por fim, optou por seguir o conselho dele e permaneceu onde estava.

— Quando as luzes foram acesas e o músicos começaram a tocar, Elizabeth ficou congelada na entrada do local. Nós ficamos sorrindo esperando uma reação, mas ela estava estática, séria, vazia. Passando-se alguns poucos segundos, ela nos deu as costas e saiu do ambiente como se não tivesse visto nada. Os sorrisos em nossos rostos desapareceram na mesma hora. Ficamos sem graça, tanto nós quanto os poucos convidados que tínhamos. Eu, que tolamento havia dado a ideia, sorri sem graça e pedi para mamãe que pedisse desculpa e mandasse os convidados embora. Eu fui atrás de Liz, pouco tempo depois sendo seguida por nossos pais. Nós discutimos, brigamos feio e ter brigado com ela naquele momento fora a pior coisa que fizemos. Deuses, como eu poderia imaginar que aquela noite terminaria tão desastrosa? — ela chorou mais caindo em um infinito de soluços e fungados sem nunca fita-los — Ela ficou furiosa de um modo que nunca havia visto antes. Seus olhos ficaram negros, seu corpo emanava uma magia verde como fumaça, mas que nunca se dessipava no ar. Meus pais ficaram apavorados, encolhidos em um canto enquanto eu não sabia o que fazer. Eu falava, tentava acalma-la, mas ela parecia não ouvir, estava cega, surda e furiosa — mais soluços — Mamãe tentou remediar o mal já que meus pedidos estavam sendo vãs, mas fora pior. Elizabeth a arremessou e ela bateu com a cabeça em uma pira de fogo na parede — seus soluços foram intensificados — o cabelo dela tinha laquê e — ela soluçou cortando a voz — em contato com o fogo ela acendeu como uma vela. Ela correu em chamas, eu fui ajudá-la junto a papai, mas o fogo só se alastrava. Ela começou a se debater, seus gritos eram terríveis, desesperadores e o cheiro de carne queimada embrulhava meu estômago. Ela caiu, o fogo em si começou a consumir uma cortina e então o fogo triplicou. Eu não pude mais chegar perto de mamãe, seu corpo era uma tocha viva, o calor das chamas era insuportável. Papai ficou furioso e movido por sentimento de ódio avançou em direção a Liz, na tentativa de fazê-la parar, mas então Elizabeth ergueu a mão em sua direção e subitamente ele parou. Seu rosto era um misto de agonia e sofrimento, enquanto Liz fechava a mão lentamente e meu pai sufocava. Mamãe morreu queimada, seu rosto estava desfigurado e eu chorava como nunca antes em minha vida enquanto o fogo consumia a sala. Desesperada vendo ela matar o papai, eu avancei em sua direção me atirando em seus pés enquanto derramava um rio por meus rosto, "Liz, por favor, pare", eu implorava. Ela olhou para mim. Um olhar horrendo e negro, mas sem sentimento algum. Eu continuei chorando, mas fora o suficiente para ela parar. Papai caiu no chão sufocado na tentativa de recuperar a respiração. Elizabeth deixou a magia que emanava de si se esvair e olhando para o cenário desastroso, ela virou e sumiu depois da porta. O fogo só aumentava e já lambia o teto do cômodo então eu agarrei papai por baixo dos braços e tentei arrasta-lo para fora dali. Era pesado, penoso, mas eu consegui. Ele tossia compulsivamente e eu chorava enquanto tentava salva-lo. Eu me ajoelhei ao seu lado e pedi que se apoiasse em mim. Ele o fez, e então continuamos nossa fuga enquanto tudo era consumido pelas chamas. Liz sumiu. Quando cheguei na saída do lugar, meu pai começou a sucumbir em meus braços. Ele tossia tanto inalando a fumaça negra... Eu também tossia, mas ele estava pior. "Me deixe aqui e fuja, Lena", ele me disse variadas vezes. Eu negava veementemente, eu nunca o deixaria para morrer. Eu consegui tirá-lo de lá, mas fora em vão. A fumaça negra o matou e quando o deitei no chão ele já nem respirava — ela soluçou — Deuses, como chorei. Ainda hoje sinto meu peito partir-se como se tudo se desenrolasse em minha frente outra vez.

Elena chorou em silêncio tentando abafar os gemidos sôfregos na sua garganta enquanto limpava o nariz com o dorso da mão. Todos estavam em silêncio, Kristen sentia o peito apertado e Elliot havia desviado o olhar de Elena como se vê-la chorar o machucasse mais que tudo. O único som era os soluços contidos e os fungados necessários. Depois de muitos fungados sucessivos, Elena ousou olha-las. Seus olhos estavam vermelhos bem como o tom de sua pele. Seu semblante era sôfrego e Kristen, não sendo interrompida por Viktor, foi ao encontro de sua irmã de criação a envolvendo em um abraço complacente.

— Eu sinto muito — Kristen sussurrou ao pé do ouvido dela. Após alguns poucos instantes, elas se separaram lentamente enquanto Elena abaixava a cabeça e fungava novamente, desta vez, mais calma.

— Eu perdi tudo. ELA me tirou tudo — soluço — Eu nunca a perdoei pelo que fez com nossos pais, e sei que nunca a perdoarei — ela puxou o ar em seus pulmões enquanto Kristen tocava seu ombro em amparo — Amor não curaria Liz, eu descobri da pior forma. Então, sem opções, o que me pareceu mais viável fora procurar uma bruxa e pedir que me ensinasse o ofício da Magia. Talvez a magia combatesse a magia.

Kristen não teve o controle de seus pés quando recuou dois passos assustada com a informação atraindo o olhar de Elena e de todos ali para ali.

— Tu és uma...

— Bruxa? — Elena completou — Sim, eu sou. Mas eu não sou como ela, Kris — defendeu-se segurando braço de Kristen que ainda não sabia como reagiria — Minha magia fora desenvolvida com muitas técnicas, as quais quase sempre envolviam concentração e ervas medicinais. Eu sou uma Bruxa Branca, minha magia nada tem a ver com a de Liz. Veja — ela colocou a mão dentro de seu capuz retornando a mão segurando uma pedra em forma de gota na cor branca, mas que puxava para um leve prata — Eu ganhei esse colar quando já tinha acesso e controle da Magia que praticava. Foi me dado pela bruxa que me acolhera quando perdi tudo. Liz tem um semelhante, todavia no tom verde. Mas diferente dela, eu nunca exerci minha Magia para causar mal a ninguém. Eu curo e ajudo enquanto ela destrói e mata. Confie em mim, minha irmã, eu não sou como ela.

Kristen tinha o olhar desconfiado sobre Elena, mas algo em seus olhos lhe diziam que ela poderia confiar. Ela soltou o ar nos pulmões, e, mesmo receosa, relaxou o corpo.

— Tu te envolveste com Magia para parar tua irmã — Kristen começou em seu raciocínio em busca de respostas — mas Viktor fora amaldiçoado — ele se remexeu inquieto com a frase virando o rosto em uma direção contrária à deles — Onde estavas quando isso aconteceu?

— Me envolvi com Magia para vingar a morte de meus pais — ela começou — mas sabia que eu nunca poderia detê-la com Magia Branca. Somente a Negra me daria alguma chance, mas pensar em vender minha alma para matar não me parecia o caminho ao qual eu queria seguir. Então eu decidi que minha Magia nunca faria mal a ninguém e que a vingança não traria meus pais de volta. Eu fui embora. Deixei a cidade e rumei a lugares diferentes, que acalentasse minha dor e não despertasse sede de vingança. Quando a maldição fora rogada eu havia acabado de retornar, mas era tarde demais. Eu não pude fazer nada por você, Viktor — ela disse olhando para ele, que a olhou vazio — e sinto muito pelo teu tormento — Viktor acenou lentamente com a cabeça novamente refugiando os olhos em outro ponto do ambiente. Elena olhou novamente para Kristen.

— Após a maldição, Liz sumiu. Nunca mais ouvi falar dela nem sabia onde ela poderia estar. Até achei melhor assim. Eu retornei para a casa da Bruxa que me ajudara e lá vivi por quase dois séculos usando da energia da natureza para manter-me jovem — Elena segurou as mãos de Kristen a olhando nos olhos — Em uma noite, eu tive um sonho. Nele, uma criança acabara de nascer. Era uma menina, ruiva e corada e tão bela quanto doce. Eu não entendi o significado daquele sonho e o deixei para lá. Mas não era apenas um sonho, mas uma visão. Poucos anos depois, novamente aquela menina assombrou meus sonhos, desta vez crescida e feliz. Quando despertei não consegui tirar a imagem de seu rosto de minha cabeça — ela erguera a mão deslizando sobre o rosto de Kristen — Era você, minha irmã. Mas também era Marie, ou pelo menos eu entendia que sim. E a partir daquele momento eu soube que essa criança corria perigo. Liz nunca permitiria que uma criança duplicata pudesse representar um risco para a maldição e ela, com toda certeza, iria atrás da criança e a mataria.

Kristen remexeu-se inquieta com aquela frase. Um aperto estranho pairou em seu coração e ela engoliu em seco sentindo a boca seca. Aquele assunto era incômodo. Elena prosseguiu.

— Com o poder da Magia, eu localizei a criança e onde vivia e dali então passei a vigia-la prezando para que mal algum pudesse lhe acontecer. Mas, como previsto, Liz também soube da duplicata e, como eu, usou da sua magia para acha-la — ela respirou fundo — Em uma noite, seus pais saíram de carruagem para levá-la até um curandeiro já que tu te encontravas inferma. Era a chance perfeita para Liz. Ela poderia mata-la por um acidente e ninguém nunca saberia que sua Magia estava envolvida. Ela foi atrás da carruagem, espreitou entre as árvores até achar a hora perfeita para atacar. Em uma estrada de terra, a trinta minutos dali, seguindo por um desvio, havia um penhasco do qual diversas vezes Liz e Viktor brincara — ele remexeu-se extremamente incomodado — Liz usou de sua magia para fazer com que os cavalos não parassem por mais que gritassem e chicoteassem. Saltar da carruagem era inútil, tua mãe tentara diversas vezes saltar contigo e com teu pai, mas uma barreira de Magia os impedia. Eu corri contra o tempo, não poderia deixar que ela matasse uma criança inocente por puro egoísmo e maldade. A carruagem avançava, cada vez mais próxima do caminho da morte. Mas eu consegui chegar a tempo. Ou quase — ela sorriu triste — Eu quis salvar tua família, minha irmã, mas minha magia não era o suficiente para todos. Me perdoe, mas eu não poderia deixar que teus pais morressem em vão, então eu a salvei.

Kristen soltou as mãos de Elena olhando para pontos aleatórios, mas parecia não ver nada em sua frente. Seus olhos estavam levementes arregalados e suas mãos rodeavam sua cintura.

— Marina era uma boa mulher. Camponesa, bondosa e gentil, mas carregava em si um ventre estéril. Ela tinha um filho adotivo, Elliot, — ela olhou para Elliot com ternura sorrindo de lado. Ele correspondeu, mas logo deixou o pequeno sorriso morrer nos lábios — mas sempre ansiou ter uma menina para conversar e cultivar flores com ela. Tu estavas órfã e eu não poderia cria-la. Então tratei de colocar-te no caminho dela.

— Como não me lembro? — Kristen perguntou franzindo o cenho esfregando os braços com as mãos.

— Tu eras muito pequena, não haveria de fato como recordar — ela fez um pequena pausa antes de continuar — Ela ficou muito feliz em adota-la e desde então eu tratei de te proteger dos olhos de Liz com uma magia específica. Tu estarias segura enquanto próxima a mim, então por essa razão eu me apresentei como sobrinha de Marina, que sabendo de toda a tua história, concordou em deixar que eu a protegesse o quanto pudesse. Eu me afeiçoei a ti, minha irmã, e hoje vejo como uma verdadeira irmã que não tive.

— Deuses, — Kristen disse vagando pelo lugar com olhos perdidos e cenho franzido — essa mulher é um monstro — finalizou amarga.

— Sim, ela é — Elena concordou — e após tua partida da taverna, minha magia de proteção enfraqueceu e agora ela sabe que tu estás viva. E com Viktor.

Kristen voltou-se para ela, alarmada e pensativa sem saber exatamente o que pensar ou falar. Uma bruxa estava vindo atrás de si, o que tinha a fazer? Viktor, notando a inquietude de Kristen se aproximou dela, tocando sua cintura por cima do tecido também preocupado.

— Ela Já viera, Elena — Viktor sentenciara, olhando fixamente para um ponto ignorado lembrando daquele fatídico jantar. Elena, assim como Kristen o olharam com os olhos brevemente arregalados com aquela notícia — Ela estivera aqui, eu sei que sim.

— Do que está falando, Viktor? — Elena tomara a frente perguntando com verdadeiro assombro com aquelas palavras.

— Durante um jantar... — ele dissera. Kristen de pronto recordara o que ele havia dito, colocando por instinto sua mão sobre o ombro coberto com o tecido do vestido onde ali estava as cicatrizes do ataque que sofrera do corvo.

— O corvo... — Kristen dissera de forma vaga, olhando para um ponto qualquer no mármore sob seus pés.

— Que corvo, minha irmã? — Elena perguntara atordoada com todo aquele suspense.

— Um corvo ataca Kristen durante um jantar — Viktor dissera chamando a atenção de Elena para si. Ele recordando-se da cena com um aperto em seu peito — Ele estava furioso, e ao quebrar a vidraça adentrara o ambiente e voara em direção a Srta. Sartórios. Mas não era apenas um corvo, era um espião. Quando o matei pude ver seu sangue desenhar um símbolo de Maga negra sobre a mesa. Fora ela, eu posso afirmar.

— Estamos sem tempo — Elena dissera em uma conclusão desesperadora. Ela aproximou de ambos com a voz acelerada — Está a caminho, posso sentir a energia negativa se aproximar rapidamente.

— E o que vamos fazer? — Kristen perguntou inquieta — Tu mesmo dissera que magia branca não pode detê-la.

— E não pode — a voz de Elliot soou a atrás deles atraindo o olhar dos presentes para si enquanto ele se aproximava — Mas se fugir conosco, nós a puseremos em um lugar seguro, protegido pela magia de Elena. Elizabeth não a encontrará, e eu montarei guarda na porta para protege-la.

— Sim — Elena confirmou com um acenar rápido da cabeça — Há uma casa na floresta. Liz não sabe dela pois jamais lhe contei, além de que a mesma é protegida por Magia. A partir do momento em que entrar no lugar, tudo, cheiro, energia, presença, tudo ficará escondido dos olhos de Liz, e ela não poderá encontrar-la mesmo se usar de Magia Negra.

— Tu estará a salvo — Viktor completou o raciocínio. Ele olhou para Kristen erguendo a mão e deslizando pelos cabelos dela. Elliot virou o rosto incomodado — Tu tens de ir, Kristen. Eu não posso permitir que aquela mulher lhe cause mal e se há alguma chance de protege-la, então eu não a deixarei passar — ele tirou sua mão do cabelo dela somente para espalma-lo no ar na altura do busto de Kristen, mas numa distância considerável do mesmo. Kristen olhou para o gesto, Elena e Elliot fizeram o mesmo. Kristen então respirou fundo olhando para a mão parada no ar. Ela então olhou para a sua própria, logo em seguida olhando para o rosto de Viktor próximo ao seu — Eu não pude proteger minha Marie, mas a ti não deixarei que mal algum aconteça. Me prometa que irá com Elena, que se esconderá quanto tempo por necessário.

— Tu prometes que irás me visitar? — ela perguntou carregando em sua voz uma ternura ansiosa. Ele sorriu abertamente, tão doce e terno ainda com a mão espalmada no ar — Tens minha palavra — ele disse terno e suave. Ela sorriu rapidamente de lado, erguendo finalmente sua própria mão imitando o gesto dele. Ela aproximou sua palma a dele. Ela notou o pequeno fio de tensão que rodeou ele, mas, a alguns poucos centímetros da pele dele, ela deixou a mão espalmada na mesma altura, mas sem toca-lo. A aproximação de suas peles era delicada. Viktor conseguia sentir o calor suave que emanava de sua pele, ela, no entanto, não sentia o dele.

— E tu tens a minha — ela finalizou mantendo sua mão naquela posição o olhado nos olhos em uma conexão indecifrável.

***

Elena e Elliot bem como Kristen e Viktor colocavam em uma bolsa gasta os vestidos e objetos que Kristen viesse a precisar. Elena assegurara que a comida seria levada por ela mesma tanto para Elliot que ficaria de guarda, quanto para Kristen. Tudo era feito nas pressas, por variadas vezes objetos iam ao chão, e a tensão que pairava sobre o local era quase palpável.

Quando feita a pequena mala, Kristen colocou um capuz negro, Elena e Elliot com os seus próprios e desceram a escadaria com notável pressa. Viktor estava apreensivo, se seu coração batesse a esta altura estaria errando batidas e apertado em sua caixa torácica. Já no chão de mármore do grande salão, Kristen virou-se frente a Viktor para fita-lo. Ela queria guardar seus traços, não sabia quando poderia vê-lo novamente.

— Eu aguardo vossa visita — ela aproximou a mão do rosto dele logo fechando a mesma e recuando em seus gesto — Peça perdão a Margareth por não me despedir dela.

— Ela entenderá — ele sorriu sutilmente. Ele ergueu a mão e a deslizou sobre o cabelo dela em um gesto ternuroso e delicado — Nos veremos em breve, Srta. Sartórios — ela sorriu docemente enquanto Elliot olhava em outras direções incomodado com a cena.

— Que assim seja Sr. Greembell.

— Me perdoe — Elena interveio um tanto envergonhada — Nós temos de ir agora.

Kristen acenara com a cabeça olhando pra Viktor passando sua mão sobre o suéter negro dele. Com um sorriso rápido, ela afastou-se. Elliot estava frente a porta com a maçaneta dourada em mãos os aguardando. Elena se despediu de Viktor com um leve aceno da cabeça o qual fora retribuído da mesma forma. Eles foram em direção a porta, a qual fora logo aberta por Elliot que abaixou a cabeça com a aproximação de Kristen.

— Proteja-a, Elena — Viktor disse parado no meio do local olhando diretamente para Kristen com os olhos vazios, mas ainda assim que diziam muitas coisas. Elena sorriu.

— Com minha vida.

Elas então olharam para fora. O vento frio carregava consigo gotículas geladas de chuva as quais tocava as partes descobertas de cada um. As árvores ao longe balançavam ao sabor do vento, o céu escuro com nuvens carregadas prestes a desabarem em uma tempestade.

Elliot cedeu passagem para que Elena e Kristen passassem. Elena fora a primeira, no entanto, quando Kristen repetiu seu gesto avançando, Elena a deteve pondo o braço na altura de sua barriga a impedido de avançar.

— O que há? — Elliot perguntou franzindo o cenho fitando Elena. Ela não respondeu. Manteve a mão impedido a passagem de Kristen e olhava para fora como se visse algo. Kristen também tinha o cenho franzido e Viktor aproximava-se confuso e inquieto com a reação dela.

— Algo está errado — Elena comentou olhando para o cenário lá fora desconfiada e atenta.

— O que está errado? — Viktor perguntou olhando para fora tentando achar algo, mas não vira mais que o cenário de sempre, desta vez com a diferença que estava prestes a chover.

— Essa energia... — ela comentou não terminando sua frase. Mas então seus olhos arregalaram assustados empurrando com o braço Kristen para dentro — Corram! — ela gritou, mas ninguém teve tempo para tal. Antes que fizessem qualquer movimento, um vento forte bateu neles como um muro de encontro ao seus corpos, e com o estrondo das janelas explodindo em estilhaços, eles foram arremessados violentamente para dentro da mansão.

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5599 palavras

Ahhhh, Deus acuda!!!😨😨😨😨😨😱😱

Ola, Olá Jubinhas de meu ❤ PRECISO DE UM MÉDICO, ALGUÉM MAIS?!?!?

Deuses, o que vai acontecer agora? O que irão fazer? O que vai acontecer com Kristen? E Viktor, Elena e Elliot? Ahhhhh, eu vou surtar, espero que vocês também KSKSKS (TÔ RINDO MAS É DE NERVOSO 😨)

!ALERTA DE SPOILER! NO PRÓXIMO CAPÍTULO, UMA NOVA BRUXA SURGIRÁ E EU TENHO CERTEZA QUE IRÃO FICAR CHOCADAS COM ELA. AGUARDEM!

QUE TAL UMA ⭐?

ME ENCHAM DE NOTIFICAÇÕES 🎉🎉

AGUARDO MANIFESTAÇÕES 🎉🎉

ATÉ LOGO ❤❤

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