Capítulo XXV - Visita de uma velha inimiga

Boa leitura :D

__________________________________________________________________________________________ 

     
       Kristen perdera grande parte de sua noite de sono acordada. Ela sentia-se leve, sonhava acordada pois aquilo parecia muito melhor que qualquer sono em toda sua vida. Vez ou outra via-se reproduzindo os passos da valsa onde podia se sentir levitar. Havia sido algo mágico como jamais vivera em toda sua vida até ali.

        O ambiente de seu quarto estava escuro, mas ao invés de algo sombrio, aquele breu lhe deixava mais a vontade para quase enxergar Viktor em sua frente. As mãos dele envoltas em sua cintura, o olhar amarelo penetrante, os passos que pareciam ensaiados, tudo estava pintado nos mínimos detalhes em sua lembrança e ela sentia que jamais o esqueceria em hipótese alguma.

        Era tarde, todos na casa deveriam estar dormindo e isso lhe dera confiança para fazer o que sua mente e seus pés coçavam para que ela fizesse: valsasse mais uma vez. Kristen ergueu-se da beira da cama onde já a muito jazia, e posicionou-se no meio do ambiente. Um sorriso bobo pintou seus lábios com a lembrança e isso somente aguçou sua vontade de fechar os olhos e viver aquilo outra vez.

        Com os olhos fechados, ela ergueu sua mão como quando tocou o ombro de Viktor e com a outra ela deixou erguida no ar como se tocasse a mão dele. A partir dali, a música fluiu sozinha em sua cabeça e quando deu-se conta já vagava pelo quarto valsando sozinha. O sorriso sempre a pintar-lhe a boca, e a imaginação solta a deixando mais leve que as nuvens.

       Passando-se tempos, ela deixou seu corpo pequeno envolto na camisola azul celeste descansar na cama e, com os olhos abertos, ela fitava o teto recordando outra vez. Seu coração apertava e ela se sentia eufórica com tudo aquilo. Quando o sono veio, ela sequer deu-se conta dos olhos se fechando, porém, mesmo com os olhos emergidos na escuridão, a imagem do Sr. Viktor Greembell não se apagara de sua mente.

                             ***

         Viktor recebera os primeiros fios dos raios solares em seu quarto com alegria. Diferente dos outros dias, desta vez ele não queria fechar as cortinas escuras tampouco esconder-se do novo dia que surgia.

      Durante toda a noite, seus olhos fitavam a maçaneta dourada do cômodo e suas mãos coçavam para que ele a tomasse e saísse dali de encontro a Srta. Sartórios. A todo instante a imagem dela quase se materializava em sua frente e isso só fazia com que ele quisesse mais e mais voltar no tempo e fazer tudo outra vez.

          A melodia doce ainda dançava em sua cabeça e o sorriso estonteante de Marie ainda pintava seu olhos. Por diversas vezes Viktor se flagrava vendo Marie a sorrir em sua frente, mas então Kristen tomava seu lugar e tudo que ele conseguia pensar era no quanto ela era bela.

        Por diversas vezes ele tentou apagar a imagem da moça, mas quando dava-se conta já se imaginava valsando e guiando-a pelo salão. Ele se sentia confuso. A imagem de Kristen misturava-se a de Marie e isso o enlouquecia.

       Ele tentou deitar-se, dormir quem sabe, mas quando olhava para as luvas em suas mãos tudo que conseguia fazer era tentar controlar o sorriso que insistia em brotar nos seus lábios pálidos. Mas era vão, ele sempre perdia e quando percebia já ria sozinho fitando o nada.

       Quando o sol já pintava o chão de seu quarto, Viktor não hesitou em sair dali e caminhar decidido ao corredor de sua hóspede. Se seu coração pulsasse, a está altura bateria descompassado e suas mãos soariam sem parar.

      O eco de seus passos nos corredores vazios lhe deixava apreensivo. Ele colocara suas mãos atrás se seu corpo prezando para que quando encontrasse a moça ela não notasse o quanto seus dedos pareciam querer formar um nó.

       Quando a porta negra se materializou frente à seus olhos, ele congelou. Fitou a madeira e desceu o olhar para a maçaneta, mas não conseguia tomar atitude alguma. Relutante, ele ergueu a mão, fechou o punho e aproximou-o da madeira, mas, soltanto um suspiro derrotado, deixou a mão deslizar novamente para trás de seu corpo e recoou. Era um covarde.

        Ele olhou para o corredor e aproximando-se de uma das janelas distribuídas pelo mesmo, apoiou-se e deixou os olhos vagar ao redor. Ele já não era mais um rapazote, sabia disso, mas a insegurança e nervosismo ainda eram os mesmos de quando cortejou sua amada Marie pela primeira.

       A paisagem das árvores formando uma fortaleza ao redor da mansão era um refúgio para o receio de Viktor. Diversas vezes olhou para a porta, a madeira o convidando para entrar, mas sempre que ousava dar um pequeno passo, logo desistia e voltava a fitar as árvores.

       Ele lutava contra aquele receio em si, mas sempre acabava suspirando derrotado e deixava a cabeça despencar cansada. Quando já a algum tempo havia se passado ele simplesmente abanou a cabeça e derrotado girou os calcanhares para voltar ao seu cômodo.

       Já caminhando pelo corredor, entretanto, o rangido das dobradiças de uma porta invadiram seus ouvidos e quando deu-se conta alguém já falava seu nome o fazendo parar na metade de seu caminho.

— Sr. Greembell, acordou com os pássaros? — ele girou os calcanhares e encontrou Kristen parada na porta de seu quarto sorrindo enquanto ainda segurava a maçaneta.

Ele sorriu em meio um suspiro

— Felizmente não sou o único — ela sorriu enquanto largou a maçaneta e entrelaçando os dedos entre si se aproximando dele.

— Devo confessar que grande parte de minha noite fora em branco — ela baixou a cabeça sem jeito.

— Insônia?

— Digamos que os sonhos resolveram me visitar enquanto estava lúcida. Esqueci de dormir enquanto os admirava.

—  Oh, sim, eu a compreendo — dito isso ele abaixou a cabeça e começou a caminhar. Kristen o fitou antes dele sair andando, mas logo acelerou os passos e o acompanhou em sua caminhada.

— Se bem notei, teus aposentos não são neste corredor bem como aquelas janelas não são as únicas na mansão. Entretanto, tu preferiste estas janelas as do corredor onde repousas. Estava procurando algo?

    Viktor sentiu-se engasgar com a pergunta. Ela havia notado que ele havia ido atrás dela. Ao fim de tal constatação, Viktor se esforçou máximo para recuperar sua postura de tranquilidade enquanto eles dobravam uma das esquinas.

— Na verdade somente passava e resolvi admirar a paisagem que estranhamente estava muito convidativa naquele corredor — sorriu. Kristen ergueu a sombrancelha deixando um sorriso esperto no canto dos lábios — Mas, já que tu estavas lá, também pensei em fazer-lhe um convite.

— Oh, super casual — ela brincou. Ele riu sonoramente — Pois bem, faças teu convite Sr. Greembell.

Viktor respirou fundo buscando coragem em si, e parando fitou Kristen que havia parado também.

— A noite passada fora a melhor em muitos anos que estive isolado nesta mansão, tu me supreendeste e ontem, em muito tempo, pude me sentir verdadeiramente feliz — ele abaixou a cabeça e fitou as mãos enluvadas — Esta luva pode parecer algo insignificante para qualquer pessoa, mas para mim este foi o presente com o signicado mais profundo que recebi em minha vida — Viktor tomou coragem e então delicadamente tomou as mãos de Kristen entre as suas a fitando logo em seguida — Serei eternamente grato a ti pelo que fizeste.

— Aquela valsa também foi um presente para mim. Não tens de agradecer. Não fora nada — ela abaixou a cabeça sentindo suas bochechas corarem.

Viktor ergueu o queixo dela a forçando a fitá-lo.

— Fora tudo, Srta. Sartórios. Jamais poderei retribuir a felicidade que me proporcionaste. Entretanto, enquanto eu puder mostrar minha gratidão pelo teu ato, não pouparei esforços para fazê-lo.

    Kristen o fitava, mas não sabia o que falar nem se deveria falar algo, de fato. Seu coração se encolhia envergonhado e nervoso e ela simplesmente não entendia o motivo para tal. Era somente o Sr. Greembell em sua frente, não deveria sentir-se assim uma vez que a valsa da noite passada não lhe dava motivo algum para sentir-se como uma menina ingênua.

      Mesmo insegura, Kristen já  ensaiava alguma fala em sua cabeça,  entretanto, quando entreabriu os lábios ainda sem emitir som algum, Viktor lhe interrompera. Ela agradeceu internamente por isto.

— Eu a espero na sala de jantar esta noite — ele disse sentindo seu peito queimar.

— O que pretendes? — ela perguntou tentando arrancar algo dele embora já imaginasse que ele não desfaria o suspense para com ela.

— Margareth deve está nos esperando para o café. Não vamos deixa-la esperando, estou certo? — ele mudou de assunto explicitamente. Kristen ergueu a sobrancelha, mas sua boca não conteve um sorriso de lado.

— Tens razão, — ela passou a frente dele andando sozinha — tu estás demorando demasiado.

       Viktor a fitou de costas já a alguns metros de si sem sequer olhar para trás. Quando a mesma sumiu do alcance de seus olhos em uma esquina do corredor, Viktor  permitiu-se sorrir abertamente ainda fitando o corredor onde a pouco a moça se fora o deixando plantado.

    Ele abaixou a cabeça ainda carregando o sorriso consigo e caminhando calmamente, seguira a mesma direção da moça.

                          ***

        A tarde se arrastava tão lenta que Kristen sentia como se o tempo estivesse sendo carregado por uma tartaruga com deficiência. Após o café de poucas palavras e muitos olhares, Kristen refugiou-se em uma das janelas da mansão e ansiosa tamborilava os dedos no batente em que estava apoiada. A paisagem da tarde era agradável, pássaros voavam para lá e para cá como poucas vezes vira desde que chegara ali onde o céu era sempre coberto por uma grande camada de nuvens escuras.

     Viktor simplesmente sumira após o café. Margareth a olhava carregada de suspense, vez ou outra sorria sozinha e deixava Kristen sozinha sendo corroida pela maldita curiosidade exarcebada que sempre carregara como um carma.

      Ela estava ansiosa, tinha de admitir. Seu coração batia como se estivesse sendo pressionado por uma parede, seus dedos pareciam que a qualquer momento cavariam um buraco no batente duro, sua garganta estava seca como se nunca houvesse ingerido líquido algum.

    Mas, pior que a ansiedade que a consumia, era sentir um estranho reboliço no estômago e algo na sua cabeça que parecia querer lhe dizer algo, entretanto, tudo que conseguia filtrar era o quanto gostaria que anoitecesse de vez.

                         ***

     A tarde havia chegado ao fim. O céu  estava vazio, apenas forrado com seu manto escuro e as aves noturnas cantavam como uma sinfonia.

      Kristen mexia-se lentamente na cama de seus novos aposentos acordando serena de um sono tranquilo.

     Preguiçosamente esticava-se sentindo seu corpo relaxar e abrindo os olhos lentamente encontrou a figura de Margareth pondo uma pilha de toalhas por sobre a cómoda.

— Achei que não acordarias mais — a senhora falou doce saindo de onde estava para logo ir puxando os lençóis que cobriam a moça — Agora levante-se, tens de tomar um banho e aprontar-se logo.

— Aprontar-me para o que exatamente? — perguntou  sentando-se na cama e esfregando os olhos sonolentos.

— Vais deixar o menino esperando? — perguntou a senhora deixando a sombrancelha erguer-se.

    Kristen de pronto abriu os olhos e como um flash levantou-se do macio colchão e esticou os forros ajudando Margareth em sua tarefa.

     A senhora não evitou sorrir com a atitude ansiosa da moça. Ao fim da tarefa, Margareth tomara nos braços as toalhas que trouxera  pouco e vendo Kristen a seguir rumo ao banheiro, incentivou que a moça  se despisse.

     Kristen relutou envergonhada com a presença  da senhora, mas, suspirando derrotada, deixou que as alças da camisola cetim deslizasse por seus ombros e logo deitou-se dentro da espaçosa banheira do local.
Margareth espalhou sais pela água perfumando também o ambiente enquanto Kristen se escondia entre as espumas para ocultar a sua nudez.

— Tu és uma cumplice suspeita — Kristen disse enquanto  Margareth deslizava uma bucha por suas costas.

— Sou totalmente inocente desta acusação — seu tom era leve.

— Oh, sim, mil perdões — disse a moça divertida. A senhora sorriu atrás  da moça — Vais então negar que de nada sabes sobre as tramas de teu menino?

— Tu irás gostar — disse simplesmente. Kristen bufou inconformada que teria de descobrir por conta própria.

                       ***

      No ambiente escuro de seu quarto, ela já cobria-se com seu capuz negro. Na cómoda humilde do seu quarto, a caixinha de madeira negra lhe aguardava. Ela caminhou sombria até a frente do espelho e fitando seus olhos caramelos em brasa ela desejou internamente que estivesse errada.

Pegando a caixa negra, ela a abriu fitando o colar onde uma grande pedra verde pendia no mesmo. Ela pôs o objeto em seu pescoço. O objeto acendera em seu pescoço enquanto ela sentia sobre sua pele a magia revesti-la como vestes. Ela fechara seus olhos deixando que seu poder novamente se fundisse a sua alma. Mas agora Elizabeth Sirius estava de volta.

      Os cabelos loiros  eram ocultados pela grande touca negra, e seu olhar carregava um brilho sombrio. Ela iria até lá, mas internamente torcia para não encontrar nada se não apenas como deixara ficar. Já pronta para sair, ela fitou pela última vez seu reflexo no espelho vendo o brilho verde per passar pelos seus olhos e logo ela deu as costas e partiu.

                       ***

      Kristen fitava seu reflexo no grande espelho enquanto Margareth ajustava o espartilho atrás de si. Em suas mãos, uma bela rosa negra com um laço de fita de setim vermelha pendia em seu delicado caule. Presente do Sr. Greembell. Embora incomum, era muito bela.

     Logo Margareth lhe ajudara colocar um delicado vestido azul com um sutil decote quadrado no busto; suas mangas eram cumpridas e abriam-se no cotovelo. No cabelo, Margareth fizera uma trança frouxa e pôs uma bela borboleta de cor igual ao vestido cheio de pedras brilhantes que enfeitavam o início da trança.

— Sinto-me como se fosse uma imperatriz pronta para entrar em meio aos súditos — Kristen comentou sorrindo olhando para seus trajes.

— Se depender do menino, tenhas certeza, tu te sentiras assim ainda demasiadas vezes — a senhora sorriu — Agora devemos ir, o menino nos aguarda.

      Kristen respirou fundo sentindo seu estômago revirar ansioso. Com uma última olhada para o espelho, ela seguiu Margareth que já abria a porta negra a aguardando. A senhora seguiu pelos corredores com Kristen em seu encalço. A moça trazia nas mãos a rosa negra e nervosa deslizava os dedos ansiosos pelo laço de cetim vermelho.

      A cada novo corredor o coração da moça palpitava mais forte, suas mãos ameaçavam suar rios e seus lábios eram maltratados pelos dentes que mordiscavam a carne macia e rosada.

     Quando ao longe ela reconheceu a grande porta que daria para a sala de jantar, ela sentiu sua coragem esvair e sentiu uma imensa vontade de dar meia volta e retornar para seu quarto. Ela queria ter feito de fato isso, entretanto, no meio do caminho, seus olhos foram tapados por uma mão envolta em um tecido macio.

— Margareth? — ela levou a mão aos olhos deslizando a mesma sobre a misteriosa mão.

— Eu assumirei daqui, minha querida — uma voz masculina soou próximo ao ouvido de Kristen que não pôde evitar que um poderoso calafrio subisse por sua espinha.

— Como quiser, menino — Margareth respondeu e logo Kristen pôde ouvir os passos dos saltos baixos da senhora a se distanciar no corredor.

— Me assustaste Sr. Greembell — ela falou baixo ainda com os olhos vendados.

— A intenção é mesmo surpreendê-la, Srta. Sartórios, que comece de agora então — ele finalizou com a voz suave.

     Kristen sentiu seu estômago saltar. Estava nervosa, sentia suas pernas fraquejarem e seu coração batia acelerado lhe causando uma sensação de euforia demasiada forte. Trás de si, ela sentia a fragrância amadeirada que emanava dele apossar-se de suas narinas. Naquele instante ela soubera que jamais poderia esquecer aquele cheiro que pareceu fazer morada em suas narinas.

— Ande, eu a guiarei e cuidarei para que não bata de fronte a porta — Kristen sorriu e, tomando um pouco de coragem, começou a andar cautelosa. Viktor ia junto a si sem libertar seus olhos e a proximidade somente aguçava as piruetas malucas que seu estômago insistia em dar.

    Seus passos eram curtos, cautelosos em seu destino, mas ela sabia que tal ato era deveras dispensável uma vez que tinha certeza que Viktor não a deixaria falhar.

       Deixando uma de suas mãos a frente de seu corpo, Kristen logo podê sentir a textura lisa da porta dupla.

— Mais para baixo, ache a maçaneta — a voz suave de Viktor invadiu seus ouvidos lhe causando uma aflição incontrolável.

— Aqui? — ela perguntou deslizando suas mãos sem direção.

— A sua direita — ele falou. Ela obedeceu finalmente sentindo a frieza da maçaneta — Isso, agora abra, por gentileza.

      Novamente ela obedeceu. Logo rodando a maçaneta a porta se abriu com um rangido e Viktor a incentivou a adentrar o ambiente. Ela o fez.

      De pronto uma brisa morna tocou seu corpo o fazendo arrepiar. Uma baixa e doce melodia tocava ao fundo e a sua curiosidade era aguçada desenfreadamente. O que lhe aguardava?

— Eu desvendarei seus olhos, mas peço que ainda não os abra — Viktor disse. Kristen mordeu os lábios, mas logo acenou positivamente com a cabeça — Eu posso confiar em você, Srta. Sartórios?

— Tu não tens outra opção, Sr. Greembell — Viktor sorriu com a resposta. Lentamente, ele fora livrando os olhos da moça de seu enlace esperando que ela de fato cumprisse com sua parte. Felizmente a moça cumpriu com sua palavra.

     Tomando a dianteira então, ele pegou na mão dela com as mãos enluvadas, e puxando-a, guiou-a pelo ambiente. A moça andava cautelosa e ele tinha certeza que ela implorava internamente para abrir os olhos. Já na mesa, Viktor puxou uma cadeira e guiou-a para que se sentasse.

— Sente-se pronta? — ele perguntou já se acomodando na cabeceira.

— Tu queres verdade ou educação? — ela perguntou deixando um sorriso nervoso pintar os seus lábios.
Viktor sorriu audivelmente.

— Quero reação, Srta. Sartórios — ele respondera — Podes abrir os olhos.

       Kriste respirou fundo. Seu coração se apertava e seu estômago fazia cambalhotas. Tomando coragem, ela abriu os olhos lentamente e o que encontrou fizeram os mesmos abrirem-se em admiração logo em seguida.

— Pelos Deuses! — ela deixou escapar enquanto elevou uma de suas mãos à boca deixando a rosa negra jazer sobre a mesa.

      O ambiente estava muito iluminado. Por todos os locais haviam velas e candelabros dourados fora majestoso lustre acima de suas cabeças que iluminava o local deixando tudo muito claro.

     Sobre pequenas mesas de pedra esculpida haviam diversos arranjos de rosas de variadas cores espalhados pelo cômodo. A mesa a sua frente estava farta, desde bolos, vinho, água, geleia, assados, doces, e, ao meio da mesa como o centro das atenções, estava um enorme porco assado com uma maçã na boca.

— É o meu prato...

— Preferido — Viktor completou fazendo com que ela o olhasse e sorrisse em seguida

— Mal posso expressar em palavras o sinto agora — ela comentou ainda fitando o ambiente boquiaberta.

— Entretanto, nada do que possa vir a fazer será o suficiente para agradecer-te pelo que fizeste por mim.

    Kristen novamente o fitou. Ele sorria de lábios fechados e ela não conteve sorrir também. Ao que tudo indicava, aquela noite seria perfeita.

      Após alguns instantes, Viktor desfez o sorriso e levantou-se. Ela pensou em perguntar para onde ele havia de estar indo, mas logo ele aproximou-se dela e tirando uma caixa chata de dentro do belo traje negro que trajava. Ao levantar a tampa da luxuosa caixa, e de dentro um belíssimo colar brilhante faiscou em sua direção. O objeto em questão era inteiro de pedras brilhantes transparentes. Pendendo no meio dele estava um pingente com o desenho de uma rosa em pedras de rubis, enquanto as pequenas folhas ao lado eram da mais pura esmeralda.

— Aceite este colar como uma pequena parcela de minha gratidão pela noite incrível que me proporcionaste.

      Kristen ficara sem reação. Seus olhos espantados fitavam o colar que pendia na mãos enluvada de Viktor e o corpo dela não obedecia.

     Dentro de seu peito, seu coração bateu desenfreado e ela sentiu que ele explodiria de emoção a qualquer momento.

— Pelos Deuses, Viktor... — ela tentou falar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

— Este colar está guardado a muitos anos. Comprei especialmente para presentear alguém, mas isso não fora possível na época. Pensei que jamais encontraria alguém para tomá-lo como dona. Contudo, vejo que estava errado.

— Viktor, eu não posso... Eu não posso aceitar. É um colar de...

— Diamantes, rubis e esmeraldas — ele completou.

— Eu não posso aceitá-lo, Sr. Greembell — ela finalmente se pusera de pé.

— Tu vais aceitar — ele afirmou. Logo ele  guiou o colar em mãos rumo ao pescoço dela, mas ela recuara.

— Não Viktor, isto é demais, eu não posso aceitar uma jóia assim.

— O que te impede, Kristen? — ele perguntou calmo.

— Eu me impesso. Eu sei que sente-se gratificado pela nossa valsa, eu também me sinto assim, mas este presente é muito caro, somente este jantar majestoso já me deixa sem jeito. Eu não sei para quem compraste isto, mas a dona não sou eu.

— Eu sei que está assustada. Mas acredite, esta jóia não tem nem metade do valor daquela valsa — ele a olhou profundamente, como se seus olhos pudessem ver a sua alma — No fim das contas, sei que tu sempre foste a dona dele.

Ela franziu o cenho.

— O que queres dizer com isto?

— Vire-se, por favor — ele pediu suave erguendo novamente o colar na direção dela.

     Kristen continuou a fitá-lo desconfiada. Ela então deixou seu olhar ser atraído pelo brilho estonteante do colar e por um segundo se sentiu hipnotizada pela jóia. Vendo que Kristen não iria virar-se, Viktor deu a volta ao corpo dela e logo estava atrás de si com suas mãos a frente do corpo dela segurando o colar.

    Ela hesitou, mas logo se deixara vencer quando sentira sua trança ser retirada da frente de sua nuca e um arrepio percorrera seu corpo como mãos frias. Ela segurou sua respiração mediante aquela sensação. Quando Viktor deixara que seus dedos envoltos nas luvas brancas fechassem o feixe da jóia, ele sentira-se satisfeito. Em seguida ele afastou-se voltando a fita-la.

— Está magnífico — ele comentou atraindo o olhar dela para si. Kristen tentou sorrir, mas aquela situação ainda a assustava demasiado.

   Viktor logo retornou para a cabeceira da mesa e com um gesto de sua mão incentivou a moça a sentar-se novamente. Relutante ela o fez.

    Ele tomou os talheres em mãos e começou a servir o prato de Kristen que ainda parecia desconfortável com a situação. O tempo fora se passando, e para o alívio de Viktor, Kristen estava voltando ao normal. Por demasiadas vezes ele não conseguia deixar de olhá-la. A rosa em pedras preciosas em seu pescoço parecia ter ganhado vida no pescoço dela. Em muito tempo ele se sentia verdadeiramente feliz.

                              ***

        O cavalo negro galopava velozmente em meio as árvores da floresta fazendo com que um galho ou outro batesse contra o capuz negro de Elizabeth. Embora os galhos a machucasse as vezes, a dor era totalmente ignorada uma vez que a única coisa que lhe interessava era o seu destino à mansão que a muito havia se afastado. O silêncio da noite era quebrado pelo trote violento do animal, e os galhos no chão ia se partindo com a sua passagem.

Por onde ela passava, as aves pareciam se esconder de seus olhos, como se temessem a sombra da mulher que passava por ali. Quando ela finalmente conseguiu avistar frestas de luzes amarelas por entre as árvores, ela sentiu uma ansiedade desenfreada tomar conta de seu peito.

    Alguns metros decorridos, ela finalmente já se encontrava por sobre o chão de ladrilhos que levava para a mansão. Ela desceu do animal, e lançando um encantamento para que ele não fugisse, ela prosseguiu pelos ladrilhos. Seus passos eram decididos e o seu capuz esvoaçava jogado pelo vento frio daquela noite.

       Seu punho estava fechado e ela implorava internamente para não encontrar o que temia encontrar ou tudo haveria de mudar.  Já a alguns passos da porta de entrada da mansão, ela resolveu averiguar aos arredores, espreitar pelas janelas talvez.

Olhando para os muros que cercavam o local, encontrando assentado sobre suas pedras um corvo. Ela o fitou, e quando os olhos do animal faiscaram em direção aos olhos caramelos dela, o pequeno filho da noite ouvira seu chamado. Voando em sua direção, ele pousara sobre o seu ombro, e de um pequeno sussurro, a magia guiou aquele pequeno animal.

Sobre suas asas negras, o corvo voara até a sacada de um quarto qualquer, e por entre as portas de vidro ele adentrara no cômodo. Seus olhos habituados a negritude da noite o deixara ver tudo, enquanto pelo seus olhos a mulher lá fora também podia enxergar.

Guiado pela mulher ele sobrevoara o lugar, e logo ela pudera reconhecer através dos olhos daquela ave um vestido ao pé da cama. Instantaneamente ela aumentara o aperto de suas mãos, cravando sobre sua palma as luas minguantes do desenho de suas próprias unhas, enquanto o sangue pintara aqueles pequenos desenhos de vermelho.

Ainda sobre o poder daquela que o comandava, a ave logo saira voando de volta para fora, desta vez passando pelas variadas janelas ao redor da mansão espreitando todos os cômodos através das vidraças.

Elizabeth continuou sua caçada, mas não encontrou muito mais que corredores vazios. Saindo dali ela continuou sua busca vagando por todas as janelas que pudessem haver naquela mansão, usando os olhos da ave, como se fosse seus próprios olhos. Não encontrou muito, infelizmente. Entretanto, ao passar sorrateira pelas vidraças do que parecia ser a sala de jantar, o pássaro pousara ali, observando com seus olhos negros as pessoas dentro daquele ambiente luminoso.

         O grande ambiente estava claro, só a luz que emanava daquela parte poderia ser vista de longe. Espalhado por todo o local haviam jarros com rosas amarelas, brancas, rosas, vermelhas, e negras. Ela reconheceu aquelas rosas e mais ainda o dono do causador daquela cor que estava sentado na cabeceira da mesa sorrindo abertamente como a muito ela não via e jurava que jamais veria novamente.

     Entretanto, em uma cadeira próximo a si, lá estava ela. Kristen Sartórios.

   Elizabeth sentiu seu punho fechar com ainda mais e suas unhas ficarem ainda mais na pele clara. Seu sangue já formava uma pequena gota vermelha que escorrera e pousara sobre o chão.

— Damnare, damn.* — a raiva não pôde contida, em suas mãos pequenos filhetes de sangue nasciam onde a pouco suas unhas estavam cravadas — Damnare, damn — Elizabeth os olhava e isso somente alimentava sua mágoa, sua fúria e sem sequer se dar conta, ela já gritava palavras de magia. O vento começou aumentando sua velocidade gradativamente, as folhas começaram a rodar em redemoinho. O pássaro negro logo começou a bater de forma agressiva contra o vidro da janela, enquanto voava agitado.

De pronto Viktor e Kristen olharam alarmado para o pássaro, enquanto Viktor levantara-se de sua cabeceira sem entender o porquê aquela ave parecia tão agitada.

   — O que há de errado com esse pássaro? — Kristen perguntou também levantando-se de seu acento.

— Não saberia dizer — ele disse com os olhos estreitos — Estas aves não costumam se portar assim.

O vento lá fora aumentava causando o som de um assovio ao passar por entre as frestas. O pássaro cada vez se mostrava agitado, batendo contra as vidraças cada vez mais nervoso. Havia algo errado.

Quando cada vez mais agressiva a ave batera contra o vidro rompendo o mesmo e entrando no cômodo, rapidamente ele fora em direção a Kristen, que assustada recebera sobre si o ataque feroz da ave que estava totalmente fora de si. Rapidamente o bico da ave perfurou a pele de seu ombro, continuando se descanso seu ataque sobre a pele dela.

— Kristen! — Viktor gritou desesperado saltando de onde estava para socorrer Kristen que era atacada pela ave negra.

    

______________________________________________________________________________________________

4996 palavras

Olá, olá Jubinhas do meu ❤! Aceitam um café? ☕

E então meus amores, o que acharam? Quem será está Elizabeth? E Kristen, será que está bem? 

Falem, falem, falem!!

Aguardo manifestações 🎉🎉

Que tal uma ⭐? DÁ LIKE!

Até logo❤❤

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top