Capítulo XVII - Tentando um recomeço
Boa leitura :D
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O caminho de volta para a mansão fora rápido visto que Viktor estava com muita pressa para encontrar sua querida Margareth e contar-lhe seu achado em cima da lápide de Marie.
O que aquele delicado fio ruivo queria dizer-lhe? Quais de suas perguntas havia sido respondida, afinal?
Viktor não sabia o que pensar sobre aquilo. Sua cabeça havia dado um nó desde que encontrara aquele fio e a cada segundo que passava só piorava.
Sua Marie parecia querer dizer-lhe algo, mas ele não compreendera, infelizmente. Não era algo que estivesse tão nítido.
Seus passos eram fortes, causavam o som próprio no chão. Quando Viktor já se encontrava sobre o chão de ladrilho que o levaria até a entrada da mansão, diminuiu um pouco os passos, mas ainda assim andava rápido. Ainda chovia, a roupa negra de Viktor estava pesada, sua pele molhada e seus pés sujos da lama da floresta.
Quando ele alcançara a grande porta dupla de carvalho, abriu-a sem cerimônias, e fechando a mesma atrás de si, caminhou pelos corredores atrás de Margareth.
Ele fora até a cozinha, mas sua amada mãe não encontrava-se lá. Procurou então nos aposentos dela, mas ninguém abrira a porta. Na sala não encontrou sinais da mesma, mas aproximando-se da sala de jantar pôde ouvir o tom da sua amável mãe. Porém, ele paralisou do lado de fora ao ouvir outra voz a conversar com Margareth.
— Agradeço o café — uma voz doce soou — estava maravilhoso embora não tenhamos comido nem metade do que havia na mesa. Admito que por um minuto perguntei-me mentalmente se haveria de vir algum batalhão.
Margareth riu sonoramente.
— Pressuponho que nunca tomaste um café dessa maneira, estou certa?
— A taverna é bem modesta, não temos mais do que necessitamos ter.
— Sente falta de lá?
— Da taverna em si nem tanto, mas de Elliot e Elena... — suspirou — Quase sou sufocada pela falta das brincadeiras, das risadas, da união que nós temos.
— Não preocupe-se, menina, logo teu tormento terá fim.
Viktor que até então ainda escutava através da porta dupla, decidiu retirar-se. Logo a moça sairia dali e ele não saberia reagir a sua presença. Ele tinha que se manter longe dela, não poderia, de maneira alguma, deixar nascer qualquer fio de esperança em si e ele sabia que o simples fato da moça ter a mesma aparência de sua amad, seria o suficiente para afundar-se em ilusão novamente.
No entanto, quando Viktor dera o primeiro passo sorrateiro na direção oposta, a grande porta fora aberta atrás de si. Ele paralisara.
— Bom dia — a voz da moça soou atrás de si. Ele fechou os olhos cogitando se deveria responder ou somente partir deixando-a para trás.
— Bom dia — optou por responder indiferente virando-se dando de cara com a moça. Ela estava com as mãos cruzadas na frente do corpo. Seus cabelos ruivos cacheados estavam soltos por sobre os ombros, trajava um vestido azul celeste com um leve decote em V a enfeitar seu busto pérola.
Estava muito bela, ele tinha de admitir.
Viktor não podia negar que não esperava que a moça sequer lhe dirigisse a palavra uma vez que desde que chegara sob seu teto só fizera o repudiar desde a primeira vez que o vira. Ele não a culpava, de qualquer modo. Entendia que para uma pessoa normal uma aberração como ele merecia seu repúdio.
Embora a moça já houvesse lhe dirigido poucas palavras quando desculpou-se por tê-lo tratado mal, ele não levou aquilo muito a sério uma vez que a moça encontrava-se enferma e podia estar delirando. Provavelmente agora ela nem recorda-se desse momento.
— Menino — a voz de Margareth soou quando a senhora apareceu na porta. Viktor desviou seu olhar de Kristen que o fitava sem falar mais nada.
— Olá minha querida, estava a sua procura.
— O que desejas, menino? — Margareth perguntou.
— Tenho algo a dizer-te a sós — ao fim de sua frase Viktor então notara que aquilo acabou sendo uma indireta para a moça que ainda estava presente. Ela notara.
— Irei retirar-me aos aposentos — Ela dissera. Viktor abaixou sua cabeça para não olha-la, mas ele sentia o olhar da moça sobre si — Agradeço-lhe novamente o café, Margareth.
— Ajudar-te-ei a ir. Tua perna ainda encontra-se machucada — a senhora fora logo pondo-se ao lado de Kristen para ajudá-la, mas a moça recusara a sua toque.
— Não será necessário. Irei a meu ritmo, cedo ou tarde chegarei lá, não preocupe-se — Kristen ainda fitava Viktor — Teu menino precisa de ti.
— Como desejar, menina — a senhora assentiu sorrindo de lábios selados.
Ele então adentrou o ambiente sem olhar para trás. Margareth acenou levemente com a cabeça antes de também adentrar o ambiente e fechar a porta. Viktor havia ido sentar-se na cabeceira que lhe pertencia, mas não serviu-se de nada que havia por sobre a mesa, como esperado.
— Foste visitá-la, estou certa? — A senhora acomodou-se em uma cadeira próxima.
— Pressuponho que eu já tenha me tornado um livro aberto para ti, minha querida. Tu perguntas, mas já tens a resposta.
— Disseste que procurava-me.
— Novamente entreguei-me aos pés do túmulo dela. Não chorei, mas senti vontade de banhar tudo de lágrimas. Eu queria tanto poder ouvi-la, saber que ela vê meu sofrimento, que pudesse dizer-me algo que me faça ter esperança de um fim nisso tudo.
— Se querias senti-la, sabes que não é no túmulo dela que a encontrarás.
— Prometi pra mim mesmo só entrar naquele lugar quando sentir que sou digno novamente — Viktor pousou as mãos pálidas por sobre a mesa brilhante — Tenho algo a dizer-te, Margareth. Eu estava prestes a partir de lá quando pedi um sinal dela, algo que me fizesse saber que ela me ouvia, que ainda há esperança para mim. Eu não esperava nada, na verdade. Eu pus uma rosa por sobre a pedra branca e já retornava quando algo me chamara a atenção — Viktor fez uma pausa. Margareth o olhava esperando que seu menino continuasse.
— Eu sei que isto não estava lá, pois eu teria notado por estar lá há tempos — Ele então colocara a mão dentro do bolso frontal que havia na sua calça negra e de lá retirou um lenço branco dobrado em algumas partes. Viktor então desdobrara o tecido e Margareth quase não notou um fino fio avermelhado ali. Ele estendeu o lenço com o fio para Margareth que o pegou em mãos.
— O que acha que significa?
A pergunta ficara no ar. A senhora observava o pequeno fio ali com extrema minuciosidade, digna de uma detetive. Ele aguardava ansioso a resposta dela. A opinião de Margareth era muito importante para si uma vez que muitas vezes ela era mais sábia do que aparentava ser.
— Não saberia dizer-te isso, menino.
Ele suspirara decepcionado.
— Não passa de uma fio de cabelo que pode ser de qualquer uma que fora visitar um ente querido e o vento o levou sem rumo.
— Não, Margareth. Se esse fio estivesse por sobre a lápide antes eu o teria notado. Não estava lá quando cheguei — afirmou suplicante para que Margareth tivesse alguma conclusão além de ser apenas um fio sem significado. Tinha sim um significado, mas o quê?
— Sei o que estás tentando fazer — ela colocou o lenço com o fio sobre a mesa para encará-lo — Não faças isso, menino — o repreendera antes mesmo que ele pudesse defender-se como sempre fazia.
— Não estou a fazer nada. Não a compreendo — o cenho dele estava franzido.
— Só tu não vês que estás querendo criar esperanças em cima de algo incerto. Este fio pode ser algum sinal sim, mas também pode ser somente um fio. Não faças isso. Não empregue todas as tuas esperanças em algo tão pequeno.
De pronto ele não fizera nada, apenas recebera as palavras da senhora com as feições sérias. Mas no instante seguinte, Viktor levantara-se batendo sua mão contra a mesa assustando a senhora.
— Eu estou cansado disso, Margareth! — a voz dele estava alta, algo totalmente fora do comum para ele. A senhora estava com a mão no peito visto o susto que tivera. Ele então saira de próximo a mesa e começara a andar de um lado a outro no cômodo.
— Estou farto disso! — Ele gritava — Não aguento mais isso, não aguento mais ser obrigado a viver século após século nesta maldita mansão! Não aguento mais zanzar nessa vida que não tem nada pra mim se não uma maldição que eu não mereço! — Ele passava a mão pelo rosto sem saber o que fazer. Tentando acalmar-se ele parara e buscara em si sua razão novamente — Eu estou farto de ser uma aberração! — ele finalizou em uma voz baixa, quase um sussurro.
Margareth saira cautelosa da cadeira aproximando-se com feições penosas para seu menino que parecia tão desnorteado. Ela aproximou-se lentamente, seu menino agora estava parado com a mão a passear pela sua testa pálida, os olhos dele encontravam-se fechados.
— Eu lamento, meu menino — ela falou em voz penosa sem saber o que dizer a mais para consolar seu menino. Era tão triste vê-lo daquela maneira. Ele abrira seus olhos encarando-a com suas íris amarelas sem vida. Margareth segurava seu braço por cima do suéter negro.
— Sorte minha tê-la comigo. Eu não sei o que seria de mim sem teus cuidados, minha mãe — a voz de Viktor estava, agora, serena. Ele sentiu vontade de acariciar o rosto dela, mas não poderia machuca-la. Então ele teve de se contentar em apenas tocá-la por sobre as vestes azul escuro do vestido de manga cumprida que ela trajava. Ela sorriu terna.
— Como está a moça? — ele resolveu mudar de assunto. De qualquer modo ele queria saber.
— Melhor do que eu esperava encontrá-la. E diferente também.
— Diferente? — ele franziu o cenho.
— Está menos arredia, mais divertida e um pouco curiosa. Até perguntou por tua pessoa, pareceu sentir falta de sua presença — Viktor não escondeu sua cara de interrogação. Ele cerrou os olhos e manteve o cenho franzido. A senhora que estava a seu lado retirou-se indo arrumar a mesa que ainda estava posta.
— Ela não pode sentir falta de algo que nunca tivera — ele respondera um tanto indiferente. Mas Margareth sabia que aquele tom era somente a tentativa falha de um disfarce de sua surpresa.
— Talvez. Porém, de qualquer modo sinto-a com um ar diferente — Margareth recolhia os talheres enquanto Viktor mantia-se estático em seu lugar.
— Ela ainda tem febre? Risco de infecção ou algo que possa agravar o estado dela?
— Aparentemente ela está ótima, somente manca.
— Ótimo. Assim que ela estiver curada, que não houver nada se não cicatrizes em sua perna, quero que diga-me.
— Para quê? — a senhora quis saber curiosa.
— Eu a levarei de volta a seu lar.
***
O café havia sido ótimo. Nunca em sua vida Kristen tivera algo tão caprichado. E exagerado. De tudo que havia na mesa apenas o pão com geleia, suco de fruta e uma pequena fatia de bolo haviam deixando-a totalmente farta. Cada um dos alimentos que comera estavam maravilhosos. Após a breve conversa com a senhora que agora aparentava ser muito simpática, Kristen tivera a surpresa de o ver.
Quando a porta do ambiente fora aberta, o que menos Kristen esperava ter encontrado era ele.
— Bom dia — ela arriscou movida pela surpresa e uma estranha ansiedade em si.
— Bom dia — Viktor respondera em um tom indiferente finalmente fitando-a. Ela quis dizer mais coisas, mas as palavras ficaram entaladas na sua garganta. Quando as íris amarelas dele cruzaram com as dela, ela perdeu-se. Era tão sem vida, algo opaco, triste. Ali naquele momento ela tivera a sensação de já ter visto aquele olhar em algum lugar. Seus olhos não conseguiam sair dos dele, pois ali, naquele momento, ela teve certeza que já vira aquele olhar sem vida antes.
A senhora aparecera na porta fazendo com que Viktor retirasse seus olhos dos dela. Porém, ela não conseguiu tirar os seus dele. Ele trajava negro, suas vestes pareciam molhadas.
— Tenho algo a dizer-te a sós — ela ouviu a voz dele. Ao fim daquela frase ela sentira um desconforto em si. Estava óbvio que ele queria que ela se retirasse.
— Irei retirar-me aos aposentos— disse um pouco sem graça, mas tentara desfarçar. Ela não tirou seus olhos dele que baixara a cabeça — Agradeço-lhe novamente o café, Margareth.
— Ajudar-te-ei a ir. Tua perna ainda encontra-se machucada — a senhora propora a si já aproximando-se para apoia-la.
— Não será necessário. Irei a meu ritmo, cedo ou tarde chegarei lá, não preocupe-se — respondera liberando a senhora — Teu menino precisa de ti — ela disse ainda fitando Viktor. Ele não queria olha-la, ela havia entendido.
A senhora concordara e então Viktor entrou no ambiente onde a pouco estivera. A senhora sorriu de lábios selados seguido de um aceno na cabeça para então fechar a porta. Kristen então se viu sozinha em um extenso corredor de várias esquinas. Ela não sabia por onde seguir. Estava perdida.
Ela então decidiu seguir qualquer caminho. Em qualquer lugar que ela fosse parar seria uma nova descoberta, afinal. Ela então seguira calma pelos corredores, dobrando uma esquina e logo a frente pôde visualizar o grande salão do local.
Estava pouco iluminado, a grande lareira do local estava crepitante. As sombra das chamas dançavam nas paredes vinho. Kristen então pôs-se a andar vagamente por sobre o ambiente. Somente o som de seus pés a tocarem o chão soavam ali. Ela quis explorar o local, olhar cada mínimo detalhe dali, mas a vontade que surgiu ao ver a grande porta de carvalho fora maior. Ela então correu ao encontro da maçaneta dourada e rodando-a pôde, enfim, deslumbrar-se com o ar livre dali.
Um vento frio tocara sua pele trazendo consigo gotas da garoa que caía sobre a mansão. Kristen pôs-se para fora deliciando-se com a sensação de seus pêlos arrepiados, da sua pele sendo molhada aos poucos, do vento tocando seu rosto. Ela até esqueceu-se de fechar a porta atrás de si visto o torpor que entrara. Aquilo era muito bom.
Ela então descera os pequenos degraus que levavam ao piso de ladrilho. Chegando lá, não conteve o impulso de erguer o rosto, fechar seus olhos e sentir cada sensação a tocá-la. O ar ali parecia tão limpo, tão fresco. O vento balançava seu vestido azul celeste ao seu sabor, a garoa tocava-lhe tão divinamente, uma paz instaurava-se em si. O silêncio era latente, somente sua respiração era sua trilha sonora.
Porém, ela ouvira passos atrás de si.
Ao olhar para trás, vira a silhueta de Viktor retirando-se devagar, tentando ser tão silencioso como um gato.
— Não és tão invisível quando vestes negro — ela resolvera falar na tentativa de fazê-lo parar.
Funcionou. Ela voltou a fitar o céu, a floresta ao redor, enquanto ouviu uma risada discreta atrás de si, seguida de alguns passos hesitantes.
— Ou somente tens uma percepção aguçada — ele se pôs ao seu lado ignorando-a e olhando para o céu cinza. Suas mãos cruzavam-se atrás de si.
— Receio que sim — ela respondera olhando para ele que continuou olhando o céu — Sabe, desde o momento em que trouxeste-me para cá eu somente fiz-te mal.
Ele voltou seu olhar para ela encontrando o dela sobre si.
— Tens tuas razões — ele tentou soar indiferente.
— Nada justifica o modo como o tratei. Sinto-me envergonhada somente de recordar — ela baixou o olhar, estava de fato envergonhada — Mas tenho algo a propor-lhe — ergueu o olhar.
— Algo a propor-me? — ele perguntou com o cenho franzido.
— Sim. Começamos com o pé esquerdo.
Ele ergueu a sombrancelha.
— EU comecei com o pé esquerdo — ela corrigiu sentindo suas bochechas corar. O que ela estava fazendo? Aquilo não daria certo — Que achas de uma recomeço? — ela não esperou uma resposta — Meu nome é Kristen Sartórios — sorriu simpática — E tu és...?
Viktor ficara sem reação. O que estava acontecendo ali, afinal? Por um momento ele não soube o que fazer e a moça pareceu notar.
— Terei de chamá-lo de Viktor, somente? — ela disse.
— Greembell — ele disse um tanto hesitante — Viktor Greembell.
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2793 palavras
Olá, olá Jubinhas do meu 💗
Cá está mais um capítulo de MI.
O que acharam desse novo recomeço? O que acham que vai dar? Prestem bastante atenção em algumas coisinhas que mais pra frente vocês vão entender o que significam.
O capítulo foi bem mais cedo do que esperavam, não é? Que tal uma 🌟? E um comentário?
Aguardo manifestações 😍
Até logo 💗
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