Capítulo V- Misterioso V.G

Boa leitura :D

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         Kristen esperava ansiosamente que aquele que estava à sua frente se revelasse e respondesse a pergunta feita. Era algo simples, fáceis de responder sem ter que pensar variadas vezes, mas, por algum motivo, aquele sujeito não lhe respondera. Talvez ele não havia ouvido ou era lento para responder qualquer coisa. Ou talvez ele só ignorou-a mesmo.

      Ao cogitar que aquele ali a havia preferido ignorá-la na cara dura ela sentiu-se indignada. Depois sentiu-se levemente envergonhada. Mas antes de tirar qualquer conclusão precipitada ela resolveu tentar uma nova abordagem. Ela limpou a garganta antes de falar.

— Ouviste minha pergunta? — perguntou e esperou. O sujeito envolto em uma escuridão não tão densa moveu-se. A sua cabeça que estava baixa impossibilitando de ver seu rosto por causa da grande touca, ergueu-se levemente o suficiente para ver seus olhos a fitando de baixo para cima, mas não possibilitou ver seu rosto por completo, infelizmente.

      Os olhos daquele ou aquela a sua frente eram de um amarelo vibrante e cristalino o que assustou Kristen levemente. Nunca em toda sua vida ela havia visto olhos iguais. Mas o que de fato a assustou-a naquele olhar que parecia ver sua alma, fora a ausência total de qualquer brilho. Era um olhar sem vida, olhar vazio, talvez até um olhar morto. Kristen perdeu-se levemente na análise daquele olhar que lhe pareceu familiar por um segundo e até esqueceu-se levemente que estava a aguardar uma resposta. A resposta viera. Não do jeito que ela esperava ou imaginara, mas viera.

— Marie... — um sussurro foi ouvido. Um voz rouca, um sussurro sôfrego e levemente embargado. Uma voz masculina. Uma voz vinda daquele bem em frente de seus olhos. Pelo menos agora ela sabia que era um homem.

— Perdão, — Kristen falou um tanto confusa — Procuras alguém com este nome?

Marie... — ele repetiu. Kristen ficara perdida por alguns instantes.
Aquela definitivamente não era a resposta que ela esperava ouvir. Quem diabos era Marie?
Um leve flash passou pela sua cabeça e ela teve a impressão de já ter ouvido o tal nome em alguma ocasião... mas não lembrava-se onde.

— Perdão, mas se procuras alguém com esse nome, receio que tenhas de sair a perguntar as damas nas mesas. Apenas não cries confusão com os clientes delas, eu peço — ela sorriu simpática. Ou pelo menos tentou. O homem ficou quieto, não reagira ou respondera nada, apenas ficou fitando-a de baixo para cima com seus olhos sem vida a mostra. Kristen, sabe-se lá por qual razão sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ela não soube por quê, mas tão grande fora a intesidade do arrepio que ela quase podia imaginar seus cabelos ficando em pé assim como os pêlos dos seus braços.

     O silêncio então repousara sobre eles seguindo assim por alguns minutos que pareceram durar horas para ela. Kristen o fitava curiosa e intrigada e ele apenas a encarava com seu olhar fosco e assustador. Ela quis sair dali, fugir daquele olhar intimidador e estranho, afastar-se o quanto antes daquele que lhe causava arrepios e um estranho reboliço no estômago, mas simplesmente seus pés não a obedeciam. Era como se aquele olhar a prendesse no chão fazendo com que ela fosse obrigada a ficar e encara-lo. Ela sentiu medo e receio mais uma leve pitada de curiosidade e fascinação, ela não saberia dizer o que estava acontecendo consigo.

       Embora a taverna ainda estivesse cheia de pessoas a falarem alto e rirem mais alto ainda, era como se tudo estivesse no mais completo silêncio. Era como se não houvesse vozes altas, risadas desenfreadas, batidas de copos nas mesas, apenas ela e o encapuzado de olhar vazio.

Apenas seus olhos azuis cristalinos e os olhos amarelos sem vida.

       Ela não saberia dizer quanto tempo se passara desde que iniciaram aquela guerra de olhares envolta no silêncio. Poderia terem sidos rápidos segundos ou minutos tão lentos que pareciam eternos. Mas então o contato visual instalado entre eles fora finalmente quebrado. O homem a sua frente baixou a cabeça livrando Kristen de seu olhar enigmático e fosco fazendo com que ela pudesse respirar aliviada por não estar mais presa. Ele então, lentamente e mantendo sua cabeça baixa ocultando seu rosto pela sombra da grande touca, levantou-se. Seus movimentos eram lentos e sem pressa, totalmente o contrário do coração de Kristen que sem que ela visse um motivo aparente, disparou desenfreado batendo tão forte que era como se todos o pudessem ouvir com extrema perfeição. Ela sentiu medo, receio ao mesmo tempo que se sentiu nervosa e ansiosa pelos próximos movimentos daquele a sua frente.

        Mantendo a cabeça baixa, ele moveu-se. Com os olhos atentos e arregalados ela acompanhou o andar calmo e devagar dele até a saída da tarvena. Chegando na grande porta dupla de madeira do local, ele parou. Devagar e milimetricamente cuidadoso ele lançou novamente seu olhar vazio por sobre ela. A íris de cor amarelada dele foi iluminada por uma tocha posta ao lado da porta e seu olhar vazio faiscou em direção a Kristen como duas brilhantes e ardentes tochas na escuridão, levando ela novamente a um estado de observação e nervosismo inexplicável.

    Então ele abriu a porta e sumiu do alcance dos olhos intrigados, nervosos e extremamentes curiosos de Kristen.

      Ela soltou um suspiro porque sem perceber havia parado de respirar. Quando o olhar daquele que partira a poucos segundos a deixou, finalmente ela conseguiu sentir seu corpo relaxar e então ela se jogou na cadeira que estava próxima a si. Ela puxou o ar para seus pulmões tentando voltar ao estado normal do qual não deveria ter saído, mas sem explicação aparente ela saiu.

       Ela sentia-se como se tivesse se livrado de um peso, de algo incômodo e agora poderia respirar normalmente. Mas ainda assim, mesmo que se sentisse incomodada por aquele olhar, ela também sentia uma certa ausência, algo como um sentimento de pendência. Ela simplesmente não sabia explicar. Porém, após alguns minutos, quando ela achou já está apta a voltar ao trabalho sem parecer que a poucos instantes estivera em um tipo de transe, ela levantou-se, ajeitou a saia do vestido que cobriam seus pés, e voltou para o balcão onde Elliot estava organizando uma bandeija com vários copos vazios.

      Ela encostou-se no balcão e tentou não pensar nos olhos enigmáticos e vazios daquele misterioso que estivera ali a alguns poucos instantes. Com as costas encostada na madeira gasta do balcão, ela fitou a grande porta dupla por onde aquela figura envolta em sombras misteriosas havia passado e partido para um lugar desconhecido. A dúvida se deveria tê-lo seguido e descoberto algo a matava por dentro, mas ela bem sabia que mesmo que ela tivesse corrido para a porta e aquele homem lhe fitasse novamente com seus olhos sem vida, ela simplesmente paralisaria onde estava e no final não daria em absolutamente nada, apenas mais um transe ridículo e sem explicações.

— Alô... — ela ouviu uma voz longe, abafada pela intensidade de seus pensamentos longínquos — Terra chamando Kristen — no segundo seguinte uma mão passou na frente de seus rosto tentando chamar sua atenção tão dispersa. Ela piscou os olhos antes de finalmente conseguir focalizar Elliot a sua frente com um sorriso divertido no rosto.

— Perdão, meu irmão — ela falou com um sorriso contido.

— Por um instantes cogitei que estavas em outro mundo. Por um instante cogitei que estavas hipnotizada — ele falou divertido enquanto se posionava novamente detrás do balcão de onde Kristen nem notara que ele havia saído.

— Perdão, estava destraída, confesso — respondeu ainda um tanto perdida.

— Por quais campos essa cabecinha vagava?

— Nada, só... só um sujeito estranho.

— Que sujeito? — ele deixou os copos que limpava para focar sua atenção na expressão pensativa de Kristen.

— Um sujeito encapuzado que a alguns instantes estivera aqui. Não se preocupe, era só um estranho.

— Tenha cuidado Kristen, nem todos que frequentam nossa taverna são somente homens com sede de cervejas e conhaque. O que ele fizera para que teus pensamentos te tirassem deste local por instantes?

— Encarou-me e... — ela suspirou derrotada — e mais nada — ela apoiou os cotovelos no balcão e aproximou-se de Elliot debruçando-se por sobre a madeira —Mas tinhas de ver, Elliot, os olhos deles eram estranhamente mortos. Não sei dizer, mas não havia brilho ou sentimentos aparentes, somente olhos vazios. É algo fascinante, mas ainda assim assustador.

— Kristen, — ele tomou o rosto dela entre as mãos — ele te fizera mal? Não mintas pra mim.

— Não, Elliot, eu juro... eu só... só senti como se já o conhecesse de alguma forma — ela sacudiu a mão em displicência e sorriu para tranquiliza-lo — Mas deve ser apenas um impressão boba.

— Tens certeza? Não estás a esconder-me algo? Kristen, se ele lhe ofendeu ou sequer tocou em um fio de cabelo teu, não me esconda, por favor, não mintas para mim.

— Não estou a esconder-te nada, meu querido, se algo tivesse acontecido serias o primeiro a saber — ela pegou uma das mãos dele que seguravam seu rosto e beijou a palma para então afastar-se um pouco e voltar a sentar-se — E também não tens que achar que todos que estão ao meu redor querem fazer-me mal ou aproximar-se de mim. Não sou a única mulher existente na cidade.

— Aí que te enganas, minha bela. Eu sei o quanto muitos seriam os mais felizes por ter ao menos a sorte de ter um fio de teus cabelos para si. És a mais bela entre todas as mulheres deste lugar — após as palavras de Elliot Kristen sentiu suas bochechas corarem sem sua permissão. Era somente um elogio de seus irmão de criação, não havia motivos para sentir-se tímida.

— Não exageres, Elliot — ela lhe lançou um sorriso desconcertado enquanto sentia suas bochechas iguais tomates. Elliot lhe olhava com um olhar terno e um sorriso do mesmo tom até que pareceu lembrar-se de algo e quebrar o contato visual.

— Ah, — ele disse já se abaixando e procurando algo na parte de baixo do balcão — quase me esquecia. Eu tenho uma pista sobre a pessoa que matou aquele bêbado quando foste atacada — ele endireitou-se novamente quando pareceu encontrar o que procurava. Em sua mão uma adaga era segurada. — É a adaga que fora cravada nas costas daquele maldito. Um dos homens que o retiraram daqui naquele dia troxeram hoje.

Elliot esticou a mão até que a adaga estivesse ao alcance das mãos de Kristen que não hesitou em tomá-la em mãos.

— Ele sabe a quem pertence? Quero dizer o homem que a trouxe? — ela perguntou analisando com minuciosidade o objeto em mãos.

— Não, somente trouxe porque queria uma gratificação por tal ato. Tive que pagar duas moedas de prata por isto. Maldito vigarista.

      Kristen nada respondeu, apenas voltou a olhar cada detalhe da adaga em mãos. Olhou como o cabo era diferente, parecia ter sido esculpido com raízes de rosas a se espalharem pelo mesmo. A cor era verde o que fez com que ela realmente achasse que aquilo era uma raiz. Ainda no cabo havia um círculo onde as raizes não se alastravam por ele, e no meio do círculo, havia duas letras esculpidas com uma letra extremamente delicada e bela.

V.G.

Eram duas letras esculpidas perfeitamente e de cor prata lustrado. Ela passou os dedos fazendo o contorno das duas letras ali presentes e perguntou-se num murmúrio:

— Quem serás tu V.G?

                               ***

         O homem acabava de descer apressadamente de seu cavalo negro e com passos rápidos subia os degraus que levavam até a grande porta dupla de carvalho. Seus pensamentos estavam um turbilhão e sentia-se eufórico pela confirmação. Ele abriu a grande porta de carvalho sem se importar com a força que fez a porta escancarar. Ele nem sequer conseguia acreditar que aquilo que vira era real, que realmente estava certo, que seus olhos amarelos não o enganaram.

       Ele jogou o capuz negro em uma poltrona de couro marrom, atravessou o enorme salão de paredes cor vinho e seguiu apressado por um enorme corredor de paredes de mesma cor. Seus passos ecoavam pelo corredor deserto e chegando em uma esquina ele dobrou a direita em direção a cozinha. Seus passos estavam rápidos, quase correndo e quando chegou a porta branca da cozinha adentrou o local sem nenhuma cerimônia assustando a senhora de estatura baixa e cabelos presos num coque que cortava legumes atrás de uma bancada.

— Oh céus, menino! — ela exclamou pondo a mão em seu peito mediante o susto que tomara — Que alarde é este?

O homem andava de um lado ao outro, nervoso e eufórico.

— Por que andas de um lado à outro? O que estar a acontecer? — ela perguntou vendo o nervosismo daquele a sua frente.

— Eu a vi, Margareth, eu a vi novamente — ele respondeu sem parar a marcha de um lado para o outro.

— Viste quem, menino? Quem o deixou de tal maneira?

— Eu vi ela, Margareth — ele finalmente parou para lançar seu olhar de íris amarelas para a senhora que o fitava preocupada.

— Ela? Quem seria ela, meu menino? — perguntou ela com voz calma tentando acabar um pouco com o nervosismo do homem.

Ela. A única que amei em toda essa maldita eternidade! A única para quem entreguei meu coração sem pensar nas consequências. Ela.

— Estás a falar da... — ela perguntou com o cenho franzido antes de ser interrompida por aquele a sua frente.

— Sim, estou a falar dela — respondeu rápido a apreensivo.

— É impossível... Nós sabemos o que acontecera, Viktor. Não pode ser ela — ela falou incrédula tentando assimilar o que ouvira.

— Era Ela, não há dúvidas. Jamais, em toda uma eternidade eu esqueceria do rosto dela, das linhas que formam sua beleza única, dos olhos que me fizeram perder-me de amores por ela. Eu sei que parece loucura, mas não é. Eu realmente a vi, e não fora a primeira vez.

— Mas como? Sabemos que ela está...

Morta... — ele sentiu um nó se instalar em sua garganha após a pronúncia daquela palavra que tanto lhe assombrou durante anos. Mas ele conseguiu prosseguir — Mas eu a vi, Margareth, tão viva quanto você está agora, com a mesma voz doce, o mesmo cabelo brilhante... eu a vi tão bela quanto a última vez em que vi-la acolhida em meus braços.

— Menino, mas se for de fato ela isso pode significar que... — a senhora levantou seu olhar enquanto suas palavras mostravam que ela entendera o significado daquilo.

— Sim, minha querida, significa exatamente isso. Tudo terá fim finalmente — ele apoiou suas mãos sobre a bancada olhando para um ponto qualquer — Tem de ser isso.

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Olá, olá Jubinhas do meu ❤ Como estão? Aceitam um café? ☕

E então minhas Jubinhas, o que acharam? O que será que significa Kristen para o rapaz Misterioso? Teorias?

Que tal uma ⭐?

Aguardo manifestações 🎉🎉

Até logo ❤❤

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