Capítulo 8
— Igor vamos conversar no meu quarto — disse And se levantando e caminhando até Igor. Esse foi de bom grado até o quarto, pensei em segui-los, mas senti que aquela era uma conversa entre eles. Fiquei sentado no sofá, me lembrando da cara que Igor fez, ele estava sentindo nojo e se minha mãe e meu pai soubessem iriam fazer aquela mesma cara, ou pior. Eu não iria aguentar ver aquela mesma expressão no rosto deles, deles não!
Meu celular começou a tocar. Dei um pulo, sobressaltado. O peguei rapidamente e fui ver quem estava me ligando. Era Miley. Ela estava perguntando se eu iria para a festa que iria ter na sexta-feira depois do jogo, na casa de Pietro. Naquele momento não estava com cabeça para mais nada. Só queria ficar um pouco sozinho. Disse que iria ver se And iria nessa festa e que amanhã na escola eu dava a resposta.
23 minutos, contados no meu celular, se passaram e Igor passou por mim na sala. Não olhou no meu rosto. O olhei disfarçadamente, para que ele não percebesse que eu o encarava. Ele não parecia estar mais com aquela cara feia. Esperei alguns segundos, e Anderson não veio. Corri até nosso quarto.
Quando entrei, And estava socando as paredes. Seu rosto estava vermelho e suado. Vi que de seus olhos caiam algumas lágrimas. Fiquei congelado onde estava. Igor não tinha concordado — com seja lá o que ele tentou, e iria espalhar para todos que nós fizemos sexo. Fiquei parado por alguns minutos, depois andei até And. Ele ainda estava de frente para a parede.
— And — disse olhando para ele. Meu gêmeo não respondeu. Agora ele havia parado de se bater na parede e estava com a testa colada na mesma, fitando o chão. — Anderson! — disse alto e claro. Ele olhou para mim, vi que ele havia mesmo chorado um pouco.
— Ele vai contar para as pessoas, não vai? — perguntei abraçando meu gêmeo por trás. Seu peito ainda batia rápido, o coração martelava em meus dedos.
— Não... — disse ele lentamente, com a voz baixa. And se virou para mim. Sua boca estava ao lado da minha. Fechei os olhos e senti seu beijo, molhado e salgado por causa do choro. Segurei em suas mãos, e esqueci-me dos problemas, mergulhando no seu toque, sentindo seu corpo junto com o meu. Quando nosso beijo parou, me senti sozinho, longe de tudo. Anderson continuou a falar...
— Eu fiquei assim pelas coisas que ele disse, mas no final ele falou "que merda cara, e eu estou gostando muito de ti", olhei para ele em silêncio, depois que nos defendi não tinha muito que dizer. Ele falou novamente: "olha, eu vou esquecer que ouvi aquilo, e peço desculpas por chamar vocês de aberração, faço tudo que quiser... se aceitar a namorar comigo". Eu não poderia falar não, e não disse sim. Ele saiu sem dizer nada.
— Ele não estava mais com aquela cara de nojo quando passou por mim — disse abraçado ao meu irmão. Ele me encarou surpreso.
— Vocês conversaram? — ele indagou com os olhos arregalados.
— Ele fingiu que eu não existia. Mesmo ele fingindo esquecer que não ouviu aquilo. Quando ele for seu namorado, ele não vai gostar de mim. Porque afinal de contas eu e o namorado dele dormimos na mesma cama, e fazemos carinho um no outro durante a noite — minha voz foi ficando baixa, nunca tinha falado sobre minha relação com Anderson em voz alta, era estranho.
— Entendi. Se você tivesse chegado aqui na hora que combinamos, eu teria feito minha surpresa e nada disso teria acontecido —, me afastei de Anderson com um empurram, olhando furioso para ele.
— Agora a culpa é minha? — disse quase gritando. — A culpa não é minha se você sai pegando o vizinho sem nem conhecer ele direito.
— Não estou colocando culpa em ninguém. Ou teria que culpar Pietro, por não ter te trazido para casa quando eu pedi. Me culpar, por ter confiado nele, culpar Deus por nos ter feito gêmeos e não estranhos que poderiam se amar livremente. Enfim, teria que culpar muita gente. Eu só estou falando que a sorte não está a nosso favor.
— Não, não está — disse me deitando na cama, não aguentava mais ficar de pé ou sentado. Anderson se deitou do meu lado. Alinhando se corpo no meu. Estava nervoso e com medo, mas não consegui me afastar dele. Deixei ele me abraçar e colocar uma perna no meio da minha. Meu mundo era outro em seus braços. Respirei fundo, olhando para o vazio à minha frente.
— And — falei depois de alguns minutos.
— Oi, Fefe — respondeu ele gentilmente.
— Quero assistir Titanic — falei me levantando.
— Para chorar de novo quando o cara morrer? — perguntou And sorrindo e se levantando comigo.
— Mas eu quero — disse fazendo bico, olhando para ele.
— Tudo bem — And se levantou e foi pegar o notebook. Enquanto me arrumava na cama. Quando ele trouxe frui procurar o filme no site que sempre assisto filmes online. Nesse tempo Anderson foi fazer pipoca para nós. Quando ele voltou o filme já tinha começado.
Ele se sentou do meu lado e assistiu comigo. Assim acabou nossa tarde.
***
No outro dia. Eu fiquei para trás, conversando com Miley sobre a tal festa. Enquanto Anderson e Pietro foram na frente.
— Se você não for, eu te mato — disse ela quando me encontrou. — E bom dia!
— Bom dia! — falei sorrindo. — Eu não estou com cabeça para isso, mas como disse, perguntei se o And ia, ele falou que vai, então tenho que ir para não o deixar beber demais.
— Você cuida demais do seu irmão — disse ela caminhando do meu lado.
— Se eu não cuidar, quem vai cuidar? — minha voz trouxe mais tristeza do que eu esperava.
— Sua mãe ainda está daquele jeito com vocês?
— Sim. Eu não sei porque ela sente tanta raiva de nós. Não fizemos nada.
— Talvez seja isso — olhei para ela sem entender. — Tipo, vocês são bonzinhos demais, por isso ela coloca o terror em vocês. Meu pai era assim, eu ficava quieta ouvindo merda. Um dia peguei ele pela camisa e falei: "eu trabalho e pago minhas contas, então eu cuido da minha vida. Você é um péssimo pai, e é o último pai da terra que tem o direito de me brigar com seu filho". Eu o soltei, é claro, não iria bater nele. Só foi para mostrar que eu havia crescido e que não engulo mais sapos dele.
— Não vou precisar fazer isso. Meu pai conversou comigo e meu irmão ontem à noite. Ele disse que nesse final de semana vai dar entrada na papelada do divórcio. Eu sempre achei que o divórcio era uma coisa ruim, mas para nós três vai ser uma salvação. Ficar lá está insuportável. Sorte que tenho And, ele me faz esquecer os problemas, não sei como. E eu estou lá cuidando para que ele não comece a fumar ou beber. Acho que é para isso que se tem irmãos — disse sentando em um banco dentro do pátio da escola.
— Ela vai ficar bem sozinha? — perguntou Miley desligando o celular e o colocando na bolsa.
— Ela disse que não suporta olhar nossa cara. Se ela não ficar bem sozinha, vai ser problema dela. Eu não fico — disse ando de ombros.
— O que está acontecendo ali? — perguntou Miley apontando para alguns metros a nossa frente. Vi And, Pietro e outros caras do time conversando entre si e rindo muito. Nos levantamos e fomos olhar o que havia de tão engraçado.
Quando chegamos, vi um pequeno indivíduo no meio da roda de jogadores. Todos olhando e apontando para ele. Gozando da sua cara. Pietro era quem os levava ao riso. Olhei de novo para o cara no meio da roda, e percebi que era Soubi.
— Era o que me faltava — disse comigo mesmo, dando cotoveladas em quem tivesse em meu caminho até o centro da rodinha.
— Ah, você não vai fazer isso — disse Pietro olhando para mim, desfazendo seu sorriso debochado.
— Cala a boca, idiota — disse Miley para Pietro, empurrou dois guris e caminhando até mim. — Você é pior que os moleques da quinta série — ela olhou em volta. — Sério isso? Todos vocês são grandes idiotas de ficaram rindo dele.
Ela pegou Soubi pelo braço e o levou para onde estávamos sentados. Peguei Pietro pela orelha e o afastei do grupo. Agora And e os jogadores riam dele.
O levei para o banheiro que estava ao lado. — Amorzinho, está me machucando — disse Pietro pegando em minhas mãos. Quando vi, ele já havia me puxado para perto do seu corpo. — Bem melhor! — seu hálito bateu em meu rosto provocando uma leve sensação de quentura.
— Olha — o afastei, fingindo que ele não mexia comigo. — Se quiser mesmo ter uma chance de ficar comigo. Vai lá agora e pede desculpa para o Soubi, ele é o cara mais legal nessa escola — depois do And. E não é idiota para ficar rindo dele, e para mostrar que está mesmo arrependido, vai convidá-lo a ir na festa de sexta-feira, depois do jogo. Soube que iria ser na sua casa.
— Te informaram certinho — novamente Pietro se aproximou de mim. Ele era um pouco maior do que eu, mas agora parecia ser muito alto, me senti pequeno no meio dos seus braços. — O que não faço para pegar o irmãozinho do meu amigo — ele saiu logo depois.
Fiquei dentro do banheiro, pensando no que Pietro havia me falado. Eu estudei todos esses anos com ele e ele nunca tentou fazer nada comigo. Comecei a achar que Pietro havia feito algo com Anderson e por algum motivo eles pararam e ficar comigo não teria muita diferença.
Quando sai, Miley foi testemunha que Pietro pediu desculpas para Soubi e que o convidou para sua festa. Finalmente ele havia feito uma coisa legal. De repente, como que já soubessem que eu queria falar com Soubi em particular, todos saíram de perto de nós.
— Por que eles estavam rindo de você, Soubi? — perguntei.
— Quando cheguei na escola, eu vi você, quero dizer: seu irmão gêmeo, conversando com seus amigos. Então fui até lá e comecei a conversar com você, logo vi que tinha um brilho diferente em seus olhos. Quando eu falei para você: "sou o Soubi, gosto de Bigbang, lembra?" aqueles caras começaram a rir e dizer coisas que eu não entendo. Não conheço todas as palavras em português, suas gírias por exemplo. E nunca fiquei tão feliz de não saber uma coisa. Depois que aquele cara (ele estava se referindo a Pietro) começou a fazer piadas sobre mim, vocês apareceram. A propósito, gostei de sua amiga, ela é muito corajosa.
— São todos uns idiotas, menos meu irmão e minha amiga, mas enfim, o que iria me falar? — perguntei fazendo uma cara feia, depois sorri.
— Você me disse que era fascinado pela cultura japonesa. E meu pai me disse que nesse sábado vai acontecer um evento sobre a cultura japonês. Vai ter animes e mangas, chás e outras coisas. Eu estava pensando, se não tiver nada para fazer, se não gostaria de ir comigo — disse Soubi. Seu rosto começou a corar. E seus olhinhos brilhavam. Ai meus Deus! Ele conseguiu ficar mais fofo do que eu imaginaria que poderia ficar.
— Está me chamando para um encontro? — perguntei também ficando sem jeito. Dois bobos corando.
— Sim, você vai?
— É claro — abracei Soubi sem pensar duas vezes. Apertando seu corpo magro ao meu. Seu cabelo era cheiroso, sua roupa, ele inteiro era cheiroso. — Agora tenho que ir, te vejo depois — comecei a caminhar até minha sala.
Soubi ficou atrás de mim. Sorrindo.
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