Sou jogado de costas no segundo andar do prédio. A noite lá fora, agora, é fria e nebulosa. O vento cortante, fica pior a cada vez que beija meu rosto. Sinto meu corpo inteiro estremecer. Meu peito lento e fraco, mal consigo chamar meu esforço de respiração.
― O que vamos fazer com ela? ― ouço o segundo rapaz, que me parece ser o mais cruel dos dois. Tento fazer meus pulmões voltarem a funcionar, para me darem forças para sair correndo dali. Não sei que mal eu fiz, mas não mereço isso.
― Podemos furar ela, para essa vadia aprender a ter respeito ― o primeiro drogado fala as palavras, cuspindo no meu corpo, jazido diante de seus pés.
― Não ― rosna o magro, dando um tapa no seu cigarro. Conheço bem esse tipo de ervas para saber que ele não está fumando nenhum "Eight". ― Vamos fazer aquilo...
Os olhos do outro rapaz começam a brilhar e ele se vira para mim. Sem ter feito nada, levo outro chute no meio do estômago, teria doido, se eu tivesse me recuperado no primeiro. Só sinto a falta de ar. Meus olhos ardendo mais forte, começo a cuspir sangue. Os lábios tremem e não consigo implorar por minha vida.
Eles parecem estar se fodendo se eu estou morrendo ou não. O primeiro rapaz começa a tirar a calça. Olho apavorado dele para o outro cara. Sentindo meu mundo se desfazer, quando eles tirarem minha roupa, vão ver que não sou uma mulher, e vão.... Me matar de tanto bater.
As lágrimas caem pelo meu rosto. O desespero ecoa junto ao meu "não!".
― Não a machuque muito, Rato, eu também quero me divertir ― pede o alto (seu gênero forte consegue o que pede), como se estivessem se referindo a uma bicicleta que empresta ao amigo. Começo a me aterrorizar a cada segundo. O cara fica pelado na minha frente, da cintura para banco. O pênis médio e com cabelos por todos os lados. Ele começa a brincar com seu pênis.
Meu Deus, esses caras estão doidões....
―Vamos lá ― brande o homem chamado Rato. Ele segura nos meus cabelos e me joga contra a parede. Quando sua mão me solta, vejo os cabelos em seus dedos, muitos fios castanhos. Puxo o ar, várias vezes seguidas. Não encontro a porcaria do ar. A tosse faz o sangue escorrer pelos meus lábios, cortados.
Ele abaixa-se perto de mim e esfrega o pênis seboso no meu rosto. Minha respiração ainda prejudicada me impede de inalar seu odor, que só pode ser desagradável. Fecho os olhos, quando ele coloca o pau dentro da minha boca. Fico imóvel, com o gosto de sangue nos lábios. O peito doendo tanto que mal posso me mover.
Eles sabem como imobilizar uma pessoa para fazer o que quiserem depois.
O cara tira o pau da minha boca e me coloca de costas. O segundo se aproxima de mim, começa a tirar minhas roupas de um jeito brusco. Sinto sua unha pegar na minha pele e tirar um pedaço de carne, de tão forte que ele tira minha roupa. Pelado e de bunda para cima, sinto Rato sentar em cima de mim.
* Fecho os olhos, não conseguindo mais aguentar isso. O peito gritando por ajuda. Por alguém, mas meus lábios mal se abrem. Uma lembrança toma conta de minha consciência. Fico eternamente grato a ela.
Estou voltando do colégio com meu pai e minha mãe do meu lado. Cada um segurando em uma das minhas mãos. Os dois sorriem para mim. Estamos felizes e protegidos. Mais à frente vejo meu gêmeo. Ele também está com a mochila nas costas. Uma criança maravilhosa.
Começo a correr até meu irmão, porém nunca chego perto dele. Caiu de rosto na calçada.
― And! ― grita minha mãe correndo até mim. Meu pai me coloca de pé. Meu nariz começa a sangrar. ― Meu bebê se machucou.
Faço biquinho, quase chorando com meu pai e minha mãe sorrindo para mim.
― Pronto ― tranquiliza papai, tirando um lenço do terno. Ele saiu do trabalho e foi com minha mãe nos buscar. ― Não precisa chorar, meu guerreiro*.
Rato simplesmente abre minha perna e começa a socar seu pau dentro do meu cu. A dor me faz cair de volta a realidade. Eu achava que a dor no peito era a pior dor que já havia sentido na vida, mas agora está insuportável. A dor que ele me causa na bunda me faz querer morrer. Começo a gritar muito alto. De repente consigo até gritar. O segundo homem se apressa para impedir que eu grite. Ele empurra um pano sujo para dentro da minha garganta. Nunca comi bosta na vida, mas o gosto que sinto. Só pode ser de merda.
Fico sentindo o pau do cara estourar tudo que encontra pela frente. Sem dó ou piedade, ele me estupra até não querer mais. Sinto algo quente sair do seu pau e ficar dentro de mim. O medo e a dor me dominaram a muito. Fico com o rosto no chão. O segundo homem tira sua roupa e vai atrás de mim. Não olho para ele, mas assim que seu pau entra no meu cu, sei que é bem maior do que o último. Sinto o sangue sair, e o pau dele entrar. Me rasgando de fora para dentro.
*Novamente deixo a dor me levar para fora do prédio inacabado. Vejo um Fernando com 6 anos de idade. Os olhos grandes e o cabelo todo desarrumado.
Meu gêmeo segura um passarinho nas mãos. Ele o achou primeiro, pois soltou a mão de nossos pais e veio correndo na frente.
― Machucou ― ele aponta para meu nariz. Dou um sorriso e tiro o lenço de papai. ― Toma.
Surpreso, recebo o passarinho que cuidamos nos próximos 3 anos. Até um gato preto arrancar a cabecinha dele.
― Obrigado ― digo passando a mão pelas costas de Fernando e o abraçando muito forte. Me esqueci da dor no nariz*.
O homem alto me prende pela cintura, e vai metendo cada vez mais fundo. Começo a desejar a morte, do que passar por tudo aquilo. Meu rosto se mergulha em um choro feio, rouco e com o nariz escorrendo. Mas parece que ninguém está nem ai para mim. O cara continua seu crime como se eu fosse um pedaço de carne.
Não me resta nada, se não ficar de cabeça baixa e esperar que tudo acabe, nunca me acostume com a dor. É impossível, sempre que ele me meche, a dor triplica. Afinal meu cu está todo estourado. Completamente sem conserto.
Agora não tenho minha mãe ou meu pai para me ajudar a se levantar, ou meu irmão. Para fazer eu me distrair. O choro fica intenso com a imagem dos três caminhando para casa: felizes e seguros. E eu aqui, morrendo.
Com os olhos fechados, a única imagem que me vem é a de Fernando jogado no chão e eu sobre seu corpo, buscando um prazer doentio, como esse homem agora encontrou em mim. Será a justiça de Deus? Então é verdade que aqui se faz, aqui se paga?
Pensar em Fernando, nesse momento. Me faz dar toda a voz da razão para ele. Eu também nunca me perdoaria. Nunca vou me perdoar. O cara magro abre minhas pernas e faz o pênis dançar dentro de mim. Grito o mais alto que posso. Quando, finalmente, consigo jogar o pano sujo de merda para fora da minha boca, mas ninguém parece me ouvir.
O primeiro homem, se aproxima de mim e chuta meu rosto, sinto dois dentes se desprenderem. O lado do chute começa a ficar roxo na mesma hora. Paro de gritar, pois isso irá me causar mais dor.
Finalmente o cara goza dentro de mim, como fez o outro. Então uma coisa me ocorre, e meu medo me faz querer morrer essa noite. Eles podem ter HIV. Eu não posso ficar doente!
― Traga aquele pedaço de pau ― manda o segundo homem, vestindo sua roupa.
Vejo, pelo canto do olho que não está roxo, o marginal trazer um pau liso e grosso. Imagino que ele vá estourar minha cabeça com ele, e tudo vai acabar...
Dando risadinhas histerias, o primeiro cara aplica alguma droga no meu pescoço. Eu o amaldiçoou, mas não por muito tempo. Pois sinto o pau, que o outro cara estava segurando, entrar com tudo dentro do meu cu. A dor teria me feito desmaiar, gritar, urinar, vomitar, mas o efeito da droga já está sobre meu corpo. Ao invés de chorar e querer morrer ainda mais. Fico rindo igual idiota.
Meus olhos se fecham como se eu tivesse dito uma parada cardíaca, talvez eu tenha mesmo dito uma.
***
Acordo, não sei quanto tempo depois, dentro de uma lata de lixo. Coberto por meu sangue. Tento me levantar, caindo várias vezes. Quando alcanço a rua, uma mulher gorda começa a gritar e uma outra chama a ambulância.
No instante que vejo as luzes vermelhas tomarem conta da minha visão, caiu sobre os joelhos. Sem lágrimas, sem vontade para qualquer coisa. E é a última coisa que vejo, caído. no chão, desmaiado de novo.
Acordo novamente. Agora estou no hospital. O cheiro de remédios por todos os lados. Estou com o rosto enfaixado, passo a língua no lugar dos dentes que perdi naquela noite. Os médicos parecem ter recolados outros no lugar. Minha boca está perfeita, embora eu não esteja.
Me sinto a pior desgraça que o mundo poderia ter gerado.
Olho para o lado e encontro uma cadeira vazia e um casaco sobre ela. Do outro lado vejo o soro caindo gota após gota. Um pequeno tubo leva o líquido para a veia do braço direito.
Alguns minutos depois, meu pai entra no quarto.
― Graças a Deus, Anderson ― diz ele correndo para a cama. Fico esperando mais alguém entrar, é claro que minha mãe não iria sair da casa dela por causa de um filho. Mas esperava ver Fernando parado a porta. Fico com raiva por ele não estar aqui agora, do meu lado. — Você me assustou...
― O Fernando sabe o que aconteceu? ― indago interrompendo meu pai. Ele me olha sem entender.
― Não. Ele está fazendo provas e não atendeu quando liguei, para avisar que o acharam....
― Pai ― o olho, e falo o mais sério que já falei na vida. Ele parece perceber isso, e fica fixo em mim. — Não quero que conte o que houve para ele, ou para qualquer outra pessoa. Entendeu?
― Mas filho... Anderson, os médicos disseram que você foi violentado....
― Exatamente. Eu fui. E ninguém tem nada a ver com minha vida. Não vai falar para ninguém sobre isso, se falar não vai ser mais meu pai.
As palavras ficam no ar. Até um homem moreno entrar no quarto, não o conheço, mas logo meu pai diz que é seu novo namorado, Heitor. Logo eles vão embora.
Fico mais um mês no hospital, me recuperando das três cirurgias. E sem celular, não tenho contato com ninguém.
O ano passa e eu não saio mais de casa, para nada. Fico trancado, com medo de qualquer um que bate na porta. Muitas vezes é meu pai e seu namorado, ou melhor dizendo, namorados. Ele sempre está com um novo.
Por fim, Zec vem até minha casa. Não o atendi durante todas as outras vezes que ele apareceu. Mas dessa vez eu abro a porta. Ele não faz muitas perguntas. Meu rosto tem uma cicatriz, pequena. Porém ela está ali. Ele fica olhando-a.
― Um dia vai estar preparado para me contar o que aconteceu?
― Não ― respondo frio. O que aconteceu ninguém mais vai saber.
― Entendo. Bom, eu vim te convidar para passar as férias comigo e com meu irmão. Ele largou aquela louca da namorada dele, semana passada. Agora quer passar as férias bem longe daqui, na praia...
― Praia? ― repito. ―Seria uma boa. Preciso sair de casa.
― Então podemos contar com você? ― faço um aceno com a cabeça. Zec dá um sorriso e faz menção de me abraçar. Recuo um pouco. Faz tanto tempo que não falo com ele, que intimidade é algo estranho, e ainda não estou pronto para tocar em outro cara. ― Bom... Vou indo então.
―Tchau.
Não estou na melhor forma para ir para a praia, mas espero que ela me ajude a esquecer o que aconteceu. O que é impossível.
Depois de muito custo, encontro uma fotografia jogada junto com as minhas coisas, com a data em que encontramos o passarinho. Meus pais ainda se amavam, ou pelo menos não brigavam na minha frente. Eles estão de mãos dadas ― na foto ―, se beijando, em baixo, Fernando olhou para cima e viu nossa mãe dando um beijo no pai, e no exato momento do flash, ele saiu com as pontas dos pés levantadas, e dando um beijo no meu rosto.
Coloco a foto contra o peito, as lágrimas vão caindo em meu rosto. Sinto saudade daquele tempo. Sinto saudade da minha família. Porém só me resta limpar os olhos, minha família já não existe mais...
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