Capítulo 13 - Star Wars e O Senhor dos Anéis

Depois da aula, Pietro me diz que precisa comprar umas coisas e alguns livros que ele acha que pode ajudá-lo nas matérias. Quando está saindo do banheiro, ele me convida para ir com ele.

— Não vou demorar, e... — ele puxa sua cueca boxer, da cor cinza, perna acima. Seu corpo, fica nu na minha frente por uns segundos. Fico deitado na cama admirando-o. Suas pernas são grossas e cabeludas, como os braços musculosos. Sua barba, ainda molhada, brilha em seu rosto agora sério e maduro. Quando a cueca engole o seu pau, uma enorme bola fica dentro da cueca, Pietro é mesmo bem dotado. — E você parece não estar bem — termina ele me olhando.

Dou um suspiro. Realmente não estou bem e o tempo que vou ganhar, aqui sozinho em casa, é tudo que eu preciso.

— Vou ler um capítulo daquele livro monstruoso — indico o livro com o queixo. Ele está sobre a antiga mesa do computador. Os livros de Pietro estão jogados por cima.

— Ok — os lábios de Pietro se demoram nos meus. Abraço seu pescoço, me deliciando com o cheiro do seu corpo recém-lavado. Um cheiro gostoso de ervas fica no ar depois que ele se afasta.

Como ler o livro foi uma mentira. Fico jogado na cama, pensando na vida. E ficar sozinho não me ajuda muito. Não demoro para ficar com os olhos marejados.

Fico com um sentimento depressivo pairando sobre minha cabeça. Mordo os lábios sem querer voltar a chorar. Odeio me sentir assim, é como se estivesse faltando uma parte de mim. Me falta a parte alegre do meu "eu", só ficando o peso na consciência.

Paro de fazer força para impedir o inevitável e começo a chorar, o peito subindo e descendo descontrolado. Anderson me faz falta, e percebo isso agora.

Decido que não quero ficar sozinho com esses sentimentos ruins me consumindo por dentro....

Pego o celular e mando uma mensagem para Pietro: "mudei de ideia, me dá uma carona até a casa do meu pai?".

Depois de receber a resposta de Pi, tranco a casa e fico na varanda esperando ele voltar. O Palio vermelho para debaixo da árvore do balanço e ele se inclina sobre o câmbio, abrindo a porta para mim.

Não conversamos muito durante a viagem até a casa do meu pai. Está na hora do almoço, e com sorte eu consigo vê-lo.

Pietro para o carro e eu pulo para fora, beijando lhe o rosto quando saio.

O prédio continua mal cuidado. Agora com novas pichações. Subo a escada, distraído. Meu coração bate mais forte, pois não adianta mentir para mim mesmo. Bem no fundo eu não vim até a casa do meu pai para vê-lo, e sim outra pessoa...

Bato na porta duas vezes. Ouço vozes animadas atrás dela, e concluo que nenhuma pertence a Anderson. Faço força contra a porta e ela se abre. O apartamento está escuro e a tevê ligada, vejo que está passando Star Wars. E as duas figuras sobre o sofá conversam eufóricas.

Aparentemente o novo namorado de meu pai está discordando sobre alguma coisa em relação ao filme e meu pai, por sua vez, está batendo os pés no chão. Discordando, impaciente, da opinião de Oberon. Que tira, bruscamente, os óculos redondos do rosto e joga sobre a mesa de centro.

— ...então quer dizer que esse filminho merda é melhor do que O Senhor dos Anéis? — questiona meu pai, dando uma olhada feia para a tevê.

— Sem sombras de dúvidas — insisti Oberon com firmeza.

— Faça-me o favor! Olha que atriz mais sem sal! — meu pai olha sério para a tevê.

Oberon fica com o rosto estupefato. Nitidamente horrorizado, como se acabassem de ofender sua mãe.

— Não-fale-assim-da-Princesa-Leia —troveja ele, ainda escandalizado.

— Princesa? A única princesa que conheço é A. Princesa. Élfica. De. Valfenda — meu pai soletra palavra por palavra, irritando ainda mais seu namorado. — Arwen! — ele termina com os olhos brilhando.

— Star Wars ganhou 10 Óscares! — replica Oberon com importância. — Melhor figurino, melhores efeitos visuais e melhor trilha sonora!

— O Senhor dos Anéis ganhou 17 — diz meu pai com simplicidade. Como se não estivesse acabo de pisar em cima do maior argumento de Oberon. — Ele é o filme mais premiado, sabe...

Oberon de repente parece ter percebido a minha presença e se cala por um momento, ficando totalmente escarlate.

Mas meu pai não deixa uma discussão terminar assim, ele olha para mim e indaga:

— Fernando, você sempre amou O Senhor dos Anéis, não é? Onde está O Livro Vermelho que te comprei?

Fico olhando para Oberon, que ainda cospe fogo. O melhor é tirar meu corpo fora.

— Hum... bem... eu gosto....

Parece que para Oberon, me usar na discussão é ir longe demais. Ele se levanta, arrumando seu casaquinho xadrez, nerd, e apanha os óculos. Tira o filme do dvd com uma agilidade quase inumana.

— Você está parecendo um Orc — comenta meu pai baixinho. Oberon pode não gostar d'O Senhor dos Anéis, mas entende perfeitamente o que meu pai diz e novamente faz sua expressão escandalizada. Ele se vira e mete o tapa na cara do meu pai, com tanta força que fico com pena dele. Depois pega o filme e começa a sair da sala, gritando:

— Nunca mais quero te ver!

Ao passar por mim, ele se desculpa rapidamente. — Não queria que visse isso —. E vai embora, deixando meu pai e eu boquiabertos.

— O que foi isso? — indago me jogando no sofá, um sorriso no meu rosto.

— Aquele cara é louco, não quero mais nada com ele — resmunga meu pai, alisando o rosto vermelho. — Então, vamos assistir O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei?

Começo a rir. Como ele pode querer ver o filme que acabou com seu namoro? Não indago isso, outra coisa me vem à cabeça.

— Pai, por que você não está no trabalho? Você ficou um mês no litoral, pensei que suas férias já tivessem acabado.

— São dois meses, por falar nisso, preciso ver umas coisas — ele olha por cima do ombro, para a mesa da cozinha. — Mas antes vamos ver o filme!

— Ãa, outra pergunta, o que aconteceu com a mãe? Ela simplesmente sumiu...

— Ela não sumiu. Continua na velha casa, nós é que sumimos da vida dela. E acho que ela nunca ficou tão feliz na vida.

Ele, então, coloca o filme e não faço mais perguntas. Chegando na metade do filme, Pietro entra no apartamento. Ele traz um saquinho de bolacha e uma lata de refrigerante nas mãos.

Indago para meu pai se posso contar para Pi o que eu vi quando cheguei. Meu pai só dá de ombros e continua a encarar o filme. Então conto tudo para Pietro que começa a rir junto comigo. Meu pai resmunga alguma coisa sobre "ele é louco".

Não fico até o final do filme. Vou para casa. Pietro não para de me dizer estar morrendo de fome.

Quando nos levantamos para ir embora, o filme é pausado.

— Apareçam por aqui a noite, para comermos alguma coisa. Anderson não voltou para casa. E ficar sozinho é meio chato.

— O que aconteceu com o Anderson? — quer saber Pietro, olhando mais para mim do que para meu pai.

— Depois que você o trouxe para casa, todo sujo de vomito. Ele não ficou. Disse que queria morar sozinho. Está em um...

— Morar sozinho? — indago, encarando meu pai, sério.

— É. Mas então, vocês vão aparecer?

— Pode contar com a gente — fala Pietro pegando minha mão. Me forço a abrir um sorriso. Anderson morando sozinho? Não apareceu mais na casa do nosso pai? — Bom, já vamos.

Deixamos o apartamento e seguimos direto para a casa de minha avó. Assim que entramos, Pietro vai para a cozinha preparar alguma coisa para comer. Eu fico para trás, tirando as coisas que ele comprou do carro.

Quando entro na cozinha, já sinto cheiro de lasanha sendo assada no forno elétrico.

— Anderson te fez alguma coisa aquele dia que eu te encontrei no banheiro, não fez? — indaga Pietro me olhando sério.

Não quero falar sobre isso, não agora que estou me sentindo melhor. Sob meu silêncio, Pietro continua.

— Não sou idiota Fernando!

"Estava você e ele em casa. Do nada um vaso aparece quebrado e ele jogado na sala. E te encontro no banheiro, o espelho quebrado. Você-estava-em-choque", Pietro soletra as últimas palavras, me estudando atento a qualquer movimento meu. Ainda fico em silêncio. "Eu sei que aconteceu alguma coisa, e se não quer me contar. Ok. Eu vou descobrir, mais cedo ou mais tarde".

Ele sai da cozinha.

Fico novamente com o sentimento depressivo me comendo por dentro. Daria tudo para explicar para Pietro, dizer o que Anderson tentou fazer, e o porquê disso. Mas o medo dele ficar com nojo de mim e me deixar para sempre. Me faz ficar com a língua presa.

Almoçamos em lugares diferentes. Fico na sala, e Pietro na cozinha. Ele evita me olhar, e com razão. Tem o direito de ter uma explicação. Por esse motivo não tento puxar assunto com ele.

Ficamos sem nos falar até a hora de irmos para a casa do meu pai, a noite. Ele toma banho, depois entro no banheiro. Quando saio, ele já está trocado, e vai esperar no carro. Termino de me arrumar e vou para o carro.

No caminho, não mudamos o comportamento. Um para cá e outro para lá. Entremos no apartamento um atrás do outro. Porém, não encontramos um homem de cabelos grisalhos, em suas vestes caras. Damos de cara com um guri defronte para a tevê, os olhos marejados e os soluços em auditivos.

— Que aconteceu? — perguntamos, Pietro e eu, ao mesmo tempo.

Meu pai não diz nada. Fica olhando para a tevê, e depois de molhar um lenço com muito catarro, ele diz com a voz embriagada:

— Fui atrás do Oberon. O maldito continua a dizer que nunca mais quer me ver. E tudo isso por causa desse filme desgraçado — ele atira a capa de Star Wars por cima do ombro.

Aproximo-me do meu pai e o abraço, tentando confortá-lo.

Desligo a televisão e o faço para de chorar. Pietro, dizendo que não iriamos perder a viagem, disca o número de uma pizzaria.

As pizzas chegam meia hora depois. Comemos e tentamos fazer meu pai sorrir. O que não surti muito efeito, mas seu rosto parece bem melhor.

Voltamos para casa bem cedo, por causa das aulas logo de manhã. Meu pai, antes de nos deixar ir, faz uma entrevista completa sobre nosso primeiro dia. Falo para ele todos os detalhes que posso. Ele faz acenos e diz: "hum", e mais acenos. Com mais conversa, descubro que ele já foi aluno da mesma universidade que estamos estudando. Ele para nossa história para dizer como era algum lugar, que obviamente foi reformado com o tempo. Como a lanchonete era fora do prédio, da construção do prédio redondo e do quinto prédio.

Finalmente contamos com foi o dia, e ele nos libera.

Quando caio na minha cama, o sono me leva imediatamente. Mas abro os olhos de novo. Pietro me olha com interesse.

— Desculpe pelo meu comportamento mais cedo.

Dou um sorriso para ele, o abraçando, e deito minha cabeça sobre seu peito. A barba roça meus cabelos. Não vejo mais nada depois disso, durmo com uma criança, abraçado ao meu anjo...

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