Capítulo 10 - segunda temporada
Uma das muitas coisas que fiz quando entrei no fundamental, foi nunca dizer meu nome completo quando me era perguntado; Pietro Frédérique Fattori. Definitivamente ser de uma família italiana tem lá suas desvantagens, como meu segundo nome e meu sobrenome horríveis. Mas a coisa mais importante que eu fiz, foi pegar amizade com dois gêmeos. Anderson e Fernando.
No primeiro dia de aula, eu estava descolado por ter um ano a mais do que todos os alunos. Era o maior da turma, me deixando sem jeito e sem vontade para fazer amizade com todo mundo. Afinal não conhecia ninguém ali, e os gêmeos ficavam tão juntos, sem amigos, que logo nos aproximamos. Não lembro de ninguém ter ido atrás de ninguém, simplesmente aconteceu a amizade. Levou semanas para que eu parasse de confundir Fer com And, ou And com Fer, até hoje ainda me confundo as vezes, afinal, eles têm o mesmo rosto!
Crescemos juntos, além do tempo do colégio, também frequentávamos a casa uns dos outros. E saímos para acampar também. Foi uma amizade verdadeira. Apesar de não conversar muito com Fernando, pois comecei a notar que Anderson não gostava muito disso. Como nunca gostou de ver o irmão conversando com ninguém. Por esse motivo fui me apegando mais a Anderson.
Ele é um bom amigo, não posso negar. E as vezes um cara chato demais, eu também sou, as vezes. No começo do ensino médio, aos 15 anos, Anderson me contou que era bissexual. Eu particularmente achei estranho. Não estranho a sexualidade dele, mas de vê-lo pegando outro cara perto de mim. O que fez algumas vezes escondido de Fernando.
Na metade do ano, eu fiquei cismado com tudo isso. No fundo eu também sempre senti uma leve atração por homens. Como no final da aula de educação física. Meus olhos sempre corriam por todo o vestiário, e as vezes se demorava em alguns caras. Como em Fernando
Ainda me lembro do dia que tentou jogar futebol no colégio, foi o primeiro e último dia que ele tentou jogar. O colocaram no gol, por maldade, e ele, sendo inocente como é, não percebeu isso. Quando viu já tinha levado uma bolada no meio do estômago e ficado sem ar. Eu corri até ele e o levei para o vestiário. "Estou bem", disse ele, ainda me lembro como naquele momento, percebi que ele não era um guri como eu ou os outros. Sempre durões e que aguentam boladas no rosto. Não. Fernando tem a alma delicada, se posso dizer assim. Seu rosto pode ser idêntico ao de Anderson, mas ele é totalmente sereno, calmo. O contrário do outro.
Como saímos mais cedo naquela aula, o vestiário estava vazio e eu pude ver Fernando tomar banho sem me preocupar com quem estivesse me olhando. Eu passei a gostar dele, e sabendo que Anderson jamais iria admitir qualquer envolvimento meu e dele, quis evitar confusão e passei a considerar Fernando como um irmão mais novo.
Só que isso não deu muito certo. No último ano de colégio, eu já não estava mais aguentando olhar para ele como irmão... ele ganhou corpo, como Anderson. Eles me contaram que passaram as férias treinando, e os resultados foram óbvios. E com Fernando andando perto de mim com sua bunda bem maior do que no ano anterior, quase cai muitas vezes na tentação.
Passei então a ficar com todas as gurias que davam em cima de mim, para acabar com o tesão que sentia quando o via, o que era todo dia. No final de nada valeu, meu desejo falou mais alto. E, como pensei, ficar com Fernando foi melhor do que sonhava. Sabia que ele era um guri direito, que mal tinha beijado outro guri, e muito menos uma guria. Não tive medo de deixar o preservativo de lado com ele, somente com ele. Porque no fundo, sei que ele é um cara bom.
Todavia, como sempre temi, depois que fiquei com Fernando, Anderson caiu em cima de nós. Não sei, os ciúmes que ele tem pelo irmão, é tão... estranho. É como se os dois tivessem uma relação amorosa.
E a pior coisa que eu esperava de Fernando se concretizou. Sendo uma pessoa boa. Ele abriu mão de mim por sua amiga e pelo irmão. Confesso que não tive toda a paciência do mundo, queria levá-lo para algum lugar, onde ele pudesse ser só meu. Sem ninguém nos atrapalhando. Só que não deu muito certo.
No entanto, nunca desisti de nós. Eu o amo de verdade, e sei que ele também me ama. E sempre soube que daria certo no final. Teria que dar.
Estava em casa, quando Anderson apareceu muito triste, me pedindo para levá-lo de carro até o litoral, onde seu pai disse que iria passar as férias. Eu o levei, é claro. Não gosto de admitir isso, mas o fiz muito mais do que pela amizade, porque sabia que logo que Anderson estivesse na praia, Fernando ficaria sozinho. Foi então que aproveitei minha chance e voltei para meu Fer....
***
Paro de pensar nessas coisas e presto atenção na estrada. Escuto, ou imagino ouvir gritos. E eles só podem ter vindo da casa de Fernando. Interrompo a corrida e fico olhando em direção a casa. Com um susto, ouço um novo grito.
Volto para casa correndo, o mais rápido que meus pés conseguem me levar.
— Anderson! — exclamo ao vê-lo caiu na porta. Um cheiro forte vindo do seu corpo. Ele está bêbado, e deve ter vomitado, pouco antes de quebrar o vaso de flores. — Está desacordado... — digo baixinho, tentando acordá-lo, mas nada.
Me levando, ainda muito assustado. Meus olhos arregalados, procurando por Fernando, o grito que ouvi não pode ser dele....
— Fer! — grito, colocando a mão a boca para aumentar a voz. — Fernando!
Meu desespero vai aumentando quando vejo a casa desarrumada, coisas jogadas pelo quarto. O notebook quebrado no chão. Fico de pé no quarto. Ouço um choro baixinho vindo do banheiro, corro até lá.
— Ah, Fernando! — digo desligando o chuveiro e me abaixando para ajudar meu namorado a se levantar. Suas mãos sangrando me explicam porque o espelho está destruído. Levo Fernando para o quarto e jogo uma toalha sobre seus ombros. — O que aconteceu? Alguém invadiu a casa ou... ou foi o Anderson que fez isso contigo?
Fernando não olha para mim, tampouco responde. Ele se fixa na frente, olhando o nada com muito interesse para me dar qualquer atenção. Mordo os lábios sem saber o que fazer. Meu nervosismo vai dando espaço para a preocupação e ansiedade para saber o que houve. Por que meu namorado está em estado de choque? O que Anderson faz aqui? Quem destruiu a casa?
As perguntas ficam na minha cabeça com tanta intensidade que começo a senti-la doer na mesma hora.
Me sendo entre as pernas de Fernando, seguro suas mãos geladas, mas ele não me olha.
— Por favor, Fernan... — começo a falar, mas um, repentino, soluço me faz ficar quieto. Meu rosto fica quente, a garganta seca e os membros tremendo. Sinto-me completamente inútil nessa situação. Sem poder fazer nada para o cara que eu tanto digo que amo, e agora não posso fazer nada...
Começo a chorar sem ter consciência disso, só percebo quando as lágrimas começam a cair no meu joelho, mas não as tiro. Deixo que caiem.
Duas semanas depois....
Durante os quatorze dias seguintes, eu praticamente não tive namorado. Fernando se trancou no quarto, na casa de seu pai, e não me deixou entrar. Anderson, que ficou um dia no hospital, não voltou para a casa do pai no dia seguinte. Fico sozinho durante os quatorze dias. Sem ter o que fazer, mandei uma mensagem de "bom-dia" para Fernando todas as manhãs, e "boa-noite", quando estou indo dormir. Não é muito, mas é a única coisa que posso fazer.
Mandei uma diarista na casa de Fernando e Anderson, na semana seguinte, para dar um jeito em toda aquela bagunça. Apesar de desejar com todas as forças que Fernando logo volte a si e volte a morar comigo, no fundo sei que isso está longe de acontecer.
Na segunda-feira, da terceira semana, a última segunda-feira de férias, pois na outra já estaremos estudando, vejo uma notícia que me faz ir correndo para a casa do pai de Fernando.
Uma das bandas K-pop que ele tanto ama, vai estar fazendo uma breve turnê no Brasil, como ele está trancado lá dentro, duvido muito que saiba disso.
No entanto, mesmo depois de gritar atrás da porta sobre o grupo, ele não abre a porta, e não tenho muita certeza se me ouviu. Viro as costas e vou embora, derrotado.
Na sexta-feira, quando estou saindo de uma loja de presentes, sou engolido por uma multidão gritando como louca. Mas ninguém está correndo de nenhum fogo, eles ficam parados no mesmo lugar, gritando um nome que nunca ouvi na minha vida. "Henry Lau". Por estar ainda com a cabeça no presente que comprei para Fernando, levo um minuto para perceber o que está acontecendo.
É o tal grupo K-pop que Fernando me fez ouvir algumas músicas. Eles chegariam na quarta-feira, e pelo visto estão querendo conhecer a cidade antes do show no final de semana. As pessoas pisam no meu pé tantas vezes que paro de sentir dor e xingar.
Sem paciência para ficar no meio da turma, começo a dar cotoveladas em quem quer estiver no meu caminho. Não ouço nenhum carro, o que quer dizer que o grupo estão a pé. Mas não estou com sorte, enquanto desço a rua, a bola de pessoa também desce.
Algo que diz que do outro lado da calçada, e dessas pessoas histéricas, tem uma dúzia de japinhas iguais a Soubi. Ando mais depressa para sair dali.
Já estou quase me livrando de todos, quando ouço alguns gritos. Se os coreanos tinham seguranças, eles não deram conta de conter a multidão, porque ouço alguns gritando: "se afastem", "vão machuca-lo". A multidão por sua vez grita: "AI MEU DEUS!", "CONSEGUI UM...".
— Ai — resmungo sentindo alguém bater nas minhas costas com força. Quando me viro para encarar a pessoa, vejo um japinha menor do que eu esperava, os olhos pequenos, estão mais grandes do que o comum. Seu cabelo, que antes deveria estar coberto por gel, agora está bagunçado. Não preciso perguntar se ele é um dos integrantes do grupo, pois é obvio.
— Sorry — diz ele. E começa a falar em inglês rápido e com um sotaque muito estranho, mal consigo entender. Mesmo tendo feito curso de inglês por seis anos, é difícil entender o que ele fala. Só consigo entender as duas últimas palavras —... Help me!
O seguro pelo braço e o coloco na minha frente. Pequeno como sou, ele some da vista dos fãs loucos. Que ainda tentam invadir o círculo de seguranças. Ando depressa, levando o japinha para longe das pessoas. Paramos duas ruas depois. Sempre olho para trás para saber se não tem ninguém nos olhando.
— Obrigado — diz ele com seu inglês horrível. — Não iria conseguir sair de lá vivo sem sua ajuda.
— Não foi nada — digo olhando para baixo. O rosto dele é branco demais... e os olhos agora quase se fecham... penso em pedir um autografo para Fernando, mas não quero parecer que o ajudei pensando em ganhar qualquer coisa. Então me controlo.
— Sou muito grato, se quiser qualquer coisa... um pagamento em dinheiro.... — ele faz menção de pegar algo do bolso, me adianto, falando rápido e girando as mãos.
— Não, que isso cara, não precisa não — ele guarda a carteira.
— Mas se precisar de qualquer ajuda, mesmo que não for financeira, estarei em seu país até domingo de noite — dizendo isso ele olha para cima, a fachada do prédio, e abre um largo sorriso. — Estou hospedado aqui...
— Bye — digo me afastando dele. Uma multidão louca vem descendo a rua com o resto do grupo. Ele sorri para mim e corre para dentro do prédio. Corro ainda mais quando vejo a imprensa tirando fotos e filmando toda a movimentação.
No momento em que saio do quarteirão, vários carros da polícia aparecem para dar ajuda aos seguranças, para a infelicidade das fãs.
— Fernando tem que saber disso! — digo excitado. Adentrando no meu carro, o ligo e vou direto para a casa do pai dos gêmeos.
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