Um caipira entre bandidos

Outro dia estava
Sossegado lá em casa
Quando ligaram
Pro meu celular
Nem perguntei quem era
Nem nada
E falei que eu não ia
Pra nenhum lugar
Disseram então
Que eu mandasse brasa
Pois para a quadrilha
Eu agora ia entrar

Dei endereço
E a referência da rua
E vestido a lá Mazzaropi
Eu aguardei
Até um bigode fiz
Na minha cara nua
Num golinho de conhaque
Me esquentei
Já passavam
Vários minutos das duas
Quando no opala do grupo
Eu entrei

Estavam todos
Bem disfarçados
Mas não pareciam
Nada caipiras
Olharam-me
Com os olhos virados
Não houve quem deles
Que não rira
Na certa escolhia
Era o convidado
O traje que para o baile
Vestiria

Perguntei onde
Estavam as donzelas
Eles falaram
Que dentro do banco
Bom
Desde que fossem belas
Tomaria eu até
Chá de tamanco
Eu não esperava
Era mulher tais aquelas
Com blazers azuis
E bordados em branco

Esperava entrar
Num grande arraial
Enfeitado
Com fogueira no meio
Havia somente
Bandeirinhas num varal
Mas as bombas estouraram
Tal num tiroteio
O estampido para o alto
Foi o sinal
Que pra festa
Nenhum daqueles veio

Foi quando me deram
Uma grande sacola
Que percebi
Que estava na parada errada
Meu parceiro armado
Empunhando uma pistola
Chamava os bancários
A toda hora de cambada
E mesmo a gerente
Que era uma senhora
Não escapou de quase
Levar uma coronhada

Tudo aconteceu
Muito rapidamente
Ninguém se feriu
E voamos no mundo
Os meus “amigos”
Ficaram contentes
Da minha boca
Nem um sorriso mudo
Já pensavam
Em comprar seus presentes
Eu imaginava
Aonde ia dar aquilo tudo

No final dividiu-se
Igualmente todo dinheiro
Eu atuei
Meu bom papel até o fim
Fiz de conta que esse trabalho
Não era o primeiro
Enquanto via uma cova
No fundo do meu jardim
Não sei como
Não perceberam o cheiro
Do medo que exalava
Em enxurrada de mim

Chamando-me de caipira
Foram embora
Graças ao meu
Reconhecido talento
E apesar do sol forte
Que até o matuto cora
Eu tremia
Tal uma vara verde no vento
Creio que passou
Bem mais de uma hora
Para eu conseguir
Entrar lá pra casa adentro

Não houve nenhuma
Rosinha no bailão
Nem vinho quente
Pipoca ou cocada
Assim eu que esperava
Um quentão
Acabei por engano
Caindo numa roubada
Tive que desaparecer
Do quarteirão
Tive que por o pé
De vez na estrada

O fruto do roubo
Que ficou comigo
Mandei por correio
Ao banco de volta
Nem queria lembrar
Do momento vivido
Nem encostei um dedo
Numa só nota
Já bastava ter dançado
Como bandido
Num baile sem música
Feito idiota

Aprendi com isso tudo
Uma grande lição
Que eu carrego hoje
Para todo lugar
Não ir topando tudo
Só por diversão
Não espalhar o meu número
Do celular
A sorte
Nem sempre é uma opção
Geralmente quem sempre ganha
É o azar

O que aconteceu
Com o resto da quadrilha?
Eu não sei
E nem quero mais saber
Só espero que não sigam
A minha trilha
Pois esse bobo aqui
Teve que crescer
Por causa deles
Deixei pra trás a família
Esse caipira já não tem
Mais nada a perder...

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