25. Conversa difícil
"Você tem esse poder sobre mim, minha nossa! Tudo o que eu amo reside naqueles olhos... A única que eu conheço, a única em mente... Eu nunca esquecerei como você estava naquela noite, mas eu sei que o tempo vai me levar, eu sei que esse dia vai chegar. Eu só quero que o diabo me odeie... – Power Over Me, Dermot Kennedy"
– Eu já disse que não quero falar sobre esse assunto! – tomei um susto quando Jason alteou o seu tom de voz, esbarrando a sua mão com tanta força contra a sua tijela de macarrão que a arremessou para o outro lado do balcão.
No mesmo instante, saltei do seu colo com os olhos arregalados e os batimentos acelerados em meu peito. Eu não esperava uma atitude tão agressiva assim da sua parte. Só o que eu conseguia me perguntar era o que tinha dado nele? Será que havia enlouquecido, por acaso? Estremeci dos pés a cabeça ao ouvir o ranger do banco quando ele também se levantou, e involuntariamente dei dois passos para trás, o que o fez cerrar os olhos.
– O que foi isso? – me forcei a perguntar em tom audível.
– Desculpa, eu não quis... – ele olhou rápido por cima do balcão, voltando a me encarar preocupado – Só não pensei direito, eu não quis te assustar, Lizzie.
– Não, não chega perto de mim! – estendi os meus braços a frente do corpo, dando mais um passo para trás ao vê-lo fazer menção de se aproximar – Eu não quero saber o que deu em você, mas vai limpar essa bagunça sozinho.
– Tudo bem, eu me viro com isso. – concordou Jason, buscando estabelecer um contato visual comigo – Não precisa ficar assim, você pode sentar e terminar de comer a sua refeição.
– Ah, claro, como se nada demais tivesse acontecido. – ironizei, me obrigando a engolir o ardor que subia pela minha garganta, pois não queria demonstrar nenhuma fraqueza para ele agora – Quer saber? Acho melhor eu dormir na minha casa hoje.
– Você vai embora? – sua voz soou em tom baixo, e as malditas lágrimas alcançaram os meus olhos.
– É, eu vou sim! – cerrei os punhos, numa medida de conter o choro, e me virei seguindo apressada em direção a escadaria.
Precisava vestir as minhas roupas que estavam no banheiro do quarto, pois não dava simplesmente para sair pela rua usando apenas uma camisa do meu namorado idiota.
– Lizzie, espera! Não faz assim... – Jason vinha no meu encalço – Amor, não fica zangada. Essa merda não tem nada a ver com você, eu só não gosto de falar sobre esse assunto.
– Ótimo, não tem que falar mais nada comigo, porque eu já estou de saída. – subi os primeiros degraus, e ele rapidamente alcançou o meu braço, me puxando em sua direção.
– Por favor, não faz isso? – ele praticamente implorou arrependido – Eu não quero que vá embora.
– Claro, e qual a minha garantia que da próxima vez que você explodir, aquele soco que deu na tijela não vai ser bem no meio da minha cara? – cerrei os olhos, e duas lágrimas pesadas rolaram pelo meu rosto.
– Eu nunca machucaria você! – seu semblante carregava certa incredulidade.
– Era exatamente isso que o Luke me dizia, e você sabe muito bem o que aconteceu porque eu mesma te contei. – me soltei do seu toque num solavanco, secando as minhas lágrimas com as costas das mãos – Não quero isso de novo pra mim, e não vou tolerar que seja agressivo comigo, entendeu?
– Você tem razão, eu passei da conta e fui um babaca lá atrás, só que não foi a minha intenção te assustar. – sua mão esquerda pousou em meu quadril, enquanto a destra se dirigia ao meu rosto – Eu posso até ser o pior homem do mundo, mas nunca vou levantar um só dedo pra te machucar, e disso você pode ter certeza. Lizzie, eu prefiro morrer mil vezes, do que te ver sangrar só por um segundo que seja.
– Você não é o pior homem do mundo, mas eu ainda acho melhor ir embora. – tentei empurrá-lo, mas ele nem sequer se moveu.
– Não vai não, por favor? – seu olhar tristonho mergulhou no meu – Eu preciso de você, preciso que fique.
– Por que você quer tanto que eu fique, se nem consegue conversar direito comigo? – franzi a testa.
– Isso não é verdade! – Jason negou rápido com a cabeça – Você é a única pessoa para quem eu contaria tudo.
– Então fala comigo, se abre pra mim. – pedi em tom baixo – Me deixa entender você?
– O que... – ele fez uma curta pausa, como se tomasse uma dose de coragem para prosseguir – O que você quer saber?
– Você sabe exatamente o que eu quero saber... – cruzei os braços, e suas mãos se desprenderam de mim um tanto relutantes, em seguida o vi se escorar no corrimão – Me diz, por que insiste em se afundar numa vingança idiota mesmo depois de tanto tempo?
– Por que eu devo isso ao meu pai, ele morreu por minha culpa. – seus olhos soavam ainda mais melancólicos do que antes.
– O quê? – desci um degrau, na tentativa de me aproximar outra vez – Do que você está falando?
– Estou falando que foi eu que ferrei com tudo. – respondeu Jason – Há uns anos, me envolvi com um esquema de lutas clandestinas, e o Martin... Se não fosse isso, ele ainda estaria vivo agora.
"Ele era só um garoto quando se envolveu com torneios ilegais, isso pegou a todos de surpresa...", a voz da Marie ecoou em minhas lembranças, arrastando uma breve conversa que tivemos na cozinha da sua casa semanas atrás. Talvez por termos sido interrompidas tão abruptamente por um Jason muito furioso que saiu me arrastando pelo braço, eu quase me esqueci disso e não me atentei em confrontá-lo com o assunto naquela manhã. Em seguida, veio a enxurrada de problemas que acabou nos afastando, então não tivemos a chance, nem outra oportunidade para falarmos a respeito disso, a não ser agora.
– Foi uma decisão estúpida, mas na época me pareceu a mais viável já que eu não tinha muita grana sobrando na minha conta, e essas lutas pagavam bem mais do que as dos torneios oficiais. – continuou ele – Umas cinco vezes mais, eu acho.
– Jason, você...
– É, eu comecei a lutar na jaula, mesmo sabendo que era uma parada ilegal. – seu tom de voz carregava certo desprezo – Estava precisando do dinheiro pra fazer uma coisa.
– Que coisa era essa? – perguntei.
– Lembra da cabana para onde fomos há umas semanas? – arregalei os olhos ao ouvi-lo, como se as peças daquele quebra-cabeça finalmente se encaixassem – Eu só queria fazer um lance da ora pelo meu pai, mas ele não sabia de nada. O Martin não era o tipo de cara que aceitaria essa merda, se soubesse da onde vinha.
– Eu imagino que não. – comentei em tom baixo.
Mesmo sem ter conhecido o seu pai, pelo pouco que ouvi falarem dele, dava pra saber que era um homem íntegro, um bom homem.
– Essa parada deu certo por um tempo, até as lutas se tornarem sangrentas. – disse Jason – Me falaram que eu teria que matar pra vencer.
– Como assim matar pra vencer? – demorei alguns segundos para raciocinar – Você não fez isso, né?
– Não, eu não quis essa merda. – ele se apressou a negar – Mas os desgraçados disseram que eu devia grana pra eles, e que eu não podia sair sem pagar. Daí fizemos um acordo, eu só tinha que trabalhar para o Gobain por um tempo.
– O que exatamente teve que fazer? – perguntei um tanto receosa.
– Venda de drogas, Lizzie. – explicou – Eu fui enquadrado vendendo amerida no dia da final do campeonato estadual de boxe, mas o meu pai se meteu e limpou a minha barra. Foi aí que ele descobriu tudo.
"O Martin teve a pior reação que possa imaginar, os dois brigaram muito feio naquela noite...", a conversa com a Marie retornou ainda mais forte em minhas lembranças, e apertei os meus próprios braços ao sentir um calafrio desconfortável subir pela minha espinha. Esse era mesmo um assunto muito delicado para o Jason, eu podia ver o homem grande a minha frente se tornar mais frágil a cada palavra. Ele realmente se culpava pelo que tinha acontecido, pela morte do seu pai, e isso devia ser muito doloroso.
– A Marie me disse que vocês brigaram feio, mas nada do que aconteceu depois foi sua culpa. – descruzei os braços, descendo mais um degrau.
– Tudo o que aconteceu depois foi minha culpa. Você quer saber a verdade, não quer? Bom, essa é a verdade. – Jason não parecia disposto a ouvir outra opinião – O Martin não devia estar trabalhando aquela noite, ele só foi até aquele maldito lugar pra resolver o problema que eu causei. O tiro que o meu pai tomou, era pra ter sido na minha cabeça.
– Não fala assim... – me apressei em se aproximar – Eu não cheguei a conhecer o seu pai, mas sei que era um homem bom, que se preocupava com você, com toda a sua família. Não pode se culpar por uma coisa dessas.
– Como não? – ele cerrou os olhos – Eu matei o meu pai, Lizzie!
– Não, não foi você, Jay! – neguei rápido, pousando as minhas mãos em seu peitoral enquanto buscava estabelecer um contato visual – A única coisa que fez foi tomar uma decisão errada, mas não tinha como prever o que ia acontecer.
– Nada do que você diga, vai mudar o que eu penso sobre o que aconteceu. O sangue do meu pai está nas minhas mãos. – notei os seus olhos lacrimejarem, e ele rapidamente se pôs a secá-los – E sabe qual é a pior parte? Lembrar que mesmo decepcionado comigo, uma das últimas coisas que ele me disse foi que sentia orgulho de mim.
"Foi um tempo muito difícil. Ainda mais para o Jason... Ele tomou o assassinato do pai como sua responsabilidade, e se culpou amargamente por isso...", na época eu não entendi muito bem o que a Marie queria dizer com essas palavras, mas agora... Acho que esse devia ser um fardo muito pesado para alguém carregar sozinho, e vê-lo assim tão vulnerável me doía profundamente.
– Jay... – espalmei as minhas mãos pelo seu peitoral e pescoço, até alcançar o seu rosto, trazendo a sua atenção para mim – Não foi sua culpa, amor.
– Antes de sair, o Martin me olhou nos olhos e disse pra eu subir no ringue aquela noite, sem me preocupar com mais nada além de vencer a luta, porque ele estaria lá para me ver levantar o cinturão de pesos pesados do campeonato estadual. – Jason tocou em minha destra, quase como se não pudesse me ouvir – E eu levantei mesmo, mas ele não estava lá, o meu pai nunca mais voltou pra casa.
– Eu sinto muito... – senti o meu nariz arder com a chegada das lágrimas.
– Não preciso da sua pena, não é por isso que estou te contando. – o vi negar com a cabeça – Só quero que entenda que não dá pra deixar a morte do meu pai de lado, eu não consigo descansar sabendo que o desgraçado que puxou o gatilho ainda está vivo por aí.
– Está dizendo que vai passar a sua vida inteira caçando esse cara? – franzi a testa.
– Se for preciso, eu vou sim. – seu olhar ganhou um certo tom sombrio, que chegava a me incomodar.
– E o que vai fazer quando o encontrar? – perguntei, mesmo temendo ouvir a sua resposta.
– Eu vou matá-lo com as minhas próprias mãos dessa vez. – seu tom de voz era tão frio, quanto a lâmina afiada de uma espada, e eu não tive dúvidas de que estava falando sério.
– E depois? – apertei o seu rosto entre as minhas mãos, e o seu olhar finalmente suavizou ao encontrar o meu – Se realmente conseguir a sua vingança, como vai ser?
– Eu paro com essa merda, Lizzie. – suas mãos grandes pousaram em meus quadris, me puxando para mais perto – Te dou a minha palavra que, depois de assistir aquele filho da puta dar o último suspiro de vida, eu largo tudo isso.
– Pra sempre? – minha voz soou mais baixo do que eu pretendia, mas ele pareceu me ouvir.
– Pode apostar que sim. – confirmou Jason.
– Eu ainda não gosto nada de você metido com esse tipo de coisa, mas também não posso dizer que não entendo os seus motivos. – tentei me colocar no seu lugar naquele instante.
– Você não tem que se preocupar comigo, pequena, eu não quero que se preocupe. – sua destra alcançou o meu queixo entre o polegar e o indicador.
– Como se eu pudesse evitar... – rolei os olhos – Se vai ser assim mesmo, você precisa me prometer que vai tomar muito cuidado, porque eu não quero que se machuque ou que acabe na cadeia. Eu não aceito te perder de nenhuma forma, entendeu?
– Não vai acontecer nada comigo, prometo que vou ser ainda mais cuidadoso agora, tudo bem? – seu rosto se aproximava vagarosamente do meu.
– É bom mesmo. – deslizei as minhas mãos até os seus ombros, os quais apertei sutilmente antes de entrelaçar os meus braços em volta do seu pescoço.
Dessa vez, Jason não disse mais nada, ele apenas sorriu leve acariciando uma das minhas bochechas com os nós dos dedos. Senti os pelos da nuca eriçarem com força quando seus olhos recaíram aos meus lábios, estávamos tão próximos agora que as nossas respirações se misturavam entre si, quase como se fossem uma só. No segundo que ele tornou a me encarar, os batimentos em meu peito dispararam acelerados outra vez, e tudo o que eu consegui fazer foi dar um curto aceno de cabeça permitindo que prosseguisse.
A verdade é que eu também queria muito beijá-lo agora, acho que nós dois precisávamos um do outro ainda mais do que o comum. Então, a sua destra deslizou para a minha nuca, enquanto o seu corpo se reclinava um pouco mais em minha direção. Fechei meus olhos, e não demorou até que os seus lábios macios tocassem gentilmente os meus, dando início a um beijo intenso e carinhoso.
Meus dedos passeavam entre os fios ainda úmidos dos seus cabelos, desenhando espirais imaginários por ali, à medida que as nossas línguas se tocavam numa dança suave e envolvente. Eu adorava o sabor refrescante de hortelã em sua boca, e sentia que poderia passar horas assim, apenas trocando carinhos com o Jason. No entanto, rompemos aquele contato com alguns selinhos e, após depositar um beijo carinhoso em minha testa, ele voltou a mergulhar os seus olhos nos meus.
– Desculpa mesmo, tá? – sua destra tornou a acariciar minha bochecha – Por aquilo na cozinha, eu passei da conta.
– É, você passou mesmo, e eu não gostei nada. – deslizei as minhas mãos até o seu peitoral – Desculpa ter comparado você com o Luke, mas é que me fez lembrar do tempo que eu namorava com ele, e das atitudes agressivas que tinha comigo.
– Você não tem que se desculpar por nada. – o vi negar com a cabeça – O erro foi meu, e sou eu quem te devo desculpas, Lizzie. Sinto muito mesmo, não foi a minha intenção te assustar assim.
– Sei disso, mas não repita o que fez hoje, porque eu não vou tolerar que mais ninguém aja assim comigo. – fui o mais sincera que pude.
– Você tem toda razão, pequena. – concordou Jason – Ninguém tem o direito de te tratar dessa forma, e eu prometo que vou tentar me controlar mais daqui em diante.
– Está bem. – assenti.
– O que acha da gente passar uma borracha nisso, e voltar para a cozinha para jantarmos? – suas sobrancelhas arquearam – É que eu ainda estou cheio de fome...
– E de quem é a culpa? – franzi a testa, dando um leve sorriso – Vem, eu vou preparar outra tigela de macarrão pra você, mas se quiser comer vai ter que limpar a sua bagunça antes.
– Você que manda... – sua mão esquerda apertou sutilmente a minha cintura...
JORDAN
Meu dia hoje não foi lá dos melhores, e não falo sobre ser padrinho de casamento do Noah e da Emily, pois fiquei muito feliz pelo convite. O problema era a Lizzie. Convenhamos que já não é nada fácil ficar ao lado da garota que você ama, enquanto ela carrega um anel de compromisso com o seu irmão, mas, acima disso, acho que a pior parte era ver toda aquela felicidade estampada no seu rosto. Não que eu detestasse o fato dela estar feliz, realmente não era isso. Acontece que antes, eu costumava ser o motivo dos seus sorrisos radiantes e agora... Não sei se conseguia lidar com o fato de não ser mais.
Era difícil assistir a Lizzie com outro cara, ainda mais sendo o otário do Jason, e não sei como me controlei ao vê-la subir naquela moto para ir embora com ele. Chegava a ser torturante, quase como um castigo terrível pensado a dedo pra mim, mas talvez eu merecesse por todas as merdas que fiz, não é? Se ela ao menos soubesse o quanto eu me arrependia... Mas agora já era, não dava para voltar no tempo e desfazer tudo, por mais que eu quisesse isso. Estava puto comigo mesmo, afinal se havia um culpado por perder a minha garota assim para outro, esse culpado era eu.
Já estava dirigindo para casa, quando recebi uma mensagem do Matthew perguntando se eu poderia fazer um turno extra no cinema essa noite, e nem precisei pensar antes de confirmar. Bom, era isso ou ficar sozinho em casa me amargurando ainda mais com toda essa merda, já que até a minha mãe estava viajando com o namorado dela. Entretanto, receio que dessa vez não consegui me concentrar tão bem no meu trabalho. Acontece que era ainda pior agora que eu sabia sobre o pedido de namoro. Não dava para encarar aquilo numa boa, e acabei atrasando um pouco com os atendimentos no balcão.
Nem preciso dizer que a Eleonora ficou puta da vida comigo, e o Matthew até precisou trocar a minha função, mas confesso que foi menos tenso quando fiquei na bilheteria. Em certo momento, me desculpei com os dois, pois ninguém tinha culpa dos meus problemas pessoais, ou sequer do fato da minha cabeça estar tão ferrada hoje. No fim das contas, o turno acabou passando mais rápido do que eu esperava e, ao fecharmos a contabilidade do caixa, o Matthew deu o expediente por encerrado.
– Vocês aceitam uma carona? – perguntei, após vestir a minha jaqueta.
– A minha carona acabou de chegar, mas eu agradeço, Davis. – Matthew apontou para a porta, e logo vi um carro estacionar do outro lado da rua – Você vem, El?
– Não, o meu carro saiu do conserto hoje, mas valeu. – ela fez um curto aceno de cabeça, enquanto balançava delicadamente a bebê que dormia em seus braços.
– Certo. Só não esqueçam de fechar as portas, e boa noite. – Matthew se despediu com um aceno.
– Boa noite. – Eleonora e eu respondemos juntos, sua animação não era das melhores.
Mas ela sempre estava de mau humor, não é mesmo? Bom, pelo menos sempre que eu estava por perto. Matthew saiu apressado, e a ouvi bufar o ar pelo nariz, se virando em direção ao balcão outra vez, o que me fez franzir a testa, já estava devidamente pronta para sair, então por que voltaria?
– O que aconteceu? – perguntei confuso, e ela rapidamente me encarou.
– Nada. Pode ir. Só esqueci de trancar as portas nos fundos. – a vi colocar em cima do balcão o bercinho portátil, junto com a bolsa maternidade que segurava, e neguei com a cabeça.
– Tudo bem, vai na frente, eu fecho pra você. – me apressei em sua direção, logo dando a volta no balcão – Assim ficamos quites pela minha mancada de hoje, certo?
– Vai sonhando... Mas valeu. – ela deu um curto sorriso, acho que o primeiro que se direcionava a mim hoje.
Aquilo me soou estranhamente agradável, talvez pelo fato da Eleonora ter sido ranzinza a noite inteira, ou pelo simples motivo de ter aceitado minha ajuda sem contestar, mas decidi não falar nada. Apenas assenti, e passei pela porta, seguindo para os fundos. Um barulho de mensagem me fez reduzir o passo, retirando o celular do meu bolso para checar. Era só a dona Susana preocupada em saber se eu já estava em casa, pois mesmo viajando com o seu namorado, gostava de checar como as coisas estavam indo comigo.
Ri fraco ao ler sua mensagem, e respondi rápido a fim de tranquilizar a minha mãe, afinal não era a minha intenção estragar a sua noite romântica. Depois, tornei a guardar o aparelho no bolso da minha calça, e segui trancando todas as portas. Na volta, aproveitei para apagar as luzes pelo caminho, até finalmente alcançar a saída outra vez. Entretanto, antes que eu pudesse me dirigir para o meu carro, algo me chamou a atenção mais ao longe no estacionamento. Os faróis de um veículo parado estavam acesos, e a luz era tão intensa que precisei cobrir o meu rosto com o antebraço.
Não dava para ver direito o que acontecia, nem ouvir alguma coisa tão afastado. Mesmo assim, decidi conferir do que se tratava e, com cuidado me aproximei do carro. Foi só então que consegui avistar os três indivíduos de ontem a noite, encurralarem a Eleonora contra o seu próprio veículo. Franzi a testa ao vê-la empurrar o tal do Joseph, que devolveu o ato lhe empurrando ainda mais forte. Nesse instante, senti o sangue esquentar nas veias, e cerrei os punhos, apressando o passo, de jeito nenhum ficaria parado assistindo uma garota ser agredida.
– HEY, SEUS FILHOS DA PUTA... – gritei furioso, e todos olharam em minha direção – O QUE PORRA ACHAM QUE ESTÃO FAZENDO? EU JÁ NÃO DISSE PARA SE MANDAREM DA MINHA CIDADE?
– E eu já disse que esse assunto não tem nada a ver contigo, McClain. – Joseph negou com a cabeça – Só quero pegar a minha filha de volta, e essa vadia não está deixando.
– A Abby não é sua filha, e você não vai levá-la! – rosnou Eleonora, muito irritada.
– E como você pretende criar a garota agora que a casa, onde vocês estavam morando, pegou fogo? – ele a encarou com as sobrancelhas arqueadas.
– A sua casa pegou fogo? – franzi a testa, passando minha atenção para ela.
– Foi só um problema na fiação, mas eu vou dar um jeito. – Eleonora soou nervosa dessa vez.
– Claro, você vai dar um jeito... – Joseph riu em deboche – Vai acabar matando essa criança e se matando junto, sua irresponsável de merda!
– Não fala assim com ela! – rangi os dentes.
– Ah, vai pra puta que pariu! – ele finalmente se virou em minha direção – Eu já disse para não se meter, caralho!
– Vai com calma, mano. – um dos seus comparsas tentou segurá-lo pelo ombro.
– Calma? – Joseph cerrou os olhos – Nós somos três, e ele é só um.
– É, mas ele é o McClain. – seu outro amigo me olhava assustado.
– E daí? Quero ver se esse desgraçado não sangra como qualquer um... – antes que mais alguma coisa fosse dita, Joseph sacou uma arma do cós da calça, a qual apontou bem no meio da minha cara.
– Não faz isso, por favor? – implorou Eleonora, com os olhos arregalados em desespero – Ele não tem nada a ver com a nossa discussão.
– É o que eu estou tentando dizer aqui. – berrou Joseph, sacudindo a arma apontada para mim.
– Então abaixa essa arma! Não seja idiota. – Eleonora se meteu no meio, chamando a atenção para si mais uma vez – Vamos conversar em outro lugar, tá legal?
Houve silêncio por alguns segundos, enquanto aquele infeliz parecia pensar a respeito, até que assentiu com a cabeça. Em seguida, vimos ele abaixar a arma bem devagar, o que fez a garota postada a minha frente soltar a respiração um pouco mais aliviada. No entanto, eu tinha plena consciência de que o Jason de verdade não se sentiria nada assim, o idiota do meu irmão não deixaria aqueles caras saírem numa boa.
– Espera aí, eu entendi direito? – franzi o cenho, puxando Eleonora para trás pelo braço – Você desobedece uma ordem minha, volta na minha cidade sem a minha permissão, aponta a porra de uma arma na minha cara, e acha que pode sair tranquilamente?
– Hey, o que está fazendo? Não piora as coisas! – ela tentou me segurar, mas eu logo me soltei num solavanco.
– Você não vai para lugar nenhum com esse filho da puta, Eleonora! – fui direto ao ponto.
– Cara, não se mete, que o problema não é com você. – repetiu Joseph, como se pudesse me intimidar – Eu só vou sair daqui com a minha filha, e essa vadia vai ter que me entregar.
– Escute bem, porque eu só vou falar uma vez... – rangi os dentes, tornando a encará-lo – Se ousar tocar em uma delas de novo, eu acabo com a sua raça.
– O que você quer dizer com isso, McClain? – perguntou Joseph, meio confuso – Está me ameaçando, por acaso?
– Já que ainda não entendeu o recado, eu acho que vou ter que te mostrar. – sorri macabro, antes de acertar uma cabeçada bem no meio da cara daquele arrombado de merda.
– Filho da puta! – berrou Joseph, enfurecido e, assim que notei ele fazer menção de erguer a sua arma outra vez, me adiantei a tomá-la num movimento rápido.
– Porra, agora fodeu! – um dos seus comparsas se exaltou ao me ver apontar a arma em sua direção.
– Eu disse pra vocês se mandarem daqui. – repeti, em tom firme – Agora podem escolher fazer isso por bem ou por mal.
– Vamos embora de uma vez, Joseph! – disse seu outro amigo, e não custou a dar alguns passos para trás – Nós não queremos arrumar confusão com esse cara.
– É isso aí, o mano tem razão. – o mais amedrontado também recuava – Estamos fora disso.
– Vão embora daqui, seus putos, eu cuido disso sozinho! – antes mesmo que Joseph terminasse de falar, seus dois comparsas saíram correndo, lhe deixando para trás.
Não os julgava, o verdadeiro "McClain" não os pouparia se cruzassem o seu caminho. As pessoas temiam o meu irmão por um motivo bem simples, ele era um filho da mãe cruel, tanto física, quanto psicologicamente. O Jason não era um cara bonzinho que ficou mau por acidente, eu pensei assim por muito tempo, mas estava errado. Tive certeza, após presenciar aquela cena de tortura em sua boate. O jeito frio que aquele desgraçado tratou a situação, metendo até mesmo a Lizzie dentro daquela sala... Aquilo só provava que ele tinha se tornado um monstro doentio.
Mesmo assim, confesso que assistir dois marmanjos correrem assustados me arrancou um sorriso de escárnio, antes de soltar o pente da arma no chão, a qual arremessei para bem longe logo em seguida. Ao ver isso, Joseph pareceu ganhar mais confiança, largando então o seu nariz ensanguentado para tentar me atacar, o que foi completamente em vão já que facilmente consegui desviar do seu soco. Enfurecido, ele gritava alguns xingamentos, enquanto continuava insistindo em me alcançar, mas os seus movimentos me pareciam tão lentos e previsíveis que nem era difícil escapar.
"O segredo é encontrar uma brecha nos movimentos do seu oponente... Nunca avance primeiro, mas preste atenção no ritmo, é importante saber quando atacar...", a voz do meu pai soava em minha cabeça, me arrastando lembranças de quando ele me obrigava a treinar com o Jason. Eu odiava aqueles treinos idiotas, porque era o único esporte onde eu nunca conseguia vencer o meu irmão, mas não posso dizer que não serviu para nada. Tudo o que eu sabia sobre auto defesa, aprendi no ringue com os dois, e até que veio a calhar em algumas situações.
Apenas me esquivava dos golpes do Joseph, até finalmente encontrar uma brecha entre seus ataques, e puxá-lo pela gola da camisa acertando uma joelhada com toda a força em seu estômago. O filho da puta foi ao chão de joelhos e, sem perder tempo, desferi um soco bem em cheio no meio da sua cara. Entretanto, não parei por aí, eu não conseguia parar. Rangi os dentes, sentindo o sangue quente correr pelas veias, á medida que o ódio crescente em meu peito parecia controlar cada movimento do meu punho.
Joseph tentou me empurrar, o que me fez lembrar da cena dele agredindo a Eleonora instantes atrás, e isso me deu ainda mais gás para acertar uma joelhada em sua cara. Afinal, nenhum babaca tinha o direito de tratar uma garota assim, então não consegui me controlar. Em seguida desferi mais dois socos naquele desgraçado de merda, que tombou quase desmaiado ao chão, e foi quando chutei o seu estômago com toda a força que tinha. Parei apenas com o barulho de um choro agudo vindo do carro.
Contudo, ao olhar naquela direção, percebi que a Eleonora me encarava petrificada, como se estivesse em choque com aquela cena, e não era pra menos. O Joseph chegou até a cuspir sangue, grunhindo de dor enquanto tentava se defender dos meus golpes. Receio que por alguns minutos, foi como se eu me tornasse o verdadeiro McClain impiedoso e assustador que as pessoas tanto temiam. Respirei fundo, recuando um passo para trás, ao mesmo tempo que empurrava os meus cabelos com a mão esquerda, numa tentativa de me acalmar.
– Você está bem? – perguntei preocupado, seguindo até a garota horrorizada – Não está machucada, certo?
– Não, eu só... – ela tentou olhar na direção onde Joseph estava caído, mas eu não permiti, e seus olhos marejados vieram de encontro aos meus outra vez.
– Vem, vou te levar para casa. – falei, ao perceber só então que os pneus do seu carro estavam furados.
Eleonora apenas assentiu, me dando espaço para tirar a pequena garotinha que estava aos berros dentro do automóvel. Olhei para os lados, me certificando de que os outros caras tinham mesmo ido embora, afinal eu não era o Jason, e eles podiam ter se dado conta disso, mas aparentemente não foi esse o caso. Sendo assim, também alcancei a bolsa maternidade no banco de trás, e tranquei as portas antes de seguirmos em passos rápidos para o meu carro. Deixei ambas devidamente instaladas no banco do passageiro, mas antes que eu pudesse dar a volta, vi o Joseph se levantar com dificuldade.
Seu olhar veio em minha direção, e cerrei os punhos, a fim de terminar o que comecei, caso aquele desgraçado insistisse em apanhar ainda mais. No entanto, bastou que eu desse um único passo à frente, e ele se virou apressado, mancando para longe como podia, até sumir pela rua. Parece que o porco maldito finalmente havia entendido o recado, e eu esperava que não voltasse mais a incomodar a Eleonora ou a filha dela, ou não sei o que faria da próxima vez. Após entrar em meu carro, conferi rápido se as duas estavam bem, e dei partida, colocando o cinto de segurança.
– Ela dormiu de novo? – interrompi o silêncio, após alguns minutos dirigindo sem rumo certo.
– Sim, a Abby geralmente é bem calminha. – respondeu Eleonora, enquanto a sua filha chupava o seu dedo mindinho – Olha, eu quero agradecer pelo que fez lá atrás...
– Fica tranquila, não tem que me agradecer nada. – olhei breve em sua direção – Mas acho que devia ter contado sobre o incêndio na sua casa...
– Claro, pra você e o Matthew ficarem com peninha de mim? – suas sobrancelhas arquearam.
– Não é isso, só... – fiz uma curta pausa, a fim de escolher bem as minhas palavras – Por acaso, você já tem um lugar para dormir hoje?
– Hello, existem motéis bem em conta para se passar a noite. – disse ela, como se aquilo fosse óbvio.
– E você pretende morar com a Abby num desses por quanto tempo? – indaguei curioso.
– Só até eu dar um jeito nas coisas de novo. – Eleonora pareceu se retrair um pouco, como se não tivesse plena certeza do que me falava agora.
– Mas para isso você vai precisar poupar grana, não é? – perguntei, e ela ficou em silêncio – Não pode se virar sozinha numa situação dessas.
– E qual o seu conselho brilhante dessa vez, Davis? – ironizou, numa forma de se defender – Vai dizer de novo que eu tenho que pedir esmolas para o pai da Abby?
– Não é isso, fica calma aí. – neguei de imediato – Olha, eu não sei, mas não me parece certo te deixar sozinha com uma criança no colo, sem ter ao menos um lugar fixo para onde ir.
– Onde você quer chegar com esse papo? O que quer me dizer? – questionou a moça enfurecida.
– Bom, eu pensei... – lhe encarei outra vez, reduzindo a velocidade – Acontece que vocês podem passar um tempo lá em casa, tem bastante espaço para as duas.
– Eu, morando na sua casa? – Eleonora riu ironicamente – Nem pensar!
– Por que não? Seria mais seguro para a Abby, não acha? – voltei a prestar atenção no trânsito – Quer dizer, aquele babaca do Joseph pode querer voltar...
– Não, eu não posso fazer isso. – ela negou mais uma vez – Não acho certo.
– Como assim? – franzi o cenho.
– Quer dizer, eu não me dou muito bem com o seu irmão, e também tem a sua mãe... O que ela vai achar disso? – seus receios eram completamente válidos.
– Olha, o Jason mal vai em casa, e a minha mãe está viajando. – expliquei melhor – Quando ela voltar, eu me resolvo, relaxa.
– Eu não sei... – Eleonora parecia começar a pensar a respeito – Tem certeza que eu não vou causar problemas?
– Não esquenta com isso, só tem que se preocupar com a segurança da sua filha agora. – tentei apelar para o seu lado materno.
– Ainda não me parece certo. – a vi sacudir a cabeça para os lados.
– Só diz logo que aceita? – insisti – Vai ser melhor pra a Abby, pra vocês duas... E também é só por um tempo.
– Tá legal, eu aceito, Davis. – ela finalmente deu o braço a torcer – Aceito apenas pela Abby, ela precisa de um lugar seguro. Mas te garanto que vai ser só até eu resolver as coisas.
Assenti em resposta, e o silêncio se estabeleceu mais uma vez no veículo, em vista de que estávamos todos cansados a essa altura, o que não era para menos. A cena que se passou naquele estacionamento foi tensa e até perturbadora em certo ponto, mas por sorte consegui controlar bem a situação, já que nenhum de nós ali no carro havia se machucado. Não posso dizer o mesmo do Joseph, o infeliz apanhou mais do que um saco de pancadas, e agora é que devia mesmo estar com o rabo entre as pernas pensando que eu era o Jason.
Longe de mim se orgulhar disso, ser comparado com o imbecil do meu irmão ainda era um saco, porém confesso que hoje veio a calhar. Pelo menos isso, não é? Em silêncio, pensava comigo mesmo como uma garota feito a Eleonora foi dar o azar de conhecer dois filhos da mãe assim? Quer dizer, três desgraçados de merda, contando com o pai da Abby que também não devia ser nenhum santo, dado a forma que ela reagiu quando tocamos no assunto ontem. Bom, mas isso não era lá da minha conta, e meneei a cabeça a fim de espantar para longe esses pensamentos.
Troquei a marcha ao alcançarmos a via expressa para finalmente seguirmos pra casa, pois já não aguentava mais dar voltas pelo quarteirão sem saber ao certo para onde ir. Nesse meio tempo, ouvi um leve grunhido da Abby e, assim que olhei para o lado, ouvi Eleonora cantarolar uma música de ninar enquanto balançava devagar o bercinho em seu colo. Aquilo pareceu acalmar a pequena garotinha. Por sorte, não pegamos muito trânsito pelo caminho, então em menos de quinze minutos já estacionávamos dentro da garagem. Desci apressado do carro, mas antes que eu desse a volta, a porta do carona foi aberta.
– Eu te ajudo com isso... – me ofereci para segurar o berço portátil.
– Não precisa se incomodar. – Eleonora sorriu amarelo, após se livrar do cinto de segurança.
– Deixa de coisa, sei que está cansada. – insisti – Anda, vem logo, me dá isso aqui?
– Está bem, obrigada. – ela finalmente me passou o berço com a pequena Abby que dormia tranquila.
Em seguida, estendi a minha mão livre para que Eleonora também saísse do carro, e fingi não perceber suas bochechas enrubescerem quando aceitou a minha ajuda. Imagino que estivesse bastante envergonhada por tudo o que aconteceu, mas ao mesmo tempo nada daquilo era sua culpa. Então, me detive em abrir a porta de trás para pegar a bolsa maternidade no banco e, só depois disso, nos encaminhamos para dentro de casa.
– Tem certeza que eu posso ficar? – sua pergunta chamou a minha atenção – Quer dizer, eu não quero te arranjar problemas.
– Desencana com isso, está tudo bem. – garanti – Você quer subir direto para o seu quarto, ou prefere comer alguma coisa antes?
– Você que sabe. – a vi dar de ombros.
– Tá legal, então vamos deixar a Abby bem aqui, e eu vou ver o que tem na cozinha, pode ser? – me virei, após deixar o berço portátil sobre a mesinha de centro na sala.
– Tá bom, vai lá, eu fico de olho nela. – respondeu Eleonora.
Também deixei a bolsa maternidade sobre o sofá, para o caso dela precisar pegar algo ali dentro, afinal a Abby podia acabar acordando de novo, eu não sei. Foi o que me passou pela cabeça, enquanto me dirigia para a cozinha. Confesso que não estava lá com saco para fazer comida, e estava torcendo para encontrar alguma coisa pronta na geladeira, mas esse não foi o caso. Bufei o ar pelo nariz, batendo a porta com certa força.
Então segui até a despensa, onde achei um saco com alguns pães, também tinha presunto, pasta de amendoim e uma geleia de morango. Bom, com aquilo já dava para fazer um lanche rápido, então peguei um prato e comecei preparar o nosso "jantar", que não demorou mais do que cinco minutos para ficar pronto. Também apanhei um suco de laranja na geladeira e, ao voltar para a sala, avistei Eleonora sentada no sofá de frente para o bercinho da Abby.
– Voltei! Para o jantar, nós temos pão com pasta de amendoim, presunto e geleia de morango. – anunciei em tom divertido – Você não tem nenhuma alergia, né?
– Uau! É isso que você janta antes de ir pra cama? – debochou Eleonora, passando a sua atenção para mim.
– Quando a minha mãe não está em casa, eu improviso. – dei de ombros, colocando o prato com os pães a sua frente, antes de me sentar ao seu lado.
– Claro, a mamãe ainda prepara a comidinha do bebê Davis. – seguiu ela, numa zoação descontraída.
– Não reclama antes de provar, isso aqui é de lamber os beiços. – me apressei a abrir a garrafa com suco de laranja.
– Os meus, ou os seus? – sua pergunta me soou confusa.
– O quê? – voltei a encará-la de cenho franzido.
– Nada, eu só estou tirando uma com a sua cara. – explicou Eleonora, numa leve risada contida – Agora vamos ver se esse lanche aqui é tudo isso mesmo... – a vi alcançar um dos pães, no qual logo deu uma mordida – Hummm!
– E aí, o que achou? – arqueei as sobrancelhas, servindo o suco nos copos.
– Você tem razão, parece nojento, mas é muito bom. – disse ela, ao terminar de engolir.
– Viu só? O chefe Davis sabe o que está fazendo. – lhe passei o copo com suco de laranja.
– Tá bom... – a vi rolar os olhos, ainda risonha.
– Espera aí, você sujou bem aqui. – apontei para a minha bochecha, quando percebi um pouco de pasta de amendoim na sua.
– Aonde? – Eleonora rapidamente tentou limpar com a manga da jaqueta, mas passou longe.
– Aqui assim, mais no canto... – gesticulei outra vez – Quer saber, deixa que eu limpo pra você.
Sem mais demoras, me inclinei em sua direção e, já que não havia lembrado de trazer guardanapos, limpei onde estava sujo com o meu polegar mesmo. No entanto, antes que eu pudesse me afastar novamente, nossos olhares se cruzaram e percebi as suas bochechas enrubescerem. Talvez por nós dois ficarmos tão perto assim de repente, ou pelo toque inesperado em sua pele macia, não sei ao certo. Provavelmente as duas alternativas juntas, já que nunca trocávamos mais do que algumas farpas no trabalho.
Segurei firme o seu rosto, acariciando sutilmente sua bochecha, à medida que meu olhar recaía aos seus lábios volumosos, me dando conta do quanto eram provocantes. Sem que ambos percebêssemos, nossos rostos se atraíam devagar, até que Eleonora tentou me beijar, e me levantei do sofá num sobressalto. Não sei o que me deu, mas eu não queria que ela tivesse nenhuma interpretação errada sobre a ajuda que lhe ofereci, pois com o seu temperamento difícil era bem provável que ela pegaria a Abby e iria embora.
– Pronto, já limpei. – forcei um sorriso, e a vi assentir sem graça – Você não prefere terminar de comer no seu quarto? É que já está ficando meio tarde, e suponho que também esteja cansada.
– É, você tem razão. – ela passou uma mecha de cabelo para trás da orelha –Eu estou bem cansada mesmo.
– Imagino que sim. – acenei com a cabeça – Então, vamos subir logo, você precisa descansar. Aposto que a Abby também.
Tentei manter um tom amigável, enquanto juntávamos tudo, afinal não havia acontecido nada demais, certo? Foi só um engano...
[...]
🦋. Eita, parece que rolou um climinha aí nesse final 👀 Se você gostou do capítulo e já quer muito ler o próximo, não deixe de votar na ⭐️ Um beijo 😘
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