23° Revelação


O ambiente estava tranquilo, uma sala de consulta bem iluminada, com paredes de tom suave e o cheiro leve de antisséptico no ar. Alessandro se sentou na cadeira com uma expressão de alívio, os olhos focados no braço imobilizado que por semanas havia sido uma constante em sua rotina. A tala estava agora prestes a ser removida, e ele sentia uma mistura de ansiedade e expectativa.

O médico, com um semblante sério mas acolhedor, se aproximou com as ferramentas necessárias, suas mãos hábeis movendo-se com precisão. Alessandro respirou fundo enquanto o profissional começava a cortar cuidadosamente o material rígido que o havia mantido imóvel por tanto tempo. O som do estilete deslizando na tala parecia amplificado, mas a sensação da leve pressão sobre sua pele trazia um conforto sutil.

Quando finalmente a tala foi removida, Alessandro esticou o braço lentamente, observando a pele pálida e um tanto ressecada. O movimento, embora um tanto rígido, foi recompensador. Ele massageou suavemente a região, aliviado por finalmente poder mover o braço de forma mais livre.

O médico, notando a pequena hesitação de Alessandro ao tentar flexionar os dedos, começou a orientá-lo com paciência. 

— Agora é hora de ir devagar, não se apresse. Vamos trabalhar na mobilidade gradualmente, com exercícios leves para não forçar os músculos e as articulações.— O tom calmo e a experiência do médico transmitiam confiança, e Alessandro sentiu-se mais seguro, mesmo sabendo que a recuperação ainda exigiria tempo e paciência.—

Ele agradeceu com um sorriso discreto, a sensação de poder novamente usar o braço de forma mais natural um pequeno passo de volta à sua vida cotidiana.

— Obrigado Cristiano.

—Não me agradeça por isso Alessandro... Somos amigos, e colega de trabalho... Mas, é serio, você precisa se cuidar... Vai precisar fazer fisioterapia...

Alessandro assentiu com a cabeça, absorvendo as palavras do médico. Ele sabia que a recuperação seria um processo longo, mas as palavras de Cristiano ressoavam em sua mente, uma mistura de amizade e profissionalismo que o fazia sentir-se amparado. O vínculo deles não era apenas o de um médico e paciente, mas de pessoas que já haviam compartilhado muitas experiências no trabalho e na vida pessoal.

— Eu sei, Cristiano. Vou seguir as recomendações. Só... estava ansioso para poder voltar a usar o braço normalmente. — Alessandro respondeu, a voz ainda carregada de uma leve frustração, mas também de gratidão.

Cristiano sorriu, olhando-o com empatia, seus olhos refletindo a compreensão de quem já vira o mesmo processo de recuperação muitas vezes. Ele sabia o quanto o corpo e a mente precisavam de paciência para aceitar os limites impostos pela lesão.

— Vai ficar bem, Alessandro. Mas, lembra-se: essa parte de recuperação não é para apressar. A fisioterapia vai ser essencial para recuperar não apenas a força, mas também a flexibilidade. Não tente fazer tudo de uma vez só, e vá com calma. Vai ser difícil no começo, eu sei, mas isso vai te ajudar mais do que você imagina.

Alessandro inclinou a cabeça, captando cada palavra. Embora quisesse retomar sua rotina com urgência, ele entendia que a verdadeira cura estava em seguir o processo com atenção.

— Eu vou seguir seu conselho. Não quero complicar mais a situação, e a fisioterapia parece ser realmente fundamental para eu voltar ao normal. Você tem razão, preciso ser paciente... Até mesmo por que quero voltar logo para o meu trabalho... Sinto falta do hospital...

Cristiano então levantou-se, começando a pegar seus itens para se preparar para a próxima consulta. Ele olhou para Alessandro uma última vez, seu olhar sincero e acolhedor.

—Não se cobre tanto. Vamos por partes. E lembre-se de que estou por aqui se precisar de alguma coisa. Somos amigos, não é? — disse, com um sorriso amigável.—

Alessandro se levantou, sentindo-se mais leve, não apenas pelo alívio de finalmente remover a tala, mas também pelo apoio de um amigo que também era um grande profissional. Ele deu um aceno de cabeça, já começando a se acostumar com a ideia de ter que seguir um novo ritmo.

— Pode deixar, Cristiano. Eu agradeço. — disse, com um sorriso mais genuíno, sentindo um peso a menos nos ombros.

Ele se despediu e saiu da sala, seu coração batendo um pouco mais tranquilo, sabendo que, apesar de todo o tempo que ainda viria pela frente, ele tinha o apoio necessário para seguir em frente. A recuperação seria gradual, mas com o apoio certo, ele acreditava que logo voltaria à sua rotina, mais forte e preparado para o que viesse.

Assim que estava saindo do consultório encontrou Alice conversando com Beatrice, uma das médicas residentes... Ele se aproximou de forma calma e tranquila e depositou uma mão no ombro da loira.

— Bom dia Dr. Alessandro! — Beatrice falou de forma calorosa.— Como se sente?

— Bem melhor... Eu não aguentava mais aquela tala... 

— É bom saber que o senhor está se recuperando. — falou de forma sorridente antes de se despedir de Alice com um amplo sorriso.—

— E então... Você está pronta? 

— Sim! a consulta está marcada para as dez hora. — falou consultando o relógio.— 

— Estou anciloso para saber o sexo do nosso bebe, mas ao mesmo tempo estou com medo. — falou pegando á mão dela enquanto caminhavam pelo corredor do hospital sem nenhuma cerimonia.—

— Por que?

— Acho que se eu tiver uma menina, e puxar a sua beleza... Eu vou ter cabelos brancos antes do tempo.

Alice riu, um som suave e genuíno que fez Alessandro sorrir também, aliviado por ver que ela estava tão tranquila. Ela sabia que, por trás da piada, ele estava expressando um certo nervosismo, algo que ele não costumava mostrar facilmente. A expectativa em torno do sexo do bebê, uma mistura de alegria e ansiedade, estava estampada em seu rosto.

— Ah, Alessandro, você está tão preocupado com isso... — Alice brincou, ainda rindo. — Você sabe que, seja menino ou menina, o mais importante é que nosso filho seja saudável, certo?

Ele apertou a mão dela levemente, e seu sorriso se alargou, mas havia um toque de preocupação nos olhos. Ele realmente queria ser o melhor pai que poderia ser, e essa incerteza sobre o futuro de sua filha ou filho parecia carregar uma responsabilidade enorme.

— Sim, claro. Eu sei. Mas é que... Uma menina, Alice... Eu já posso imaginar ela com todos os meninos correndo atrás dela... E eu, lá, com aquele olhar de pai protetor, querendo assustar todo mundo. — Ele fez um gesto teatral, colocando as mãos sobre os quadris, imitando um pai severo, o que fez Alice rir ainda mais.

Eles chegaram ao elevador, e Alessandro apertou o botão para o andar onde a consulta estava marcada. A luz do elevador piscou enquanto a cabine descia lentamente. Alice olhou para ele com um sorriso suave, tocando o ombro dele com carinho.

— Vai ser lindo, Alessandro. Seja o que for, esse bebê vai ter os dois como pais, e isso já é um presente incrível. Não precisa ter medo.

Alessandro suspirou, sentindo-se mais calmo com as palavras de Alice. Ele sabia que, apesar de suas preocupações, ele não estava sozinho nessa jornada. Eles estavam juntos nisso, e, ao final, isso era tudo o que realmente importava.

— Eu sei... Só... Essa história de ser pai de uma menina me deixa um pouco... digamos, apavorado. — Ele sorriu timidamente, seus olhos encontrando os dela enquanto o elevador chegava ao seu destino. — Mas, de qualquer forma, quero muito saber. Não vejo a hora de ver nosso bebê.

O elevador parou no andar correto, e a porta se abriu. Alice pegou sua mão, e eles caminharam para a sala de consulta. O ambiente estava calmo, e logo foram recebidos por um assistente que os conduziu até o consultório. A ansiedade de Alessandro estava agora mais palpável, mas ele sentia que tudo ficaria bem. O futuro, com todas as incertezas, se tornava mais seguro com a presença de Alice ao seu lado.

Quando entraram na sala de consulta, á médica os cumprimentou com um sorriso acolhedor. Ela os fez sentar e começou a explicar os procedimentos do ultrassom.

— Bem-vindos! — A médico disse de forma cordial. — Prontos para a revelação?

Alessandro olhou para Alice, seus olhos brilhando de emoção. Ela sorriu, apertando sua mão. Eles estavam prontos para esse próximo passo, prontos para ver o rostinho do futuro em uma tela, seja qual fosse o sexo.

A médica sorriu de forma acolhedora e indicou a cama para que Alice se deitasse, ajustando as almofadas para garantir que ela estivesse confortável. A sala estava silenciosa, exceto pelo som suave do monitor, enquanto a médica preparava o gel para o ultrassom. O ambiente, iluminado de maneira suave, transmitia uma sensação de tranquilidade, mas também havia uma energia palpável de expectativa no ar. Alessandro se sentou na cadeira ao lado de Alice, observando com atenção cada movimento da médica.

Alice estava com uma expressão tranquila, mas seus olhos demonstravam a ansiedade que ela tentava disfarçar. Ela olhou para Alessandro, sorrindo de maneira reconfortante, como se quisesse transmitir sua confiança para ele também.

— Está tudo bem, Alessandro. Vai ser incrível. — Alice disse, sua voz suave, mas cheia de segurança.

Ele sorriu de volta, tentando se acalmar, enquanto sentava ao lado dela, segurando sua mão com força. Ele estava nervoso, mas o simples fato de estarem juntos, naquele momento, aliviava um pouco sua ansiedade. A médica aplicou o gel frio sobre a barriga de Alice, e o som do ultrassom preencheu a sala, fazendo com que todos os olhos se fixassem na tela.

— Vamos começar, então. Vou verificar alguns detalhes e, em seguida, vou mostrar o que vocês tanto esperam. — a médica falou com um tom suave, concentrando-se no que estava fazendo.

Os minutos pareciam se arrastar, mas Alessandro mal conseguia desviar o olhar da tela. Ele observava a imagem do bebê, sua mente cheia de perguntas. Era difícil conter a emoção de ver, pela primeira vez, aquela pequena forma se movendo, completamente dependente deles, já cheio de vida e promessas para o futuro.

De repente, a médica sorriu e ajustou o ângulo do aparelho, apontando para a tela.

— Aqui está... vejam bem! — Ela indicou, e o som do batimento cardíaco do bebê se tornou ainda mais claro, um som forte e reconfortante. — O bebê está saudável e em perfeita condição.

Alessandro deu um suspiro de alívio, sentindo-se emocionado. Alice apertou sua mão mais forte, sua expressão refletindo uma mistura de felicidade e ternura.

A médica então deu uma pausa dramática, observando o casal, e sorriu antes de falar com calma:

— E agora, a grande revelação... Preparados?

Alessandro olhou para Alice, sentindo o coração disparar, e ela, com um sorriso nervoso, fez um sinal afirmativo com a cabeça. Eles estavam prontos. Não importava o que viesse a seguir, o amor por aquele pequeno ser já era incondicional.

— Então, vamos lá... — A médica olhou para a tela e depois para o casal, com um sorriso misterioso. — O sexo do bebê é...

Ela fez uma pausa, e a sala parecia suspensa no ar por um momento, até que a médica finalmente disse:

— É uma menina! — falou virando o monitor para eles ver.—

O mundo de Alessandro e Alice pareceu parar por um instante. Eles se entreolharam, um sorriso largo se espalhando por seus rostos. Alessandro sentiu uma mistura de alegria e emoção invadir seu peito. Ele sabia que, independentemente de tudo, sua vida estava prestes a mudar para sempre de uma maneira maravilhosa.

— Uma menina! — Alessandro disse, sua voz embargada de felicidade. — Eu... não consigo acreditar!

Alice riu, enxugando uma lágrima que rolava de seu olho, e apertou a mão dele com força. A médica os observou com um sorriso genuíno, deixando-os saborear aquele momento único e mágico.

— Parabéns, vocês vão ser pais incríveis. Uma menina será muito amada por todos, especialmente por vocês dois que são médicos incríveis. — A médica disse, antes de terminar o exame e limpar a barriga de Alice.—

Alessandro e Alice estavam em êxtase, as palavras da médica ecoando em suas mentes enquanto o peso da revelação tomava conta deles. Uma menina. O futuro estava diante deles, cheio de novas responsabilidades, mas também de uma alegria imensa. Eles não sabiam ainda como tudo seria, mas uma coisa era certa: sua filha seria amada profundamente, e a vida deles nunca mais seria a mesma.

— O que vamos fazer agora? — Ele perguntou um pouco atordoado com á noticia.— Precisamos contar aos nossos familiares certo?

— Sim! Mas, você não quer esperar os seus pais voltarem de viagem... Matteo conseguiu conversar com os seus pais... Eles devem chegar nos próximos dias... Podemos combinar um jantar para eles.

Alessandro se recostou na cadeira, ainda processando a grande notícia. Uma menina. Ele olhou para Alice, seus olhos brilhando, mas também com um toque de apreensão. O momento estava sendo mais intenso do que ele imaginava, e agora surgia uma nova pergunta: como dividir essa alegria com todos ao seu redor?

— É, você tem razão. — disse ele, um sorriso tímido se formando nos lábios. — Eu estava pensando exatamente nisso. Quero que meus pais saibam em um momento especial.

Alice sorriu e tocou sua mão com carinho. Ela sabia que esse momento seria significativo para ele. Ele sempre teve uma relação muito próxima com seus pais, e queria que o anúncio fosse feito de uma maneira que eles jamais esqueceriam.

— Matteo me falou que eles devem chegar daqui a dois ou três dias, então podemos preparar algo bacana. — Alice sugeriu, pensativa. — Um jantar em casa, talvez? Algo mais íntimo, só a família mais próxima, para celebrarmos esse momento.

Alessandro pensou por um momento, imaginando a reação de seus pais. Ele podia já imaginar o brilho nos olhos de sua mãe ao saber que ele teria uma filha. Seu pai, com seu jeito mais reservado, provavelmente ficaria emocionado de uma forma mais silenciosa, mas ainda assim profundamente tocado.

— Acho que um jantar em casa seria perfeito. Algo simples, só a família, como você sugeriu. Podemos pedir o que eles mais gostam de comer e fazer um ambiente bem acolhedor. — Ele sorriu ao pensar nos detalhes. — Podemos reservar um espaço no El touro... Meus pais, assim como eu, adoram uma boa comida mexicana.

— Sim, isso parece uma boa ideia... Vou ligar para o meu irmão, eu quero que ele esteja presente...

Alessandro sorriu de forma calorosa.

— Bom, agora temos outra coisa para fazer?

— Vamos ás compras, precisamos começar a pensar no enxoval da nossa menina...

— Ainda não é muito cedo para isso?

Alessandro riu, o som leve e divertido rompendo a tensão do momento. Ele olhou para Alice com um sorriso afetuoso, admirando a forma como ela parecia abraçar cada parte desse novo capítulo da vida deles. A ideia de começar a preparar o enxoval da filha, ainda que parecesse antecipada, era algo que ela sabia ser importante, mesmo para ele, mais reservado.

— Nunca é cedo demais, né? — Ele disse, com um olhar carinhoso. — Eu sei que você está certa, mas tudo isso parece tão... surreal ainda... Eu vou ser pai de uma menina...

Alice sorriu, tocando o braço dele com suavidade.

— Quero ver você escolhendo os roupinhas, Alessandro. Vai ser muito divertido!

Ele deu uma risada baixa, imaginando-se vasculhando prateleiras e escolhendo pequenos vestidos e macacões para a filha. Ele, que sempre fora mais focado em aspectos práticos, agora sentia um prazer novo, quase encantado, ao pensar em cada detalhe que poderiam preparar juntos.

—Vamos comprar o que for necessário. Essa princesa será muito mimada e amada.

Alice riu, satisfeita com a resposta dele, e juntos saíram do hospital em direção ao centro comercial. No caminho, a conversa passou a fluir com mais leveza, como se todas as pequenas decisões que estavam tomando os aproximassem ainda mais.

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