16° Você vai ser pai


 Alessandro estava deitado na cama do hospital, imerso em seus próprios pensamentos. Já se passavam três dias desde o acidente, e sua mente ainda estava turva, como se ele estivesse tentando pegar as pontas soltas de um quebra-cabeça que simplesmente não se encaixavam. Algumas memórias voltavam, fragmentadas e distorcidas, mas outras, mais importantes, permaneciam em branco, como uma tela em branco que ele não sabia como preencher.

Ele estava perdido na confusão de sua mente quando ouviu uma leve batida na porta. Um som suave, quase tímido. Alessandro virou a cabeça e, ao ver a porta se abrir lentamente, seu coração deu um salto.

Era ela.

Alice entrou na sala, sem o jaleco branco habitual que usava quando vinha como médica. Em vez disso, vestia uma roupa confortável, mas sofisticada – uma blusa de seda clara, calças escuras e um casaco de lã simples, mas que realçava sua elegância natural. A suavidade de sua presença contrastava com a dureza do ambiente hospitalar. Seus olhos estavam levemente vermelhos, como se ela tivesse chorado nos últimos dias. Mas havia algo mais na expressão dela: uma mistura de preocupação e, talvez, medo.

Alessandro observou-a em silêncio. Algo nela o atraía, não apenas fisicamente, mas em algo mais profundo, algo que ele não conseguia entender. Algo que parecia familiar, mas que ele não conseguia alcançar.

Alice hesitou na porta por um momento, e seus olhos se fixaram nos dele com uma intensidade que ele não sabia se devia corresponder. Ela abriu a boca, mas as palavras pareceram não sair de imediato, como se ela estivesse tentando encontrar a maneira certa de se aproximar dele.

— Oi — disse ela finalmente, a voz suave, mas carregada de uma emoção que ela tentava controlar.

Alessandro, ainda deitado e sem conseguir esconder a surpresa, tentou sorrir, mas sua expressão refletia a confusão que ainda dominava sua mente.

— Oi... — respondeu ele, a voz mais rouca do que ele imaginava. Ele olhou para ela, sentindo a necessidade de dizer algo mais, mas as palavras simplesmente não vinham. — Você... parece cansada.

Alice deu um leve sorriso triste, aproximando-se da cama, e se sentou na cadeira ao lado, como se não quisesse invadir demais seu espaço.

— Eu estou... — Ela olhou para suas mãos, como se tentasse reunir coragem para continuar. — Eu estou bem. Só... tive um dia longo... Como você está se sentindo?

Alessandro respirou fundo, olhando para ela com uma expressão que misturava gratidão e perplexidade. Ele sabia que havia algo entre eles, mas o que exatamente, ele não sabia. Ele se lembrava de seu nome, e isso era tudo. Ela parecia importante, mas de uma forma tão nebulosa que o confundia ainda mais.

— Eu estou... melhor, eu acho. — Ele fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas. — Minha cabeça ainda está... bagunçada. Tem algumas coisas que eu consigo lembrar, mas... outras eu não faço ideia.

Alice assentiu, a expressão dela se suavizando, mas uma sombra de dor passou por seus olhos.

— Eu entendo. Não se preocupe, você vai melhorar.

Ela ficou ali, ao lado da cama dele, em silêncio por um momento. O ambiente parecia carregado de uma tensão que nenhum dos dois sabia como lidar. Alice olhou para ele com um sorriso frágil, tentando esconder a ansiedade que ela mesma sentia.

Alessandro sentiu um nó na garganta. Ele não sabia como responder, mas o simples fato de ela ter feito a pergunta o fez sentir algo, algo que ele não conseguia explicar. Ele abriu a boca para falar, mas as palavras simplesmente não saíram. Ele olhou para ela, e em um impulso, tomou a mão dela nas suas, como se tentasse ancorar-se àquela sensação, àquela mulher.

— Eu... Não me lembro de você. — disse ele, finalmente, com um sorriso ligeiramente amargo. — Mas... Eu sinto que você é importante para mim.

Ela fechou os olhos por um instante, como se estivesse tentando segurar as emoções que começavam a transbordar. Quando os abriu novamente, os olhos estavam cheios de uma tristeza profunda, mas ela forçou um sorriso.

— Alessandro... tem algo muito importante que eu preciso te contar.

— Claro, pode falar.

Alice hesitou por um momento, encarando as próprias mãos antes de criar coragem.

— Eu sei que você não se lembra de mim... ou de nós. E sei que isso é difícil para você, mas... tem algo que você precisa saber. — Ela ergueu os olhos, encontrando os dele. —  Eu nem sei por onde começar... — Alice murmurou, torcendo as mãos nervosamente enquanto olhava para Alessandro sentado à sua frente.

— Que tal começar pelo começo? — respondeu ele com um sorriso tênue, tentando aliviar a tensão que claramente pairava no ar.

Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.

— Bom... Talvez o Matteo já tenha te contado que éramos amigos. Ou melhor, muito mais do que amigos...

Alessandro inclinou levemente a cabeça, franzindo a testa, mas mantendo o tom calmo.

— Ele mencionou que tínhamos uma... Amizade colorida baseada em sexo.

Alice corou intensamente, desviando o olhar por um instante.

— Exato... — ela disse, a voz baixa. —

O constrangimento era evidente na forma como suas mãos tremiam e como ela mordia o lábio inferior, lutando para manter a compostura.

Alessandro cruzou os braços, o olhar curioso, mas impaciente.

— Então por que está enrolando tanto para falar? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Eu estou ficando cada vez mais curioso.

Alice respirou fundo mais uma vez, forçando-se a encará-lo.

— Hoje, eu descobri que estou grávida... Você vai ser pai.

O silêncio que seguiu foi quase ensurdecedor. Alessandro piscou lentamente, como se estivesse tentando absorver as palavras. Ele abriu a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra saiu.

— Você... está grávida? — perguntou ele finalmente, a voz mais baixa, quase rouca.

— Sim — respondeu Alice, quase num sussurro. — Você vai ser pai.

— Isso é... muita coisa de uma vez só. — Ele parou e virou-se para ela. — Você tem certeza? Quero dizer, sobre o bebê.

Alice assentiu, ainda sentada, com as mãos cruzadas no colo para conter o tremor.

— Eu fiz os exames. Não há dúvidas.

— Alice, eu... Eu não me lembro de nada disso. Eu não me lembro de você, de nós. E agora você está me dizendo que vamos ter um filho juntos? Que eu vou ser pai?

Alice sentiu um aperto no coração, mas tentou manter a calma.

— Eu sei que é muita coisa para você processar. Não estou esperando que você tenha todas as respostas agora, Alessandro. Nem eu tenho. Mas... eu precisava te contar. Você merece saber a verdade, por mais que não se lembre de mim.

Alessandro ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquelas palavras. Ele esfregou o rosto com as mãos, respirando fundo, antes de finalmente responder:

— Eu... eu não vou fugir disso. Mesmo que minha memória esteja uma bagunça, eu vou fazer o meu papel.

Alice sentiu um nó na garganta se desfazer levemente. Não era uma promessa completa, mas era um começo. Então sentiu as lagrimas cair e desabar sobre o seu rosto... Todas ás lágrimas acumulas durante os últimos dias vieram a tona.

Alice sentiu um calor repentino subir pelo corpo enquanto lágrimas escorriam pelo rosto. O choro descompassado tomou conta dela, incapaz de ser contido. Alessandro, com um misto de preocupação e ternura, aproximou-se lentamente. Ele segurou seu rosto delicadamente com ambas as mãos, os polegares limpando algumas das lágrimas que insistiam em cair.

Então, num gesto inesperado e cheio de carinho, ele inclinou-se para frente e depositou um beijo suave na ponta do nariz dela.

— Não chore, por favor... — disse ele, a voz baixa e cheia de sinceridade. — Eu não suporto ver uma mulher tão linda chorando.

Alice tentou conter o soluço, mordendo levemente o lábio inferior enquanto desviava os olhos.

— Desculpe... — murmurou, ainda lutando contra a emoção que transbordava. — Deve ser os hormônios... Eu estou muito sensível nos últimos dias...

Alessandro sorriu, aquele sorriso leve e descontraído que parecia iluminar o ambiente. Ele olhou profundamente nos olhos de Alice, um azul tão intenso que parecia conter o céu inteiro.

— Eu posso não me lembrar de você.— começou ele, com a voz mais suave agora. — Mas tenho certeza de que você é especial. Você é o tipo de mulher que deixaria qualquer homem feliz.

Alice arregalou os olhos, surpresa com as palavras dele. Seu coração acelerou, uma mistura de emoções conflitantes. Antes que ela pudesse pensar em algo para dizer, antes mesmo que as palavras pudessem sair, Alessandro inclinou-se para frente e capturou os lábios dela com os seus.

O beijo começou lento, quase tímido, mas rapidamente se tornou cheio de desejo, como se ele estivesse tentando recuperar algo perdido no tempo, como se estivesse buscando naqueles lábios as respostas que sua memória não podia oferecer. Alice, hesitante no início, acabou cedendo, entregando-se àquele momento que parecia tão errado e, ao mesmo tempo, tão certo.

— Alice... — murmurou Alessandro entre um beijo e outro, seus olhos brilhando de intensidade. — Eu não sei por que não consigo lembrar, mas sinto como se você fosse a única coisa certa na minha vida agora.

As palavras dele fizeram o coração de Alice disparar ainda mais. Lágrimas de emoção ameaçaram voltar, mas ela as conteve, deslizando os dedos pelo cabelo bagunçado dele enquanto seus lábios buscavam os dele novamente.

Por um momento, o mundo parecia ter parado. As preocupações, as dúvidas e as memórias perdidas de Alessandro desapareceram, deixando apenas o sentimento bruto que compartilhavam naquele instante.

Quando o beijo finalmente diminuiu, ambos estavam ofegantes. Alessandro encostou a testa na dela, um sorriso suave brincando em seus lábios.

— Eu quero estar ao seu lado, Alice. Não importa o que aconteceu antes, não importa o que está em branco na minha cabeça. Quero fazer parte disso, de você, do bebê... de tudo... Mas, eu peço que tenha paciência...

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