03° Desabafos e beijos

Uma semana se passou desde aquele dia. Os dias seguintes foram um turbilhão para Alessandro. No hospital, ele fez de tudo para evitar Alice. Mudou seus horários de plantão, escolheu novas escalas, tudo para que não coincidissem. Não queria vê-la, não queria falar com ela. Sua prioridade era outra, a profissão que escolheu, e sua dedicação aos pacientes. O resto parecia secundário.

Na sexta-feira, o fim do plantão finalmente chegou. Após uma longa cirurgia, Alessandro foi até o vestiário e encontrou seus amigos Matteo e Pietro conversando animadamente. O ambiente descontraído era uma boa pausa para a tensão que ele sentia.

— Vamos sair hoje à noite? – Alessandro sugeriu, se aproximando dos amigos enquanto guardava seus equipamentos no armário.

— Para onde? – Matteo perguntou, levantando uma sobrancelha enquanto vestia a camisa.

— Tem um bar novo aqui perto, com música ao vivo. Que tal?

— Eu topo! Só preciso avisar a Kiara, para não ficar preocupada. – Matteo respondeu, pegando seu celular.

— E você, Pietro? – Alessandro perguntou, olhando para o amigo.

— Claro que vou! Mas não posso demorar, minha esposa e meu filho estão me esperando. – Pietro sorriu, pegando suas coisas e ajeitando a mochila.

— De quantos anos ele está? – Alessandro perguntou com interesse.

— Acabou de completar dois anos.

— Achei que sua esposa tivesse ido para a Toscana com a mãe e a irmã. – Matteo comentou, fechando o armário com um clique enquanto pegava as chaves do carro.

— Foram, mas já voltaram. – Pietro explicou, sorrindo.

— Antes que eu me esqueça, minha família vai fazer um almoço amanhã para comemorar o noivado do meu irmão, Rafael. Vai ser algo simples, só para a família e amigos mais próximos. E vocês são meus convidados. – Matteo anunciou.

— Obrigado! – disseram os amigos em coro.

— Eu não perderia isso por nada! – Pietro acrescentou, empolgado.

Os três amigos sempre foram próximos, se conheceram ainda crianças e se reencontraram durante a faculdade de medicina. Sempre sonharam em se tornar médicos respeitados e ajudar o próximo. Mesmo com algumas diferenças, como o fato de Pietro ter terminado seus estudos em Nova York, eles sempre mantiveram uma forte amizade.

O bar estava mais vazio do que o esperado, e a música ao vivo criava uma atmosfera acolhedora. Os três amigos se sentaram em uma mesa próxima ao palco e fizeram seus pedidos. Entre petiscos e risadas, começaram a conversar. O ambiente descontraído fez Alessandro se esquecer um pouco dos problemas.

— Um brinde à amizade! – Alessandro levantou o copo, sorrindo para os amigos.

— À amizade! – responderam Matteo e Pietro.

Alessandro levou um gole de cerveja, e enquanto se acomodava, Matteo o olhou com atenção.

— Então... – Matteo começou, com um tom sério. – Percebi que você tem evitado a Alice.

— Está tão óbvio assim? – Alessandro perguntou, surpreso, enquanto olhava para o copo.

— Só quem é cego não percebe! – Pietro respondeu, mordendo um pedaço de peixe. – Eu sabia que isso não ia durar muito. Vocês sempre tiveram um lance sem compromisso, mas você tem 30 anos, Alessandro. Está na hora de pensar em algo mais sério. Uma mulher ao seu lado, uma família.

— Eu sei disso... – Alessandro suspirou, desanimado. – Mas ela só me vê como um passatempo. Nada mais.

— Fugir dela não vai resolver nada, Alessandro. Você não é mais um garoto. Tem 30 anos, é médico, tem responsabilidades. – Matteo insistiu, olhando-o com seriedade.

Alessandro olhou para os amigos, sabendo que eles tinham razão, mas algo dentro dele o impedia de agir.

— Eu sei, eu sei! Eu queria que ela sentisse o mesmo, que a gente pudesse ter algo real. Mas não dá. Não posso deixar que isso interfira no meu trabalho, na minha carreira. Isso é o que mais importa para mim. Se precisar me afastar dela, farei isso. Nem que eu tenha que pedir transferência para outro hospital.

— Você está louco! – os dois amigos exclamaram em coro, mas foram interrompidos por uma voz suave.

— Alessandro, que coincidência te encontrar aqui!

Era Bianca, uma loira elegante que se aproximava com um sorriso. Alessandro se levantou rapidamente e a cumprimentou com um beijo no rosto.

— Bianca! – disse ele, sorrindo. – Como está o seu pé? Eu vejo que já tirou a tala.

— Graças a Deus! Eu já estava ficando maluca com aquilo, sabe? Tinha que andar com as malditas moletas o tempo todo... O ortopedista disse para fazer compressas caso eu sentisse inchaço. – Bianca riu, e então olhou para os amigos de Alessandro. – Oi, Matteo, tudo bem?

— Estou bem, Bianca, obrigado. – Matteo sorriu.

— Esse é o Pietro, um amigo nosso e um dos melhores neurologistas de Genova. – Alessandro apresentou Pietro.

— Ah, então é uma reunião de médicos, é? – Bianca sorriu, estendendo a mão para cumprimentar Pietro. – Prazer, Dr. Pietro.

— O prazer é todo meu, senhorita. – Pietro disse educadamente.

— Matteo, eu preciso ir lá conhecer a nova casa de vocês. A minha vida está uma loucura, sempre viajando a trabalho para a Espanha... – Bianca começou a falar com Matteo.

— Pode vir sempre que quiser. Tenho certeza de que Kyaara vai adorar a sua visita. Você é sempre bem-vinda aqui. – Matteo sorriu.

— Obrigada! – Bianca agradeceu com simpatia.—

— E você, o que faz aqui? Veio sozinho?

— Então... Eu combinei de encontrar com um amigo, mas ele me deu o bolo. – Bianca fez uma careta. – A sorte é que a proprietária do bar é minha amiga, então vou ficar um pouco por aqui e depois ir para casa descansar.

— Por que não fica aqui e faz companhia para o Alessandro? – Matteo sugeriu, com um sorriso travesso. – A gente já estava indo, não é, amigo? – ele piscou para Pietro, que rapidamente entendeu a indireta.

— Sim, já estamos indo! Minha esposa e meu filho estão me esperando em casa.

— Nos vemos amanhã! – disse Matteo, se despedindo de Alessandro, seguido por Pietro.—

Alessandro sorriu para Bianca e disse:

— Sente-se, Bianca. Me faça companhia. 

— Eu não quero atrapalhar... 

—Não se preocupe, você não está me atrapalhando.

Bianca hesitou por um momento, mas então se sentou com ele.

— Se você diz... – ela sorriu, se acomodando na cadeira. – Faz tempo que não nos encontramos, não é?

— É verdade... – Alessandro respondeu, relaxando. – Eu estive muito focado no trabalho. E você? Como está?

— Bem, mas a vida anda corrida. Cada vez mais estou na Espanha, viajando com a empresa... – Bianca explicou, passando a mão nos cabelos.

— E por que trabalha tanto fora, se tem tudo aqui? – Alessandro perguntou, curioso.

Bianca sorriu levemente.

— Talvez porque eu não queira depender dos meus pais. – Ela deu de ombros. – Se fosse depender do meu pai, teria virado arquiteta, como ele. Mas escolhi medicina veterinária, depois uma especialização em biologia marinha.

— Ele não gosta da sua profissão? – Alessandro perguntou, interessado.

— Eles adoram. São ambientalistas, ativistas pela proteção animal. Meu pai tem uma ONG chamada Savana, focada no resgate de animais. – Bianca sorriu com orgulho. – Eu sempre amei animais. Quando era criança, sempre trazia bichinhos para casa. Fui eu que dei o nome à ONG.

— Que legal! – Alessandro disse, admirado. – Isso é um trabalho muito bonito.

— Obrigada. – Bianca respondeu, contente.

A conversa continuou descontraída, mas o tempo foi passando. O bar ficou mais vazio, e quando Alessandro olhou para o relógio, já passava das onze.

— Está ficando tarde... – disse ele, sorrindo enquanto chamava o garçom para pagar a conta.

Eles se levantaram, saíram do bar e foram recebidos pela garoa fina que caía lá fora.

— Foi bom te encontrar aqui. Obrigado pela companhia, Bianca. – Alessandro disse, sorrindo enquanto ela o olhava nos olhos.

— Eu que agradeço. – Bianca sorriu, apertando sua mão delicadamente.

Ele a conduziu até o carro, e após um curto trajeto, estacionaram em frente à casa dela.

— Quer entrar? – Bianca perguntou, pegando as chaves do portão.

— Não sei se é uma boa ideia, Bianca... Hoje não estou muito bem. – Alessandro hesitou.

— Esqueça isso e venha beber algo comigo. Posso até ser sua psicóloga por algumas horas. – Bianca riu suavemente, abrindo a porta da casa. – Deixe os problemas de lado, pelo menos por uma noite doutor.

Alessandro hesitou por um momento, mas então deu um sorriso, concordando.

— Você tem razão. – disse ele, entrando.—

— Pode colocar o carro para dentro, se quiser. – Bianca destravou o portão, e logo o carro estava estacionado na garagem.

Dentro da casa, Bianca deixou a bolsa na poltrona e foi até a cozinha. Alessandro retirou sua jaqueta de couro, ficando apenas com a camisa social branca.

— O que você quer beber? Tenho cerveja, vinho... – Bianca começou a perguntar, mas Alessandro a interrompeu, puxando-a para seus braços.

Ele a beijou com intensidade, sem mais palavras, e com um toque firme, ela se entregou ao momento. O que começou como um simples encontro entre amigos rapidamente se transformou em algo mais íntimo, algo que ambos sabiam que não tinha futuro, mas que no momento parecia exatamente o que precisavam. Eles se entregaram a um desejo mútuo, sem preocupações, apenas vivendo o agora.

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