eighteen: blood, sweat and tears.
⊰ Part 2 ⊱
Sem medo, Jimin tomou a frente, tentando apunhalar minha barriga, mas falhou. Nossas espadas iniciaram um combate. Colidiam freneticamente, da direita para a esquerda e vice-versa, mantendo-me sempre em uma distância segura do outro — assim como nós, eles também tinham treinamentos.
Acertei de raspão uma de suas asas. Ele pareceu ficar irado com o ato. Num movimento rápido que não previ, o Kelpie segurou sua arma pela lâmina e atingiu minha cabeça com o cabo duro. O golpe fez com que eu caísse.
Jimin chutou minha espada para longe e pressionou a ponta da sua no meu peito. Traçou um risco fino até o meu pescoço. Não evitei fazer caretas de dor, sentindo a ardência do ferimento.
— Avisei que isso aconteceria — de canto de olho vi uma pedra próxima a mim. Tateei o chão com cuidado para que ele não notasse, e agarrei-a. — Você não deu ouvidos e preferiu o lado dos mocinhos... É uma pena, poderia ter sido útil em Zardren, Taehyung. Últimas palavras?
— Não cante vitória antes da hora.
Acertei a pedra em seu olho. Jimin soltou a arma, recuando meio confuso pelo ataque.
Aproveitei a distração e o chutei. Ele caiu de costas numa poça de água. Peguei minha espada novamente, e desta vez, eu que tinha a vantagem. O Kelpie sorriu divertido.
— Me mata! Anda, me mata, Taehyung! — minhas mãos apertando a lâmina em seu peito tremiam. Por que eu não conseguia? Era o que eu mais queria, mas por que não me mexia? — Acho me enganei antes... Você é um inútil — cuspiu as palavras. — Desista. Cedo ou tarde, o sangue dela e dos outros serão nossos.
Abri a boca para contestar, mas Jimin tentou tirar a arma de mim. Numa dose de aflição e medo, enterrei a espada no seu peito. O sangue preto saindo começou a se fundir com a água da poça.
Assisti perturbado sua barriga descer e subir, procurando desesperadamente por ar. O demônio soltou um suspiro terminal e seus olhos passaram a mirar um ponto fixo. Me afastei, assombrado por minha própria ação.
Havia o matado.
Não tive nem uma pausa para respirar. A chuva fraca que caía antes se agravou. Por conta da pancada que Jimin me deu, os pingos grossos de água e sangue escorriam pela minha testa, até o canto da boca. Sentia o gosto metálico.
O céu estava nublado e coberto de nuvens cinzas escuras. Os clarões vinham seguidos de trovões estrondosos, que chegavam a causar dor aos ouvidos. O exército de demônios estava praticamente derrotado; mortos por todos os lados, o cheiro insuportável de carne podre invadia minhas narinas. Escutei Jungkook gritar meu nome, mas não consegui virar.
Sentia a presença dela. Ele estava perto.
O Ser das Trevas apareceu descendo dos céus. As grandes asas negras batendo no ar. Deve ter entrado em combate contra Jin e os líderes do Conselho, pois estava gravemente ferido. Hyeri em seus braços, desacordada.
Parecia tão fraquinha e sem vida... Eu demorei para encontrá-la.
Havia uma espécie de barreira em volta dela e de Namjoon, o protegendo de nossos ataques. Os líderes voaram para perto, formando um círculo. Me juntei a eles — contra a vontade de Jungkook que reclamou do perigo — e parei ao lado de Jin. Apenas pelo olhar, decidiam se deveriam arriscar um ataque ou não.
— Sabem quantos anos esperei por esta chance? — a voz grossa, carregada de ódio se fez presente. — Vocês tiraram tudo de mim!
— Não há saída, Namjoon! — um membro do conselho gritou em resposta. — Entregue-se e aceite o seu destino! A morte.
O demônio soltou uma risada escandalosa, como se tivesse acabado de escutar uma boa piada.
— Nunca conseguirão me deter, camaradas. Levarei a humana para queimar no inferno comigo!
Apertei os punhos. O que aquilo significava?
Namjoon olhou diretamente para mim com um sorriso maldoso nos lábios. Suas orbes mudaram para a cor vermelha. A boca proferiu algumas palavras — provavelmente, algum feitiço — que a fizeram acordar. Estava amedrontada pelo cenário completamente distinto do conforto de sua cama.
De repente, o espaço congelou. A chuva parou no ar. Eu era o único que conseguia me mover; Jin, Jungkook, Lucas, anjos, Kelpies, todos estavam paralisados. Namjoon controlava o tempo. Nossos olhares se encontraram, e então, como se não significasse nada, ele a largou.
O corpo frágil iniciou uma queda livre dos céus. Os gritos da garota eram como facas afiadas me matando aos poucos.
Não pensei duas vezes antes de voar, mais veloz que qualquer ser poderia conseguir, para alcançá-la. A força do vento batia contra o meu rosto, quanto mais perto do chão ficávamos, mais a velocidade aumentava. O desespero me tomava por inteiro. Hyeri estava caindo de barriga para cima, conseguia ver o medo em seus pobres olhinhos.
No último segundo, quando estiquei meu braço e segurei sua mão pronto para puxá-la, suas costas e a cabeça foram de encontro ao chão. Pude amortecer a batida, mas não o suficiente.
— Hyeri... — ajeitei-a no meu colo. Já chorava sem controle. — Hyeri, acorde, por favor!
A parte de trás da cabeça sangrava. Logo os efeitos vieram: meus dedos começaram a formigar e arder. "O sangue deles é como um veneno que em contato com a nossa pele, pode causar a morte". Doía, mas não na mesma intensidade de perdê-la.
Seus olhos estavam semiabertos, ela tossia, buscando oxigênio. Senti o quanto estava fraca. Com as mãos trêmulas e sujas de sangue, toquei seu rosto pálido. Minhas lágrimas caíam e se juntavam com as da garota.
— Não chore — ela limpou minha bochecha.
— Vai ficar tu-tudo bem, ok? Você é forte, meu amor — me inclino e selo seus lábios de leve. — E-Eu vou te salv...
— Não tive chance... — respirou fundo e completou com dificuldade: — de responder. Eu também te amo, Tae — e sorriu. Um sorriso fofo, como se estivéssemos conversando num dia normal. — Obrigada por ter sido meu cupido, Kim Taehyung.
E aquela foi sua última sentença de morte. A mão que antes acariciava minha bochecha, perdeu a força. O peito parou de subir e descansou. Os olhos fecharam e a cabeça tombou sem vida no meu ombro.
— Hyeri! Eu te amo, não me deixe! — apertei seu corpo contra o meu, angustiado. — Não me deixe...
Sentia como se tivesse um fio em volta do meu coração, apertando e o impedindo de bater. Meus pulmões não davam mais conta. Aos poucos, as memórias passaram pelos meus olhos como um filme; as risadas, as brigas, as novas experiências.
Hyeri deixou uma marca em mim. Eu me apaixonei por simples detalhes que a tornaram ainda mais especial, como o cabelo longo, os olhos grandes e negros e sua teimosia. Amava o biquinho de raiva que fazia.
Tudo se foi. Nossos dias juntos eram, naquele momento, apenas lembranças borradas. Nunca mais a veria. Estava morta.
Nem me toquei do que estava acontecendo em volta, eu não era mais o único podendo agir — todos os anjos já haviam saído do feitiço de congelamento de Namjoon. Os trovões cessaram e o temporal acabou. Me permiti desabar. Chorar, abraçando o corpo gélido.
— Tae — a voz fina e doce de Jungkook chamou, colocando a mão no meu ombro. — Eu sinto muito, meu irmão.
No meio do vasto campo de guerra, cheio de mortos e chorando de dor, um cupido sofria com a perda de sua amada. Uma dor imensurável.
— Foi minha culpa, desde o começo — solucei, moldando seu rosto. — Me perdoe, amor... — selei sua testa. — Mas não se preocupe, hm? Cuidarei de você na sua próxima vida, me espere lá.
Essas histórias antigas sempre foram famosas em Angelus. Sobre anjos que amavam humanos em segredo e, para continuarem zelando por seu bem-estar, escolhiam amarrar suas vidas a deles eternamente. Dessa forma, não os deixariam sozinhos, pois nem a morte os separariam.
Deitei o corpo no chão úmido de terra e tomei coragem para encarar meus superiores. Meus olhos passearam por cada feição de desgosto, decepção e medo que estava estampada na cara do exército de anjos ali presente. Alguns nem deram importância e continuaram transportando os Kelpies presos para o portal na floresta escura. Vi Hoseok entre eles.
Andei devagar até Beom Seok — principal líder do Conselho —, que mantinha a postura ereta e a feição zangada. O canto de seu lábio estava machucado. Reconheci a gravidade de minhas ações ao levar um tapa forte seu.
— Sua irresponsabilidade tirou uma vida inocente! Você entende agora o porquê de existirem regras, Kim?! — aumentou o tom de voz. — É um monstro para a nossa espécie. Tenho nojo de você.
Meus joelhos tremiam e eu abaixei a cabeça, segurando fundo as lágrimas. Aquela nunca foi minha intenção. O que mais desejava era protegê-la, se soubesse que as coisas levariam um rumo tão trágico, teria evitado me apegar tanto.
— Mas, e o Namjoon...? — questionei e o mais velho soltou um suspiro.
Tinha a sensação de que aquele não era o fim.
— Enquanto nossos corpos estavam paralisados, ele transferiu nossas mentes para um outro plano. Lá, lutamos e não obtivemos sucesso... Namjoon fugiu, porém sofreu graves danos de um feitiço lançados por nós e perdeu os poderes no meio do combate.
Meu sangue fervia de ódio. O que mais queria, era fazer Kim Namjoon sofrer. Vingar Hyeri, vingar sua morte. Sabia que seria pecado, mas não continha a vontade de querer torturá-lo.
E eu o faria sem me arrepender.
— Transportem a menina! — Beom Seok ordenou e três anjos levantaram Hyeri do chão com cuidado. Semicerrei os olhos, confuso pelo ato. — O resto, organizem-se para voltarmos à Angelus!
— E-Espere!
O líder fechou a cara para mim e saiu batendo pé para organizar nossa volta.
Assisti os anjos carregando Hyeri, desesperado. Por que estavam levando-a? O procedimento padrão não era aquele, o que iriam fazer com a minha garota? Nem ao menos pude me despedir melhor.
Meus nervos já estavam aparentes e Jin notou. Com cautela, ele se aproximou; o rosto claramente decepcionado por meus incontáveis erros.
— Não se altere — disse, sério. — Temos um acordo com autoridades humanas. Hyeri não teve uma morte natural, foi causada por seres mágicos, então ela será submetida à um feitiço de ressuscitação.
Naquela hora, meu corpo já havia sofrido tantas mudanças de sensações, que não fui capaz de esboçar nenhuma reação. Apenas fiquei ali em pé, feliz por dentro, porém deixando pequenas gotinhas escorrerem pelos meus olhos.
Não estava tudo acabado. Não estava. Hyeri iria renascer linda como uma flor! Eu teria chance de abraçá-la e nunca soltá-la de novo.
Lucas me confortou com um abraço. Meu corpo doía, eu estava cansado e derrotado. O machucado que Jimin traçou com a espada no meu peito pulsava, e uma linha de sangue escorria pela lateral do meu rosto. O veneno natural de Hyeri provocou alergias sérias na minha mão.
Ao passo que nós três entrávamos no breu da floresta fria e morta, calafrios percorriam por meu corpo. Uma fila gigantesca de anjos adentrava o portal fundo e negro, sustentado por um poder azul vindo de um dos guardiões que mantinham-no aberto.
Quase na minha vez, fui bloqueado. Dois seguranças seguraram meus braços atrás das costas e apertaram meus pulsos com algemas mágicas. Os meninos tentaram contestar, mas foram silenciados por Jin e tiveram que passar e voltar para Angelus.
Mantive a cabeça erguida enquanto Beom Seok aproximava-se de mim, orgulhoso e com sede de justiça.
— Deveria te largar para morrer, porque aqui é o lugar dos traidores — o ênfase na palavra me atingiu em cheio. — Entretanto, prefiro resolver legalmente. Prepare-se para o julgamento, Kim!
Engoli em seco. Eu sabia bem o que estava para acontecer.
Com um gesto de ordem do líder, fui arrastado para dentro de um outro portal, diferente do que o resto seguia. Este era de um tamanho menor e o poder sustentando-o era vermelho. Minha visão escureceu e me senti atordoado longos segundos.
Ao abrir os olhos, uma claridade iluminou meu rosto. Luz forte, grades de uma cela e chão gelado. Me dei conta de onde estava automaticamente; era o Centro de Detentos de Seres Mágicos.
Sendo mais exato: virei um prisioneiro de Angelus.
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eu planejava fazer um final triste para hyeri, mas fiquei com dó :( a descrição da guerra ficou boa?? eu reescrevi tantas vezesk
demorei três anos, mais saiu kdjfkfk falta de criatividade dá nisso, perdão fml 🙏🏻
desculpa qualquer errinho e até o próximo capítulo! estamos chegando no fim...
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