FINAL
CAPÍTULO 55 – FINAL
Quero agradecer ao Léo Araújo, pela imensa amizade e apoio de todos esses anos. Quero agradecer ao Gabriel Maciel, pela compreensão dada de coração e hoje nós dois podemos nos acertar. Quero agradecer ao Manoel Torres, pelas incontáveis horas de revisão feitas de coração. Quero agradecer ao Kim e ao Frank, pela paciência que tens comigo. E a Cris, você mesmo sua dominadora, por segurar minha mão nesses últimos momentos.
Nosso ultimo passeio rendeu ao Alan Bortolozzo uma insolação forte. Além de queimaduras de 2º grau, ele teve febre. Por mais gratificante que tenha sido aquele passeio e libertador a ele, seu corpo começara a sentir os efeitos do câncer. Foi nessa febre que entendemos como estava seu corpo, pois nenhum antitérmico dava conta de abaixar a sua febre. Levamos uma das maiores broncas que já levei em vida. Depois do sermão, eu, Arthur e sua mãe, fomos convidados a se retirar do hospital, até o turno de volta do médico "Bam-bam-bam!".
"Foi a primeira vez que senti medo e solidão dentro do hospital. Agora eu entendi o forte papel da família no tratamento, inclusive no meu que não havia solução. Senti pena do seu Zé que falecera sozinho aqui dentro. Sim, essas paredes sem o som de todos, era apavorante. Ninguém estava de bem comigo. E, não sei se é impressão minha, mas eles estavam até meio agressivos quando precisavam aplica remédios. – Alan Bortolozzo."
Fomos liberados a voltar a visita-lo, 48 horas após o incidente. Tenho certeza que houve essa liberação, pelo quadro clínico dele. Devagar, lento e poderoso, posso descrever o que é ter câncer no corpo do Alan. No inicia achei que era a chegada de uma frente fria, mas depois, me conformei que era a falta de apetite e cansaço da doença. Em uma refeição normal, comíamos 04 ou cinco salgados cada. Agora, ele estava comendo nem 03 ao dia. Nossos passeios pelos longínquos corredores de todo o hospital, agora era feitos apenas na nossa ala. No 30º dia, veio uma das mais inesperadas visitas. Acompanhado com a dona Renata e o senhor Mauro, mais o Soares, o Murilo entrou pelas portas, com aspecto completamente diferente. Estava magro e apático, seus olhos inchados de tanto chorar.
"Juro que, pela primeira vez, precisei fazer forças para lembrar quem era aquela pessoa. "Por que todas as pessoas que estavam a minha volta aparentavam estar mais doentes do que eu?". Facilmente eu diria que o Muca tivera uma doença muito forte. Sua pele cheia de manchas e acinzentada. Seus olhos como olheiras de panda, estavam fundos. Emagreceu, no mínimo, uns 20 quilos. Passei uma hora conversando com seus pais e explicando como estava sendo meus dias ali. Muito católicos, eles rezaram e, ao se despedir, não disseram adues, mas um "Até logo!". Depois, pude ficar mais 05 minutinhos a sós com o Murilo.
- Me desculpe Alan por estar assim. Não queria que me visse chorando.
- E nem quero. Você é lindo.
- Todos esses anos e nunca percebemos nada!
- Foi melhor assim, não acha? Estou fazendo um força colossal para aguentar esses 30 dias, nem imagino mais 01 mês aqui.
- Só quero que saiba a importância que tens pra mim. Queria ter tido a chance de te salvar, assim como te salvei da outra vez. Dentro daquele carro e depois dentro do hospital, doando sangue. Mas disseram que é bem mais complicado!
- Duas mil vezes mais complicado, mas acredito sim em você!
- Será que foi por causa do meu sangue que você ficou doente?
- Nunca! Nada que vem pro bem nos machuca. Você fez uma boa ação e foi meu salvador. Sempre será.
- Eu não estarei aqui... – mas ele começou a chorar antes de completar a frase.
- Do meu enterro?
- Sim! Estou viajando pra não voltar mais.
- Que coincidência!
Ele pegou minha mão, deu um abraço demorado e um beijo na testa. E lá se vai a pessoa que mais proporcionou emoções radicais em minha vida. – Alan Bortolozzo.
Na saída, o Murilo chegou, me encarou com os olhos de que tinha perdido tudo e me deu o abraço mais forte que senti na vida. Sim, ele sabia exatamente o que eu estava sentindo. Ambos amam o Alan Bortolozzo de forma incondicional, ambos dariam a vida por ele e ambos estavam morrendo com o Alan. Na mesma noite, o Alan foi para UTI, saindo apenas na outra tarde. Então, foi levado a ala de pacientes terminais.
- Acho que agora é pra ficar aqui de vez – disse ele deitado a cama.
Eu apenas olhei sorrindo.
- Quer fugir de novo Alan? – perguntei e ele gargalhou.
- Só se lembrar de levar protetor solar.
Lembro do grupo musical passar no quarto ao lado e cantar aquela musica "Não aprendi dizer Adeus!" do Leandro e Leonardo.
Então segue abaixo as últimas anotações do Alan Bortolozzo:
"Eu passei 33 dias dentro desse hospital, pedindo a Deus que me enviasse um temporal, mas já aceitei que Ele não vai me dar esse presente. Aproveitei que o Arthur foi embora e me deixou sozinho com o Burro. É hoje que vou entregar meu diário para você. Hoje você vai ler tudo que eu sempre senti por você. Um diário criado para levar pro resto da vida. Tenho certeza que você tem milhares de lembranças boas dentro dessa sua cabeça ruiva. E choro agora ao escrever o que sinto. Quero que você viva, sonhe, conquiste o mundo. Não poderei estar ao lado do grande e único amor da minha vida, mas posso estar dentro de ti. E quando ver um temporal (você ainda vai ver muitos mesmo) não fique triste. Pare o que estiver fazendo, mesmo que seja no trânsito e na hora do rush.
Observe a maravilha da natureza. Verás aquilo que sempre amei olhar "O Espetáculo". E fique feliz por mim, pois eu estarei vendo de camarote. Será nessa hora que estaremos olhando aquela maravilha e rindo um para o outro. Será nessa hora que estaremos conectados novamente. Seja homem, estude, se forme. Pare com essa ideia boba de largar a faculdade. Você não é burro, então não se comporte como um burro. Você sim me ensinou a vida e, de burro, não tem nada. Desculpe ao saber que o achava um burrinho quando o conheci. Mas você cresceu e deu de dez a zero contra mim. Me desculpe! O único burro aqui sou eu e sempre serei lembrado como um.
Não fique triste que não estarei mais aqui. Fique feliz do tempo que nos conhecemos. Crescemos juntos. E passamos cada fase das nossas vidas um ao lado do outro. Foram dez anos de namoro, se é assim que posso chamar! Porque, para mim, eu sempre te namorei, mesmo dando um beijo apenas 10 anos depois. Eu quero que você seja homem por nós dois. Viva, sonhe, case, tenha filhos e não perca o tempo que perdemos um com o outro. Mas não se venda para qualquer cara. Você não é qualquer cara. Lembre-se de quem eu fui para você e, caso você esqueça, apenas abra e leia este diário. Aí você vai aprender a dar valor em você.
Lembre-se que eu não terei amanhã, então viva como se não houvesse para você também! Fique frio. Eu sei a diferenciar amores. E meu é único! Beijos do cara que mais o amou na vida. Beijos do cara que estará sempre ao seu lado esquerdo. E, quando precisar, de uma lida nesse diário. E poderá entende o quão você é especial e quanto foi especial na minha vida. Te amo!"
E assim termina a narração do Alan Bortolozzo. Abaixo eu tomei a liberdade de narrar o final:
- Burro? – chamou a voz rouca vindo da cama.
- Que foi? Já terminou de escrever? – perguntei ao ver o rapaz fechando o caderno de capa dura.
- Já! Cuide com carinho. É pra você – disse ele estendendo a mão e me entregando o diário.
Abri na primeira e comecei a ler.
- Para Leonardo Ferreira da Silva? Por que usar meu nome inteiro? Parece até que está me dando uma bronca.
- Não! É apenas para você ler quando isso tudo acabar!
- Ok! Mas por que Leonardo?
- Porque não quero que o chamem de burro. Você é inteligente.
- Mas eu sei que Burro é apelido. Eu não ligo.
- Mas você é meu Burro, então deixe apenas que eu saiba disso.
Fite-o em silêncio e acabei concordando. Fechei o caderno e ri ao ler o nome na capa.
- Meu Corpo é Muito Pesado!!!? – perguntei sem entender – me responda apenas isso.
- Você disse que sempre estarei ao seu lado, não disse? – perguntou ele sorrindo.
- Lógico! Você é o amor da minha vida.
- Mas não poderei caminhar contigo pela vida, e sim, você andará comigo dentro do seu coração. Na sua alma, pois Meu Corpo é Muito Pesado para o acompanhar.
Engoli seco e não contive as lágrimas. Detestava chorar perto dele. Não queria que ele fosse embora com essa lembrança de mim. Naquela tarde sua família passou lá, nas suas habituais visitas. Mas todos saiam do quarto chorando, pois sabia que havia chegado a hora. Eu, Arthur e sua mãe se revezavam dentro do quarto, mas era difícil demais ve-lo tão fraco. No 33º ele acordou melhor, passou o dia bem, contamos varias piadas e várias histórias. No final da tarde, quase de noite, o tão esperado temporal chegou. Ficamos abraçados e nos beijando por toda aquela tarde, parando apenas para observar o temporal que se formara lá fora.
- Tá vendo Alan! Até que enfim um temporal – disse ao pé do ouvido.
- Me tira daqui agora. Me coloca ali na janela.
- Mas... você... tá...
- Tudo podre? Isso eu sei. Mas pode ser a última.
Por mais que não quisesse demonstrar, essas conversas sobre morte me deixavam mal. Levantei ele da cama e fomos na janela. Eu nunca vi tão feliz na minha vida. Era como uma criança chegando ao parque de diversões pela primeira vez na vida. Seus olhos estavam cheios d'água, mas um sorriso estampado no rosto. É nessas horas que dou valor nas pequenas coisas. Ficamos abraçados, vendo aquela chuva, como um casal fica abraçado vendo um filme, juntinhos, agarradinhos, trocando carinho. Até ele se cansar e pedir para deitar novamente. Ele tomou o banho, jantou e foi se deitar mais cedo que o normal.
- Qual parte você quer que eu leia hoje? – perguntei abrindo o livro do Pequeno Príncipe e observando os pingos grossos na janela.
- A parte das estrelas!
- Não essa é muito ruim!
- Qual é seu bobo! Apenas uma história.
Detestava essa parte, me fazia mal todas as vezes que lia.
" – À noite, tu olharas as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena para que eu possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostaria de olhar todas elas. Serão todas suas amigas. E, também, eu lhe darei um presente.
Ele riu.
_ Como é boa essa risada.
_ Esse será o meu presente.
– As pessoas veem estrelas de maneiras diferentes. Para aquelas que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve.
_Quando olhares o céu à noite eu estarei habitante uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti, como se todas as estrelas rissem! Dessa forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir.
– E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por teres me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão louco. Será uma peça que te prego...
E riu de novo.
– Será como se eu lhe houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que sabem rir."
Quando por fim terminei a história, fiz um breve silêncio para que eu pudesse ouvir sua risada fraca, um gemido ou alguma respiração que demonstrasse que ele estava ali me ouvindo. Porém, a única coisa que presenciei fora o silêncio agonizante e o som dos pingos grossos de chuva na bela janela de vidro a minha frente. Fechei os olhos por um momento e tentei controlar minha respiração, mas no fundo, não sei por que, eu sabia que ele não estava mais comigo. E no segundo seguinte, pude ouvir a confirmação vindo monitor ao lado da cama. Virei-me de frente e olhei para meu anjo deitado. Estava lindo como sempre. Meus olhos se encheram de água e, como um tiro no coração, pude sentir a dor latejante me contagiar, fazendo faltar o ar dos meus pulmões. Fui até a cama e passei a mão no seu rosto ainda quente, me curvei de dei um abraço bem apertado e um leve beijo nos lábios.
- Não, não, não. Ainda não. Tem tanta coisa que ainda preciso te dizer, tanta coisa que queria lhe falar.
Mas sim, agora ele tinha descansado. Fiquei deitado ao seu lado, com seu corpo colado ao meu, pra aproveitar o máximo enquanto ainda ele estava quentinha. Mesmo cego pelas lagrimas, conseguia alisar seus cabelos, passar a mão na sua pele lisinha e suas bochechas macias. Depois, os enfermeiro entraram e me retirou de la.
"Eu Te Amo e sempre vou Te Amar" disse ao pé do ouvido dele."
A pior coisa da morte de Alan, fora eu ter que avisar o Arthur. eu não sabia nem como chegar perto dele, pois sei que ele iria junto. Andei pelos corredores, aflito, com vontade de não encontra-lo. Mas lá, debruçado a uma janela, estava ele e sua mãe. Ele me viu de longe caminhando em vossa direção e depois soltou um berro que Barretos inteiro pode ouvir. Precisou até tomar um calmante, pois sua pressão havia disparado. Ele socou tanto o chão que quebrou o punho.
Às 21:48 horas do dia 19 de Setembro de 2007, Alan Bortolozzo se despedia do mundo. Deixando apenas este livro e milhares de lembranças que levarei para o resto da minha vida. Desde sua morte, velório e enterro, se passaram 16 horas. Eu não desejo a ninguém. Ver um ente tão querido, no meu caso o amor da minha vida, sem vida, dentro de um caixão, é a ultima coisa que desejo a alguém. Eu, na minha sincera opinião, deveriam enterrar logo de cara, mas não. Eles demoram muito. E até isso acontecer, é terrível a sensação de o corpo estar ali.
A família do Alan se mudou daqui. A mãe dele foi morar com a avó. Já o Arthur foi para Austrália. Os gêmeos foram para Sampa, assim como a Simone e o Pedro. E eu fiquei sozinho, sem o meu amor, meus amigos. Apenas minha família.
Então eu realmente larguei a faculdade e fui para os Estados Unidos. Fiquei 01 ano lá trabalhando e dedicando a ganhar dinheiro. Voltei para o julgamento do Murilo, no qual o juiz decidiu que ele não pode se aproximar de mim. Obrigado a manter uma distância de 200 metros, caso descumpra, prisão. Hoje, eu sei que ele morou fora por 08 anos, mas vive em são Paulo.
Existe vida após o amor? Essa é a pergunta que a Cher faz na sua música "Believe". Sim, a resposta é sim. Fui muito bem amado e amei muito um dos maiores homens que a vida pode me dar. Infelizmente, não honrou seus compromissos comigo e acabou me abandonando às vésperas de casar (Olha só, tema pra outro livro). Mas não estou bem superado dessa pessoa e que ele seja muito feliz.
Depois disso eu aprendi amar de uma forma diferente. No meu novo namoro, eu fui dia após dia aprendendo a amar essa pessoa. Foi de longe, o cara mais corajoso que conheci na vida.
Eu fiz exatamente o Alan Bortolozzo me pediu pra fazer: Viver à Vida como se fosse o último. Então fiz tudo o que uma pessoa sonha em fazer. Viajei escondido por todo esse Brasil, apenas com uma mochila nas costas. Conheci milhares de pessoas e situações. Vivi intensamente o que meu corpo permitiu. Quebrei vários ossos e rasguei várias veze a carne. E acredite, ainda faço isso. Viver intensamente me proporcionou criar o Yuri Martel. Meu segundo livro que está aqui no Wattpad. Posso dizer que Yuri Martel é o resto de Léo/homem que existiu após Alan Bortolozzo. E até hoje não me reencontrei.
Então, não percam as esperanças após um término. Outros e mais outros virão. Sempre haverá um "Oi, tudo bem?!" após um "Adeus". E amor da nossa vida, é único, singular. Ele é tão impar como um amor pela mãe ou por um filho. É diferente de outros amores. É aquele amor que transcende espaço, tempo, distancia. É aquele amor que você fecha os olhos e sabe que a pessoa está com você, independente da situação.
Peço também que não leve a mal o fato de eu ter narrado como Alan. Queria que vocês sentissem o que ele sentiu. Era a minha forma de homenageá-lo. Que seu diário virasse livro.
Quero agradecer dezenas de comentários bons e ruins que ganhei. Desculpe as discussões e brigas. Agradeço de coração muito mesmo, pois seus comentários me fizeram continuar e sem vocês, não seria nada.
Agradeço a todos do fundo do meu coração. Que todos sejam felizes e nos vemos nas bancas.
Grande beijo, com muito carinho.
Do Burro do Alan ou Léo, como preferirem.
FIM
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