Capítulo 25
Surreal, porque nunca acreditei que aconteceria comigo o que eu apenas via na internet ou lia em livros. Passei a vida toda me consumindo por achar que eu teria que viver para sempre com mulheres. Tem alguém no mundo que era apaixonado por mim e isso me deixava muito feliz. Só que ele não estava comigo e aquele buraco que ele havia cavado há anos atrás, reaparecera, só que dessa vez, bem mais fundo. Agora aquele sentimento de "irmão" que eu sentia por ele, se tornou paixão. Sim, era paixão e meu peito estava explodindo. Fui andando para minha casa admirando as estrelas, como se elas brilhassem de forma diferente naquela noite, como se o ar fosse mais puro, como se plantas e flores fossem como as da primavera.
"Como era gozado estar, sei lá, apaixonado também."
Fiquei vagando de bobeira pelo condômino até o cansaço bater de verdade. O cansaço também ia me deixando triste, pois me fazia lembrar tudo que havia acontecido comigo aquela noite.
"Como será que estava o vigia?" – pensei comigo mesmo -Nessas voltas pelo condomínio eu não o vi mais. Se eu que sou jovem me machuquei, imagino o que aconteceu com aquele senhor que fora socado pelo Murilo?
Sem falar que essa historia do banho do qual fez o Renato levar uma punição não me convencera. No fundo, minha consciência estava dizendo que aquele moleque não estava metido no rolo sozinho. Que aquele moleque não iria sair atirando para cima de um homem daquele tamanho, com aquela cara e comportamento de hostil que o Murilo tinha. Será que o Murilo também não olhara intencionalmente para o moleque? Ou no menos provável, será que ele sabia de algo sobre o Murilo que o fez ser repreendido? Mesmo que isso tenha sido há tempos atrás, não me deixara confortável. Agora, o que contava mesmo, era que eu estava sozinho de novo.
"Por que essa injustiça comigo? Por que eu sempre não tinha o que eu queria? Foi tão bom sentir aquele homem, aquele boizão chorando no meu ombro, me abraçando como se eu fosse à pessoa mais importante da vida dele. Por que Deus me deixara sem ele? Será que eu o veria de novo?" – foram essas perguntas que me martirizou a noite toda.
Quando entrei em casa, fui direto ao meu quarto e fiquei ali, abraçado ao meu travesseiro, chorando e esperando o sono aparecer, já que minha noite estava tão angustiante. A porta do meu quarto abrira com meu irmão bufando, usando apenas cueca e uma cara de bostas que me deixava desconfortável.
- Até que enfim você apareceu. Não é porque você completara mais outro aniversário que você vai ficar onde quiser e não me dar satisfações – disse ele dando um "tapinha amigável" na minha cara.
Se meu irmão estava dando este "tapinha de lembrança" na minha cara, era porque ele estava muito puto. E estando tão puto assim, eu não ia nem mexer. Afinal, além de mais forte, de estar com razão, eu queria apenas que ele fosse embora o mais rápido dali e me deixasse passar por aquela dor.
- Amanhã você não vai à aula, mas eu trabalho cedo. Que merda Alan!
O que te custava interfonar dizendo que você não iria dormir cedo, sem falar no Biesso que ligou umas sete vezes para você. O que me deixou mais preocupado, porque achei que vocês estavam juntos – disse ele com a sobrancelha arqueada.
- Desculpa Arthur? – eu disse quase sem voz.
Ele me fitou por uns segundos, talvez por não acreditar no que estava ouvindo. Eu, Alan, simplesmente dizer "desculpa" sem discutir, sem xingá-lo, sem sairmos na porrada.
- O que aconteceu com você? – perguntando ele sentando-se a minha cama.
- Nada. Acho que estou com ressaca, só isso – respondi com a mesma voz fraca.
- Alan, quando você está de ressaca você mais chato do que você realmente é. O que esta acontecendo?
- Você nunca exagerou? Nunca tomou além da conta, ficando ruim o dia todo. Então, acho que tomei demais – menti a ele na esperança que ele fosse embora mais rápido.
- Na verdade, eu sou exagerado 24 horas, mas você Alan Bortolozzo...? – disse num tom de brincadeira.
- Só quero dormir, seria pedir muito?
- Tá bom, mas que aconteceu algo, aconteceu – disse ele limpando uma lagrima com seu dedo.
E me fitou mais uma vez, agora me mostrando a lágrima que estava no seu indicador, esperando que eu lhe explicasse o motivo daquilo.
- Só quero dormir, amanhã vou estar melhor.
- Tá bom! – respondeu ele nada satisfeito com minha cara de choro.
Ele apagou a luz do meu quarto e fechou a porta bem devagar.
"Graças há Deus aquele dia já havia acabado!"
Olhei para o rádio relógio em cima do criado-mudo que marcava 02h02min da manhã. Em quatro horas o homem que havia me deixado tão bem estaria partindo rumo a sua verdadeira vida. Vida na qual eu ainda não estava encaixado. Tentei dormir, mas os pensamentos sobre o que tinha acontecido naquela noite não me deixavam pregar os olhos. Comecei a ler e, quando dei por mim, já tinha lido mais de cem páginas. Olhei para o relógio e já marcava 04h37min da manhã. A angústia por saber que não veria mais o Murilo me consumia tanto que precisava vê-lo, pelo menos, mais uma vez. Foi quando tive uma ideia que poderia me causar muitos problemas caso fosse descoberto. Tratei de me arrumar e fui até o corredor, onde ficava um armário e, de lá de dentro, tirei a lista telefônica. Procurei por um taxista 24 horas. Liguei pedindo para que viesse me buscar imediatamente. Então, fiz um amontado de cobertores na minha cama, apaguei as luzes e fui andando com a ponta dos pés até a porta. Virei à chave bem devagar, passei pela porta e a encostei com medo de ouvirem alguém mexendo na fechadura.
Calcei os tênis e desci pela escadaria de incêndio para ir mais rápido. Sai pelo hall de entrada e encontrei aquela noite um pouco mais fria que antes. Ainda não dava para ver sinais do nascer do sol. Corri entre os jardins para chegar à portaria sem ser visto. Olhei para o relógio e já marcava 05h05min.
"Puts, só tenho mais 01 hora!"
Continuei a correr até chegar à portaria.
- Onde você vai Alan? – perguntou o Júnior, o porteiro.
- Meu amigo embarca agora pela manhã e preciso devolver um negócio que ele esqueceu na minha casa – menti arrancando uma cara de apoio a minha pressa – Você sabe, por acaso, se o Murilo já saiu?
Ele me fitou e abriu um sorriso largo.
- Já sim! Ele tem um voo agora cedo. Por acaso é ele seu amigo que você quer encontrar? – perguntou o Júnior.
- Sim!
- Pois então corra – disse ele abrindo o portão para mim.
Atravessei a portaria e vi o taxi parado perto a um orelhão de esquina.
- É AQUI SENHOR? – gritei chamando a atenção do taxista que parecia perdido.
A pressa era tanta que nem esperei que ele viesse ao meu encontro.
- O senhor tá com pressa mesmo! – disse ele abrindo a porta para que eu entrasse.
- É que vou até o aeroporto e, pelos meus cálculos, já estou atrasado.
O taxista apenas assentiu com a cabeça e saiu correndo em para a rodovia, onde daria até o aeroporto.
- Se é o voo das 06h05min, então meu amigo, você está meio atrasado?! – disse o taxista.
Pelo jeito ele deveria saber todos os horários dos voos de São José do Rio Preto.
- Só preciso deixar uma coisa que eu esqueci – respondi enquanto me segurava firme ao banco para não ficar me batendo durante a corrida.
Demoramos 10 minutos para chegar ao aeroporto. Paguei a corrida e entrei ansiosamente no saguão do aeroporto. Só agora eu tinha me dado conta que seus pais estaria aqui.
"Puts, o que eles vão pensar ao ver-me aqui?"
Entrei com as mãos geladas e o coração batendo na boca. Olhei para todos os lados, porém, nada de Murilo. Fui até a cafeteria e comprei umas barras de chocolate para presenteá-lo.
"Bom Alan, agora sim os pais dele pensarão besteira sobre ti"
Enrolei bem as barras de chocolate para que ninguém pudesse identificar o que era. Voltei aos guichês onde as pessoas faziam o check-in e o procurei, mas nada de Murilo.
- Bortolozzo? – disse uma voz vinda de longe.
Meu coração deu uma pulsada tão forte que chegara a doer. Olhei para trás e lá estava o homem que eu tanto adorava. Ele estava sozinho.
"Que bom ele estar sozinho!"
Ambos saíram correndo em direção ao outro. Eu ia desviando das pessoas enquanto o Murilo as empurrava como se fossem pesos mortos, sem significância alguma, mas sempre com os olhares compenetrados.
- Que bom você estar aqui – disse ele com os olhos lacrimejando.
Sem ter o que dizer, apenas o puxei para um abraço apertado. Ali mesmo, em meio a um saguão lotado de centenas de pessoas. Mas eu não liguei. Ligava apenas em poder sentir seu toque, seu cheiro, seu carinho pela última vez. Ficamos nos acariciando por um longo tempo, até ouvirmos a moça anunciando o que voo do Murilo estava confirmado para o horário previsto.
- Só preciso fazer o check-in e depois volto a ficar contigo – disse ele tirando seus documentos da sua jaqueta de couro, preta e pesada – Por favor, fique com isso que está muito frio – completou tirando sua jaqueta e colocando em volta dos meus ombros.
Aceitei de primeira, pois realmente estava frio. Coisa que não tinha percebido antes, por estar tão afobado. Esperei-o despachar as malas e voltar estampando o seu maior presente, seu sorrisão.
- Você é louco em estar aqui? – perguntou ele me dando outro abraço.
Ele ainda estava quente.
- Sim! Todos sempre dizem que eu sou muito chato e dramático – disse fazendo-o sorrir novamente.
- Não pense que te acharei diferente do que és, apenas por vir até aqui?!
- Apenas? – disse sendo puxado para mais um abraço.
- Tô brincando seu bobão! Vamos até um lugar só nosso – chamou ele tomando a minha frente.
Fomos até ao lado de fora do aeroporto. Lugar que passava algumas pessoas, porém, não estava tão cheio quanto lá dentro. Sem falar que estava um pouco escuro.
- Você provou que é um cara totalmente louco. Ganhou meu coração – disse ele em meio às lágrimas.
Doía vê-lo com o coração partido daquela maneira.
- Não sei se fiz certo vir até aqui me despedir? – disse limpando seu rosto.
- Nossa, esse, sem dúvidas, foi o melhor presente que eu ganhei na minha vida – disse ele me dando um beijo.
Beijo que me esquentou por dentro, fazendo-me suar. Tanto pela emoção do momento quanto pela vergonha de algumas pessoas nos verem naquele clima.
- Você se importa com as pessoas? – perguntou ele quando percebeu que o beijava de olhos abertos.
- Sim e não!
- E como é isso?
- Sim, pois me incomodo pelo fato de morar na cidade. E não, por saber que jamais alguém desarmado iria mexer contigo – disse fazendo-o rir.
Ele adorava ter seu ego inflado.
- Você fala de mim como se só eu fosse grande aqui?
- Mas é verdade! Você é muito grande e impactante – disse arrancando outro sorriso.
- Você é grande – disse ele socando meu peito – E se tornará maior ainda. Sabe por quê?
- Não faço ideia!
- Pois você tem meu sangue rapaz! Esse sangue que construiu esse gigante que sou, corre em suas veias – disse ele passando a mão no meu braço.
Senti, pela primeira vez, meu ego inflado. Assim como ele.
"Sim, eu poderia ser como ele!"
- Está começando a clarear e meu voo sai em menos de 20 minutos. Vamos para um lugar mais reservado?
- Mais ainda? – perguntei, já que não era a primeira vez que mudávamos de lugar.
- Sim! – respondeu ele dando um beijo na minha boca.
Ele entrou novamente no saguão e o cruzou até chegar aos sanitários. O Lugar era grande e tinha algumas pessoas. Ele esperou até que ninguém percebesse e me chamou para o ultimo box. Meu coração começou a acelerar.
- Você está louco? – perguntei enquanto ele me esperava com a porta do sanitário aberta.
- Demais! – disse ele arrancando a camiseta – Preciso te sentir mais uma vez.
Ele me jogou contra parede, fazendo uma pressão absurda com o peso do seu corpo. Agora, meu coração já estava pulsando na garganta.
- Tira essa camiseta? – pediu ele indo para trás com cara de tesão.
Tirei a camiseta e a joguei em cima da tampa do vaso sanitário. Ele me abraçou com força, como se quisesse fundir nossos corpos. Sentia sua musculatura quente e rígida. Ele percorreu sua mão por todo meu corpo até chegar ao botão da calça. Ele tateou até abri-la, abaixando e me deixando apenas de cueca.
- O que vai fazer? – perguntei passando a mão na sua cabeça.
- Beijá-lo pela ultima vez – disse abaixando minha cueca e colocando meu pau na sua boca.
Não contive um urro de tesão. Ainda mais com aquela boca quente, molhada e aquela língua que percorria todo meu pinto. Eu segurava a sua cabeça com força para conter meu prazer. Ele se levantou e continuou a me beijar.
"Já que é a última vez que vou vê-lo? Então vou aproveitar!"
Abaixei a sua calça sentindo seu membro pular na minha cara. O cheiro que exalava me deixara com água na boca. Olhei para ele que empurrava as paredes do sanitário. Fechei os olhos e comecei a chupa-lo. Assim como eu, ele não aguentara de tesão e urrava como me fazendo arrepiar. Fiquei ali por pouco tempo e me levantei para beijá-lo.
- É melhor a gente guardar isso, não acha? – perguntou ele segurando meu pau e fazendo carinho nele.
- Também acho melhor! – respondi me agachando e subindo minhas roupas.
Esperei até que ele estivesse completamente vestido e voltamos a nos beijar. A voz abafada de uma moça ao microfone anunciava a última chamada para seu voo.
- Hora de ir, meu Boi – disse fazendo-o rir.
- Hora de ir, meu Urso – disse me beijando.
Abrimos a porta e demos de cara com um banheiro lotado. Todos, sem exceção, nos olhavam.
- Que foi? – perguntou o Murilo com voz grave.
Todos voltaram ao mundo real, uns balbuciaram alguma coisa, outros gesticulavam com as mãos que estava tudo bem e saímos do banheiro.
- Por isso quero ser grande que nem você. Para um dia ninguém se atrever a me provocar – disse a caminho do portão de embarque.
- Você vai ser tão grande quanto eu, pode confiar! – disse ele sorrindo e me fazendo um cafuné.
Dava para ver as pessoas embarcando no avião enquanto cruzávamos o saguão.
- Então é agora! – disse ele tirando o bilhete do bolso.
- Até a próxima, meu Boi, minha paixão e sangue do seu sangue – disse fazendo-o se curvar de tanto rir.
- Desse jeito eu não vou viajar a lugar algum. Vou querer casamento? – disse ele me puxando para um abraço.
- Teremos nossa vez. Um dia estaremos juntos – disse confortando-o.
- Pode ter certeza que sim! Ainda mais porque... – disse ele pensando nas palavras que ia falar - ...porque eu te amo.
Meu mundo caiu e meu coração quase explodiu dentro do meu peito. Agora quem não queria deixa-lo ir, era eu.
- Muito lindo o que disse! – disse com os olhos enchendo d'água.
- Pois é! É a mais pura verdade! – disse ele me dando outro abraço apertado.
A moça do portão de embarque chamou atenção do Murilo, pois só faltava ele para embarcar. Ele me deu mais um abraço apertado e um beijo na bochecha. Entreguei sua jaqueta de couro e dei-lhe os chocolates – que deveria estar derretidos – fazendo-o chorar ainda mais. Esperei até que ele embarcasse e que o avião fosse embora para eu sair daquele lugar que se tornara tão melancólico. Pedi um taxi e fui direto para casa. Ao contrário da ida, pedia ao taxista que me deixasse à porta do meu prédio. Subi até meu apartamento, tirei meu tênis para que não fizesse barulho e entrei no meu lar. Estava tudo fechado e silencioso. Exceto pelo barulho do chuveiro ligado.
"Arthur!" – pensei comigo.
Eram quase 07 horas da manhã, horário que ele costuma sair para trabalhar. Fui até meu quarto, troquei a minha roupa pelo pijama, despenteei meu cabelo e fui até a cozinha preparar o café da manhã. Fervi a água e coei o café. Peguei pães de forma e os fritei na frigideira com manteiga. Ouvi o barulho da porta do banheiro se abrindo e meu irmão se trocando. Coloquei as torradas num prato, peguei o suco de laranja e coloquei sobre a mesa.
"Pra quem, raramente, preparava o café da manhã, tinha me saído muito bem!" – pensei ao ver a mesa toda montada.
Ele apareceu na cozinha minutos depois, vestindo apenas calça social. O sol que entrava pela janela da área de serviço, fazia seu corpo ficar bem desenhado e a pela como se fosse feito de cera. Pela primeira vez eu admiti que meu irmão era bonito.
- O que faz acordado há essa hora, pentelho? – perguntou ele abrindo a geladeira e pegando a cesta de ovos.
- Sem sono! – respondi acompanhando ele.
- Pra quem chegou de madrugada...? – disse ele ironizando.
- Apenas perdi o sono, seu cuzão!
- Sem sono e com humor de um cavalo – retrucou-o quebrando os ovos e separando as gemas das claras.
Ele pegara seis ovos crus, os quebrara, separava as claras colocando-as dentro de uma xícara e jogava as gemas fora. Ao final, catou as cascas e as jogou no lixo.
- Você vai fazer o que com essas gemas?
- Isso – respondeu virando a xicara na boca e bebendo tudo numa golada só.
Me segurei para não vomitar nas minhas torradas fresquinhas.
- Que merda é essa? – perguntei atônito.
- Clara de ovos. Nunca experimentou na vida? – perguntou ele me oferecendo a xícara.
- Vai cagar Arthur. Que coisa mais nojenta!
- Pelo amor de Deus, né Alan? Essas belezinhas aqui – disse ele segurando um ovo – estão ajudando eu esculpir esse belo corpo.
- Mas que é nojento? – disse respirando fundo para não vomitar – Isso não pode negar!
- Ok! Chega de chatice, ainda mais quando eu acordo de bom humor – disse ele se sentando a mesa e se servindo de uma xícara de café – O que meu caçula andou fazendo para mim? – perguntava ele enquanto olhava cuidadosamente para as torradas.
- Pode comer! Fiz para você – disse.
- Mesmo que não tivesse feito eu ia comê-las – disse ele rindo – Estou apenas verificando se não tem veneno algum?
Era nojenta a maneira que ele tratava eu. Tão nojento que decidi deixa-lo terminar seu café sozinho.
- Vou dormir! – disse me levantando e saindo da cozinha sem olhar nos seus olhos.
Ele se levantou ficando bem a minha frente, impedindo eu passar.
- O que houve agora? – perguntei ainda sem olhá-lo nos olhos.
- O que há de errado contigo? – perguntou ele.
- Nada meu! Tu só sabe me aporrinhar – disse empurrando ele para o lado – Achei que tivesse te agradando fazendo um bom café da manhã.
- Olha pra mim? – mandou ele. Fechei bem os olhos, dei uma fungada e o encarei – Isso mesmo. Me desculpa, ok? Me desculpe se fui grosso com você.
Para o Arthur me pedir desculpas era porque ele sentira que pisou feio na bola.
- Você é assim Arthur! Não dá graça dizer que você é meu irmão – disse me afastando dele.
- Nossa agora você pegou pesado! – disse ele dando um sorrisinho murcho.
- É que, tem horas, que você enche o saco. Você só sabe me tratar como um cachorro – disse se sentando a mesa.
- Alan, o problema é que eu sempre fui assim. Hoje você acordou diferente. Está triste. Você tem ideia de quantas vezes eu cozinhei para ti e você jamais disse "obrigado"? Quantas vezes eu parei tudo o que estava fazendo para comprar comida e fazer seu almoço ou sua janta? E quantas vezes eu lavei suas roupas, sua louça, limpei seu quarto, a casa toda e você nunca me agradecera de nada? Tudo para o meu irmão caçula ter a melhor qualidade de vida possível! – disse ele ainda com sorriso amarelo.
"Era sempre assim galera. Sempre que o Arthur fazia uma cagada, logo ele emendava como sua vida foi árdua para me criar. Tudo para eu me sentir um besta."
- Você está certo, senhor Arthur Bortolozzo! – disse batendo palmas para ele – Você é um milhão de vezes melhor que eu em tudo e sempre fez tudo para mim. Me desculpa se eu nunca agradeci por nada.
- Não precisa agradecer por algo que eu não faço por obrigação – disse ele sorrindo.
- A mãe não manda em ti? Duvido? – disse arrancando uma gargalhada dele.
- A verdade é que ela mandava no começo. Hoje, eu faço porque eu quero te ver bem. Tenho uma vida boa, ganho bem e quero isso pra você! – disse ele cruzando os braços e se encostando na pia – Mas vou reformular a minha frase. Não precisa agradecer, pois faço com o coração!
"Valeu grande irmão! Agora sim você me deixou mais sem graça".
E ele tinha razão. Ele jamais se queixara de nada quando o assunto era eu. Pelo contrário, ele sempre fez questão de cuidar bem de mim.
- Mas me deixe experimentar o maravilhoso café da manhã do meu irmão! – disse ele se sentando a mesa novamente.
Ele pegou duas fatias de pão frito e as mordeu. Se levantou, foi até o freezer, encheu o copo de gelo, sentou-se a mesa novamente e se serviu de suco de laranja. Ele adorava beber tudo que estivesse congelando.
- Mandou bem no pão frito... – disse ele com a boca cheia – ...puxou a mim – completou ele dando uma golada gigante de suco.
- Só que as suas são melhores! – disse fazendo-o gargalhar.
- Eu sei! – disse ele me fazendo gargalhar.
- Humilde você – disse a ele.
- Você tem que saber que sou mais velho. Por isso sou melhor em tudo! – disse enfiando outro pão na boca.
- Sim, você tem toda razão! – disse caçoando dele.
- Senti uma pontada de ironia, você confirma Alan?
Fitei por longos segundos. Fiquei vendo a maneira "delicada" dele comer. Enchendo a boca de pão e suco, quase não sobrando espaço para respirar. Como seu trapézio crescera, sua pele estava mais brilhante, seu cabelo bem aparado, o corte bem feito da sua barba por fazer.
"Como ele crescera!"
- O que foi Alan? Sabia que está me deixando sem graça me encarando dessa maneira? – disse ele desviando o olhar.
- Sabia que você está ficando muito bonito! – disse fazendo-o cuspir suco.
Ele me encarou espantado por uns longos segundos.
- Do que você está falando? – perguntou ele arqueando as sobrancelhas.
- Só essa que me faltava? – disse balançando a cabeça negativamente.
- O que Alan? – perguntou ele ficando vermelho.
- Você achar estranho eu te elogiar, já que você faz isso comigo e com todos os seus amigos!
- Sim, isso eu faço todos os dias! O que eu nunca tinha ouvido na vida, era vocême elogiando – disse ele ainda com cara de espanto.
- Quis dizer que você cresceu. Seu corpo está mudando bastante. Está ficando com cara de homem. E sim, seu "shape" está muito bonito!
- Muito obrigado, senhor Alan! Viu como não dói você ser simpático? – disse ele engolindo uma fatia inteira de pão.
Apenas sorri para ele confirmando que tinha entendido o que ele disse. Ficamos papeando sobre seu dia trabalho até ele terminar de comer.
- Você realmente não vai querer nada? – perguntou ele pegando a última torrada.
- Depois de você ter comido três pães e meio, deixando apenas meia fatia, você ainda pergunta se vou querer algo? – perguntei fazendo-o gargalhar.
- Tá certo! Vou me redimir a noite fazendo uma bela macarronada para ti, pode ser? – perguntou ele bagunçando meu cabelo.
- Daquelas com muito molho de funghi?
- Exatamente! Daquelas repletas de funghi – disse ele limpando a boca, se levantando – queria muito ficar papeando contigo, mas o homem da casa tem que trabalhar. Ah, e não faça essa cara de quem não gostou do que eu disse. Você já está bem crescidinho para ficar emburrado por qualquer coisa. Está na hora de você arrumar um bom emprego, estudar pra valer, pois o tempo passa meu irmão – disse ele bagunçando meus cabelos novamente e indo para o seu quarto acabar de se trocar. O segui a passos apressados.
- Você vai de camisa rosa? – perguntei fazendo-o arquear as sobrancelhas.
- Isso não é rosa. É lilás – disse ele abrindo os botões – você me ajuda a me vestir?
- É para isso que serve ficar musculoso?
- Como assim?
- Não conseguir dobrar os braços? – disse fazendo-o balançar a cabeça negativamente.
- Se você está me comparando àqueles pirralhos que começam a fazer academia numa semana e na semana seguinte já andam como robôs? Isso você está muito enganado. Eu estou crescendo e, logo, as coisas ficam um pouco mais difíceis. Enfim, você ainda não entende nada disso – disse ele indo até o espelho e penteando os cabelos, espirrando laquê para fixa-los melhor. Depois foi até o armário, pegou uma gravata vinho e a colocou numa facilidade que eu fique espantado – Agora, se você puder pegar o meu terno e ajudar a me vestir?
- Claro! – disse indo buscar seu terno.
Ele o vestiu, fechou os botões e foi até o espelho dar uma última arrumada nos cabelos.
- Com o tanto de laquê que você passou nesses cabelos Arthur, você pode andar de moto sem capacete.
- Isso porque o senhor me chamou de bonito lá na mesa, né? – disse ele dando um soco n meu ombro.
"Ele realmente sabe como me deixar sem graça!"
O acompanhei até a porta e ele fez algo que me deixou muito confortável, um abraço bem apertado. Era como se ele soubesse que eu estava precisando daquilo.
- Você vai amarrotar todo o seu terno – eu disse em meio aos seus braços.
- Às vezes, precisamos nos amarrotar um pouco para alinhar a vida de quem amamos – disse ele me dando um beijo na testa – Fui meu irmão. Até o nosso jantar – completou indo até o elevador e apertando o botão.
Fiquei observando-o da porta, olhando impacientemente o relógio e para o indicador digital de andares.
- Fui – disse ele cm um sorrisão.
Era nessas horas que eu gostava do meu irmão. Mesmo ele sendo uma pessoa completamente diferente quando estava perto do Breno. Mas não seria hoje que eu pensaria na personalidade do meu Arthur. Hoje eu precisava dormir e descansar e, quando acordar, recomeçar uma nova vida.
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